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terça-feira, 18 de novembro de 2014

“Pedras não são argumentos” – 25 anos da queda do Muro de Berlim

Sabrina Sena
Acadêmica do 5º semestre de Relações Internacionais da Unama

Eu sei que na rua não tem mais uma única árvore.
Ruínas se erguiam no céu preto e branco queimado.
Agora eu estou aqui, depois de tanto anos e não parece ser.
As árvores, eles estão de pé aqui, são quase tão velho quanto eu.
Toda a minha vida eu vivi em metade da cidade?
O que eu digo agora, quando você me dá a outra metade?
Agora eu estou aqui, e meus olhos não se fartam!
Estas imagens são: liberdade, liberdade, finalmente, sobre a minha cidade!

Essa é a letra de uma canção, chamada “Minha Berlim” ou Mein Berlin onde o seu compositor, um famoso cantor alemão, Reinhard Mey, relata sobre a queda do muro de Berlim, há 25 anos. Agora, muitos se perguntam: qual a importância de lembrar tal fato? Qual a contribuição disso para os dias atuais? Neste ensaio será feito uma análise sobre o significado da queda do muro para os dias atuais.
É marcante na história da humanidade um período chamado de Guerra Fria que ocorreu nos anos de 1945 à 1991  onde o mundo se dividiu por questões ideológicas ligadas ao capitalismo e ao socialismo. Na Alemanha, esse embate pareceu acirrar a guerra fria e fez com que a capital do país, Berlim, se tornasse o símbolo do ápice da insegurança dessa corrida ideológica na qual o mundo vivia a partir do momento em que a União Soviética  aprovou a criação do muro para impedir que o lado comunista da capital estivesse em livre contato com o lado capitalista ou Ocidental.
A edificação do muro de Berlim significou um dos momentos mais instáveis para a Europa e para o mundo. O chanceler federal da Republica Federal Alemã (RFA), Helmut Kohl disse na época que uma Alemanha dividida implicava numa Europa instável:
“A unidade alemã e do continente eram, portanto, dois lados de uma mesma moeda.”
Com isso, afirma-se que os efeitos da Guerra Fria e a criação de uma divisão em Berlim não eram prejudiciais apenas para a capital ou para o país. Se a queda do muro significou algo benéfico para o país, seria, portanto, bom para o mundo.
No dia 09 de Novembro de 1989, a população de Berlim foi às ruas e cercaram o muro, lado a lado, para que todos pudessem ver com seus próprios olhos a “queda da divisão”. Isso foi algo que se deu por constantes protestos do lado oriental e reforço do lado ocidental. Essa relutância do lado comunista de Berlim, ou oriental, significava que o governo daquele lado não contava mais com a confiança da população. 

25 anos após a queda e desse fato histórico marcante, foi celebrado e lembrado no dia 09 de Novembro de 2014 os fatos ocorridos. O momento acompanhado pelo mundo com discursos reflexivos a cerca da importância de lembrar a queda do muro e seu significado. Em um discurso, a chanceler alemã, Angela Merkel disse que “a abertura das fronteiras há 25 anos é um modelo para outros movimentos de libertação”, destacando a importância da quebra de divisões e a procura por um futuro mais estável citando casos na Ucrânia, Síria e Iraque.
A partir do que foi citado, a queda do muro de Berlim tem significado importante, não apenas para a história da Alemanha, mas para o mundo.  Esse momento ilustra a abertura para um novo futuro na qual os alemães, naquele momento, acreditavam que estava à caminho. Apesar de não se saber, naquele tempo exatamente, no que iria acontecer após a unificação, a esperança maior era ter um futuro melhor para o país e para o mundo. Quando o autor da canção acima fala: Toda a minha vida eu vivi em metade da cidade? O que eu digo agora, quando você me dá a outra metade? Era algo que resumia um sentimento único em todo o mundo que viveu sob o medo do que poderia acontecer com esses acirramentos durante a guerra fria.
Com a queda do muro ou a queda da divisão, todos viam nesse momento “Estas imagens são: liberdade, liberdade, finalmente, sobre a minha cidade!”, ou seja, pedras não são argumentos!




Referencias
Merkel diz que queda do Muro é exemplo para áreas em conflito no mundo. Deutsch Welle. Disponivel em: <http://www.dw.de/merkel-diz-que-queda-do-muro-%C3%A9-exemplo-para-%C3%A1reas-em-conflito-no-mundo/a-18050128>. Acessado em: 13 de Novembro de 2014.

