Marcos Silva
Acadêmico do 8º
semestre.
Quando falamos em Amazônia,
logo vem em mente (quase que imediatamente) a memória da grave questão
ambiental que assola a região: desmatamento da floresta, ameaça à
biodiversidade, terras ocupadas desordenadamente. Jogo de interesse e ambição
na exploração das riquezas naturais da região, aliado a negligencia tem colocado
seriamente em ameaça o grande patrimônio natural que é a Amazônia. No entanto a
Amazônia também nos remete e nos faz pensar em situações humanas e questões
sociais preocupantes: indígenas que são expulsos dos seus territórios e
ofendidos em sua cultura; crescimento desordenado de cidades; conflitos sociais
por causa da posse de terra, projetos econômicos e de desenvolvimento
inadequados ao território, concentração de renda e desigualdade.
Com o olhar atento de
internacionalista, percebemos que ao longo do tempo, certas cidades, regiões e territórios
adquiriram uma importância imprescindível, tornando-se lugares em que pode ser
decidido o destino de povos, sociedades e até mesmo da terra inteira. Nesse
aspecto a Amazônia é, sem dúvida alguma, um desses espaços por concentrar as
contradições de nossa geração: este oceano de vegetação, considerado o pulmão
do mundo, está assolado pela falta de políticas públicas acertadas, pelo
desmatamento selvagem, pela mineração predatória e pela urbanização caótica e desordenada,
reflexos da má governança que impera na região[i].
O modelo de desenvolvimento
que foi imposto para a Amazônia ao longo de décadas e de variados governos
(democráticos ou não), sempre foi centrado apenas nas variáveis econômicas,
procurando destacar as suas riquezas naturais e as formas de transformá-las em
mercadorias. Nenhum plano de desenvolvimento implementado até então, colocou no
epicentro das discussões de planejamento do desenvolvimento os povos que
habitam a região, a sua longa presença nesse imenso território, suas maneiras
de conviverem com os diferentes e complexos elementos que fazem da Amazônia um
lugar diferente, com características que a tornam um bioma, um berço de vida
que não se repete em outras regiões do planeta. E por conta desse fato, a Amazônia não pode
ser reduzida apenas aspectos econômicos, uma vez que ela agrega uma série de
outros valores, tais como: o cultural, o medicinal, o paisagístico, o
ecológico, o social, o simbólico, o religioso e outros[ii].
Nesta região, que alguns
consideram inóspita, o impacto da globalização econômico e cultural já tem
forte influencia sobre as populações tradicionais da região e isso tem gerado a
mudanças de hábitos culturais, sociais. Basta atentarmos para os noticiários,
que iremos perceber que na Amazônia constatam-se problemas sociais que são
típicos da periferia dos grandes conglomerados urbanos (para usar uma linguagem
geográfica): violência, criminalidade, desemprego, desigualdade racial,
conflitos, educação precária, falta de acesso a serviços públicos de qualidade,
diferenciação de tratamento entre ricos e pobres, entre outros[iii].
O modo de vida dos povos que habitam a
Amazônia oferece ao povo brasileiro um contraponto para uma reflexão sobre a
urgência de se construir um novo modelo de desenvolvimento para este novo Brasil.
Não podemos basear o planejamento regional somente por dados econômicos que se
orientam por valores de mercado, e entendem que cidadania se resume, só e
somente só, na capacidade de consumo das pessoas.
O novo modelo que os povos
da Amazônia propõem (baseados em suas experiências, convivências e lutas) deve ter
como meta central o ser humano,
promovendo a inclusão social, com o exercício pleno da cidadania,
combater a pobreza, assegurar o respeito à diversidade cultural e social e
tornar viáveis atividades econômicas dinâmicas e competitivas, associadas à geração
de emprego e renda e ao uso sustentável dos recursos naturais[iv].
