sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Os métodos internacionais de preservação da água e as aplicabilidades no caso de São Paulo

Arantxa Santos
    Internacionalista formada pela UNAMA e pós-graduanda em Gestão Ambiental pela Faculdade Ideal
         
                                                                                      
A água é um recurso natural essencial para o homem. No entanto, o mundo enfrenta hoje uma crise hídrica e grande parcela da população global sofre as consequências socioeconômicas deste problema.
Ao analisar a superfície terrestre, é possível observar que a maior parte do planeta é constituída por água, totalizando cerca de 70% de toda a área do Planeta. Porém, apenas 3% é de água doce, ou seja, ideal para o consumo e, aproximadamente 12% da água doce do mundo encontra-se no território brasileiro. Entretanto, ainda assim, a crise vem afetando o Brasil, em especial os Estados do sudeste, o que incentivou debates locais sobre o consumo, distribuição, tratamento e preservação da água.
A fim de combater a escassez hídrica, muitos países investem na preservação, incentivam a redução no consumo e fazem uso da tecnologia para criar métodos de tratamento da água, impulsionando a análise sobre a aplicabilidade destes métodos no caso brasileiro. Muitas cidades ao redor do mundo enfrentam ou enfrentaram crises hídricas, provocadas pela seca, desperdício ou consumo desenfreado, que, por sua vez, criaram medidas para reverter a situação. Especialistas agora estudam a possibilidade de aplicar tais medidas em outros casos de falta de água, a exemplo de São Paulo.
Um exemplo é o que foi aplicado na China, que está entre os países listados pela Organização das Nações Unidas (ONU) com grave falta de recursos hídricos. O país possui 6% da água potável do planeta e enfrenta obstáculos de abastecimento em 400 cidades, inclusive a capital, Pequim, que consume mais água do que disponibilizada em seus reservatórios. Para reverter a situação, a companhia de água de Pequim apostou em um projeto para redirecionar os rios. O Projeto “Desvio de Água Sul-Norte” moverá bilhões de metros cúbicos de água e exigirá a construção de aproximadamente 3 mil quilômetros de canais. O custo deve superar 60 bilhões de dólares.
Outro exemplo é Nova York, nos Estados Unidos, que desde os anos 1990 aplicou um programa de proteção dos mananciais, com o intuito de prevenir a poluição e evitar gastos com o tratamento ou na busca por novas fontes de água potável. O projeto também inclui a aquisição, por parte do governo, de terras com nascentes de água com o objetivo de protegê-las. Ao mesmo tempo, o governo lançou campanhas para a redução do consumo e, com isto, a cidade alcançou o crescimento na vida útil dos recursos hídricos disponíveis na região.
Na cidade de Zaragoza, na Espanha, o principal problema é o desperdício de água, então para reverter o comportamento da população, o governo elaborou uma campanha de conscientização pelo uso eficiente da água e a criação de metas de redução do consumo. O projeto se tornou referência ao lidar com a falta de água em um ambiente urbano de forma rápida, ecológica e sem muitos gastos.
A realidade do Brasil é completamente diferente dos três exemplos, uma vez que o país detém grande parte da água doce existente na Terra, apesar da distribuição desigual. Um exemplo é São Paulo, a maior cidade brasileira, que possui poucos recursos hídricos e vive, atualmente, em uma severa crise que coloca em risco o bem-estar de mais de 8 milhões de pessoas.
A história de São Paulo é marcada por impactos negativos aos rios. Isto pode ajudar a esclarecer os motivos para a atual crise hídrica no Estado. Alguns exemplos do descaso com a água em São Paulo podem ser citados: não são tratados mais da metade dos esgotos, o que aumenta os gastos em tratamentos e polui a água que é consumida. Neste contexto, a região do Sistema Cantareira, formado por seis represas que abastecem São Paulo, teve quase 80% de sua vegetação nativa desmatada, provocando impacto direto nos mananciais, uma vez que a floresta possui um papel crucial na prevenção das secas, ao impedir a erosão do solo e o assoreamento dos rios.
Ainda analisando a maneira como a água é tratada em São Paulo, é importante ressaltar a situação do Rio Tietê, que apesar de ser o mais importante do estado é o mais poluído do Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dessa maneira, é clara a necessidade de elaborar medidas que solucionem a crise hídrica, o que leva a reflexão sobre a possibilidade de usar métodos com base na experiência dos países que vivem ou viveram a mesma situação.
E, o mais importante, é considerar a realidade do Estado tanto na questão ambiental, no que se refere aos recursos hídricos, como no investimento financeiro que se faz necessário, além da tecnologia envolvida e da valorização da igualdade no que diz respeito à distribuição de água, tão importante para a sobrevivência de todos.
     

