domingo, 24 de novembro de 2013

Resenha: Uma Garrafa no Mar de Gaza

Danilo Ebúrneo
Acadêmico do 5º Semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

Nome original: Une bouteille à la mer
Lançamento: 2011 (100min) 
Dirigido por: Thierry Binisti
Com: Mahmoud Shalaby, Aghate Bonitzer
Gênero: Drama 

Baseado no livro homônimo de Valérie Zenatti, “Uma garrafa no mar de Gaza” narra a história da relação entre Tal (Agathe Bonitzer) uma francesa de 17 anos que mora em Jerusalém, que além de se preocupar com os típicos dilemas da adolescência (Estudos, namorado, amizades, família) tem preocupação com a guerra que presencia, pois a qualquer momento um atentado pode acontecer. E depois de tanto conviver com isso, ela decide escrever o que pensa e compartilhar sua angustia colocando seu texto numa garrafa na esperança de que alguém no outro lado da fronteira pudesse ler sua mensagem. Nesse momento, entra Naïm (Mahmud Shalaby) um palestino de 20 anos que mora em Gaza. Enquanto está com os amigos, Naïm vê a garrafa e abre-a para ler o bilhete junto aos amigos próximos. Inicialmente rindo do que estava escrito, ele percebe que quem estava escrevendo queria apenas compartilhar um sentimento que não apenas ele, mas provavelmente boa parte da população sentia.

É a partir desse momento que a trama do filme toma forma e nos apresenta aos poucos o modo de vida dos jovens. Eles têm objetivos, estilos de vida e preocupações diferentes (Tal vive em um apartamento e estuda francês, enquanto Naïm mora em uma casa normal e trabalha com o tio). E mais importante ainda é que os dois vivem a guerra em diferentes níveis. Enquanto Tal presencia a guerra de “longe”, Näim vive a guerra todos os dias (a cena em que todos estão na sacada e escutam bombas explodindo é um exemplo). E é nesse cenário que a aproximação dos dois acontece, pois compartilham a mesma preocupação.
Geralmente nos filmes, as relações são construídas através de aproximação física, onde os diálogos são feitos “olho no olho” para assim o espectador poder perceber a personalidade de cada personagem (Sim, no cinema muitas vezes um olhar pode falar muito). Mas é curioso que aqui nesse filme, o roteiro tenta compensar a falta desse contato físico ao apresentar pequenos detalhes que podem passar despercebidos. Por exemplo, o nome que Naïm se apresenta para Tal no e-mail: Gazaman. Não apenas representa o constante alerta que ele vive desde a infância, ao desconfiar de qualquer um, não podendo nem mostrar o seu nome, como também representa certa imaturidade.
 “Gazaman” não significa apenas “homem de gaza”, mas também significa “O homem de gaza”, como se ele fosse o maioral. Prova disso é o tratamento que ele dá para Tal, como se ele tivesse experiência de vida o suficiente para mostrar que é maduro e superior a ela. Já Tal é mais espontânea e humilde, pois tenta entender o porquê do ceticismo dele para com ela, pois desde o início ela não mostrou nenhum motivo para desconfiança.  Naturalmente que isso é a relação inicial, pois com o tempo, os jovens não apenas se abrem mais, como também mandam fotos e compartilham o desejo de estarem juntos.


O diretor Thierry Binisti faz o que tem que ser feito. Na verdade esse tipo de trabalho é algo que pessoalmente me incomoda. Nesse filme, tanto o diretor quanto os atores, a fotografia e o roteiro fazem o que têm que fazer e cumprem a sua missão. Só que esse tipo de trabalho impede que o filme se torne realmente memorável e se torne apenas uma boa experiência. Os enquadramentos de cena são comuns, estáticos, quase entediantes. O diretor não demonstra nenhum tipo de vontade de fazer algo diferente. Os atores Agathe Bonitzer e Mahmud Shalaby parecem muitas vezes estar no piloto automático.  Em algumas cenas, Agathe quase que não tem expressão alguma, nem quando se mostra preocupada. Mahmud já faz um trabalho melhor, mas não difere em nada de outros atores de filmes parecidos. A fotografia apenas segue o que a direção faz, se tornando crua e quase monocromática, com o objetivo de mostrar o quão “seca” é a realidade daqueles jovens. No geral, o filme faz apenas o feijão com arroz.

Abordando um grave tema internacional que é o conflito entre Israel e palestina, o roteiro ao menos pisa no chão ao fazer críticas. Na cena da lan house, onde Naïm tenta dar notícias para Tal após um atentado, ele corre o risco de ser preso por suspeitarem de ele ser algum tipo de informante ou contato terrorista. Além disso, é curioso pensarmos que a relação de pessoas tão diferentes quanto a de Tal e Naïm se torna apenas uma representação distorcida da relação entre Israel e Palestina. Ambos estão pertos um do outro, mas não podem se entender, ao contrário de Naïm e Tal.
 O fim do filme é o ápice da representação (mesmo que pequena) do quanto pessoas podem perder com conflitos. Não importava o quanto esses jovens se gostavam ou sentiam apreço um pelo outro, isso nunca interessou na guerra. E, dessa vez, não foi uma bomba que separou os dois: foram apenas alguns metros...

No fim das contas, é um bom filme, mas que poderia ser muito melhor se houvesse um diretor mais capaz. Não que esse não tivesse feito um bom trabalho, mas o “bom”, as vezes, não é o suficiente, principalmente quando se trata de arte.


Até a próxima! 

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