1989: Cai o Muro de Berlim. Deutsch Welle. Disponivel em: <http://www.dw.de/1989-cai-o-muro-de-berlim/a-4869441>. Acessado em: 13 de Novembro de 2014.

Mein Berlin. Reinhard Mey. Disponível em: <http://www.reinhard-mey.de/start/texte/alben/mein-berlin>. Acessado em: 12 de Novembro de 2014

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A proclamação da Republica e a Inserção do Brasil no Sistema Internacional a Partir do Contexto da Época

Lucas Cunha de Senna
Acadêmico do 2º semestre de Relações Internacionais da Unama


A Política Externa Brasileira na Primeira República é marcada principalmente pelo processo de alinhamento com os Estados Unidos. Tal processo é expresso pela gestão do Barão do Rio Branco e pelos esforços de Joaquim Nabuco como embaixador brasileiro nos EUA. A necessidade de dissuadir a expansão da política imperialista Europeia na América Latina e assim garantir a soberania brasileira, força a República a buscar aproximação diplomática em âmbito continental.
O cenário internacional no inicio do século XIX tem os Estados Unidos como uma das potências mundiais. E, nesse sentido, uma das razões para a aproximação do Brasil com os EUA é que o continente americano passava a ser visto como sua área logica de expansão política e comercial, garantindo espaço na corrida imperialista presente na época.
No quadro interno temos uma República recém formada, pautada no princípio de solidariedade a partir da similaridade institucional a fim de, no âmbito nacional, se distanciar do império e vincular-se a imagem de República enquanto “evolução do novo mundo”. Além disso, era primordial para o Brasil associar a imagem do império a Velha Europa devido ao fato de, mesmo após a independência, ainda haver fortes oposições à República e a favor do retorno da Monarquia. A grande questão interna da época era a propaganda republicana que se estende até a Política Externa.
A primeira tendência brasileira de Política Externa foi atenuada a medida em que a politica de interesses com seus vizinhos crescia, porém foi retomada principalmente após as reformas ministeriais do Barão do Rio Branco em 1902. Rio Branco já tinha o terreno fértil de cooperação com os EUA, levado por diversos atos que estreitaram a relação dos dois países, e a cooperação com os vizinhos era ainda mais favorável para sua posição no SI.
Nessa conjuntura a Politica Externa brasileira vai pautar-se em três objetivos: Consolidar as fronteiras nacionais, diminuir a influência europeia e aumentar o poder de barganha brasileiro. Na perspectiva do ministro, o Brasil necessitava de apoio dos EUA para resolver desavenças fronteiriças.
Com isso o Brasil legitimaria o interesse à ação estadunidense no continente americano. Assim, o redirecionamento da política brasileira do eixo Londres para o eixo Washington possibilitava a inserção do Brasil no Sistema Internacional, pois equilibrava a politica de poder na América Latina, dissuadindo as ações das potências europeias.
O alinhamento Brasil - EUA não só cumpriu com os objetivos como aumentou o poder brasileiro em toda a América Latina, criando um cenário de inserção com seus vizinhos através do poder de barganha. Foi nesse contexto que o Brasil aumentou também as relações bilaterais com o Chile, afim de dissuadir a influência argentina na região.
Em tese o alinhamento brasileiro com os Estados Unidos traz diversos benefícios bilaterais. O Brasil expande a diplomacia das canhoneiras europeias, frequentemente aplicada na América Latina, ganha maior projeção regional, e determina suas questões fronteiriças, inclusive a aquisição do Acre. Além disso, através de alguns tratados de arbitragem, consegue com maior êxito, equilibrar seu poder com as grandes potências e trazer um reequipamento militar para o país, através da cooperação com os EUA, possibilitando assim, maior capacidade de manutenção dos interesses nacionais da época.

REFERÊNCIAS
Garcia, Eugenio. Cronologia das Relações Internacionais do Brasil. 2.ed. ver., ampl. e atualizada. Rio de Janeiro: Contraponto; Brasília, DF: Fundação Alexandre Gusmão, 2005. 336p.