Globalizando: ISIS e a matança de reféns cristãos

O Estado Islâmico no Iraque e na Síria foi criado em 2013 e cresceu como um braço da organização terrorista Al-Qaeda no Iraque. Desde então, os extremistas colecionam algumas conquistas como a tomada de vastos territórios iraquianos, a obtenção de armamento do Exército, e o controle de infraestruturas estratégicas. O grupo na última semana divulgou um vídeo mostrando a decapitação de 21 cristãos egípcios que foram sequestrados na Líbia. Diante disso, a organização é considerada uma ameaça não só ao país, mas também a outras áreas do Oriente Médio. Sintonize na Rádio UNAMA FM no sábado às 11h ou na segunda às 21h e ouça o Programa Globalizando sobre o tema. 


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Papo de Qualidade - Cultura e superação de conflitos

Huntington acredita que os grandes conflitos internacionais derivam não mais de causas econômicas ou políticas, mas de diferenças culturais entre os povos. Deste modo, percebe-se que o fator cultural tem ganhado grande importância nas análises de Relações Internacionais, podendo, inclusive, tornar-se motivo de divergências ou de aproximação entre os homens. Por isso, o Papo de Qualidade de hoje aborda a questão dos conflitos culturais, bem como a superação deles. A entrevistada é a Professora da Universidade da Amazônia (UNAMA) Brenda de Castro, bacharel em Relações Internacionais pela UNAMA e possui mestrado pelo Programa de Pós-graduação em Ciência Política - Universidade Federal do Pará.

Para saber mais sobre o assunto, assista o vídeo abaixo!
 

Globalizando: Conselho renova mandato do Escritório de Paz em Guiné-Bissau

O Conselho de Segurança estendeu o mandato do Escritório de Consolidação da Paz Integrado na Guiné-Bissau para continuar a lidar com os desafios políticos, de segurança e de desenvolvimento do país. O mandato, prolongado por 12 meses, irá até 29 de fevereiro de 2016 e enfocará no apoio a um diálogo político inclusivo e no processo de reconciliação nacional para facilitar a governança democrática, além de auxiliar no fortalecimento das instituições democráticas, bem como no aprimoramento dos órgãos do Estado para um funcionamento eficiente e constitucional.


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Programa Globalizando: O dia mundial da justiça social

O programa desta semana foi em alusão ao dia mundial da justiça social. Como convidado tivemos o professor William Monteiro Rocha, que é graduado em Relações Internacionais pela Universidade da Amazônia (UNAMA), possui mestrado em Desenvolvimento Sustentável pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Atualmente é professor da UNAMA e doutorando do programa de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UNB).

Para ouvir é só clicar na imagem abaixo.



Globalizando: OMS quer mais investimentos para combater doenças tropicais

A Organização Mundial da Saúde lançou um relatório sobre Doenças Tropicais Negligenciadas. O grupo de dezessete enfermidades inclui Doença de Chagas, leishmaniose, hanseníase, dengue e raiva. Elas são chamadas de negligenciadas porque afetam principalmente populações mais pobres, que vivem em áreas rurais remotas ou zonas de conflito nos países em desenvolvimento. Para eliminar as doenças, a agência destaca ser preciso investir no controle dos agentes vetores, no fornecimento de água potável e de saneamento. 


