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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A Relação entre a Guerra Civil Síria e o Surgimento do Estado Islâmico



Adriano Bastos Rosas
Acadêmico do 8º Semestre de Relações Internacionais da Unama

As ações que sucederam o ataque do 11 de Setembro e as políticas de imposição dos valores ocidentais por meio do descomedimento no uso de violência e de práticas de abuso de poder (torturas autorizadas, humilhações, etc.) foram, paulatinamente, tornando a perspectiva de pacificação entre a civilização ocidental e o mundo muçulmano uma possibilidade cada vez mais remota à medida em que agentes, em ambos os grupos, foram se adaptando aos discursos de desumanização, de banalização da violência e de indiferença aos impactos de suas ações sobre indivíduos e sociedade civil mais diretamente afetados.
Contrariando a lógica do conflito do Ocidente contra Terrorismo Internacional Islâmico, este início de 2015 apresenta alguns traços que em outro momento seriam inconcebíveis, em destaque: o posicionamento do Irã como aliado dos EUA após a entrega de sua tecnologia nuclear e o surgimento de conflitos entre os próprios Estados árabes. O que teria mudado? Como? Que consequências tais mudanças têm e poderão promover nas dinâmicas do Sistema Internacional atual?
Inserida tanto no conflito anteriormente citado, quanto no contexto da Primavera Árabe (2011-), a Guerra Civil na Síria (2011-) passou a atrair mais atenções dos Estados e da mídia internacional nos últimos meses de 2013. Isto iniciou após um bombardeio que matou centenas de pessoas em Damasco. Assim, intensificaram-se as pressões internas (seja por parte dos “rebeldes”, seja por parte do governo) e internacionais para que alguma ação fosse tomada pela ONU e pelas potências mundiais. Tal como no caso da Líbia (2011-), a intervenção internacional acabou se mostrando ineficiente, contribuindo para a continuidade do litígio e dos abusos no uso de força e violência.
Seria apenas na segunda metade do ano seguinte que os membros do Conselho de Segurança da ONU e o SI viria a se dar conta de um terceiro ator que, pouco a pouco, foi adquirindo territórios, soldados, tecnologia e um peculiar modus operandi: O “Estado Islâmico”, também conhecido como ISIS.
Tendo iniciado suas atividades no ano de 1999 sob o comando de Abu al-Zarqawi (1966 – 2006), o grupo que então se autodenominava “A Organização do Monoteísmo e Jihad” foi aos poucos adquirindo notoriedade internacional a partir de sua aliança com Bin Laden (1957 – 2011), fato que lhe conferiu a alcunha – nunca assumida – de al-Qaeda no Iraque (AQI). Com o passar dos anos e com a mudança da nomenclatura para Estado Islâmico do Iraque (ISI) em 2006, o movimento foi, pouco a pouco, absorvendo outros grupos de extremistas religiosos, vindo a se aproveitar do enfraquecimento dos governos e canibalizando os recursos de outros grupos terroristas em regiões ocupadas pelas potências ocidentais.
Após experiências exitosas em suas movimentações regionais, o ISI viu no conflito interno sírio e na intervenção ocidental mais uma oportunidade para expandir sua zona de influência, combatendo rebeldes, governo e ainda outros terroristas com igual voracidade, vindo a adicionar a Síria em sua nomenclatura: ISIS. Diferente da situação iraquiana, cujo governo pós-ocupação se mostrava frágil e desacreditado, a administração al-Assad – apoiada por Rússia e China, membros do CSONU – não tem hesitado em combater os “novos” adversários.
Se para o mundo muçulmano o extremismo do ISIS já desperta terror, para as lideranças da civilização ocidental, devido a seu papel na ascensão do mesmo, representa o mais profundo fracasso em lidar com as peculiaridades dos povos daquela região e com a problemática do terrorismo internacional islâmico como um todo. De fato, é provável que alianças, tal como a aliança EUA e Irã, venham a ser formadas a fim de suprimir as ações do ISIS. O desafio é converter tais possibilidades em soluções e mecanismos de comunicação entre o mundo ocidental e o muçulmano mais eficientes, duradouros e – principalmente – sensíveis à realidade do outro se há algum fato que o fortalecimento do ISIS revela, é que o tratamento unilateral, impositivo e desumanizado até então praticado já não é mais uma solução cabível, sob o risco de que se despertem novo terrorismo ainda mais radical no futuro.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

