Adriano Bastos Rosas
Acadêmico do 4º Semestre.
Desconfiança e tensões entre os
diversos atores que compõe o Sistema Internacional não são elemento novo nos
jogos de cooperação e conflito que os envolvem, lapidam e, de certo modo,
regulam. Quando passamos a observar o amplo espectro de interesses que um
Estado que se pretenda chamar de “Estado Democrático de Direitos” toma para si
como determinantes para o papel que se dispõe a exercer no sistema, bem como
recordando o importantíssimo valor que o acesso a informação tem paulatinamente
exercido no campo das relações de poder, tanto interno quanto internacional,
não é de se estranhar que o observador atento se pergunte: até que ponto os
cidadãos deste Estado estão dispostos a ceder sua soberania para que ele atinja
seus objetivo?
Eis
a pergunta central que se relaciona diretamente ao alvoroço causado pelas
recentes afirmativas e supostas provas de que o governo dos Estados Unidos tem,
sistematicamente, acessado informações de sites e linhas telefônicas, inclusive
de seus próprios cidadãos. A justificativa dos representantes do governo,
fundamentada em princípios dentre os quais foram ressaltados a proteção da
vida, manutenção da ordem social e principalmente da segurança estatal no
combate ao terrorismo, certamente apresentam prerrogativas a se ponderar sobre
o tema. Todavia, conhecendo o processo histórico de contínua busca pelo resgate
e fortalecimento do discurso de unipolaridade que o Estado norte-americano
pratica, é válido se questionar se essa realmente seria a motivação principal desta operação.
Em
primeiro lugar, ainda no campo do ordenamento interno, esse tipo de prática
pode ser percebido como uma clara afronta a um grupo de valores cuja promoção
constitui elemento indizível dos discursos universalistas do país: a proteção e
garantia dos direitos individuais, mais explicitamente, do direito a
privacidade. No momento atual, onde a relação governo – população ainda se
encontra fragilizada devido a eventos da última década, como os conflitos no
Oriente Médio, a Crise de 2008 e dilemas antigos como o acesso e o porte de
armas, a notícia tem atingido principalmente duas repercussões: enquanto alguns
cidadãos consideram a política necessária tanto por motivos de segurança quanto
pela manutenção do status quo do
país, outros consideram que a operação é abusiva e incondizente com o modelo de
vida e os valores norte-americanos.
No
Sistema Internacional, a possível operação da Agencia de Segurança Nacional
(NSA) acaba por despertar temores e discursos que podem se tornar mais um
embargo para a amenização dos conflitos internacionais. Afinal, se o governo
foi capaz de contradizer princípios aos quais promove amplamente e atingir com
isso seus próprios cidadãos, o que ele não é capaz de fazer com relação ao
resto do globo? E porque os outros Estados não deveriam seguir o mesmo
raciocínio e tentar por em prática políticas semelhantes? Isso não elevaria
ainda mais a sensação de insegurança entre os atores do SI como um todo?
Enfim,
cabe terminar destacando que ainda é necessária a análise quanto ao papel do
auto-declarado expositor da operação, Edward Snowden, a partir do momento em
que fugiu para o Estado que representa o maior competidor financeiro do Estado
americano, a China, mas, infelizmente, esse assunto fica para uma próxima
discussão.
(fonte da imagem: www.oglobo.globo.com)
Como conjugar segurança nacional com garantia dos direitos dos cidadãos? Talvez esta é uma das questões mais relevantes em tempos de interdependência complexa...
ResponderExcluirMais foi feita uma pesquisa sobre o que os Americanos achavam disso e a maioria concordava. E essa monitoramento é pra detectar possíveis ameaças terroristas, não?
ResponderExcluir