Kleber da Cruz Mesquita Junior
Acadêmico do 8º Semestre.
Nunca
se discutiu tanto acerca da igualdade de direitos para homossexuais no mundo.
Estados, Organizações Internacionais e celebridades posicionam-se cada vez mais
veementemente em favor da aceitação das variantes sexuais, compreendendo-as
como parte fundamental dos Direitos Humanos. Fruto de décadas de luta por parte
de grupos homossexuais ao redor do mundo, a discussão acerca das variantes de
gênero se faz presente em quase todos os níveis sociais. Movimentos estes
alimentados em grande medida por um único combustível: o orgulho gay.
Analisemos brevemente sua formação histórica e as discussões que ainda existem
ao redor deste conceito.
Em
diferentes momentos históricos, o comportamento sexual entre pessoas de mesmo
sexo foi visto por óticas diferentes, mas sempre foi discutido pela sociedade.
Na antiguidade clássica, estas práticas eram normais, ainda que estivessem
atreladas a certas preocupações públicas, especialmente relacionadas ao
crescimento populacional. Com o levante da moral cristã, e apropriando-se de um
termo bíblico, o homem que mantinha relações sexuais com um igual era chamado
sodomita. Já no século XIX, o termo homossexual surge como a diferenciação
entre aquele que é normal e o seu diferente:
O homossexual do século XIX
torna-se uma personagem: um passado, uma história, uma infância, um caráter,
uma forma de vida; [...] A homossexualidade apareceu como uma das figuras da
sexualidade quando foi transferida, da prática da sodomia, para uma espécie de
androgenia interior, um hermafroditismo da alma. O sodomita era um reincidente,
agora o homossexual é uma espécie. (FOUCAULT, 1984, pp. 43, 44)
Esta separação do homossexual e do heterossexual,
pela primeira vez na história, cria a identificação de variantes de gênero pela
ciência e pela sociedade, possibilitando um símbolo através do qual se
organizaram os movimentos de pessoas com comportamento sexual diferente do
homem-mulher: o gay. O slogan da Queer Nation nos
Estados Unidos exemplifica bem esta realidade: “WE’RE HERE, WE’RE QUEER, GET
USED TO IT!”. Este sentimento de pertencimento a um grupo social determinado e
até então diferenciado gerou as bases para a formação de um comportamento
social próprio que identificava quem é gay e quem não é.
Neste sentido, a formação
da identidade gay se baseia na opressão, como uma resposta à imposição social
de um comportamento heteronormativo. Os homossexuais saíram do
armário e não são poucos, e se afirmaram perante a sociedade ao invés de
sentirem vergonha. Assim emergem as organizações gays nacionais e
internacionais, comunidades e movimentos que indicam o nível de irmandade entre
homens que se identificam como gays em diferentes culturas e o grau de
aceitação que existe para a homossexualidade em escala mundial. De acordo com
Altman (1983, p. 217), “o modelo gay americano criou uma identidade gay global
que tenta ser diferente do padrão aceito, enfrenta a perseguição em prol dos
direitos pessoais e acolhe a solidariedade entre gays”.
Judith
Butler (1990) é quem vai argumentar esta formação da identidade de gênero como
performatização de padrões de comportamento que um indivíduo adota como seus
devido ao sentimento de pertencimento a um grupo específico. Isto explica não
só a possibilidade da criação de uma identidade gay e de seus símbolos
universais, como também de outras variantes de gênero. Neste sentido, existem
padrões de comportamento diferentes nas variantes sexuais ao redor do mundo, o
que, na prática, quer dizer que um homem que mantém relações sexuais com outro
não necessariamente precisa gostar de Madonna, ou que uma mulher que mantém
relações sexuais com outra mulher não pode usar salto alto. Tampouco ambos
obrigatoriamente se sentem gays. Isto não só nos leva a refletir sobre o que é,
em si, a homossexualidade, como também no motivo de entendermos que Bart
Simpson é heterossexual.
Entretanto, a formação de
um comportamento gay internacional é clara, e um dos fatores mais importantes
para o seu desenvolvimento é a globalização (SUTTON, 2007). Aliada a um forte
movimento homossexual estadunidense, a rápida propagação de idéias e valores
adotados pelos homossexuais norte-americanos permitiu que, rapidamente, um
homem que mantivesse relações sexuais com outro homem no Japão pudesse,
a seu critério, não se sentir só japonês, como também gay. As
superproduções de Hollywood, os seriados e a própria veiculação de informações
acerca dos movimentos homossexuais internacionalmente gerou um sentimento de
pertencimento que veio a ser chamado de Orgulho Gay. Os
homossexuais surgem então como um grupo que apresenta comportamentos com
aspectos semelhantes em qualquer parte do mundo, via de regra descrito como o
padrão homossexual ocidental.
Por
fim, vale ressaltar que nenhum outro grupo social apresenta tantas
possibilidades atualmente a nível internacional como o homossexual. Muitas
vitórias foram alcançadas no âmbito dos Estados, das Organizações
Internacionais, da mídia e dos Direitos Humanos. Entretanto, ainda há questões
que hoje se apresentam como os baluartes dos movimentos homossexuais, como o
casamento e a adoção. Em rumo a uma inevitável aceitação social (SUTTON, 2007),
porém ainda com aspectos incertos, acompanhemos de perto o mundo gay, pois o
século XXI será aquele que mais vai discutir as variantes sexuais e sua relação
com o funcionamento da sociedade.
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