domingo, 12 de outubro de 2014

Círio e a Cultura Paraense

Jean Diego
Acadêmico do 3º semestre de Relações Internacionais da  Unama



Pará, um Estado com aproximadamente 1.250.000 km² cercados de uma imensa diversidade cultural. Sejam elas danças folclóricas, folguedos populares, lendas, mitos, pratos típicos, frutas regionais, cultura indígena, entre outros. Porém, a festa que move grande parte da população paraense, brasileira e mundial, realizada em Belém do Pará há mais de dois séculos, não pode ser esquecida. O Círio de Nazaré.
A festa é uma das maiores procissões católicas realizadas no Brasil e no mundo, a qual reúne por volta de 2 milhões de pessoas, denominadas de romeiros, que são grupos religiosos que peregrinam a uma determinada igreja ou local considerado santo, a fim de pagar promessas, agradecer, pedir graças ou por devoção.
Ou seja, mais de meio milhão de turistas de outros Estados e países se reúnem na capital paraense, uma vez que o Pará possui cerca de 1,4 milhão de habitantes. Os mesmos, na celebração da festa, caminham pelas ruas da capital do Estado em homenagem à Senhora de Nazaré, mãe de Jesus. Tal caminhada é denominada pelos católicos de “caminhada da fé”. Mas antes de qualquer afirmação, é importante relembrar a “lenda-história” do Círio de Nazaré.
Nos confins do ano 1700, Plácido José de Souza, que era um caboclo paraense, saiu pra caçar nos arredores do igarapé Murutucu e ao refrescar-se nas margens do igarapé, viu a imagem da Senhora de Nazaré entre as pedras, coberta por lodo.

Imediatamente o caboclo levou a mesma para sua casa e a pôs num altar para que pudesse venerá-la. No dia seguinte, no entanto, a imagem não se encontrava mais no local onde havia sido posta. Então, Plácido, sem saber o que estava acontecendo, procurou-a nas margens do igarapé e, para sua surpresa, lá estava ela, novamente entre as pedras.
O acontecimento ocorreu diversas outras vezes e com isso chegou ao conhecimento do governador da época, que decidiu pôr a imagem no palácio sob rígida vigilância. Entretanto, a mesma voltou a sumir e reaparecer às margens do Murutucu.
Os religiosos concluíram que a imagem queria ficar no igarapé, então, decidiram erguer ali a primeira capela. Foi assim, que nasceu e evoluiu o culto de adoração à Senhora de Nazaré.
Porém, há uma grande divergência entre os estudiosos da área.
Uns dizem que Plácido realmente existiu e foi o criador do culto em Belém, afirmam também que Plácido não era um caboclo humilde como relatado na lenda e sim um grande caçador e agricultor que possuía grandes pedaços de terra, como diz a escritora paraense Mízar Bonna: “Ele não era um simples caboclo como muitos dizem por aí. Plácido fazia parte de uma das primeiras famílias colonizadoras do Pará”.
A escritora afirma que Plácido nasceu no município de Vigia, era filho do português Manoel Ayres de Souza e sobrinho de um dos primeiros capitães-mores do Grão Pará, Ayres de Souza Chichorro. Sua esposa era uma paraense, chamada Ana Maria de Jesus, filha do português Fernão Pinto da Guia. Estrada do Maranhão, hoje bairro de Nazaré, era a região onde o casal morava, em terras que lhes foram doadas pelo tio, em 1673.
Em um artigo sobre a festa popular, publicado em uma edição do Diário do Pará, um engenheiro chamado Waldemir Jorge João relatou que a veneração à Senhora de Nazaré foi introduzida no Pará por padres jesuítas portugueses antes de Plácido ter achado a imagem às margens do igarapé Murutucu.
O autor também diz que Plácido viveu em Vigia, mas se mudou para Belém e que era um homem simples e religioso, que provavelmente conhecia os jesuítas portugueses. Tal ideia faz com que o engenheiro ache que a imagem não foi encontrada de forma tão casual como é descrita na lenda.
Outros dizem que o caboclo nunca existiu, como afirma o professor de História da Universidade Federal do Pará (UFPA), Geraldo Mártires Coelho, em um de seus discursos, definindo Plácido como “uma figura mitológica”.
O historiador diz que não existe nenhum documento que comprove a existência do “homem que encontrou a imagem”, como é conhecido o caboclo. “Ninguém sabe quem ele era. Não há prova, não há documento. O que existe é uma tradição”, declarou o professor.

De qualquer forma, é preciso reconhecer que o Círio, além de ser de grande importância para a cultura paraense, é, também, uma grande estratégia econômica, uma vez que a festa de 2013 injetou na economia paraense aproximadamente R$ 895 milhões, através do aumento dos serviços, comércio, agropecuária, industrias, os quais são os principais influenciados pela grande festa religiosa, e representam 25% de geração de empregos, mesmo que 95% das oportunidades sejam informais.
Para os paraenses e para os que vêm participar das celebrações, o Círio de Nazaré é uma grande representação cultural paraense. Uma cultura que é extremamente diversificada, rica em cores, gostos, aromas, beleza e, principalmente, personalidade.



REFERÊNCIAS
Prodepa. Cultura, fauna e flora. Disponível em: http://www.cdpara.pa.gov.br/index.php
Diretoria da Festa de Nazaré. Círio de Nazaré 2014. Disponível em: http://www.ciriodenazare.com.br/portal/
Diário do Pará. História: quem era o caboclo Plácido, afinal?. Disponível em: http://diariodopara.diarioonline.com.br/impressao.php?idnot=64098




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