Adriano
Rosas
Acadêmico
do 5º semestre.
“Cidadã!”
Na Teoria dos “Jogos de Dois
Níveis”, de Robert Putnam, o negociador precisa desenvolver uma habilidade
analítica extremamente sensível aos atores direta e indiretamente relacionados
com suas decisões. Para o autor, que apresenta como os dois níveis de análise o
processo de negociação no Sistema Internacional com firmação do acordo
provisório e uma fase de ratificação na arena decisória doméstica, é preciso –
antes de mais nada – que o negociador expanda seus horizontes para além do campo
analítico das teorias estatocêntricas. E o porquê disso se encontra justamente
em princípios como a responsabilidade social, aqueles contidos nos tratados
internacionais e na carta magna de países que se pretendem à democracia.
Para aqueles que se sentiram
perdidos com relação à exclamação “Cidadã” no primeiro parágrafo, esta se refere
às palavras proferidas pelo então presidente da Assembleia Nacional
Constituinte, Ulysses Guimarães. A palavra em si carrega tal poder quando
conjugada ao texto constitucional que fala; clama ao povo brasileiro que se
faça cidadão, que viva sob a égide de seus princípios fundamentais e que
garanta a cada um e a todos a proteção e promoção de garantias sociais e
políticas voltadas à dignidade da pessoa humana! De fato, os próprios dezoito
de sua confecção parecem não ser capazes de traduzir as controvérsias e a
pluralidade de agentes dos mais diversos campos da sociedade civil que
participaram e participam de sua confecção. Buscou-se, na falta de consenso
entre os constituintes, a maior amplidão democraticamente possível que
permitisse o amplo acesso à justiça e o incentivo à participação ativa dos
cidadãos.
Por esses e tantos outros motivos é
que se mostra perceptível uma situação atípica no ordenamento brasileiro atual:
um instrumento eficaz, mas que é feito pouco efetivo. Outro comentário muito
comum acerca da constituição é a de que ela, como de fato o é, propõe uma
sociedade democrática que não se faz vigente no dia a dia do brasileiro, o qual
encontra diversas dificuldades para ter acesso a serviços básicos como saúde,
educação e moradia, constituindo texto constitucional numa “inútil” e bela”
figura decorativa. Uma “carta de intenções”.
A
pergunta acerca dessas colocações é: quem é o responsável por essas
deturpações?
Os políticos, dizem a maioria. Mas
seriam mesmo apenas eles os responsáveis? Ou seriam os povos que constituíram o
berço da cultura brasileira por terem instituído um sistema de relações
sociais, políticas e econômicas baseadas no nepotismo e na “troca de favores”?
Ou seriam ainda povos que historicamente exploraram dessa alcunha
“depedentista” que o Brasil assumiu por muito tempo? A despeito das
contribuições de cada um desses fatores e atores, falta, sobretudo, uma
consciência cidadã para o povo brasileiro, um querer por mudanças efetivas
acompanhado de ações contundentes.
O Direito, como já dizia o filósofo
jurídico Roberto Lyra Filho “é algo que é enquanto vai sendo”, necessitando
ativamente da participação do povo sob o qual ele deve ser exercido para que
possa evoluir e se fazer eficiente e material. E parece não ser mais possível
ao povo brasileiro a desculpa de que falta informação, ou o não cumprimento de
um direito quando nada se faz diante das manifestações que ocorreram em junho e
julho deste ano e que foram capazes não apenas de impedir um aumento de preço
numa passagem de ônibus, mas também de derrubar um projeto que fatalmente iria
corroborar para a ainda maior impunidade diante de um dos crimes – embora ainda
não legalmente – mais hediondos nesse país: a corrupção que se infiltra da
venda do voto por uns trocados a um arrombo de milhões nos cofres públicos.
Quem
vota em nossos políticos? De onde eles saem? É possível continuar passivamente
diante de situações como a quase escravidão e a avaliação pouco criteriosa as
quais têm sido submetidos os profissionais sob a MP 621 e outras políticas do
“amansamento” e estimuladoras do conflito ao invés da integração entre as
classes e categorias profissionais?
Ao completar seus vinte e cinco
anos, o texto constitucional segue clamando aos brasileiros que tomem a “iniciativa
popular”, que utilizem do sufrágio em defesa a dignidade da pessoa humana e
que, primordialmente, desenvolvam uma “Cultura Democrática” tão necessária ao
país. Continuará a Oitava Carta a evocar para indivíduos e nação que se faz
objeto e não agente? Isso é o que anseio ardentemente que não aconteça.
Muito interessante sua análise, já é hora de sairmos de nosso cômodos berços esplendidos expressarmos nossa cidadania,usufruir nosso direito democrático, reverter essa cultura histórica 'dependentista' e reconstruir um novo contexto social.
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