Interesses particulares por detrás do caso de corrupção da Petrobras

Neila Sousa
Acadêmica do 5° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

Ultimamente, o nome da empresa estatal brasileira, Petrobras, tem sido alvo dos principais setores midiáticos no Brasil e no mundo em decorrência da atual situação de corrupção que vem enfrentando, espalhando um ar de decepção, e, de certa forma, gerando dúvidas na população sobre a permanência do atual governo. A eclosão do caso Petrobras chegou ao ponto de partidos opositores, junto às grandes mídias nacionais, se aliarem com o interesse de mobilizar o povo para pedir o impeachment da atual presidente, Dilma Rousseff.
Durante a pesquisa para escrever este texto, considerei necessário realizar uma análise histórica da empresa junto ao mandato de alguns governos que a administrara para refletirmos sobre a conjuntura que envolve a maior empresa brasileira, pois há muitos anos a maior empresa petrolífera do país vem sendo visada por grandes multinacionais. E, diante da visão da teoria construtivista, vivemos uma realidade socialmente construída. Portanto, vivemos em um sistema cujas leis impedem que uma única pessoa, ou seja, a presidente dite as regras, assim como responda pelos erros cometidos diretamente pelos envolvidos no escândalo da corrupção.
A disputa pela gerência da Petrobras teve início quando ainda se pensava na construção da empresa. O Brasil é um país rico em minérios e petróleo, por isso, os olhos estrangeiros direcionam-se sobre as terras e recursos naturais nacionais. Dois grupos surgiram: um defendia a privatização, e o outro a monopolização estatal do petróleo.
No ano de 1948, houve alguns projetos encaminhados ao congresso nacional pelo então presidente Gaspar Dutra, os quais tinham a intenção de permitir a participação da iniciativa privada na indústria, porém muitos nacionalistas se posicionaram contra a ideia de entregá-la às multinacionais estrangeiras. Além disso, na época já havia um domínio do comércio de petróleo em âmbito mundial pelas maiores companhias do setor, conhecidas como “Sete Irmãs”, sendo cinco delas norte-americanas. Para impedir a ação da iniciativa privada, foram feitas algumas mobilizações para que o projeto não fosse aprovado e ficasse sob o domínio do Estado, e tiveram apoio de intelectuais como Monteiro Lobato. Deste modo, diante da necessidade de explorar os recursos petrolíferos, juntamente com o receio de intervenções estrangeiras nas ações da unidade nacional, surgiu a Petrobras.
No decorrer do tempo, a indústria cresceu, e os olhares estrangeiros acompanharam este desenvolvimento. Em 1997, o governo de FHC sancionou uma lei que permitia à União a contratação de empresas estrangeiras para supervisionar e até planejar políticas públicas de energia, surgindo então a ANP (Agencia Nacional do Petróleo). Mas, ainda assim, o Estado tem o petróleo sob o monopólio de exploração.
A Petrobras é símbolo de soberania e democracia brasileira. Assim, a operação Lava Jato, é um meio de investigação sobre a corrupção que se mostra presente na política interna, e auxilia para o projeto de construção um país que preza pela política de transparência. Contudo, a mídia utiliza o fator corrupção como um meio de alcançar interesses particulares.  Uma crise como esta que a Petrobras vem enfrentando pode gerar resultados positivos, por exemplo, a maior transparência política e a pressão cada vez mais aos líderes para que levem em frente o projeto de reforma política nos país.
O grande foco distorcido que a mídia está dando para os problemas de corrupção alimentam a ideia de que um Estado não consegue ter controle de uma grande indústria como esta. Isto causa a impressão de que atitudes contraditórias de grupos de interesse são permitidas e até aceitas pela mídia quando se trata de uma das maiores riquezas do mundo, como o petróleo, inclusive generalizar e/ou ocultar os verdadeiros fatos. E por falta da cultura da busca pela verdadeira informação, acaba-se acreditando na primeira em que é oferecida. Mas, como disse o general Horta Barbosa durante a célebre conferência no Clube Militar, no início da “Campanha do Petróleo”, em 30 de julho de 1947: “O petróleo pertence à Nação, que há de dividi-lo, igualmente, por todos os seus filhos. A Petrobrás e o petróleo do Brasil não pertencem aos ‘acionistas’ ou aos ‘investidores’, mas pertencem a todos os brasileiros, sem exceção”. 



