quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Um olhar introdutório sobre o conflito do Sudão do Sul




Kellimeire Campos
Acadêmica do 6º semestre de Relações Internacionais da UNAMA

A crise no Sudão do Sul se agravou desde o dia 15 de dezembro, quando o presidente Salva Kiir (do grupo Dinka) afirmou que soldados leais ao ex-vice-presidente Riek Machar (do grupo Lou Nuer), demitido em julho, teriam promovido uma tentativa de golpe de Estado.
Mas atual situação humanitária do país não se resume a esta situação. Por isso, para podermos entender um pouco melhor o que acontece no país, é preciso  voltarmos a história do Sudão.
O Sudão do Sul é o país mais novo do Sistema Internacional. Sua independência foi conquistada em 2011. O antigo território do Sudão possuía uma grande diversidade de etnias (19 grandes etnias no total), sendo no norte a região de maior concentração da população de religião islâmica, que almejavam a adoção da sharia (“lei islâmica”), e uma minoria cristã ao sul.

Em 2005 houve a assinatura de um acordo de paz entre o grupo separatista Movimento/Armada de Libertação do Povo Sudanês (SPLM/A) e o governo do Partido do Congresso Nacional (NCP), para por fim à Segunda Guerra Civil do Sudão (1983-2005).  Mas em julho de 2011 essa aliança foi desfeita com a independência do Sudão do Sul, quando os conflitos retornam, agora, para a demarcação de fronteira entre os dois países.
Porém, não foram só as motivações étnicas que fizeram surgir os grupos separatistas no sul. A falta de investimento na região e a concentração de recursos no norte do antigo país aumentaram a insatisfação. A exemplo disso existem questões que mesmo após a independência não conseguiram ser resolvidas, como a falta de saneamento básico, o escasso acesso a água tratada, a existência de apenas três hospitais e o índice de um médico para cada 500 mil habitantes.
Além disso, após longos períodos de guerra, a população possui grande descrédito com os governos locais. E mesmo com menor frequência, os enfrentamentos com grupos aliados, dos países vizinhos e internos, continuaram a acontecer, até sua intensificação no final do ano passado.
Atualmente com forte presença da ONU, através da missão de paz UNMISS (United Nations Mission IN South Sudan) da força armada e da ajuda humanitária enviada ao país, o número de pessoas fugindo das áreas de conflito tem aumentado, totalizando mais de 400 mil deslocados.
Por causa desse grande deslocamento de pessoas, principalmente por ser em período de colheita, o conflito ameaça a agricultura do país, que já era fragilizada desde a independência. Isso resulta no alerta sobre o agravamento da insegurança alimentar e desnutrição feita pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Segundo o Secretário-geral assistente da ONU para Direitos Humanos, Ivan Šimonović, o conflito começou político e se tornou de etnias, com denúncias de: assassinatos em massa, execuções extrajudiciais, detenções arbitrárias, desaparecimentos forçados, violência sexual, destruição generalizada de propriedades e uso de crianças nos combates.
Todas as denúncias violam os direitos humanos, e perante esta grave crise humanitária, a ONU tem coordenado as negociações entre os grupos Dinka e Lou Nuer para que se chegue ao fim das hostilidades, e com isso, o país e seus civis possam se recuperar e se estabelecer em suas casas.

No âmbito das Relações Internacionais é relevante analisarmos a crise no Sudão do sul através do estudo da negociação e arbitragem internacional, pois é a disciplina que nos dá base para o reconhecimento da situação, possibilitando a construção de meios de solução de conflitos.  
Ao acompanhar a evolução desse conflito é possível notar todos os níveis de conflito: as generalizações; os padrões de comportamento; a falta de confiança entre os dois grupos; a criação de imagens fixas, decorrentes dos anos de luta; o loss of face (lutar até o fim) que resulta na continuidade do conflito; a falta de humanidade, exposta nas denúncias que violam os direitos humanos; a necessidade de se autopreservar; e o que chamamos como último nível de conflito “ataques generalizados”, quando a única alternativa é a retirada pela força de um dos dois grupos.
A solução de um conflito complexo como esse, envolve todos os setores da sociedade, desde os militares, que asseguram a vida dos civis, aos humanitários para resguardar os direitos básicos destas pessoas. Mas principalmente a necessidade de conciliação entre os dois grupos responsáveis pelo combate armado.
A questão do conflito no Sudão do sul é mais complexa do que um pequeno texto possa explicar, e perpassa pela variedade étnica, por questões políticas e históricas envolvidas. Mas é necessário chamar a atenção para a grave situação humanitária do país e acompanhar as ações da ONU nas negociações da paz.




Referência Bibliográfica

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