quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Entrevista: Recursos Hídricos na Amazônia.




Aos nossos leitores, temos uma entrevista feita com a Professora Mayane Bento Silva¹, para quem fizemos algumas perguntas acerca de um tema muito importante, principalmente na região amazônica, a discussão sobre Recursos Hídricos. Abaixo você pode conferir o que foi questionado e as considerações da entrevistada.

¹ Possui título de bacharel em Relações Internacionais pela Universidade da Amazônia (UNAMA). Cursa MBA em Gestão Financeira e Negócios na Universidade da Amazônia (UNAMA) e é mestra por meio do Núcleo de Meio Ambiente (NUMA) na Universidade Federal do Pará (UFPA) no Programa de Pós-Graduação em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia.


1.    Vivemos em uma das regiões com a maior abundância em recursos hídricos no mundo, qual a importância disto para o Brasil, em especial para a população da Amazônia?
a.    O importante é transformar essa imensa riqueza natural em melhoria da qualidade de vida da população amazônica e fazer isso de modo a contribuir para o desenvolvimento local e nacional de forma sustentável. Em outras palavras, a Amazônia é um complexo com grandes riquezas e grandes desafios.

2.    Previsões afirmam que nos próximos anos o conflito não será mais pelo petróleo e sim devido à escassez dos recursos hídricos. Sendo assim, qual a importância da região para o mundo?
a.    Organizações internacionais como a ONU, estão trabalhando em conjunto com outros organismos e diversos países para que previsões como essas não tornem-se realidade. Todavia a escassez de água já é realidade em diversos países na atualidade e diante da importância da água para vida e para o desenvolvimento, certamente uma condição de escassez generalizada não representa a melhor das perspectivas. Nessa visão geopolítica é possível afirmar que a Amazônia possui as commodities do futuro, é o maior banco genético e estabilizador climático do planeta e claro, é a maior bacia hidrográfica contínua do mundo. Ela com certeza é muito importante, mas tão importante quanto possuir essa imensidão de riquezas naturais é gerir com eficiência seus recursos, de forma sustentável, promovendo o desenvolvimento da região e a elevação de renda e qualidade de vida das populações locais. Essas, são ações muito importantes e que também se inserem na lógica da necessidade de defender a Amazônia contra investidas internacionais.

3.    A questão da Biopirataria é um assunto delicado na região amazônica, porém também tem entrado em pauta a questão da Hidropirataria, pois há empresas de outros países que vem à Amazônia e ‘levam’ nossa água – sem autorização – por meio de navios para ser vendida no exterior. Qual sua opinião sobre o assunto?
a.    Esse deve ser um tema debatido e analisado e é muito importante saber quais as consequências dessa pratica para a Bacia Amazônica. A existência de navios que vem deixar petróleo e voltam aos seus países com água é uma pratica corriqueira, todavia as denúncias jornalísticas apontam que há uma coleta demasiada do recursos hídrico por navios que em seguida estariam vendendo-a no exterior. Diante da procedência dessa denuncia, precisamos saber o que isso representa para a reposição hídrica da foz de onde a água é retirada e quais as medidas que o governo deverá tomar frente a essa situação. Todavia ainda carecemos de denúncias formais e de uma fiscalização maior por parte da Agencia Nacional de Águas. 

4.    O Brasil tem a maior parte de sua matriz energética composta por usinas hidrelétricas (consideradas produtoras de energia limpa, mas com impactos ambientais) e algumas em construção atualmente, como é o caso de Belo Monte. Sobre esse tema, quais são suas considerações?
a.    Não só Belo Monte, mas outras hidrelétricas (se não me engano, mais sete ou oito) são planejadas pelo Plano de Aceleração do Crescimento para o aproveitamento do potencial hídrico do Pará e da região Amazônia. Isso é um tema delicado. De um lado temos os defensores da produção energética para o desenvolvimento nacional, e de outro temos os penalizado locais por essa “produção energética para o desenvolvimento”. As conturbações em torno de Belo Monte são uma representação da fragilidade do processo de planejamento Nacional para o desenvolvimento. Precisamos de maior participação popular, principalmente dos afetados.  Considerando esses choques de interesses (entre afetados e os ansiosos pelo desenvolvimento)  é indispensável a melhora na qualidade dos foros de discussão, para que ocorram antes das datas críticas de execução da obra, propiciando a participação social na tomada de decisão de tais projetos hidrelétricos que são causadores de impactos no ciclo hidrológico e de mudanças no meio ambiente de modo geral, como o desaparecimento de espécies de fauna e flora, perda da qualidade de vida das populações atingidas e ameaças a vários grupos sociais. Outro fator a ser pontuado sobre dependência hídrica nacional é que mesmo diante da competitividade dessa fonte, a diversificação deve ser um propósito diante tanto dos riscos hidrológicos quanto da necessidade de fontes alternativas com menores impactos ambientais e sociais.

5.    A Amazônia vive uma ambiguidade, pois possui riquezas naturais, entretanto convive com uma realidade de pobreza muito grande. Portanto, em sua opinião, quais ações deveriam ser adotadas para aproveitar as riquezas amazônicas em recursos hídricos para desenvolver a região economicamente de forma sustentável e melhorar a qualidade de vida da população?
a.    A população precisa de saneamento básico e abastecimento de água de qualidade, precisa repensar o desperdício, assim como as grandes empresas precisam parar de despejar seus resíduos líquidos e sólidos nos rios da bacia amazônica. Para alcançar esses objetivos a solução não é simples. Mas as políticas públicas e a participação social são elementos fundamentais. A população amazônica precisa despertar sua ação fiscalizadora e propositiva. Os comitês de bacia hidrográfica, por exemplo, são instrumentos de gestão, fiscalização e proposição de medidas para impedir a poluição de determinada bacia hidrográfica, cobrar pelo uso da água e outorgar seu direito de uso, porém no Pará, não temos nenhum comitê. Certamente a dimensão territorial é um desafio e não há uma formula certa para a superação da pobreza na Amazônia, logo, precisamos investir, estudar e agir.  


Um comentário:

  1. realmente muito esclarecedor, vivemos em meio a uma dicotomia em meio a Amazônia, com tantos recursos hídricos sem ao menos saber como utiliza-los sustentavelmente.

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