quarta-feira, 11 de junho de 2014

O conflito Palestino – Israelense: a construção de uma Paz

Christiane Ramos
Acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

O sumo pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana, O Papa Francisco, realizou uma visita de três dias ao Oriente Médio. O ato do líder católico revela a grande importância dos valores na dinâmica atual do sistema internacional (SI). Este fato não deve ser analisado apenas como uma questão religiosa, mas, como uma ação política capaz de transformar a realidade do lugar. Se algo é considerado relevante em Relações Internacionais quando afeta a dinâmica do SI, então, uma análise sobre a viagem do Papa ao Oriente Médio é de extremo destaque.
Os acontecimentos históricos são imprescindíveis para entender o conflito atual entre Palestina e Israel. As causas recentes remontam ao fim do século XIX, quando os judeus, até então um povo sem Estado, viviam dispersos, tanto no próprio Oriente Médio, quanto na Europa. Havia entre os Judeus a ideia de uma “terra prometida” situada na Palestina. Entretanto, o lugar já era habitado por maioria árabe.
Com os horrores da Segunda Guerra Mundial (Holocausto), a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou em 1947 a criação de um Estado israelense, que passou a existir em 1948. A migração em massa para, agora Israel, iniciou. E as insatisfações apareceram. O conflito entre os dois povos não cessa desde então.
Os seguidores de teorias positivistas certamente não entendem a importância da visita do Papa ao Oriente Médio. Eles acreditam em uma lógica permanente na política internacional. Que o poder de um agente pode ser quantificado. Questões materiais (militar – bélico, econômico) são exaltadas.
Em contraposição, os pós-positivistas veem o poder de forma qualitativa. Ideias, crenças, valores e cultura, ou seja, aspectos imateriais são mais importantes. De nada vale armamentos ou exércitos, se esta ideia não é difundida.
Por isso, a religião, como valor, é de extrema importância para a política internacional. Para o construtivismo, o papel dos líderes é fundamental. Aliás, mais do que eles mesmos, suas personalidades. O Papa Francisco se mostra sempre aberto às discussões. Não só às questões dogmáticas da Igreja Católica, mas às relações entre os agentes e mudanças no cenário internacional.
A imagem com a legenda “El abrazo de 3 religiones” possui um grande valor simbólico: o Papa conseguiu reunir forças religiosas que possuem uma luta histórica – palestinos e israelenses – cujo relacionamento cultivado está sendo de grande conflito e de não aceitação recíproca. Constroem intersubjetivamente a ideia e a realidade conflituosa.
O Papa Francisco pede incessantemente “Paz”. Contudo, esta não possui uma existência ontológica.  Não se poderá vislumbrá-la se ambos os lados, que se relacionam, não alimentarem a intenção de construí-la. Os judeus já possuem um Estado legitimado pela comunidade internacional. Contudo, os palestinos ainda não podem sentir orgulho por um Estado próprio.
Alexander Wendt é considerado um “meio-termo” nas Relações Internacionais, assim como Emanuel Adler. Isto significa que por mais que considerem a estrutura como mutável, que não há existência ontológica das coisas do mundo e que valores imateriais são indispensáveis, a estrutura pode em algum momento se apresentar do modo como os positivistas a enxergam. Wendt inclusive, diz que a “anarquia é o que os Estados fazem dela”, portanto, é construída, produzida intersubjetivamente e se torna um senso comum.
Logo, pode-se acreditar, sim, que o Estado seja uma possibilidade para a política mundial. Mas o que é uma política de Estados hoje poderá não ser futuramente. A realidade é socialmente construída e mutável. O estado poderá perder importância e deixar de existir.
O desejo de paz não está sendo apenas uma vontade religiosa. Quando esteve no Oriente Médio, o Papa Francisco convidou o chefe político israelense, Shimon Peres e o líder palestino Mahmud Abbas para um encontro histórico em Roma, que aconteceu no último dia 08 de junho, domingo.
O encontro foi marcado pelo cunho religioso. Contudo, percebe-se o teor político. O Papa afirmou que aquele era um momento de trégua (no conflito). Na véspera do encontro, em sua conta oficial no Twitter, disse que “a oração pode tudo”. Ou seja, a questão religiosa tem tanto poder de contribuir para a construção social das relações internacionais, quanto o armamento e a economia, por exemplo.
Assim, por meio de questões de valores e crenças, tenta-se mostrar para os amantes do realismo que a construção de uma realidade pacífica é possível se os agentes trabalham para isso. Não será uma suposta “anarquia estrutural” a definir a identidade e interesses dos agentes. Esta definição só é possível quando eles se relacionam – a identidade relacional.
A realidade atual que foi construída por ambas as partes é de rivalidade. Em meio ao conflito, a construção não levará nem a cooperação, nem à paz. Os conflitos entre as partes são intensos e abarrotados pelos valores de cada um. Não há entendimento. Assim, é bastante difícil de chegar a um consenso. Mas, se ambos resolverem que a paz seja possível e agirem de forma a construí-la, chegarão a este fim. No construtivismo há transformações. Não se sabe para onde elas caminham. A única certeza é de que relações pacíficas tem uma grande chance de gerar cooperação. A paz é socialmente construída.
A Palestina constrói juntamente com os outros agentes a ideia de que os Estados são necessários. Se a relação entre eles expressa isso, logo a Palestina pensará e agirá também a legitimar esta realidade – a relação entre os agentes constrói a estrutura, e a estrutura influencia os agentes.
Cabe agora esperar para ver o que será feito das relações entre Palestina e Israel, e como o Ocidente se comporta diante delas. Na estrutura, não somos apenas atores fadados a interpretar um papel artificial, mas devemos participar ativamente da construção social das relações internacionais. Assim, agindo como verdadeiros agentes. Transformadores da própria realidade.





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