REFERÊNCIAS:


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Globalizando: Assembleia Geral realizou encontro sobre situação do ebola na África

A situação do ebola na África Ocidental voltou a ser discutida pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. O secretário-geral, Ban Ki-moon, visitou os países mais afetados pela doença que já matou mais de nove mil pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde. O surto iniciado no oeste da África levou o Conselho de Segurança da ONU a autorizar, no ano passado, a formação da primeira missão da história do órgão, baseada numa emergência de saúde pública. 


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Uma visão neoliberal do Acordo de Paz entre Rússia e Ucrânia

 Raylson Max
 
Acadêmico do 5º semestre de Relações Internacionais da Unama


Rússia e Ucrânia declararam mais um cessar-fogo ao conflito que vem se arrastando há mais de um ano no leste europeu. Como se percebe, as tentativas de negociação para o conflito entre estes dois Estados são cercadas de interesses individuais que dificultam a chegada a um consenso sobre esta tensão contínua.  
A Rússia, o país mais representativo da ex-União Soviética mostrou que, ao contrário do que se pensava, o Estado não se tornou frágil com a dissolução, seus recursos foram diminuídos,  mas a imposição de força dos últimos meses, mostram que o Estado possui o capacidade de agir e impor suas preferências quando a questão é salvaguardar o interesse nacional. 
Diante disto, tem-se um perfil esboçado: a Rússia, que mostra um poder elevado de intimidação (porém age de forma unilateral, sem apoios esclarecidos) e Ucrânia (que tem apoio dos Estados Unidos, União Europeia, e de uma série de outros países que defendem a legitimidade e soberania estatais). O último acordo de cessar-fogo, que teve início no dia 15 de fevereiro de 2015, tem sofrido com algumas perturbações realizadas pela população (os Pró-Rússia e Pró-Ucrânia), contudo, ainda assim revela que, mesmo em ambiente de conflito, certa ordenação, ou moderação das desavenças e da anarquia internacional é possível. 
Rússia e Ucrânia declararam mais um cessar-fogo ao conflito que vem se arrastando há mais de um ano no leste europeu. Como se percebe, as tentativas de negociação para o conflito entre estes dois Estados são cercadas de interesses individuais que dificultam a chegada a um consenso sobre esta tensão contínua.  
A Rússia, o país mais representativo da ex-União Soviética mostrou que, ao contrário do que se pensava, o Estado não se tornou frágil com a dissolução, seus recursos foram diminuídos,  mas a imposição de força dos últimos meses, mostram que o Estado possui o capacidade de agir e impor suas preferências quando a questão é salvaguardar o interesse nacional. 
Diante disto, tem-se um perfil esboçado: a Rússia, que mostra um poder elevado de intimidação (porém age de forma unilateral, sem apoios esclarecidos) e Ucrânia (que tem apoio dos Estados Unidos, União Europeia, e de uma série de outros países que defendem a legitimidade e soberania estatais). O último acordo de cessar-fogo, que teve início no dia 15 de fevereiro de 2015, tem sofrido com algumas perturbações realizadas pela população (os Pró-Rússia e Pró-Ucrânia), contudo, ainda assim revela que, mesmo em ambiente de conflito, certa ordenação, ou moderação das desavenças e da anarquia internacional é possível. 