Altemani, Enrique. Politica Externa Brasileira. São Paulo: saraiva, 2005, 291p.

sábado, 4 de outubro de 2014

Totalitarismo e Desenhos Animados: a banalidade do mal

Bruno Gouvêa de Queiroz
Licenciado em História, Pós-Graduando em História Contemporânea e acadêmico do 1° semestre de Relações Internacionais da Unama

            O pensamento Arendtiano, no que tange ao totalitarismo, é uma espécie de novo fenômeno. A sua fundamentação é baseada em duas estruturas: a ideologia e o terror. De acordo com Arendt, o que ocorreu na Segunda Guerra foi algo inédito, pois o sistema totalitarista não se confundia com nenhuma espécie de tirania ou qualquer outro regime opressor presente nos Anais da História.
            Arendt afirma que o “Domínio Total” utilizado pelos regimes totalitários acaba por intensificar a ideia de poder na sociedade, juntando os dois principais pilares: ideologia e terror, onde se tem uma nova forma de domínio estatal perante os cidadãos. A propaganda ideológica deste sistema primava por isolar os indivíduos, despersonalizando-os e privando-os de seu principal bem: a sua liberdade.
            Tal fundamentação é muito bem retratada pelos Estúdios Disney, com dois curta-metragem intitulados Der Fuehrer Face (Na Cara do Fuehrer) e As Crianças de Hitler – Educação para a Morte.
             No primeiro desenho, Donald é funcionário de uma fábrica de munições na Alemanha, vestido como nazista e sempre ameaçado de morte por qualquer sinal de cansaço. O desenho de Donald tece uma crítica escancarada à alienação que o Estado alemão praticava. Esta alienação encontra-se presente no esforço de guerra e na massificação de todo um povo submetido ao regime Hitleriano. Disney mostra Donald sendo forçado a trabalhar exaustivamente e no fim do pesadelo ele acorda e se vê são e salvo nos Estados Unidos, chegando a beijar uma réplica da Estátua da Liberdade. O propósito do filme é puramente político: mostrar às crianças que os nazistas são maus e que os Estados Unidos são o grande amigo do resto da população mundial e também do pato Donald. Esta película mostra que os EUA também detinham grande poderio propagandístico, com uma publicidade eficiente a seu favor.

         
Em As Crianças de Hitler, é retratado como ocorria o aliciamento de novos integrantes para o exército Hitleriano. Neste filme, a abordagem é de como se forma um nazista desde seu nascimento, a comprovação de veracidade de pertencer à raça ariana, a recusa quanto a nomes judeus, e o principal, uma educação inteiramente moldada nos ensinamentos do livro Mein Kampf.
            Neste curta, é notório também a presença da lavagem cerebral proposta por Hannah Arendt em sua obra As Origens do Totalitarismo.  No determinado período, Walt Disney foi de suma importância para o mundo ao transmitir uma imagem positiva dos Estados Unidos. Disney pretendia, através de seus desenhos, expor os horrores de guerra cometidos pelos regimes totalitários inimigos de seu país durante a guerra. De acordo com Arendt:
“A mais eficaz ficção da propaganda nazista foi a história de uma conspiração mundial judaica. Concentrar-se em propaganda antissemita era expediente comum dos demagogos desde fins do século XIX, e muito difundido na Alemanha e na Áustria na década de 1920. Quanto mais constantemente os partidos e órgãos de opinião pública evitavam discutir a questão judaica, mas a ralé se convencia de que os judeus eram os verdadeiros representantes das autoridades constituídas, e de que a questão judaica era o símbolo da hipocrisia e da desonestidade de todo o sistema (ARENDT, pag. 403, 1989).”
            Para Arendt, a grande novidade dentro de um regime totalitário é a formação de um governo cujo foco seja o terror. Este terror visa retirar do homem o seu lugar, abandonando-o no terreno das coisas, massificando-o. O terror é responsável por retirar do homem o sentido de pertencer ao mundo, tirando-lhe as suas raízes. A preocupação de Hannah é abordar o uso da propaganda e da ideologia que dissemina o terror e distorce a realidade.
            A grande maestria de um regime totalitário é valer-se do medo, do terror, da propaganda e da coerção. Essa junção de fatores leva uma população inteira subjugada a uma “sociedade de massas”. Indivíduos passivos perante o sistema, alienação total, perda da identidade cultural e religiosa comprovam a descaracterização e isolamento a que eram submetidas estas populações. A propaganda nazista, fascista, stalinista valia-se sempre da mentira para manter-se no poder, e através de sua ideologia, determinar o rumo de um contingente inteiro de alienados.

REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. Trad. Roberto Raposo. 4 ed, São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
Der Fuehrer Face (Na Cara do Fuehrer): https://www.youtube.com/watch?v=RsLi_XNl9tI
As Crianças de Hitler – Educação para a Morte: http://www.youtube.com/watch?v=S09fOW5QqGE

domingo, 7 de setembro de 2014

As Atuais Estratégias de Inserção do Brasil no Sistema Internacional

Neila Sousa
Acadêmica do 4º semestre de Relações Internacionais da Unama

As discussões a respeito do andamento da política externa brasileira se expandiram bastante nos últimos anos em diversas áreas do conhecimento. E, a partir disto, especialistas emitem opiniões a favor ou contra o atual governo. No que se refere ao progresso do grupo petista, o qual gerou grandes perspectivas em relação ao combate ao neoliberalismo, procurando se desvincular dos ideais deixados pelo governo anterior na tentativa de criar estratégias inovadoras.
As divergentes avaliações que surgem acerca da atual política externa brasileira, decorrem de três maneiras: A partir da visão dos opositores, dos defensores e dos observadores apartidários. As duas primeiras são sempre muito bem analisadas por meio das redes sociais e outros meios de comunicação, já a ultima é analisada de forma mais equilibrada entre erros e acertos da política externa atual com o intuito de orienta-la em seu prosseguimento.
Para que possamos compreender a postura do governo Lula e Dilma diante da política externa brasileira, é importante analisar também, os inúmeros discursos e publicações de artigos relacionados ao tema. Em seu primeiro discurso após ter sido eleito, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu dar mais atenção aos problemas sociais, enquanto na política externa, propôs a expansão do Brasil a partir da sua integração com os países vizinhos, através do MERCOSUL, principalmente.
O objetivo era intensificar a identidade histórica, social e cultural do continente latino americano, acreditando que estes pontos são essenciais para a sua normatização. E claro, potencializar a participação do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), ressaltando a importância de defender os interesses nacionais do país, no Sistema Internacional por meio das relações multilaterais, o qual também seria um meio para o Estado se desenvolver, sem deixar de lado a importância de expandir suas ações diplomáticas com países desenvolvidos, inclusive com os EUA.
Porém, o que mais chama a atenção é o interesse em aumentar os laços diplomáticos com países que estão em desenvolvimento como é o caso da África, partindo do pressuposto de que suas afinidades culturais, históricas e geográficas são semelhantes.
E, a partir deste discurso, é possível combater as falhas existentes no Sistema Internacional entre Estados desenvolvidos e subdesenvolvidos. Sendo mais evidente quando se trata do Conselho de Segurança da ONU, onde os países representantes são apenas as grandes potências: Estados Unidos, França, Inglaterra, China e Rússia.
Estabelecer relações com os países em desenvolvimento, que tenham interesses em comum com o Brasil, é uma estratégia para que haja uma reforma no Conselho de Segurança da ONU. No seu objetivo geral citada na Carta de São Francisco, as Nações Unidas propõem a igualdade entre os Estados no cenário internacional, como citado abaixo:
Nós, os povos das Nações Unidas, decididos: ... a reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas...”
Mas pelo que se pode perceber, há uma grande disparidade neste propósito, onde as regras do jogo são definidas por um pequeno grupo que dominam a organização e, por tais motivos, fortalecer as relações Sul-Sul é relevante. Além disso, expandir o comércio exterior do país para Estados com economia semelhante a do Brasil, não passa de uma tática econômica que contribui para aumentar as eficiências de barganhas entre países do Sul no decorrer das negociações em organismos multilaterais, tendo como exemplo a luta contra os financiamentos agrícolas, na Organização Mundial do Comércio (OMC), por exemplo.
É notável que durante esta gestão, o Brasil ganhou mais visibilidade no Sistema Internacional através da criação da Comunidade Sul-Americana de Nações, no que por sua vez, houve a inclusão de países árabes e africanos, além de outros países em desenvolvimento, sem contar o fortalecimento do MERCOSUL.
Através da visão de Antônio Gramsci, teórico crítico de Relações Internacionais, pode-se perceber que a proposta de inserção internacional do PT, é contestar os mecanismos estruturais impostos pelas grandes hegemonias, na tentativa de remodelar a geografia econômica global e, uma das tentativas é através da relação Sul-Sul, que junto a OMC, tenta quebrar o protecionismo Europeu, sem cortar suas relações com os atores hegemônicos.
Diante disso, procura-se manter diálogos políticos por intermédio das estratégias institucionais internacionais como o IBAS, BRICS e BASIC e como se sabe o governo Dilma veio na tentativa de continuar a gestão do ex-presidente Lula, que tem se mantido firmemente e que inclusive está sendo possível aprofundar cada vez mais na continuação da gestão.


