sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Resenha: O Espião Que Sabia Demais.

Danilo Ebúrneo
Acadêmico do 5º Semestre.

Estrearemos agora uma nova coluna no blog, que abordará as Relações Internacionais e a política pela ótica de filmes, séries e, se possível, outros tipos de mídias que possam contribuir para o nosso crescimento profissional, e porque não, nos dar uma nova visão do que estudamos todos os dias. 
O foco aqui não será apenas analisar a história de um filme (Sempre sem revelações  do enredo), mas sim analisar por uma ótica cinematográfica mais técnica, permitindo assim um maior proveito da experiência.
Sendo assim, vamos ao nosso primeiro filme.


Nome original: Tinker, Taylor, Soldier, Spy
·         Lançamento: 13 de janeiro de 2012 (2h 7min
·         Dirigido por: Tomas Alfredson
·         Com: Gary Oldman, Mark Strong, John Hurt
·         Gênero:  Espionagem , Suspense
·         Nacionalidade: França , Reino Unido , Alemanha

Sinopse: Passado em 1973, em plena Guerra Fria, o longa gira em torno de George Smiley (Gary Oldman), um veterano da divisão de elite do serviço secreto inglês conhecida como Circus. Após a morte de seu ex-chefe e de alguns fracassos em missões internacionais, ele é chamado para desvendar um mistério sobre a identidade do agente duplo que, durante anos, trabalhou também para os soviéticos.







Baseado no livro de John le Carré, O Espião que sabia demais (Tinker, Taylor, Soldier, Spy) se passa em 1973, onde a Guerra Fria estava no seu ápice, focando nos membros da agencia de espionagem inglesa que tem o codinome de Circus. A agência é dirigida por Control (John Hurt) que suspeita através de possíveis rumores que um de seus membros principais é um agente duplo que está vazando informações para a União Soviética. Com esses acontecimentos, é requisitada a volta de George Smiley (Gary Oldman) um veterano da Circus, para investigar o caso.
Esse filme é um interessante exercício cinematográfico, trabalhando a política e as Relações Internacionais de maneira diferente de como filmes de espionagem em geral abordam. A primeira coisa a se notar aqui é como os personagens são mostrados. O publico em geral está acostumado a ver espiões como James Bond (Charmosos e indestrutíveis), mas o retrato aqui são de homens velhos, já cansados de uma vida cheia de guerras e tensões, onde sempre observam com olhos desconfiados tudo ao seu redor. 


Sabiamente, o diretor de fotografia Hoyte Van Hoytema deixa claro em cada cena a tensão vivida por eles, pois os lugares onde convivem todos os dias ou são escuros e esfumaçados (Imagem 1) ou são melancólicos e monocromáticos  (Imagem 2), mostrando aos espectadores o desespero e o cansaço constante vivido pelos espiões.

Imagem 1
Imagem 2


O diretor Tomas Alfredson e os roteiristas Peter Straughan e Bridget O´Connor são hábeis em fazer diversas referencias e insinuações interessantíssimas sobre a Guerra Fria e sobre o que era o sistema internacional da época. Constantemente as tensões internas e externas (com uma de suas facetas já mostradas acima) sempre são mostradas de maneiras sutis, mas poderosas. Não é difícil o diretor focar no relógio em cima da mesa do Circus, mostrando como o mundo estava em alerta, e que a qualquer momento uma Terceira Guerra poderia acontecer (Note que na medida em que o filme avança, a velocidade do relógio aumenta).
A visão sobre a rivalidade entre o Capitalismo e o Socialismo é representada na duvida sobre o lado em que os agentes estão lutando, apesar de suas nacionalidades, a fé no sistema pregado é constantemente posta em questão. Em uma cena, Smiley pergunta para Control se os rumores são genuínos; então Control responde ‘’Nada mais é genuíno’’, mostrando a constante luta interna dos personagens sobre o que é a verdade, e sobre o que estão lutando;
É interessante ainda ver como o filme trata acontecimentos da Guerra Fria. Na primeira parte do filme um dos agentes da Circus (Inglês) vai se encontrar com um contato Húngaro, o que representa claramente a diferença de pensamento com a União Soviética, o que nos remete a Primavera de Praga.  Outro ponto a se notar é que o filme trabalha na perspectiva Realista (naturalmente, pois estavam em guerra) mas ele possui personagens com pensamentos Idealistas, e ainda assim podemos colocar a perspectiva Construtivista em pauta.
No filme há um agente secreto que não mostra seu rosto e ninguém sabe seu nome, ele é apenas conhecido como Karla. Ele é um agente que provavelmente está acima das decisões de espionagem da Inglaterra, União Soviética e EUA. É impressionante o quanto as decisões de Karla pesam no decorrer do filme, pois mesmo não sabendo quem ele realmente é, os personagens sentem o seu poder. Em um período em que as Relações Internacionais estavam totalmente instáveis e os níveis de conflito faziam com que o mundo estivesse a beira de uma Guerra armada (Nível 6) a espionagem era uma ferramenta essencial para saber para onde aquele sistema bipolarizado iria. Karla, assim como todos os outros eram os responsáveis por aquele minúsculo equilíbrio interno, e qualquer erro poderia desencadear a nova guerra.
Os roteiristas sabem disso e foram inteligentes ao colocar em uma das reuniões da Circus a seguinte frase dita por um deles:
                          
                                      ‘’Não se trata mais de soldados em trincheiras,
                                              nós estamos na linha de frente agora’’

Mostrando assim, que o mundo era um imenso tabuleiro de Xadrez, e cada movimento iria afetar todo o Sistema Internacional, inclusive vazamentos e conspirações de espionagem. 


Eu poderia falar sobre este filme por mais 20 páginas, pois a sua competência em abordar a política interna e o sistema internacional não é comum. E claro, por contar com um ótimo elenco (Gary Oldman fantástico no papel) e direção extremamente competente, o filme é totalmente recomendado a todos os internacionalistas e aos fãs de cinema. Tenho certeza que se tiverem um tempo livre do trabalho e dos estudos, certamente irão apreciar essa belíssima obra.
 Até a próxima!

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