Os interesses envolvidos no conflito, e nos acordos sobre a Ucrânia devem ser levados em consideração, seja o interesse nacional, os interesses nacionalistas (separatistas ou de anexação) ou mesmo os externos. É normal que atores de naturezas diversas tenham identidades e, por consequência, interesses divergentes, contudo, é necessário que compreendam que a relação conflituosa é custosa. A relação ganha-ganha é a forma mais inteligente de transpassar os constrangimentos sistêmicos do sistema internacional e, principalmente, a cooperação não pode ser entendida somente como uma situação alheia e pontual; trata-se de um processo, longo, mas que gera ganhos absolutos aos atores. 
Por isso, as negociações de paz, revelam um reconhecimento mútuo da necessidade de focar na relação onde todos, através da cooperação, conseguem satisfazer seus interesses e por ser interdependente e complexo, as vulnerabilidades e as sensibilidades estão embutidas nessas relações. 
Seria, de certa forma, equivocado dizer que a negociação atual trará ganhos em curto período aos envolvidos, nem poderia, pois a cooperação é um procedimento que demanda confiança na necessidade de alcançar o bem comum, mas é possível dizer que os dois países, além de Estados Unidos e UE, fomentando ações pacíficas e cordiais, estão aprendendo a “jogar o jogo” ou “vulgo” geopolítica: a cooperação, mesmo que ela seja abalada em alguns momentos. 
Por isso, os interessados em política internacional devem ficar atentos ao que acontece no leste europeu. Vale a pena conferir se Ucrânia e Rússia escolherão acreditar na inevitabilidade da guerra e no conflito latente, ou se contribuirão para, juntas, desenvolverem seus potenciais e tornarem-se atores de grande influência e relevância no SI, através da convivência pacífica e da cooperação. 


REFERÊNCIAS 
EL PAÍS. Rússia contraria Kiev e rejeita que ONU vigie cessar-fogo na Ucrânia. http://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/19/internacional/1424333448_123441.html  
BBC BRASIL. Crise na Ucrânia: EUA e Inglaterra cogitam ampliar sanções à Rússia.http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/02/150220_ucrania_russia_sancoes_rm

Globalizando: Para o Brasil, consumo precisa estar na nova agenda de desenvolvimento

As Missões Permanentes do Brasil e da Finlândia junto à Organização das Nações Unidas realizaram um painel sobre consumo e produção sustentáveis. O contexto é a criação da nova agenda global de desenvolvimento, que passa a valer em 2016. O documento, conhecido como "agenda pós-2015" está sendo produzido pelas Nações Unidas e países-membros com o grande objetivo de erradicar a pobreza no mundo.



sábado, 21 de fevereiro de 2015

Across the Universe (2007)

Direção: Julie Taymor
Roteiro: Julie Taymor, Dick Clement, Ian La Frenais
Elenco: Evan Rachel Wood, Jim Sturgess, Joe Anderson, Dana Fuchs, Martin Luther McCoy, T.V. Carpio
Gênero: musical


You say you wanna a revolution
Well you know
We all want to change the world
(Revolution, The Beatles)


Christiane Ramos
Acadêmica do 5° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

