Arantxa
Santos,
Concluinte do curso de Relações Internacionais da UNAMA.
Desde os primórdios
da humanidade, o homem utiliza os recursos naturais para a sua sobrevivência,
extraindo do local onde estava aquilo que precisava para se alimentar, mas no
instante que este recurso se tornava escasso, ele se locomovia para outro
local. Esse ciclo permaneceu até o momento em que o homem aprendeu a plantar e
cultivar o alimento de que necessitava, iniciando assim, uma nova definição
para a relação homem-natureza.
Com o passar do tempo
os indivíduos perceberam que o uso indiscriminado dos recursos naturais poderia
prejudicá-los no futuro. É nesse momento que a preservação do meio ambiente se
torna uma preocupação global, por ultrapassar as fronteiras dos Estados e por o
futuro da humanidade em risco.
À medida que os
efeitos do homem sob o meio ambiente se agravaram, o aquecimento global foi
identificado, e as catástrofes ambientais foram se tornando cada vez mais
frequentes, os Estados passaram a reconhecer a degradação ambiental como um
problema de responsabilidade de todos, podendo afetar a humanidade a curto e
principalmente em longo prazo.
Hoje, as conferências
da Organização das Nações Unidas (ONU), assim como as organizações
não-governamentais e outros atores internacionais, incentivam os Estados a se
preocuparem com o meio ambiente e sua preservação. Essas conferências, através
de seus princípios, buscaram incentivar a preservação ambiental no planeta e
aos poucos foram ganhando mais espaço na agenda internacional dos países, que
participam cada vez mais ativamente, reconhecendo esta nova ameaça à paz e
respeitando os princípios da ONU.
A
preocupação internacional ligada ao meio ambiente surgiu na década de 60, com
presença em apenas algumas parcelas da sociedade civil, e dos países mais
ricos.
Até
a presente data já aconteceram vários eventos internacionais patrocinados pela
ONU para a discussão de temas ligados ao meio ambiente. Dentre estes quatro
conferências são as mais importantes: a de Estocolmo em 1972; a do Rio de
Janeiro, em 1992 (ECO-92), a de Johanesburgo, em 2002; e a RIO+20 em 2012. Cada
uma delas aprofundou temas relevantes que suscitaram fortes discussões entre os
atores internacionais, estatais e não-estatais.
De
grande relevância é a discussão em torno do Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA). A ideia de sua criação surgiu durante a Conferência de
Estocolmo, em 1972, quando os participantes decidiram que era necessário criar
uma instituição permanente para coordenar e incentivar ações voltadas para a
preservação do meio ambiente. Inaugurando a noção de que era necessária uma
governança global ambiental, foi identificado o enfraquecimento do PNUMA durante
a Eco-92 pela ausência de poder regulatório sobre a questão. Já na Cúpula de Johanesburgo,
foi forte o interesse dado à questão de governança por envolver a participação
de vários atores, em especial da sociedade civil. Durante a Rio+20 concluiu-se
que para a correta atuação da governança global, ligada ao desenvolvimento
sustentável, seria necessário ajustar disposição institucional multilateral
capaz de coordenar e atribuir sinergia às agendas nacionais para tratar em
nível mundial dos problemas que não poderiam mais ser tratados localmente.
Estas
discussões colocaram em prova o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente, que apesar de ser um programa no âmbito da ONU, está subordinado ao
ECOSOC e não possui poder regulatório, podendo apenas elaborar estudos e fazer
recomendações sobre o meio ambiente, aos países que aderiram voluntariamente.
Ficou
claro, especialmente a partir da Rio+20, que existe a tendência de transformar
o PNUMA numa Organização Internacional que institucionalize a governança global
no âmbito ambiental. Como se sabe, o conceito de governança global refere-se ao
conjunto de atores envolvidos no processo de construção de diretrizes e regras
relativas a um tema global, com o intuito de direcionar soluções e
encaminhamentos que abarquem Estados e outros atores internacionais.
No
entanto, a partir de um olhar fundamentado no pensamento de Michel Foucault,
filósofo pós-moderno francês, e de Richard Ashley, teórico internacionalista, a
questão ambiental ao ser conduzida pelo PNUMA de forma como está sendo
construída esta governança pode ser, a expressão de um processo de governamentalidade.
Tal conceito é formado pelo conjunto das
instituições, dos procedimentos, das análises e reflexões que permitem exercer
essa forma bem específica e complexa de poder, que leva
em consideração o surgimento de novas ameaças à população, no caso ambiental, a
humanidade como um todo, de maneira a influenciar em um modelo de governo que
seja moldado nesses objetivos.
Nesse
sentido, considerando a questão ambiental como uma ameaça à segurança
internacional, o papel da Organização das Nações Unidas como agente possuidor
dessa governamentalidade se torna de extrema relevância, sendo importante
compreender as estratégias que utiliza para incluir a preservação ambiental
entre os seus objetivos, atuando principalmente através de conferências internacionais.
A
governança global ambiental é, considerando o que postulam Foucault e Ashley,
uma expressão do poder disciplinar, com o intuito de estabelecer a ordem e a
obediência dos mecanismos expressada na criação de uma instituição voltada
exclusivamente para o tema, com o objetivo de controlar a sociedade
internacional para preservar a natureza. Este poder disciplinar se caracteriza
pelo controle, por meio da construção simbólica do panóptico, idealizada pelo
filósofo Jeremy Bentham na ideia de ver sem ser visto, no qual seria exercido o
poder de vigiar tudo o que se
referisse às questões ambientais no mundo e de punir o que fosse contrário às verdades produzidas neste âmbito
pelos legisladores da governança ambiental global concretizada no PNUMA.
Neste
processo, as ONGs aparecem como uma representação da preocupação sobre o meio
ambiente e para exigir um posicionamento tanto da Organização das Nações Unidas
quanto dos Estados no que se refere à preservação ambiental. Ao mesmo tempo,
colocam-se, em muitos aspectos, como opositores a essa dinâmica de institucionalização
da governança global ambiental, constituindo-se – de certa forma – como sinais
de dispositivos de resistência a este específico exercício de poder nesta
relação. Com efeito, para Foucault, dispositivos de resistência vão existir no
momento em há poder, onde a resistência será a possibilidade de modificar essas
relações de poder.
Com
a identificação da escassez de recursos naturais, das mudanças climáticas
provocadas pelo aquecimento global e pelas catástrofes ambientais cada vez mais
frequentes, a preservação ambiental se tornou tópico de segurança internacional.
E quando se fala em segurança ambiental busca-se a preservação do meio ambiente
de maneira a garanti-lo para as gerações futuras pensando no futuro da
humanidade sem desconsiderar as necessidades da sociedade atual.
Muito
ainda pode ser debatido e pesquisado sobre a necessidade de uma governança
global ambiental e sobre a possibilidade de sua construção, em especial no
âmbito da ONU e considerando a relevância que a temática ambiental adquiriu,
sendo pertinente ainda analisar a relevância do Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente.
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