REFERÊNCIAS

Diplomacia brasileira sob Dilma e Patriota muda de estilo, mas mantém essência, Opera Mundi. Disponível em: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/26165/diplomacia+brasileira+sob+dilma+e+patriota+muda+de+estilo+mas+mantem+essencia.shtml%20 Acesso em 4 de setembro de 2014.

Carta de São Francisco, Gabinete de Documentação e Direito Comparado. Disponível em: http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/tidhuniversais/onu-carta.html Acesso em 3 de Setembro de 2014.
Mapa, Dhiego de Moura. Inserção Internacional no Governo Lula:

interpretações divergentes, Uiversidade Estadual do Rio de Janeiro. Pag. 34 à 79. 

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Os Conflitos na Faixa de Gaza

Vandré Colares       
Acadêmico do 4° semestre de Relações Internacionais da UNAMA    


     Um dos temas mais contemporâneos e recorrentes em discussão quando o assunto é relações internacionais, sem dúvida, diz respeito aos conflitos israelo-palestinos. Aqui, far-se-á uma análise focada na faixa de gaza, abordando de forma breve a historicidade da região e a correlação desta com a teoria construtivista das Relações Internacionais.
              A história que cerca o conflito é demasiada complexa e extensa. Vale destacar alguns pontos recentes que circundam a região em questão. Gaza se tornou foco de conflito entre israelenses e palestinos também pelo fato de a região ter recebido refugiados palestinos após a criação do Estado de Israel em 1948, no pós-Segunda Guerra Mundial.
            Os israelenses creem que a região lhes pertence pelo fato de que a comunidade palestina foi ali estabelecida de forma “artificial”, uma vez que segundo eles, antes da chegada dos refugiados em 1948 não havia tal comunidade. Os palestinos, que por sua vez, reivindicam há muito a criação de um Estado soberano, lembram que no ato da criação de Israel, a faixa de gaza não estava delimitada como parte do Estado judeu.


            O conflito todo tem como pano de fundo a questão religiosa: há por parte das duas religiões (judeus e muçulmanos) a atribuição de enorme importância para aquelas terras, o que dificulta ainda mais a mediação e resolução do conflito. Uma vez que ambos creem veementemente que a terra lhes pertence por ordem divina. Assim, uma solução política é pouco provável.
           Um capítulo à parte é o envolvimento de grupos como o Hamas, o Hezbollah, o Fatah, as Jihads e assim por diante no conflito. Israel e o Ocidente, de uma maneira geral, os consideram como grupos terroristas, uma vez que usam de meios como atentados para combater a causa judia. Por outro lado, o Hamas, por exemplo, tem representação política forte e desempenha até mesmo um papel sócio-ideológico na região.
            Esse e outros contrassensos evidenciam a complexidade do conflito, que possui ainda muitos outros fatores relevantes ao entendimento do que se passa naquele espaço. Por conta do caráter complexo, é salutar analisar a questão israelo-palestina por meio da teoria construtivista das Relações Internacionais. 
          É evidente a relevância dos chamados fatores “não-materiais” no conflito. A religião enquanto peça fundamental para o entendimento dos fatos deixa clara a impossibilidade de uma análise fidedigna por meio das teorias estritamente positivistas, tais como o realismo e o idealismo, mesmo em suas “refinadas” versões “Neo-Neo”.
           Outro pressuposto construtivista que se encaixa aqui é o da mutabilidade constante da realidade, graças a relação de co-construçao entre os agentes e o meio. Por exemplo, até 1948 não existia de fato o Estado de Israel, sua criação foi resultado das forças estruturais da época, uma vez que esta era ditada pelos valores dos Estados ocidentais vencedores da Segunda Guerra. Israel, por sua vez, passa a modificar a estrutura no mesmo momento em que esta o modifica, pois representa também um agente do SI.


