Brenda
de Castro
Internacionalista
(UNAMA) e Mestranda em Ciência Política (PPGCP/UFPA)
Quando
pensamos em filmes sobre guerras nos vêm à mente: O Resgate do Soldado Ryan
(1998), Pearl Harbor (2001), Platoon (1986), Apocalipse Now (1979), Rambo I
(1982), entre outros. Com ressalva das particularidades de cada roteiro e
direção, todos os filmes acabam possuindo a mesma fórmula: o ponto de vista
americano das guerras, as perdas pessoais, muitas explosões e tiros.
Superproduções com cenas de tirar o fôlego, a famosa guerra hollywoodiana, por
assim dizer.
Os
filmes de guerra se dividem basicamente entre os prós e os antiguerra. Rambo,
por exemplo, mostra um ex-soldado sofrendo traumas da guerra e a agressividade dos
seus compatriotas no seu retorno aos Estados Unidos. Rambo mostra um herói
americano da guerra “injustiçado” no contexto da Guerra do Vietnã que recebia
muitas críticas e protestos por parte da sociedade estadunidense.
No
quesito antiguerra muitos filmes se destacam, passando uma mensagem direta ou
apenas despertando a reflexão para temas menos óbvios da guerra como acontece
em Guerra ao Terror (The HurtLocker, no
original, 2009). Porém, uma coisa é sempre certa: todos os filmes de guerra
tendem a emocionar, incomodar, chocar. Alguns chegam a apelar – para o que na
verdade é apenas a realidade – de abusos sexuais, mutilações e cenas violentas
que nos fazem desviar o olhar da tela. O explícito é muito utilizado como
recurso nesse gênero.
Por
isso, achei interessante trazer a discussão sobre um filme clássico, porém não
muito popular. Johnny Vai à Guerra (Johnny
Got His Gun, no original, de1971) dirigido e escrito por Dalton Trumbo,
baseado em seu livro homônimo de 1938. No quesito técnico, o filme não é uma
obra-prima do cinema no tocante às atuações. Na verdade, torna-se até difícil
falar sobre atuação quando o personagem principal, Joe Bonham (Timothy Bottoms),
passa grande parte do filme com o rosto coberto e quase sem movimentos,
enquanto acompanhamos apenas a voz da sua consciência.

O
filme começa em preto e branco com médicos e militares descrevendo a situação
de um soldado desconhecido resgatado do campo de batalha na Primeira Guerra
Mundial. O recruta é considerado com morte cerebral e incapaz de sentir dores
ou emoções e mantido vivo apenas para estudos.

O
paciente não fala, não se move, mas acompanhamos os seus pensamentos e sua
angústia enquanto toma conhecimento da sua situação aos poucos. Em comparação
com os filmes supracitados este é bem mais difícil de prender a atenção. Contudo,
a partir do momento que se acostuma com o ritmo do filme, é angustiante todo o
resto do filme. Observar o soldado sendo tratado como um corpo morto, enquanto
ele tem ainda total consciência do que se passa e não consegue se comunicar.
Em
um de seus delírios e lembranças, Joe ainda criança pergunta para o pai o
motivo dos jovens terem que morrer pela democracia enquanto recebe a resposta
de que os jovens não têm nada a perder e que “pela democracia qualquer homem
entregaria o seu único filho”.
Uma
das cenas que em mim causou maior comoção talvez tenha sido o momento em que
Joe tenta mover sua boca e vai se dando conta aos poucos que não possui mais
dentes, língua, mandíbula, apenas um buraco no rosto. Enquanto a enfermeira
calmamente cuida de seus ferimentos, Joe grita em sua própria consciência sem
que ninguém atente para seu sofrimento e consideram os movimentos de sua cabeça
como espasmos involuntários.

SPOILER:
Joe começa a se comunicar por código morse com movimentos da cabeça e pede
incessantemente que o matem. Os militares, contudo, preferem mantê-lo vivo e em
segredo. No fim, perde seu tom de desespero e aceita
comedido seu destino, como quem desiste em tom de lamento: “A única coisa que
querem é colocar-me de volta na escuridão para que não me vejam”. Por fim,
perde até mesmo sua fé em Deus.
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