Kellimeire Campos
Acadêmica do 6º
semestre de Relações Internacionais da UNAMA
A
crise no Sudão do Sul se agravou desde o dia 15 de dezembro, quando o
presidente Salva Kiir (do grupo Dinka) afirmou que soldados leais ao
ex-vice-presidente Riek Machar (do grupo Lou Nuer), demitido em julho, teriam
promovido uma tentativa de golpe de Estado.
Mas
atual situação humanitária do país não se resume a esta situação. Por isso,
para podermos entender um pouco melhor o que acontece no país, é preciso voltarmos a história do Sudão.
O
Sudão do Sul é o país mais novo do Sistema Internacional. Sua independência foi
conquistada em 2011. O antigo território do Sudão possuía uma grande
diversidade de etnias (19 grandes etnias no total), sendo no norte a região de
maior concentração da população de religião islâmica, que almejavam a adoção da
sharia (“lei islâmica”), e uma
minoria cristã ao sul.
Em
2005 houve a assinatura de um acordo de paz entre o grupo separatista Movimento/Armada
de Libertação do Povo Sudanês (SPLM/A) e o governo do Partido do Congresso
Nacional (NCP), para por fim à Segunda Guerra Civil do Sudão (1983-2005). Mas em julho de 2011 essa aliança foi
desfeita com a independência do Sudão do Sul, quando os conflitos retornam,
agora, para a demarcação de fronteira entre os dois países.
Porém,
não foram só as motivações étnicas que fizeram surgir os grupos separatistas no
sul. A falta de investimento na região e a concentração de recursos no norte do
antigo país aumentaram a insatisfação. A exemplo disso existem questões que
mesmo após a independência não conseguiram ser resolvidas, como a falta de
saneamento básico, o escasso acesso a água tratada, a existência de apenas três
hospitais e o índice de um médico para cada 500 mil habitantes.
Além
disso, após longos períodos de guerra, a população possui grande descrédito com
os governos locais. E mesmo com menor frequência, os enfrentamentos com grupos
aliados, dos países vizinhos e internos, continuaram a acontecer, até sua
intensificação no final do ano passado.
Atualmente
com forte presença da ONU, através da missão de paz UNMISS (United Nations
Mission IN South Sudan) da força armada e da ajuda humanitária enviada ao país,
o número de pessoas fugindo das áreas de conflito tem aumentado, totalizando
mais de 400 mil deslocados.
Por
causa desse grande deslocamento de pessoas, principalmente por ser em período
de colheita, o conflito ameaça a agricultura do país, que já era fragilizada
desde a independência. Isso resulta no alerta sobre o agravamento da insegurança
alimentar e desnutrição feita pela Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO).
Segundo
o Secretário-geral assistente da ONU para Direitos Humanos, Ivan Šimonović, o
conflito começou político e se tornou de etnias, com denúncias de: assassinatos
em massa, execuções extrajudiciais, detenções arbitrárias, desaparecimentos
forçados, violência sexual, destruição generalizada de propriedades e uso de
crianças nos combates.
Todas
as denúncias violam os direitos humanos, e perante esta grave crise
humanitária, a ONU tem coordenado as negociações entre os grupos Dinka e Lou
Nuer para que se chegue ao fim das hostilidades, e com isso, o país e seus
civis possam se recuperar e se estabelecer em suas casas.
No
âmbito das Relações Internacionais é relevante analisarmos a crise no Sudão do
sul através do estudo da negociação e arbitragem internacional, pois é a
disciplina que nos dá base para o reconhecimento da situação, possibilitando a
construção de meios de solução de conflitos.
Ao
acompanhar a evolução desse conflito é possível notar todos os níveis de
conflito: as generalizações; os padrões de comportamento; a falta de confiança
entre os dois grupos; a criação de imagens fixas, decorrentes dos anos de luta;
o loss of face (lutar até o fim) que
resulta na continuidade do conflito; a falta de humanidade, exposta nas
denúncias que violam os direitos humanos; a necessidade de se autopreservar; e
o que chamamos como último nível de conflito “ataques generalizados”, quando a
única alternativa é a retirada pela força de um dos dois grupos.
A
solução de um conflito complexo como esse, envolve todos os setores da sociedade,
desde os militares, que asseguram a vida dos civis, aos humanitários para
resguardar os direitos básicos destas pessoas. Mas principalmente a necessidade
de conciliação entre os dois grupos responsáveis pelo combate armado.
A
questão do conflito no Sudão do sul é mais complexa do que um pequeno texto
possa explicar, e perpassa pela variedade étnica, por questões políticas e históricas
envolvidas. Mas é necessário chamar a atenção para a grave situação humanitária
do país e acompanhar as ações da ONU nas negociações da paz.
Referência Bibliográfica
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