quarta-feira, 23 de julho de 2014

Teoria Pós – Moderna

Kellimeire Campos
Acadêmica do 7° semestre de Relações Internacionais da UNAMA


Nas últimas semanas perpassamos pelas mais variadas teorias que podem ser utilizadas na análise dos fatos que ocorrem no Sistema Internacional (SI) e que são encontradas no estudo das Relações Internacionais (RI). As separamos em positivistas e pós-positivistas, tendo a virada linguística como contribuição para essa nova articulação.
A virada linguística modificou o modo com que se pensava, formulava e eram estudadas as ciências sociais e humanas, trazendo para RI teorias fundamentadas em novos questionamentos sobre as ações dos Estados, sobre a real importância do discurso nessa dinâmica, sobre quais seriam os atores (ou agentes) no SI, e em críticas às mainstream da área.
Neste texto tratarei da teoria que nos estimula a questionar muitas das repostas que nos sãos dadas sobre os fatos internacionais, de como elas são construídas e do processo de naturalização empregado nos discursos.
Desde já, considerando complexa a tarefa de explicitar seus principais preceitos, este texto pretende ser um estímulo a um estudo mais profundo da teoria pós-moderna.
Seu teórico mais influente, Michel Foucault, não foca suas pesquisas nas RI e nem se propôs a escrever sobre o assunto. Mas o filósofo francês, com suas obras interdisciplinares, discutiu as relações de poder, trazendo uma nova maneira de olhar a dinâmica mundial.
Algumas de suas principais fontes foram as ideias de Nietzsche, de que a civilização ocidental segue uma moralidade judaico-cristã e na ideia de que o iluminismo trouxe a racionalidade como principal pilar da ciência moderna, criando uma forma de dominação: Saber-poder.
A criação de verdades está presente no saber-poder, pois não há relação de saber sem constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder. As pesquisas de Foucault demonstram que nossas verdades, além de estarem relacionadas com vontades de um determinado período histórico, sendo assim fabricadas, são frágeis e provisórias.
Foucault elaborou o conceito de Biopolítica, um poder exercido sobre a vida das pessoas, que é analisado sobre a microfísica do poder “Investigação dos procedimentos técnicos de poder que realizam um controle detalhado, minucioso do corpo – gestos, atitudes, comportamentos, hábitos, discursos.” (FOUCAULT, 1979)
Diferente dos teóricos positivistas das RI, Foucault trata o Poder não como algo material, mas sim como algo que se exerce a partir de um feixe de relações entre as pessoas. Logo, os Estados não detêm o poder, mas o exercem sobre sua população através de sua dominação discursiva: subjetivando e objetivando; e do poder disciplinar.
Chega-se a mais um conceito de Michel Foucault, o de governamentalidade:
“O conjunto constituído pelas instituições, procedimentos, análises e reflexões, cálculos e táticas que permitem exercer esta forma bastante específica e complexa de poder, que tem por alvo a população, por forma principal de saber a economia política e por instrumentos técnicos e essenciais os dispositivos de segurança”. (FOUCAULT, 1979, p. 293)



Em sua obra Vigiar e Punir ele desenvolveu sua analítica de poder, tendo como centro o dispositivo panóptico, “um dispositivo de poder disciplinar na qual a vigilância regrada e permanente constitui o princípio geral de uma anatomia política cujo o objetivo e a finalidade são as relações de disciplina.”(YAZBEK, 2013, p.114) Apesar de na obra o panóptico ser utilizado nos presídios, Foucault reflete que este tipo de dispositivo de poder também visto em escolas, hospitais, fábricas e em qualquer outra instituição, criando uma sociedade disciplinar.
Como teóricos pós-modernos de RI, Robert Walker é um dos mais estudados. Sua principal crítica, as teorias positivistas, é fundamentada na apresentação da esfera doméstica da política como um domínio do progresso e da ética. E a esfera internacional é descrita como um ambiente anárquico, sem progresso e sem valores. Assim o âmbito internacional se torna condenado à repetição dos erros, sem evolução. Assim, Walker demonstra que as teorias de RI nasceram e sobreviveram de dicotomias e exclusões.
Partindo principalmente da analítica de Poder de Foucault, Robert Walker, Ashley, Shapiro, Der Derian e Campbell são autores internacionalistas pós-modernos, que se recusaram a pressupor a existência a priori de realidades, agentes e interesses e apontam para autonomia da linguagem na construção social da realidade, destacando às formas pelas quais estruturas, agentes e identidades são construídos dentro das práticas discursivas (RESENDE, 2010).





Referências
RESENDE, Erica Simone Almeida. SENHORAS, Elói Martins; CAMARGO, Julia Faria (orgs). A crítica pós-moderna/pós-estruturalista. Boa Vista: Editora da UFRR, 2010.
YAZBEK, André Constantino. 10 Lições Sobre Foucault. 4 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 22 ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.
FOUCAULT, Michel. Segurança, Território e População. 1 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.






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