sexta-feira, 28 de junho de 2013

Orgulho Gay: a formação da identidade gay global.

Kleber da Cruz Mesquita Junior
Acadêmico do 8º Semestre.

            Nunca se discutiu tanto acerca da igualdade de direitos para homossexuais no mundo. Estados, Organizações Internacionais e celebridades posicionam-se cada vez mais veementemente em favor da aceitação das variantes sexuais, compreendendo-as como parte fundamental dos Direitos Humanos. Fruto de décadas de luta por parte de grupos homossexuais ao redor do mundo, a discussão acerca das variantes de gênero se faz presente em quase todos os níveis sociais. Movimentos estes alimentados em grande medida por um único combustível: o orgulho gay. Analisemos brevemente sua formação histórica e as discussões que ainda existem ao redor deste conceito.
            Em diferentes momentos históricos, o comportamento sexual entre pessoas de mesmo sexo foi visto por óticas diferentes, mas sempre foi discutido pela sociedade. Na antiguidade clássica, estas práticas eram normais, ainda que estivessem atreladas a certas preocupações públicas, especialmente relacionadas ao crescimento populacional. Com o levante da moral cristã, e apropriando-se de um termo bíblico, o homem que mantinha relações sexuais com um igual era chamado sodomita. Já no século XIX, o termo homossexual surge como a diferenciação entre aquele que é normal e o seu diferente:

O homossexual do século XIX torna-se uma personagem: um passado, uma história, uma infância, um caráter, uma forma de vida; [...] A homossexualidade apareceu como uma das figuras da sexualidade quando foi transferida, da prática da sodomia, para uma espécie de androgenia interior, um hermafroditismo da alma. O sodomita era um reincidente, agora o homossexual é uma espécie. (FOUCAULT, 1984, pp. 43, 44)

        Esta separação do homossexual e do heterossexual, pela primeira vez na história, cria a identificação de variantes de gênero pela ciência e pela sociedade, possibilitando um símbolo através do qual se organizaram os movimentos de pessoas com comportamento sexual diferente do homem-mulher: o gay. O slogan da Queer Nation nos Estados Unidos exemplifica bem esta realidade: “WE’RE HERE, WE’RE QUEER, GET USED TO IT!”. Este sentimento de pertencimento a um grupo social determinado e até então diferenciado gerou as bases para a formação de um comportamento social próprio que identificava quem é gay e quem não é.
            Neste sentido, a formação da identidade gay se baseia na opressão, como uma resposta à imposição social de um comportamento heteronormativo. Os homossexuais saíram do armário e não são poucos, e se afirmaram perante a sociedade ao invés de sentirem vergonha. Assim emergem as organizações gays nacionais e internacionais, comunidades e movimentos que indicam o nível de irmandade entre homens que se identificam como gays em diferentes culturas e o grau de aceitação que existe para a homossexualidade em escala mundial. De acordo com Altman (1983, p. 217), “o modelo gay americano criou uma identidade gay global que tenta ser diferente do padrão aceito, enfrenta a perseguição em prol dos direitos pessoais e acolhe a solidariedade entre gays”.
            Judith Butler (1990) é quem vai argumentar esta formação da identidade de gênero como performatização de padrões de comportamento que um indivíduo adota como seus devido ao sentimento de pertencimento a um grupo específico. Isto explica não só a possibilidade da criação de uma identidade gay e de seus símbolos universais, como também de outras variantes de gênero. Neste sentido, existem padrões de comportamento diferentes nas variantes sexuais ao redor do mundo, o que, na prática, quer dizer que um homem que mantém relações sexuais com outro não necessariamente precisa gostar de Madonna, ou que uma mulher que mantém relações sexuais com outra mulher não pode usar salto alto. Tampouco ambos obrigatoriamente se sentem gays. Isto não só nos leva a refletir sobre o que é, em si, a homossexualidade, como também no motivo de entendermos que Bart Simpson é heterossexual.
            Entretanto, a formação de um comportamento gay internacional é clara, e um dos fatores mais importantes para o seu desenvolvimento é a globalização (SUTTON, 2007). Aliada a um forte movimento homossexual estadunidense, a rápida propagação de idéias e valores adotados pelos homossexuais norte-americanos permitiu que, rapidamente, um homem que mantivesse relações sexuais com outro homem no Japão pudesse, a seu critério, não se sentir só japonês, como também gay. As superproduções de Hollywood, os seriados e a própria veiculação de informações acerca dos movimentos homossexuais internacionalmente gerou um sentimento de pertencimento que veio a ser chamado de Orgulho Gay. Os homossexuais surgem então como um grupo que apresenta comportamentos com aspectos semelhantes em qualquer parte do mundo, via de regra descrito como o padrão homossexual ocidental.
            Por fim, vale ressaltar que nenhum outro grupo social apresenta tantas possibilidades atualmente a nível internacional como o homossexual. Muitas vitórias foram alcançadas no âmbito dos Estados, das Organizações Internacionais, da mídia e dos Direitos Humanos. Entretanto, ainda há questões que hoje se apresentam como os baluartes dos movimentos homossexuais, como o casamento e a adoção. Em rumo a uma inevitável aceitação social (SUTTON, 2007), porém ainda com aspectos incertos, acompanhemos de perto o mundo gay, pois o século XXI será aquele que mais vai discutir as variantes sexuais e sua relação com o funcionamento da sociedade.


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