segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O “X” da questão do “empobrecimento” de Eike Batista: uma visão internacionalista

Kellimeire Campos
Acadêmica do 5º semestre



Nos últimos meses uma das notícias que mais se espalhou nas mídias nacionais e internacionais, foi a da derrocada daquele que foi denominado, desde 2005, megaempresário brasileiro Eike Batista e da dificuldade que seu grupo de empresas “X” enfrenta. Com o pedido de recuperação judicial da OGX e da retirada de suas ações de nove índices da bolsa, incluindo o Ibovespa, foi iniciada a enxurrada de informações sobre a situação das empresas, como por exemplo, o jornal americano The New York Times que classificou a recuperação judicial da OGX como o maior calote da história na América Latina.
Mesmo que a mídia seja muitas vezes alarmante, grande parte dos economistas possuem uma visão pessimista dessa situação. Mas uma questão é essencial: Até onde essa questão afeta a economia interna e externa brasileira?
Como internacionalistas é importante responder tal questão. A teoria que pode ajudar nesta análise é a teoria neoliberal das Relações Internacionais.
Para ela, o movimento financeiro é uma das quatro grandes interações globais. A interdependência complexa e a relações transnacionais são conceitos que pertencem a essa corrente teórica e que podem explicar por que as ações de uma empresa no Brasil afetam o Sistema Internacional. Keohane e Nye são os autores que desenvolvem e explicam de forma completa esses conceitos, mas de forma simples, a interdependência é o estado de mútua dependência, restringindo a autonomia nas relações do Sistema Internacional, o que dificulta que no inicio se tenha a percepção se essas relações entre os atores serão benéficas ou custosas.
 As características da interdependência complexa estão nos canais múltiplos, que são as relações interestatais, transgovernamentais e transnacionais. Ou seja, o contato maior entre os indivíduos em geral resulta no intenso fluxo de informações. Neste cenário, atores e os assuntos são múltiplos e sem estarem claramente organizados de forma hierárquica. O que se nota é a diminuição da relevância do uso da força entre Estados conectados pela interdependência complexa. Esse cenário pode resultar em duas situações: o de integração, como por exemplo, os blocos regionais; e de fragmentação.
Eike Fuhrken Batista ganhou maior visibilidade como empresário a partir de 2005, com a criação do grupo “X” (formado por seis empresas em áreas diferentes), quando utilizou da euforia internacional com a economia brasileira (principalmente no período da crise financeira de 2008), para captação de investimentos internos e estrangeiros.

Saindo um pouco do estereótipo do empresário brasileiro (mais conservador, e que prefere não arcar com muitos riscos) Eike Batista apareceu como ousado, sempre otimista, além de preferir grandes empreendimentos. E foi na área de commodities que ele viu a sua maior “mina de ouro”. Embalado pelo governo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (e de sua então empolgação com o pré-sal), acrescentando o aquecimento do mercado, o empresário criador do “império x” apareceu diversas vezes na mídia, prometendo resultados que aos poucos seus investidores não viram se tornar realidade. Com isso, nesse curto espaço de tempo foi selecionado como um dos homens mais ricos e influentes do mundo pela Revista Forbes.
O que pouco se falou no período que as empresas estavam crescendo, era da quantidade de investimentos e empréstimos que as empresas de Eike Batista receberam do governo através do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Segundo Demétrio Magnoli, em sua matéria para o Jornal Estadão:

"O BNDES é o melhor banco do mundo’, proclamou Eike em 2010, no lançamento das obras do Superporto Sudeste, da MMX. O projeto, orçado em R$ 1,8 bilhão, acabava de receber financiamento de R$ 1,2 bilhão do banco público de desenvolvimento, que também é sócio das empresas LLX, de logística, e MPX, de energia. No ano seguinte o banco negociou com o empresário duas operações de injeção de capital no valor de R$ 3,2 bilhões, aumentando em R$ 600 milhões sua participação na MPX e abrindo uma linha de crédito de R$ 2,7 bilhões para as obras do estaleiro da OSX, orçadas em pouco mais de R$ 3 bilhões, no Porto do Açu, da LLX.”

Tudo isso mostra que num mundo marcado pela interdependência complexa, não existe mais espaço para economias fechadas, que não sofrem influências dos atores internacionais. Para além da curiosidade sobre como esta história vai terminar, se o empresário ficará “pobre” ou se conseguirá reverter este quadro e retomar seus investimentos, o mais importante é verificar o quanto a economia internacional está mais entrelaçada do que antes e como o capital especulativo é volátil e efêmero.
Aliás, a crise econômica pela qual ainda passa a Europa e que se arrasta há pelo menos uma década (se considerarmos que suas causas começaram a se manifestar na crise imobiliária nos EUA e em outros países), é marcada claramente pela especulação financeira de capitais que podem entrar e sair de uma economia nacional com um “click” no computador de qualquer parte do mundo.
Isto é irreversível? Tomara que não. Afinal, as apostas em capital especulativo causam os mais variados problemas que, às vezes, sabemos existir, mas que insistimos em não encontrar a verdadeira causa. Estes problemas são conhecidos como fome mundial, falta de emprego, educação precária, miséria e, pior, falta de dignidade humana em muitos países no mundo.
Este é o “X” da questão sobre Eike Batista no meu ponto de vista.




 Referencial Bibliográfico:

SARFATI. Gilberto. Teoria das Relações Internacionais. Editora Saraiva. 2005.

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