            Em suma, não é possível falar em “pré-existência”, ou em algo “estrutural” quando se trata de política internacional e relações sociais. Os palestinos passaram a habitar a região somete após a criação de Israel, que por sua vez inexistia antes de 1948. Ou seja, as condições conjunturais da estrutura e dos agentes, colaboraram para a construção social da realidade como a vemos hoje.
A Construção social também se aplica para denominar a construção de valores adotados por partes do conflito, tanto valores sionistas como antissemitas, como por exemplo, de grupos como o Hamas, que desejam a destruição do Estado de Israel. Esses valores são construídos com base em diversos fatores, inclusive os “não-materiais”, como a religião e a própria cultura pregada ali, de tal forma que o olhar construtivista parece ser o mais apropriado para entender o conflito.
            

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O papel do Barão do Rio Branco para a diplomacia brasileira

Rafael Teocharopoulos
Acadêmico do 4° semestre de Relações Internacionais da UNAMA



O presente artigo discorre sobre a importância do barão do Rio Branco para a política externa brasileira, onde se busca traçar os pontos mais importantes em relação aos feitos históricos do ministro na execução das Relações Internacionais, e principalmente, na sua influência sobre a atual demarcação do território nacional através do modelo de diplomacia que vigora até hoje.
 José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, foi nomeado ministro das relações exteriores em 1902 e permaneceu no cargo até 1912, ano de seu falecimento. Durante sua carreira, foi também jornalista e promotor do império, mas foi como chanceler que executou os feitos que lhe renderam o reconhecimento nacional e internacional.
O Barão do Rio Branco, tendo forte laço com a diplomacia, solucionou vários  conflitos fronteiriços decorrentes da falta de clareza na demarcação territorial presente no tratado de Madrid, assinado em1750. Por exemplo, os casos de Palmas com a Argentina, e do Amapá com a França, que foram resolvidos antes de tornar-se ministro. Além do principal tratado, o qual lhe rendeu a fama atual, o de Petrópolis, com a Bolívia, que culminou na anexação do Acre em 1903. 
  

O embate existente em torno da posse do território já havia bastante tempo. Bem antes de o Barão assumir a chancelaria. Os seringueiros já haviam travado algumas batalhas armadas contra soldados de La Paz, e mesmo com o apoio do governo amazonense, liderados por Plácido de Castro, não obtiveram sucesso em tomar a região.
Diferente das regiões de Palmas e Amapá, que pertenciam de fato à soberania brasileira, a região do Acre era pertencente à Bolívia, mas acabou sendo invadida pelos seringueiros em pleno período de expansão da borracha. Prevalecia a falta de conhecimento em relação às demarcações dos limites entre os países.
De início o barão tentou comprar a região, mas não era tão simples assim. O local já havia sido vendido para uma empresa norte-americana, a Bolyvian Sindicate de Nova Iorque, uma das chamadas “chartered companies”, empresas que compravam o direito à soberania de certa área, adquirindo o monopólio na exploração desta.
Depois de um ano de negociações, se chegou ao acordo de que o Brasil pagaria 100 mil libras esterlinas à empresa e mais dois milhões de libras à Bolívia, referente ao látex extraído por ano na região, além da construção da ferrovia Madeira-Marmoré, que criava uma saída boliviana para o Atlântico.
A maneira de agir do ministro foi alvo de críticas da opinião pública, que não concordou com as concessões e achava que o Exército nacional tinha que ter apoiado os seringueiros. Em resposta, O barão disse que não iria deixar que o Acre se tornasse um “novo Texas”. Não apoiaria a independência da região para posteriormente aceitar o pedido de anexação ao território brasileiro, pois isso feriria as relações que o Brasil sempre manteve com seus vizinhos.
Sua conduta como mediador desse conflito e de outros ao longo de seus dez anos como chanceler lhe rendeu o título de patrono da diplomacia brasileira. Além da homenagem com a criação do Instituto Rio Branco, órgão responsável pela preparação para carreira diplomática no Brasil.



Referências:

FILHO, Synesio Sampaio Goes. Fronteiras do Brasil. Brasilia, FUNAG, 2013. Parte 4, cap. 3, p: 108-118.
PEREIRA, Manoel Gomes. Barão do Rio Branco, 100 anos de memórias. Brasilia, FUNAG, 2012.
GASPARETTO, Antonio. Tratado de Madri, disponível em: http://www.historiabrasileira.com/brasil-colonia/tratado-de-madrid.



sábado, 7 de junho de 2014

Resenha: DO DIA SEGUINTE (1983) AO DIA DEPOIS DE AMANHÃ (2004)

Brenda de Castro
Internacionalista (UNAMA) e Mestranda em Ciência Política (PPGCP/UFPA)




