sábado, 14 de junho de 2014

A Crise na Ucrânia sob a Visão do Terceiro Debate das Relações Internacionais

Breno Damasceno
Acadêmico do 3º semestre de Relações Internacionais da Unama

Partindo da ideia de que o terceiro debate teórico das Relações Internacionais foi marcado por novos arranjos dialéticos e novas premissas de estudos, colocaremos a situação recente da Ucrânia que permitirá percebermos o quanto as duas correntes de pensamento (positivista e pós-positivista) podem explicar o comportamento de agentes e estrutura, e o que os mesmos podem influenciar no cenário internacional.
Na análise da recente situação da Ucrânia, evidenciaremos os pontos chave das duas correntes. A começar pela questão do Estado, os positivistas, principalmente os neorrealistas (Waltz e Gilppin) dizem que, além de ter papel decisivo nas questões do Sistema Internacional, o mesmo ainda procura maximizar o seu poder, a qual pode ser adquirida através da coerção.
Levando em conta estas ideias, podemos visualizar o que se passa na Ucrânia em uma visão positivista como uma forma da Rússia maximizar seu poder-força, de forma com que aqueles que queiram se aliar a mesma, tenham de seguir suas regras. Neste sentido o bandwagon é colocado a partir do momento em que a Criméia e outras regiões de menor importância bélica (segundo os neorrealistas), se aliam a Rússia, procurando assim, uma forma de proteção, como Waltz chamava de “cooperação intrabloco”.
Os pós-positivistas desmistificam que esse Estado é o grande causador de questões de conflitos e cooperações, não aderem a ideia do Estado ser um ator fixo nas Relações Internacionais.
Nesse sentindo, caberia dizer sobre a Rússia o mesmo que Cox falava sobre os Estados, afirmando assim, que esses Sistemas de Estados são governados por resultados da ação humana. As decisões então tomadas pela Rússia de, por exemplo, colocar tropas nas fronteiras da Criméia com outras regiões, não é algo que pode ser explicado levando em conta questões ontológicas, mas sim de atuações do seu líder ou mesmo de uma ideologia por trás dele, que o levou a tomar tal decisão.
Para os pós-positivistas, principalmente para Robert Walker e Richard Ashley, a anarquia é um pretexto utilizado para a manutenção dos poderes dos Estados. Essa “desculpa” da anarquia é utilizada apenas para que a Rússia ou a Europa usem de seu poderio para silenciar os que não têm força ou chance de reivindicar seus direitos.
Como diria Linklater, já visando o pós-modernismo, essa anarquia seria uma subjetivação, ou seja, criar a ideia de conflito para que aquele Estado possa seguir os padrões estabelecidos por alguém com maior influência no cenário internacional.
No centro de toda esta discussão encontram-se os construtivistas, que ora se relacionam com os positivistas, por conta de serem fieis quanto a importância do Estado. Relaciona-se com os pós-positivistas, ao dizer que não é só o Estado que molda e dita as regras dessa estrutura internacional. É necessário retirar dele as questões mais pertinentes, colocando em pauta uma questão antes não mencionada pelos positivistas e que hoje é um dos grandes campos de estudos dos pós-positivistas, em especial dos Teóricos Críticos como Andrew Linklater: a identidade.
Os construtivistas declaram que este conceito é socialmente construído, sendo assim, essa identidade entre os agentes formará um interesse que definirá uma ordem internacional a ser seguida, onde agente e estrutura são criados e postulados a partir do momento em que, juntos, começam a se relacionar.
Quanto ao caso da Rússia e Ucrânia o que podemos debater é justamente um povo, no caso ucraniano determinando suas escolhas para participar de um novo bloco, por conta de uma insatisfação política e econômica, moldando as suas identidades, procurando novas formas de convivência não só interna, mas uma visão diferente do mundo sobre a região e alterando o seu comportamento, acreditando nos benefícios da aproximação com a União Europeia.

Assim como Linklater fala que essa busca pela identidade partirá de um dialogo entre os povos, a ética dialógica, onde o Estado se tornará uma sociedade civil organizada a partir do momento em que os indivíduos pudessem falar entre si, discutir entre si e principalmente respeitar a decisão dos outros. E nesse sentido, todos os agentes, indivíduos, setores e empresas envolvidos na questão ucraniana são afetados, seja de forma direta, por ação do próprio estado, seja de forma indireta.

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