Pensar o que realmente a
Amazônia precisa é o primeiro passo para se mudar o que vem sendo feito. Os
problemas da região extrapolam as questões ligadas à problemática ambiental. O
debate não deve se focar apenas na preservação da fauna e da flora. O problema
crucial da Amazônia está ligada ao ser humano. Até agora o que se constata é
que as populações da região convivem com os males da desigualdade sociais que (infelizmente)
ainda reinam no País: desemprego, superexploração e o trabalho escravo. Por
mais que haja esforços, direitos humanos, sociais, econômicos, culturais que
deveriam ser garantidos a todas as pessoas, ainda estão longe de serem
realizados na Amazônia. Os governos, o
capital, estão mais preocupados em explorar as riquezas abundantes da região e
pouco ou nada fazem para pagar a dívida social que a população da Amazônia tem direito. Para constatar tal afirmação, é só analisar
os resultados mostrados pelo “Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (PNUD/IDH-M)”,
nele percebemos que as populações da Amazônia sofrem os mais baixos índices de
qualidade de vida, principalmente na educação e na saúde.
Já está mais que na hora, da
população brasileira repensar, a partir da realidade amazônica, o modelo de
desenvolvimento que se quer para o país. Infelizmente os Governos veem-se em um
paradoxo ilógico, pois, o mesmo governo que elaborou o Plano Amazônia
Sustentável e vetou parcialmente o Código Florestal (por considera-lo
inapropriado para a proteção das florestas), é o mesmo que financia e apoia as
monoculturas intensivas e extensivas de grãos, de cana-de-açúcar e de
eucalipto, incentiva mineradoras e siderurgias, expulsa os índios e comunidades
tradicionais de seus habitats para construir barragens e abrir rodovias e pouco
ou nada faz para combater a grilagem e para regularizar a posse da terra das
populações da Amazônia.
Diante
desse quadro, o que fica evidente é que, Infelizmente, desde a sua descoberta,
a região Amazônica se encontra no paradoxo de saber os caminhos e as soluções
para alcançar uma sociedade mais justa, equânime e sustentável, mas ainda não
conseguiu os meios para avançar em uma transição para um modelo de
desenvolvimento menos predatório e mais humano na velocidade que poderíamos e
deveríamos fazer. [v]
A cúpula do RIO + 20 foi a
uma das grandes oportunidades para que os formuladores de políticas para
Amazônia pensassem a Amazônia a partir da própria Amazônia. Além de ter sido um
ótimo momento para atualizar a pauta política e de desenvolvimento para esta
região.
Agora pós Rio + 20, o
desafio estratégico que está colocado para a Amazônia, é promover o
desenvolvimento da região, não apenas como produção e acumulação de riqueza e promoção,
nem sempre efetiva e eficaz, de bem-estar humano. O sentido pleno do
desenvolvimento Amazônico é criar condição de bem-estar humano, como expressão dos
valores culturais, num ambiente natural em equilíbrio, como pressuposto da
continuidade da vida, do bem-estar, da civilidade e ética fundadas na relação recíproca
com a natureza.
[i] Ler: IBASE – Fórum
para uma outra governança. Seminário: De que Brasil e de que Amazônia o mundo
precisa?. Ano 2008
[ii] Ler: AB’SÁBER, Aziz.
Problemas da Amazônia Brasileira. Revista de Estudos Avançados, USP, n. 53, p
7-35. Dossiê Amazônia Brasileira I – jan/abr. 2005, 377p.
[iii]
Ler: LOUREIRO, Violeta ReHalefsky. Amazônia:
possibilidades de um desenvolvimento sustentável num mundo globalizado. Novos
Cadernos NAEA, Belém, v.5, n.1, p.155-182, jun.2002.
[v]
Ler: MATHIS, Armin; FILHO, Milton C. Farias. O
sistema político e a Amazônia brasileira: considerações político-institucionais.
Novos Cadernos NAEA, Belém, v.7, n.2, p. 5-30, dez. 2004.
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