Pouco mais de uma década separa dois filmes que, além do nome, não apresentam muitas semelhanças à primeira vista. Dirigido por Nicholas Meyer, O Dia Seguinte (The Day After no original) foi lançado no início da década de 1980 em plena Guerra Fria e se propõe a mostrar em duas horas de filme de modo cru um dos possíveis desdobramentos daquele período histórico.
Ainda que se tratasse de uma “paz improvável, guerra impossível”, o medo de uma guerra nuclear assolava a imaginação das pessoas. O filme tem um ritmo lento, principalmente na sua primeira parte onde nos apresenta o cotidiano da família Oakes que vive no estado de Kansas. Ao mesmo tempo acompanhamos os procedimentos militares de vigilância no tenso período, assim como o impacto no dia-a-dia da economia e outros setores da sociedade por conta da Guerra Fria.
A crise tem início no longa-metragem por conta de uma barreira de mísseis que os Estados Unidos pretendem instalar na Europa, enquanto os noticiários atualizam a situação, vemos as pessoas com seus problemas e rotinas pessoais, ora atentos à crise e em outros momentos apenas desligam o rádio ou a televisão.
Quando é decretada a ordem de evacuação da cidade de Moscou a rotina da população estadunidense começa a mudar e se questionarem a que ponto aquela crise chegará, ainda que temerosos, não acreditam ser possível que a situação leve a uma guerra nuclear. Quanto mais se torna real a ameaça, as pessoas começam a entrar em pânico e se preparam para o pior. Os Estados Unidos lançam seus mísseis e é dado início à guerra. Sabendo que a retaliação soviética não tardaria mais que trinta minutos as pessoas tentam se proteger a tempo.
O filme causou bastante impacto por ter demonstrado a partir de simulações científicas e com o uso dos efeitos especiais da época para tornar o mais real possível o que ocorreria numa situação de guerra nuclear. No primeiro momento, carros param de funcionar, relógios, toda a energia. Com a explosão, os efeitos – ainda que limitados – dão a ideia de várias pessoas sendo instantaneamente carbonizadas, a destruição de prédios e a devastação nuclear é descrita por quatro minutos. O suficiente para causar, até mesmo em nós atualmente, arrepios. A cena encontra-se exatamente na metade do filme, separando o antes, cotidiano dos simples cidadãos e o depois, da sobrevivência dos que se salvaram e das consequências. Os meses seguintes trazem os impactos à saúde das pessoas que se veem totalmente desamparadas e sem estrutura para recomeçar a vida.
O letreiro final traz uma mensagem de que aqueles eventos catastróficos eram apenas uma simulação que não chegava nem perto do que aconteceria na realidade se uma guerra nuclear tivesse início e que esperava inspirar os as nações, os seus líderes e suas populações a buscarem um meio de evitar este fatídico dia.
“O Dia Seguinte” foi um filme encomendado para televisão o que possibilitou que fosse visto por muitas pessoas, assim, impactando fortemente a opinião pública. Contudo, qual a relação deste filme contextualizado na Guerra Fria e que trata de uma guerra nuclear e suas consequências para o filme “O Dia Depois de Amanhã”?
O segundo filme, traz a discussão sobre as mudanças climáticas já no início do século XXI quando o tema começa a se concretizar cada vez mais na agenda internacional. 
O filme se passa em 2020 e mostra de forma extrema as consequências de uma elevação de sete metros no nível do mar por conta da exploração de petróleo no Polo Norte, causando assim uma tsunami que toma conta de todo o norte, no caso, os Estados Unidos, o que leva muitas pessoas a fugirem para o norte enquanto outras sofrem com o resfriamento abrupto, assim como o isolamento causado pelas temperaturas extremas e a destruição.
É interessante extrair deste filme alguns fatores: a impotência sentida pela hegemonia econômica e militar diante da catástrofe climática, a negação de dados previamente apresentados que alarmavam para a situação (assim como ocorre na atualidade) e, por fim, o irônico desfecho político em que para poupar a vida de seus cidadãos o presidente dos Estados Unidos precisa realizar um acordo com o México perdoando sua dívida para que a população atingida pela catástrofe possa fugir para o país vizinho.
Os dois filmes aqui tratados trazem, em contextos históricos distintos, as grandes preocupações de sua época. Da guerra nuclear às mudanças climáticas, tentam despertar a reflexão acerca de temas como a cooperação e o diálogo. Enfocam também nas consequências sociais e ambientais de decisões políticas desastrosas e da impotência diante de situações extremas.
O primeiro filme conseguiu impactar e causar medo por se tratar de um conflito que era possível que a qualquer instante evoluísse para uma catástrofe nuclear. O diferencial residia que para evitar bastava que uma decisão não fosse tomada. Já no caso das questões climáticas, o problema é muito mais complexo. A cooperação aqui necessitada vai além de um simples acordo de paz, é preciso que medidas sejam tomadas a curto e longo prazo, que sejam repensados valores, modelos econômicos e de exploração.
Fica a reflexão. E o dia seguinte? E o depois de amanhã? Estaremos aqui? Teremos feito algo para evitar catástrofes iminentes?




