Subina Ramos
Acadêmica do 5º Semestre de
Relações Internacionais da UNAMA
O conceito de terror permeia os ditames da política
dos países desde a era do imperialismo exacerbado, que consagrou o
reconhecimento da subjugação na época, e esteve presente na luta pela
independência dos povos.
Substancialmente, a evolução dos desígnios do limite da
soberania estatal ocorrida após o atentado de 11 de Setembro, é resultante de
um terrorismo que circunda numa manifestação mais ampla, que interfere na
dinâmica do sistema internacional como um todo, e teve a sua agenda voltada
para o combate de uma malevolência sem rosto e sem pátria.
Essa nova conflitualidade foi definida através de um
cenário múltiplo que se constituiu na luta contra o terrorismo. Neste sentido,
estaríamos face a uma ramificação de conflito, de cariz radical e muito mais
ameaçadora, por se formar em rede de atuação, situada como numa criminalidade estruturada,
incluindo grupos armados e organizados em torno de um líder. Capaz de reduzir
todo um aparato de integridade de um Estado e fomentar a vulnerabilidade das
mais distintas sociedades.
Nota-se que não foi declarada uma guerra contra uma
religião. Se condena a insensatez do Estado-nação que pretender punir uma
instituição religiosa, perpassando ao seu simbolismo nas ações.
Como proferido pelo sociólogo Jean Baudrillard, o novo
terrorismo, em seu meio de destruição e dissuasão, remete dúvidas
quanto ao meio que pode ser utilizado para conter seus passos e conquistas. Uma
vez que nada se pode fazer contra um inimigo que utiliza a morte como uma de suas
principais armas. Esta ação (a morte) assume uma característica simbólica,
viável a enfraquecer ou destruir o que os terroristas designam de hegemonia e
causadora de sofrimento.
O islamismo como princípio ideológico, percorre
diversas interpretações quanto à sua representatividade no meio social, que fez
surgir grupos terroristas como Boko - Haram na Nigéria. Os autores da teoria
crítica retratariam esse grupo como uma força que resiste a opressão e luta pela emancipação,
saindo do papel instrumentalizado da força hegemônica na esfera social. Nessa
analogia estaríamos em frente a um sentimento dualista nas ações do citado
grupo terrorista: “O sistema que humilha, tem que ser humilhado”.
O Boko-Haram, que significa “a educação ocidental é um
pecado”, além de condenar a ingerência ocidental no mundo, também tenciona a
criação de um Estado Islâmico. Mais
precisamente nas regiões norte e nordeste da Nigéria, os atos de fuzilamentos e
sequestros realizados por este grupo, vêm se tornando cada vez mais frequentes.
As debilidades estruturais do país, fomentada pela
corrupção doméstica não são os únicos fatores que justificam as consequências
desses massacres. A falta de atenção internacional ao que vem acontecendo
também agrava a situação. Assim, o terror numa das suas vertentes é resultado
da diferença entre classes sociais e mais, é efeito de um composto que alimenta
seus fins.
Certamente que, ao falarmos sobre a encruzilhada que é
o terrorismo internacional, jamais se deve cometer o erro da presunção de que
se trata de um desafio unilateral. Caso aconteça, o desdobramento
estará numa tragédia cujo fim é indefinido, e se alimenta de práticas
inconsistentes, capaz de levar morte a
mais de duas mil pessoas, em um período curto de tempo.
Enquanto isto, o mundo assiste e pede maior
comprometimento da Nigéria. Acredito, que um acontecimento deste gênero deveria
ser considerado crime contra humanidade.
Não se entende como tamanha transgressão e violação de
direitos humanos, não sensibilizou a mídia, os usuários das redes sociais,
muito menos apresentou reflexões a muitos dirigentes africanos, e nem resultou
numa ação efetiva das organizações internacionais, que tem como fundamento a
imposição de paz e segurança global. Ou seria uma segurança “global” restrita?
Nas mesmas circunstâncias, a França vivenciou
atentados, sob a revista “Charlie Hebdo”, ocasionando morte de vários
cartonistas e de outros cidadãos comuns. A base deste ato terrorista, seria uma resposta a
algo outrora retratado na revista, que ofendia os muçulmanos.
Vale ressaltar que não pode existir intolerância e
muito menos desrespeito a uma religião, sendo que estamos falando da essência
cultural de um povo. Porém, nenhum assassinato, tratando-se de um manifesto
condenável.
As repercussões mundiais desses dois eventos foram
dadas de forma paralela. Enquanto a mídia internacional “banalizava” a morte de
milhares de nigerianos, exaltava fortemente expressões do tipo: “Je suis
Charlie”.
As reflexões dos teóricos críticos sobre temas da
moral e do direito nos apresentam alguns pontos que podem ser citados como
potenciais obstáculos existentes no “dever proteger”. Desta forma, a questão de
justiça e bem-estar não pode ser retratada com base em deduções singulares, em
condições de realização isolada, ora sim de maneira universalista.
Com a insegurança da globalização, devemos ter na
pirâmide da fundamentação normativa, de que qualquer insuficiência, seja lá
para onde for, trará várias inconsistências quanto ao direito e a política
internacional.
Muito são aqueles que perdem a esperança num mundo
pouco ou nada igualitário. Principalmente ao ver uma marcha de líderes mundiais
em homenagem a vítimas do atentado na França, enquanto a população nigeriana se
pergunta, porque não são lembrados. Como se aquilo fora suficiente para retratar
a posição que cada ser humano ocupa no mundo.
Em geral, precisamos mostrar sem discriminação o
respeito as pessoas de diferente credo, ouvindo e não insultando. Precisamos
também, refletir a respeito da humanidade que existe em todos nós. Afirmo ser
de tamanha dor ver pessoas sendo mortas pelos fundamentalistas radicais,
todavia é de muita consternação perceber que a nossa mente continua a ser
colonizada pelo princípio de superioridade e inferioridade.
Referências
NOBRE, Marcos.Curso Livre de Teoria
Crítica. Papirus Editora. São Paulo 2ª edição 2009
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