A força de atração do Estado Islâmico sobre os jovens ocidentais

Thiago Correa
Acadêmico do 6º semestre de Relações Internacionais da Unama

Atualmente, a maior preocupação dos governos ocidentais tem um nome: ISIS. O grupo terrorista islâmico configura, hoje, a principal ameaça à segurança nacional desde o surgimento da Al-Qaeda. Isto se deve ao fato de o Estado Islâmico pregar um novo tipo de terrorismo, sem fronteiras, que seduz e recruta jovens ocidentais, principalmente de religião muçulmana, mas que nem sempre são religiosos ou devotos.
A sedução parte da chamada subcultura – novo termo utilizado para as diferentes tribos formadas por jovens – jihadista, espécie de ideologia muçulmana radical e violenta, a qual tem se expandido pelos guetos europeus como “descolada” e “cool”. Combater essa expansão é o principal desafio desses governos locais.
Na Europa, discute-se a possibilidade de que os jovens estejam desalentados quanto às oportunidades a eles oferecidas, buscando assim, nos grupos extremistas, novas oportunidades e um modelo diferente de vida em sociedade. O especialista em Ciência da Religião Paulo Mendes Pinto, em entrevista concedida ao site Renascença, explica que por mais que os jovens europeus possuam um bom sistema de educação intelectual, os modelos utilizados por este sistema carecem de uma formação de caráter. Segundo ele, a família e as escolas têm sido falhas em transmitir os bons valores aos seus filhos e alunos.
Assim, esses grupos terroristas “atacam” a Europa de maneira sagaz, ao alistar para sua guerrilha filhos de uma sociedade desenvolvida, que alega se basear nos direitos humanos e na paz, mas que falha ao deixar de lado a inclusão racial e religiosa.  Eles, então vingam-se do apoio europeu às ditaduras do Oriente Médio, as quais deixam a região num completo caos.
Por outro lado, as comunidades islâmicas espalhadas pelo mundo não cansam de expressar repúdio a tais atitudes extremistas, afirmando que estas táticas não condizem com a fé do Islã. A comunidade islâmica da Grã-Bretanha, por exemplo, alega que os familiares têm avisado as autoridades quando descobrem que seus parentes pretendem ingressar ao ISIS.
De fato, o combate à aproximação dos jovens com o terrorismo parece precisar da ajuda de muitos: o Estado Islâmico é muito mais conectado que os outros grupos terroristas. Possuem um grupo de comunicação pela internet, um site na web, uma revista em inglês, e vários de seus membros possuem perfis em redes sociais. O aspecto jovial e moderno dos integrantes do ISIS contribui para criar a imagem de que participar do grupo é algo jovem e descolado. Um dos jovens líderes do ISIS, chamado Islam Yaken, foi apelidado na internet de “Jihadista Hipster”, por causa do cabelo grande e dos óculos grandes.
A Europa já teme o retorno de tais jovens treinados e doutrinados pelos terroristas ao velho continente. E se estes jovens se espalharem pelo mundo? Aí a preocupação adquire dimensões globais. Os Estados Unidos decidiram voltar a combater no Iraque e na Síria após a confirmação de que os recentes êxitos do ISIS atraem um número cada vez maior de norte-americanos à Síria, entre eles mulheres, além de profissionais como médicos, engenheiros, etc.

Por estas e outras razões, o grande medo do ocidente se escancara, armado e ameaçador: e se as grandes cidades ocidentais virarem palco de uma Guerra até há pouco tempo indiferente aos nossos olhos? Isso só confirmaria o que já se tem dito: as fronteiras entre os Estados estão cada vez mais tênues e os inimigos cada vez mais disfarçados na multidão.

REFERÊNCIAS

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Atentados Terroristas no mundo: Um olhar mais atento aos Nigerianos