quarta-feira, 14 de maio de 2014

Programa Globalizando "A importância do curso de Relações Internacionais"

O Programa Globalizando desta semana está falando sobre "A importância do Curso de Relações Internacionais". Se você quer saber mais sobre a atuação do profissional de Relações Internacionais, então, você não pode perder este programa, que conta com a participação de todos os acadêmicos do curso que produzem o Globalizando, comentando o quanto vale a pena fazer R.I!  

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Dia Internacional do Café: Análise da Construção da Hegemonia Brasileira nos Séculos XIX e XX

Vandré Colares
Acadêmico do 3º semestre de Relações Internacionais da Unama


           


O dia 14 de abril é tido como o Dia Internacional do Café. Em proveito da data, far-se-á uma reflexão acerca da importância histórica deste produto para o Brasil, com suas implicações quanto à inserção do país no sistema internacional (SI). Para tanto, recorrer-se-á aos ensinamentos do teórico neorrealista Robert Gilpin, que destaca o aspecto econômico em sua análise.
            O ciclo do café no Brasil se deu, grosso modo, entre 1800 e 1929/30. Anteriormente, a economia nacional (ainda que em tempos coloniais) fora marcada por outras matrizes, tais quais cana-de-açúcar, mineração e até mesmo uma tímida atividade industrial (surto industrial). Entretanto, foi no ciclo do café que o Brasil imperial e da republica velha conseguiu alçar voos econômicos mais altos, no que diz respeito às exportações, por conseguinte à economia internacional.
            O cenário de oferta e demanda pelo café à época se mostrou propício para
a ascensão econômica do Brasil no ramo cafeeiro. Além da demanda europeia pelo produto, uma vez que não possuía grandes plantações deste, a independência dos Estados Unidos da América também contribuiu bastante para a existência de mercado para o café brasileiro. Os americanos, povo recém-independente e em crescimento evitavam comprar produtos da Inglaterra, sua antiga metrópole. O Brasil se apresentou como alternativa, uma vez que as colônias britânicas na Ásia eram as principais produtoras até então.

            Uma vez dispondo de larga demanda pelo produto, bem como características favoráveis à produção deste (larga extensão territorial, mão-de-obra escrava, posteriormente imigrante e etc.), o Brasil passou a ser detentor de expressiva parcela da oferta de café no mercado internacional. Assim, pode controlar os preços deste produto no mercado internacional, ou seja, graças ao café o Brasil ganha certo destaque, pujança no sistema internacional.
            É possível analisar tal recorte através da teoria do professor Robert Gilpin. Apesar da tradição realista, o autor engloba os fatores econômicos em sua análise do sistema internacional, afirmando ser também relevante a economia na construção do poderio estatal (apesar de não se sobrepor ao poder bélico).
            Gilpin, portanto, admite que a economia seja é fator capaz de atribuir importância, de propulsionar um Estado dentro do SI. Assim sendo, pode-se dizer que foi exatamente o ocorrido no Brasil durante o ciclo do café. Por mais que não se tratasse de uma potência, dada ausência de poderio bélico, o país passou a exercer certa influência pelo viés econômico, destacando-se no cenário internacional.
Assim, o papel do café na construção do Brasil foi o de posicionar o país dentro do sistema internacional. Por conta de fatores como a detenção de grande parte da oferta e um mercado com boa demanda pelo produto, o Brasil – pelo viés econômico – passa a exercer certa influência, deter certa importância no referido sistema, tal como é preconizado na teoria de Robert Gilpin.

            De certa forma, se não garantiu a manutenção do Brasil como potência média no SI até os dias atuais, o café colaborou para ser reconhecido como forte potência regional na América Latina.