Os
recursos hídricos representam um tema de extrema importância para o Sistema
Internacional, já que em várias localidades do planeta pessoas vivem com escassez
desse elemento chave para a vida humana, e estudos indicam que a tendência é
piorar, e o Brasil – com destaque para a região amazônica – é um ponto crucial quando
se debate os recursos hídricos. Por isso trazemos aos nossos leitores uma
entrevista com o Professor Dr. Milton Matta¹, abordando esse tema.
¹ Possui graduação em
Geologia pela Universidade Federal do Pará (1977), mestrado em Geologia e
Geoquímica pela Universidade Federal do Pará (1982) e doutorado em Geologia e
Geoquímica pela Universidade Federal do Pará (2002). Atualmente é professor
associado I da Universidade Federal do Pará. Foi membro fundador da Associação
Brasileira de Águas Subterrâneas, Núcleo Pará e é conselheiro do CREA-PA com
atuação destacada na Comissão de Recursos Hídricos e Meio Ambiente.
1.
Professor existe de fato conflito mundial ou
possibilidade de conflito mundial sobre a Água?
Existe. O que a gente nota hoje é que tem cerca de 300
conflitos potencias no mundo por causa da água.
2.
Na verdade, esses conflitos são movidos pelo quê? Pela
ausência de água no mundo?
Não, porque não existe hoje ausência de
água no mundo, o que existe é uma falha na distribuição dessa água. Então, tem
alguns países que tem água em excesso, como é o caso do Brasil, e tem países
que tem falta desse recurso hídrico. Então isso cria problema, porque quem tem
muito não quer dar para quem tem pouco, etc. Isso vai gerar o conflito.
3.
Do ponto de vista dos recursos no Brasil, como a gente
pode falar dessa disponibilidade de água?
O Brasil tem cerca de 12 % da água do
mundo, alguns autores falam em 13%, já ouvi falar até 15%, mas é algo entre 12%
e 15% de toda água no planeta.
4.
Essa disponibilidade de água pode ser trabalhada do ponto
de vista da gestão de quê forma?
Eu costumo dizer que não existe a crise
da água. O Brasil tem cerca de 30% da sua quantidade de água disputada por 93%
da sua população. Hoje nós temos cerca de 7% na Amazônia – da população do
Brasil – e nós temos 70% dos recursos hídricos. Temos que levar isso em
consideração, ver essa distribuição e estabelecer critérios para uso e gestão
dessa água.
5.
Os atores internos, os grupos de interesse internos tem
conseguido levar em consideração a gestão desse aquífero aqui na Amazônia?
Não, porque eles não conhecem o
aquífero, a SAGA (Sistema Aquífero Grande Amazônia). Isso a gente está divulgando
desde o ano passado, é uma coisa nova, não se conhecia a potencialidade desse
sistema aquífero, e agora nosso órgão de gestão parece estar querendo fazer
licitação internacional para gestão desse aquífero.
Nós temos capacidade, nós temos amazônidas
disponíveis para trabalhar com isso aí, com competência, todos com doutorado e
infelizmente, parece que a gestão vai ter que ser internacional.
6.
O ‘SAGA’ na verdade está totalmente dentro do território
brasileiro?
Está dentro do território brasileiro, ele
está sob os Estados do Pará, Amazonas e uma parte de Amapá. Então, ele está
embaixo da Amazônia brasileira e não é transfronteiriço, quer dizer, ele não é
passado para outros países.
Já o aquífero Guarani tem um complicado
arranjo de gestão com cinco países, é um aquífero transfronteiriço que
realmente cria problema para você fazer a gestão.
7.
MT- Professor, quais são os principais desafios para a
academia no que diz respeito dessa gestão da água?
É de criar mecanismos suficientes, de criar
expertise suficiente para que se entenda como é que funciona essa relação entre
a água superficial e a água subterrânea – nós temos as duas coisas – e conseguir passar isso aí para gerações
futuras.
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