Subina Ramos
Acadêmica do 5º Semestre de Relações Internacionais da UNAMA

O conceito de terror permeia os ditames da política dos países desde a era do imperialismo exacerbado, que consagrou o reconhecimento da subjugação na época, e esteve presente na luta pela independência dos povos.
Substancialmente, a evolução dos desígnios do limite da soberania estatal ocorrida após o atentado de 11 de Setembro, é resultante de um terrorismo que circunda numa manifestação mais ampla, que interfere na dinâmica do sistema internacional como um todo, e teve a sua agenda voltada para o combate de uma malevolência sem rosto e sem pátria.
Essa nova conflitualidade foi definida através de um cenário múltiplo que se constituiu na luta contra o terrorismo. Neste sentido, estaríamos face a uma ramificação de conflito, de cariz radical e muito mais ameaçadora, por se formar em rede de atuação, situada como numa criminalidade estruturada, incluindo grupos armados e organizados em torno de um líder. Capaz de reduzir todo um aparato de integridade de um Estado e fomentar a vulnerabilidade das mais distintas sociedades.
Nota-se que não foi declarada uma guerra contra uma religião. Se condena a insensatez do Estado-nação que pretender punir uma instituição religiosa, perpassando ao seu simbolismo nas ações.
Como proferido pelo sociólogo Jean Baudrillard, o novo terrorismo, em seu meio de destruição e dissuasão, remete dúvidas quanto ao meio que pode ser utilizado para conter seus passos e conquistas. Uma vez que nada se pode fazer contra um inimigo que utiliza a morte como uma de suas principais armas. Esta ação (a morte) assume uma característica simbólica, viável a enfraquecer ou destruir o que os terroristas designam de hegemonia e causadora de sofrimento.
O islamismo como princípio ideológico, percorre diversas interpretações quanto à sua representatividade no meio social, que fez surgir grupos terroristas como Boko - Haram na Nigéria. Os autores da teoria crítica retratariam esse grupo como uma força  que resiste a opressão e luta pela emancipação, saindo do papel instrumentalizado da força hegemônica na esfera social. Nessa analogia estaríamos em frente a um sentimento dualista nas ações do citado grupo terrorista: “O sistema que humilha, tem que ser humilhado”.
O Boko-Haram, que significa “a educação ocidental é um pecado”, além de condenar a ingerência ocidental no mundo, também tenciona a criação de um Estado Islâmico.  Mais precisamente nas regiões norte e nordeste da Nigéria, os atos de fuzilamentos e sequestros realizados por este grupo, vêm se tornando cada vez mais frequentes.
As debilidades estruturais do país, fomentada pela corrupção doméstica não são os únicos fatores que justificam as consequências desses massacres. A falta de atenção internacional ao que vem acontecendo também agrava a situação. Assim, o terror numa das suas vertentes é resultado da diferença entre classes sociais e mais, é efeito de um composto que alimenta seus fins.
Certamente que, ao falarmos sobre a encruzilhada que é o terrorismo internacional, jamais se deve cometer o erro da presunção de que se trata de um desafio unilateral. Caso aconteça, o desdobramento estará numa tragédia cujo fim é indefinido, e se alimenta de práticas inconsistentes, capaz de levar  morte a mais de duas mil pessoas, em um período curto de tempo.
Enquanto isto, o mundo assiste e pede maior comprometimento da Nigéria. Acredito, que um acontecimento deste gênero deveria ser considerado crime contra humanidade.
Não se entende como tamanha transgressão e violação de direitos humanos, não sensibilizou a mídia, os usuários das redes sociais, muito menos apresentou reflexões a muitos dirigentes africanos, e nem resultou numa ação efetiva das organizações internacionais, que tem como fundamento a imposição de paz e segurança global. Ou seria uma segurança “global” restrita?
Nas mesmas circunstâncias, a França vivenciou atentados, sob a revista “Charlie Hebdo”, ocasionando morte de vários cartonistas e de outros cidadãos comuns. A base deste ato terrorista, seria uma resposta a algo outrora retratado na revista, que ofendia os muçulmanos.
Vale ressaltar que não pode existir intolerância e muito menos desrespeito a uma religião, sendo que estamos falando da essência cultural de um povo. Porém, nenhum assassinato, tratando-se de um manifesto condenável.
As repercussões mundiais desses dois eventos foram dadas de forma paralela. Enquanto a mídia internacional “banalizava” a morte de milhares de nigerianos, exaltava fortemente expressões do tipo: “Je suis Charlie”.
As reflexões dos teóricos críticos sobre temas da moral e do direito nos apresentam alguns pontos que podem ser citados como potenciais obstáculos existentes no “dever proteger”. Desta forma, a questão de justiça e bem-estar não pode ser retratada com base em deduções singulares, em condições de realização isolada, ora sim de maneira universalista.
Com a insegurança da globalização, devemos ter na pirâmide da fundamentação normativa, de que qualquer insuficiência, seja lá para onde for, trará várias inconsistências quanto ao direito e a política internacional.
Muito são aqueles que perdem a esperança num mundo pouco ou nada igualitário. Principalmente ao ver uma marcha de líderes mundiais em homenagem a vítimas do atentado na França, enquanto a população nigeriana se pergunta, porque não são lembrados. Como se aquilo fora suficiente para retratar a posição que cada ser humano ocupa no mundo.
Em geral, precisamos mostrar sem discriminação o respeito as pessoas de diferente credo, ouvindo e não insultando. Precisamos também, refletir a respeito da humanidade que existe em todos nós. Afirmo ser de tamanha dor ver pessoas sendo mortas pelos fundamentalistas radicais, todavia é de muita consternação perceber que a nossa mente continua a ser colonizada pelo princípio de superioridade e inferioridade.



Referências
NOBRE, Marcos.Curso Livre de Teoria Crítica. Papirus Editora. São Paulo 2ª edição 2009