Danilo
Ebúrneo
Acadêmico
do 5º Semestre.
Estrearemos
agora uma nova coluna no blog, que abordará as Relações Internacionais e a política
pela ótica de filmes, séries e, se possível, outros tipos de mídias que possam
contribuir para o nosso crescimento profissional, e porque não, nos dar uma
nova visão do que estudamos todos os dias.
O
foco aqui não será apenas analisar a história de um filme (Sempre sem
revelações do enredo), mas sim analisar
por uma ótica cinematográfica mais técnica, permitindo assim um maior proveito
da experiência.
Sendo
assim, vamos ao nosso primeiro filme.
Nome original: Tinker, Taylor, Soldier, Spy
Sinopse: Passado em 1973, em
plena Guerra Fria, o longa gira em torno de George Smiley
(Gary Oldman), um veterano da divisão de elite do serviço secreto inglês
conhecida como Circus. Após a morte de seu ex-chefe e de alguns fracassos em
missões internacionais, ele é chamado para desvendar um mistério sobre a
identidade do agente duplo que, durante anos, trabalhou também para os
soviéticos.
Baseado
no livro de John le Carré, O Espião que sabia demais (Tinker, Taylor, Soldier, Spy)
se passa em 1973, onde a Guerra Fria estava no seu ápice, focando nos membros
da agencia de espionagem inglesa que tem o codinome de Circus. A agência é dirigida por Control (John Hurt) que suspeita através de possíveis rumores que
um de seus membros principais é um agente duplo que está vazando informações
para a União Soviética. Com esses acontecimentos, é requisitada a volta de George Smiley (Gary Oldman) um veterano
da Circus, para investigar o caso.
Esse
filme é um interessante exercício cinematográfico, trabalhando a política e as
Relações Internacionais de maneira diferente de como filmes de espionagem em
geral abordam. A primeira coisa a se notar aqui é como os personagens são
mostrados. O publico em geral está acostumado a ver espiões como James Bond
(Charmosos e indestrutíveis), mas o retrato aqui são de homens velhos, já
cansados de uma vida cheia de guerras e tensões, onde sempre observam com olhos
desconfiados tudo ao seu redor.
Sabiamente,
o diretor de fotografia Hoyte Van
Hoytema deixa claro em cada cena a tensão vivida por eles, pois os lugares
onde convivem todos os dias ou são escuros e esfumaçados (Imagem 1) ou são
melancólicos e monocromáticos (Imagem
2), mostrando aos espectadores o desespero e o cansaço constante vivido pelos
espiões.
Imagem 1 |
Imagem 2 |
O
diretor Tomas Alfredson e os
roteiristas Peter Straughan e Bridget O´Connor são hábeis em fazer
diversas referencias e insinuações interessantíssimas sobre a Guerra Fria e
sobre o que era o sistema internacional da época. Constantemente as tensões
internas e externas (com uma de suas facetas já mostradas acima) sempre são
mostradas de maneiras sutis, mas poderosas. Não é difícil o diretor focar no
relógio em cima da mesa do Circus, mostrando como o mundo estava em alerta, e
que a qualquer momento uma Terceira Guerra poderia acontecer (Note que na
medida em que o filme avança, a velocidade do relógio aumenta).
A
visão sobre a rivalidade entre o Capitalismo e o Socialismo é representada na
duvida sobre o lado em que os agentes estão lutando, apesar de suas
nacionalidades, a fé no sistema pregado é constantemente posta em questão. Em uma cena,
Smiley pergunta para Control se os rumores são genuínos; então Control responde
‘’Nada mais é genuíno’’, mostrando a constante luta interna dos personagens
sobre o que é a verdade, e sobre o que estão lutando;
É
interessante ainda ver como o filme trata acontecimentos da Guerra Fria. Na
primeira parte do filme um dos agentes da Circus (Inglês) vai se encontrar com
um contato Húngaro, o que representa claramente a diferença de pensamento com a
União Soviética, o que nos remete a Primavera
de Praga. Outro ponto a se notar é
que o filme trabalha na perspectiva Realista
(naturalmente, pois estavam em guerra) mas ele possui personagens com
pensamentos Idealistas, e ainda
assim podemos colocar a perspectiva Construtivista
em pauta.
No
filme há um agente secreto que não mostra seu rosto e ninguém sabe seu nome,
ele é apenas conhecido como Karla. Ele
é um agente que provavelmente está acima das decisões de espionagem da
Inglaterra, União Soviética e EUA. É impressionante o quanto as decisões de
Karla pesam no decorrer do filme, pois mesmo não sabendo quem ele realmente é,
os personagens sentem o seu poder. Em um período em que as Relações Internacionais estavam totalmente instáveis e
os níveis de conflito faziam com que o mundo estivesse a beira de uma
Guerra armada (Nível 6) a espionagem era uma ferramenta essencial para saber
para onde aquele sistema bipolarizado iria. Karla, assim como todos os outros
eram os responsáveis por aquele minúsculo equilíbrio interno, e qualquer erro
poderia desencadear a nova guerra.
Os
roteiristas sabem disso e foram inteligentes ao colocar em uma das reuniões da
Circus a seguinte frase dita por um deles:
‘’Não se trata mais de soldados em
trincheiras,
nós estamos na linha de frente agora’’
Mostrando
assim, que o mundo era um imenso tabuleiro de Xadrez, e cada movimento iria
afetar todo o Sistema Internacional,
inclusive vazamentos e conspirações de espionagem.
Eu
poderia falar sobre este filme por mais 20 páginas, pois a sua competência em
abordar a política interna e o sistema internacional não é comum. E claro, por
contar com um ótimo elenco (Gary Oldman fantástico no papel) e direção
extremamente competente, o filme é totalmente recomendado a todos os
internacionalistas e aos fãs de cinema. Tenho certeza que se tiverem um tempo
livre do trabalho e dos estudos, certamente irão apreciar essa belíssima obra.
Até a próxima!
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