Danilo Ebúrneo
Acadêmico do 5º Semestre de Relações Internacionais
da UNAMA.
Bem, estamos aqui mais uma semana. Antes do cinema
nem sonhar em existir, a música já era (e continua sendo) parte fundamental do
ser humano e uma das artes supremas. E a verdade é que ninguém vive sem música,
Sendo assim, vamos ao primeiro disco...
Artista: U2
Disco: Zooropa
Lançamento: 5 de julho 1993 (51min)
No fim da
década de 80, o U2 estava passando por grandes dificuldades. Após terem lançado
cinco discos de estúdio e um ao vivo, a banda estava sendo crucificada pela sua
postura. Sim, eles estavam sendo criticados por serem espirituosos demais, por
não serem reais representantes do rock (não viverem a filosofia do Sexo, Drogas
e Rock and Roll), por terem se “americanizado” demais, já que pareciam
irlandeses querendo ensinar musica norte-americana aos americanos.
Em 1989,
eles foram para a Alemanha em busca de “novos ares” na tentativa de se
reinventar. E o que o U2 respirava naquele lugar era justamente o conflito
político que a Alemanha estava passando por anos, até a queda do muro que
representou o fim da guerra fria. E foi no Hansa
estúdios (que na época da segunda guerra era um gabinete dos soldados
nazistas) que o U2 começou a se reinventar e fez o Achtung Baby!, lançado
em 1991.
No meio
dessa turnê, foi gravado o álbum Zooropa,
um disco conceitual que não apenas aborda o contexto da Guerra Fria e o seu
fim, mas também as angústias e as dúvidas que todos tinham em querer prever que
futuro a Europa teria com o fim de uma era. O nome Zooropa é uma referência à
estação Zoo, um zoológico que fica em Berlim, fazendo alusão à bagunça em que a
Europa se encontrava.
A capa do
disco é colorida de um jeito estranho, com o desenho de um astronauta triste,
mostrando que a corrida espacial era apenas uma das formas de batalha entre EUA
e URSS, logo, totalmente desnecessária...
A faixa
que abre o disco tem uma longa introdução cheia de vozes sussurrando em meio a
um instrumental tenso, com um minuto de duração. Até que surge a voz de Bono
perguntando “O que você quer?” querendo falar que o futuro está em nossas mãos
agora e quem irá reconstruir a Europa são as pessoas. Ao começar a letra de
fato, ele faz uma curiosa ponte com frases de propaganda de comerciais de
grandes indústrias. No trecho “Zooropa...Vorsprung
durch Technik” ele faz alusão ao slogan da Audi. Em “Zooropa…Be all that you can be” ele ironiza sobre o slogan do exército
americano ao chamar os jovens para se alistar. Já na segunda parte da música,
ele fala “E eu não tenho mais religião/
Eu nem sei o que é isso” já
entrando na história conceitual do disco.
A cidade fictícia de Zooropa é suja, cheia de
tecnologia e quase nenhuma humanidade. O U2 sempre foi religioso, e claro que a
ironia de um mundo sem Deus aqui, é óbvia. Já na segunda faixa, chamada “Babyface”, possui um fundo parecido com uma música de ninar, propositalmente,
se referindo a “pedofilia”, pois cita a obsessão de um homem por uma mulher,
que analisa cada centímetro da sua imagem numa televisão.
Nós
sabemos o papel estrondoso que a mídia teve na Guerra Fria, não apenas nela,
mas em todas as guerras. A manipulação é constante e por isso, a banda criticou
colocando ainda nas turnês a frase “Watch More TV!”, mais especificamente a “Tv
Zoológico” deles...
O guitarrista “The Edge” usando o uniforme de
general quando tocava ao vivo.
Em “Numb”, o instrumental é uma batida repetitiva, como se fossem máquinas
fazendo a mesma coisa, dia e noite (nos remete ao filme “tempos modernos” de
Charlie Chaplin). O Vocal propositalmente preguiçoso do guitarrista The Edge
narra regras de como viver. Ora, em um país que possuía um muro impedindo que
pessoas pudessem passar era praticamente uma prisão, uma ditadura. A letra
inteira fala sobre isso: “Não corra se
você puder andar/ Não pergunte, não faça sentido” e o refrão interrompendo o tédio do vocal dos versos falando “Eu me sinto entorpecido...”
Mr.
Machphisto
Já
passando da metade do disco, somos presenteados com uma faixa no mínimo
estranha. “Daddy´s Gonna Pay For Your
Crashed Car” se inicia com uma
orquestra que lembra muito um exército, ou introdução de um hino que representa
algo grandioso. Logo depois é emendado ao que os membros da banda chamam de “Blues
industrial”. Enquanto ruídos de fundo lembram máquinas pesadas e sujeira. A
bateria e a voz são tranquilas, mas a letra esbanja crítica e ironia, o que já
tinha de sobra no debochado título. O “Papai” do título faz alusão a um governo
autoritário, corrupto e que tenta encobrir todos os seus “filhotinhos” que
desprezam e cospem no rosto da população em busca do bem próprio. Nada mais
adequado quando pensamos nos políticos corruptos que foram presos recentemente
no Brasil.
Para
acompanhar a música e o clima do disco, Bono criou mais um personagem: Mr. Machphisto. Era a representação do
diabo e do descaramento. Descaramento esse, que fazia
inclusive Bono ligar no meio do show para o gabinete do presidente dos Estados
Unidos e passar um trote... Sim. E ainda dizia “Watch More Tv!” simplesmente
para representar uma anarquia.
Após pularmos
várias faixas, chegamos à última e derradeira. “The Wanderer” é um blues
bem tradicional, que termina a historia de Zooropa com uma pequena esperança. A
letra fala de alguém que está cansado de procurar algo bom, e que mesmo que
aquela cidade esteja pavimentada com ruas de ouro, ele diz: “Eles dizem que querem um reino/Mas não querem
Deus nele”. A questão aqui nem é
entrar no mérito religioso, mas sim que não adianta um estado ter uma economia
forte, se não há paz e liberdade. Por isso ele descreve a cidade de Zooropa
como: “Céu atômico/Onde a terra não da
frutos e a chuva queima”. Tudo
isso cantado na belíssima voz de Johnny
Cash, dando o tom ironicamente mais gospel a música trágica, mas com um fio
de esperança...
Zooropa é o tipo de disco que não é qualquer um
que faz: É preciso ser grande de verdade, além de ter uma visão de mundo diferenciada.
Foi um disco que saiu do fundo do poço para o auge da criatividade. Apenas quem
possui talento verdadeiro consegue fazer um disco dessa magnitude, e adianto
logo que não são poucos, mas infelizmente também não são muitos... E 20 anos
depois, o disco nunca soou tão atual, principalmente quando podemos ver a União
Europeia atualmente se quebrando economicamente por falta de cooperação. E o U2
provavelmente sabia desse futuro, tanto que a previsão foi feita em cada inicio
de show da turnê do Zoo Tv: Enquanto a banda subia ao palco, as estrelas da
União Europeia caiam uma por uma, atrás de tudo. Vocês podem conferir a apocalíptica abertura
da turnê no vídeo abaixo:
Enfim,
espero que tenham gostado. Dessa vez não irei pedir para arranjarem tempo, pois
música se ouve em qualquer lugar...
Até a
próxima!
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