        Década de 1960, Guerra Fria, Guerra do Vietnã, movimentos contracultura: Rock and Roll, Beat Generation, hippies, psicodelia, insatisfações políticas e sociais, existencialismo, THE BEATLES. Esse é o cenário que envolve a trama do filme lançado em 2007, intitulado “Across the Universe”. Trata-se de um musical cuja narrativa é baseada, do início ao fim, nas composições do clássico grupo de rock inglês, The Beatles. De uma forma geral, o enredo conta a história de Jude (Jim Sturgess), inglês, que parte para os Estados Unidos em busca do pai – um norte-americano que serviu o Exército na Segunda Guerra Mundial – o qual não chegou a conhecer.
           Nos EUA, sem visto, choca-se com as efervescências presentes no panorama norte-americano nos âmbitos político e cultural. Jude conhece Max (Joe Anderson), um universitário que desvaloriza os padrões e o formalismo social; ele é o que se pode chamar o verdadeiro rebelde daquele momento histórico. A partir daí, o inglês passa a viver as transformações e também a ser modificado pelo ambiente multifacetado à época, Nova York.
       Jude conhece Lucy (Evan Rachel Wood), irmã de Max, com a qual passa a viver um romance – perceba: os nomes dos protagonistas derivam de duas músicas dos Beatles (Hey Jude e Lucy in the Sky with Diamonds) – contudo, apesar de que o elemento sonoro seja um fator estimulante para apreciar o musical, a aura que envolve o enredo é de extrema importância e admite uma série de reflexões que podem esclarecer a aversão dos jovens ao ambiente político tradicional dos EUA, bem como imergir nos valores do pensamento existencialista e contra-hegemônico construídos.

        Com um grupo de jovens e amigos – dois deles fazendo alusão à grandes músicos e cantores, como Jimi Hendrix e Janis Joplin – Lucy, Max e Jude passam a refletir o período sob experiências diferentes, mesmo que o fim de suas reflexões seja o mesmo: a virada cultural-política e de pensamento. Na metade do enredo, Max é convocado pelo Exército norte-americano para servir na Guerra do Vietnã, enquanto Lucy se engaja à uma união de estudantes para lutar contra o sistema que apoiava a guerra, e Jude, desempregado, não mostrava reconhecimento ou qualquer tipo de julgamento ao longo do filme sobre as guerras ou a conjuntura – apesar de ele ser o protagonista, pode ser considerado desengajado ou até mesmo uma forma de personificação da parte da sociedade que não refletia sobre as transformações que estavam ocorrendo. Talvez isso se deva ao fato de ele ser estrangeiro.
      A história propõe distintos direcionamentos que poderiam resultar em diversas resenhas, cada uma abordando um assunto importante. Contudo, foquemos em uma significante frase que Lucy profere à Jude, ao partir para uma manifestação: “Sabia que um dos maiores cientistas está trabalhando para o Departamento de Defesa?”. Esta frase faz uma clara alusão aos teóricos do Neoconservadorismo, que foram inseridos na política dos Estados Unidos, como uma maneira de desenvolver – cientificamente – os artifícios e ferramentas norte-americanos, com vistas à dominação por meio ideológico e intelectual.

            Os neoconservadores (presentes no governo norte-americano até os dias atuais) têm como principal característica uma inclinação à imposição da democracia, mesmo que seja pela força. O grupo de Lucy se contrapunha à pretensão estadunidense de desenvolver instrumentos de dominação para manter os demais agentes à sombra da hegemonia. O grupo simboliza uma não-aceitação dos padrões e práticas discursivas sobre os Estados menores, no caso, o Vietnã, mas também à guerra ideológica, que afligia a comunidade internacional com a possibilidade de uma nova guerra mundial.
    Como se percebe, Across the Universe, além de detalhista, poético e teatral, é um filme para ser valorizado por uma série de outros motivos: 1) pela trilha sonora fenomenal, The Beatles; 2) pela análise cultural, que auxilia no entendimento das transformações dos costumes ocidentais; e principalmente, para a reflexão de estudantes de Relações Internacionais, 3) compreender o processo de produção de padrões e práticas discursivas, bem como o movimento de hegemonias e contra-hegemonias (que nem sempre é destituído de interesses de dominação). Isto é perceptível quando Lucy descobre que as ações do movimento estudantil, o qual participava, não eram desprovidas de violência e, portanto, a aversão à violência da guerra sugeria certa impostura, claro, em escalas e contextos desiguais.

            E como não poderia ser diferente, o enredo termina ao som de “All You Need is Love”, mostrando que apesar de as relações entre os povos serem envoltas em interesses hegemônicos, a construção da paz é idealizada com base em uma utopia comum e transcendente.