Aos
nossos leitores, temos uma entrevista feita com a Professora Mayane Bento Silva¹, para quem fizemos algumas perguntas
acerca de um tema muito importante, principalmente na região amazônica, a
discussão sobre Recursos Hídricos. Abaixo você pode conferir o que foi
questionado e as considerações da entrevistada.
¹ Possui título de
bacharel em Relações Internacionais pela Universidade da Amazônia (UNAMA).
Cursa MBA em Gestão Financeira e Negócios na Universidade da Amazônia (UNAMA) e
é mestra por meio do Núcleo de Meio Ambiente (NUMA) na Universidade Federal do
Pará (UFPA) no Programa de Pós-Graduação em Gestão de Recursos Naturais e
Desenvolvimento Local na Amazônia.
1. Vivemos em uma das regiões com a maior abundância em
recursos hídricos no mundo, qual a importância disto para o Brasil, em especial
para a população da Amazônia?
a.
O importante é transformar essa imensa riqueza natural em
melhoria da qualidade de vida da população amazônica e fazer isso de modo a
contribuir para o desenvolvimento local e nacional de forma sustentável. Em
outras palavras, a Amazônia é um complexo com grandes riquezas e grandes
desafios.
2. Previsões afirmam que nos próximos anos o conflito não
será mais pelo petróleo e sim devido à escassez dos recursos hídricos. Sendo
assim, qual a importância da região para o mundo?
a.
Organizações internacionais como a ONU, estão trabalhando
em conjunto com outros organismos e diversos países para que previsões como
essas não tornem-se realidade. Todavia a escassez de água já é realidade em
diversos países na atualidade e diante da importância da água para vida e para
o desenvolvimento, certamente uma condição de escassez generalizada não
representa a melhor das perspectivas. Nessa visão geopolítica é possível
afirmar que a Amazônia possui as commodities do futuro, é o maior banco
genético e estabilizador climático do planeta e claro, é a maior bacia
hidrográfica contínua do mundo. Ela com certeza é muito importante, mas tão
importante quanto possuir essa imensidão de riquezas naturais é gerir com
eficiência seus recursos, de forma sustentável, promovendo o desenvolvimento da
região e a elevação de renda e qualidade de vida das populações locais. Essas,
são ações muito importantes e que também se inserem na lógica da necessidade de
defender a Amazônia contra investidas internacionais.
3. A questão da Biopirataria é um assunto delicado na região
amazônica, porém também tem entrado em pauta a questão da Hidropirataria, pois
há empresas de outros países que vem à Amazônia e ‘levam’ nossa água – sem
autorização – por meio de navios para ser vendida no exterior. Qual sua opinião
sobre o assunto?
a.
Esse deve ser um tema debatido e analisado e é muito
importante saber quais as consequências dessa pratica para a Bacia Amazônica. A
existência de navios que vem deixar petróleo e voltam aos seus países com água
é uma pratica corriqueira, todavia as denúncias jornalísticas apontam que há
uma coleta demasiada do recursos hídrico por navios que em seguida estariam
vendendo-a no exterior. Diante da procedência dessa denuncia, precisamos saber
o que isso representa para a reposição hídrica da foz de onde a água é retirada
e quais as medidas que o governo deverá tomar frente a essa situação. Todavia
ainda carecemos de denúncias formais e de uma fiscalização maior por parte da
Agencia Nacional de Águas.
4. O Brasil tem a maior parte de sua matriz energética
composta por usinas hidrelétricas (consideradas produtoras de energia limpa,
mas com impactos ambientais) e algumas em construção atualmente, como é o caso
de Belo Monte. Sobre esse tema, quais são suas considerações?
a.
Não só Belo Monte, mas outras hidrelétricas (se não me
engano, mais sete ou oito) são planejadas pelo Plano de Aceleração do
Crescimento para o aproveitamento do potencial hídrico do Pará e da região
Amazônia. Isso é um tema delicado. De um lado temos os defensores da produção
energética para o desenvolvimento nacional, e de outro temos os penalizado
locais por essa “produção energética para o desenvolvimento”. As conturbações
em torno de Belo Monte são uma representação da fragilidade do processo de
planejamento Nacional para o desenvolvimento. Precisamos de maior participação
popular, principalmente dos afetados. Considerando esses choques de interesses
(entre afetados e os ansiosos pelo desenvolvimento) é indispensável a melhora na qualidade dos
foros de discussão, para que ocorram antes das datas críticas de execução da
obra, propiciando a participação social na tomada de decisão de tais projetos
hidrelétricos que são causadores de impactos no ciclo hidrológico e de mudanças
no meio ambiente de modo geral, como o desaparecimento de espécies de fauna e
flora, perda da qualidade de vida das populações atingidas e ameaças a vários
grupos sociais. Outro fator a ser pontuado sobre dependência hídrica nacional é
que mesmo diante da competitividade dessa fonte, a diversificação deve ser um
propósito diante tanto dos riscos hidrológicos quanto da necessidade de fontes
alternativas com menores impactos ambientais e sociais.
5. A Amazônia vive uma ambiguidade, pois possui riquezas
naturais, entretanto convive com uma realidade de pobreza muito grande.
Portanto, em sua opinião, quais ações deveriam ser adotadas para aproveitar as
riquezas amazônicas em recursos hídricos para desenvolver a região
economicamente de forma sustentável e melhorar a qualidade de vida da
população?
a.
A população precisa de saneamento básico e abastecimento
de água de qualidade, precisa repensar o desperdício, assim como as grandes
empresas precisam parar de despejar seus resíduos líquidos e sólidos nos rios
da bacia amazônica. Para alcançar esses objetivos a solução não é simples. Mas
as políticas públicas e a participação social são elementos fundamentais. A
população amazônica precisa despertar sua ação fiscalizadora
e propositiva. Os comitês de bacia hidrográfica, por exemplo, são instrumentos
de gestão, fiscalização e proposição de medidas para impedir a poluição de
determinada bacia hidrográfica, cobrar pelo uso da água e outorgar seu direito
de uso, porém no Pará, não temos nenhum comitê. Certamente a dimensão territorial
é um desafio e não há uma formula certa para a superação da pobreza na
Amazônia, logo, precisamos investir, estudar e agir.
realmente muito esclarecedor, vivemos em meio a uma dicotomia em meio a Amazônia, com tantos recursos hídricos sem ao menos saber como utiliza-los sustentavelmente.
ResponderExcluir