Mostrando postagens com marcador Mídias Internacionais. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mídias Internacionais. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Interesses particulares por detrás do caso de corrupção da Petrobras

Neila Sousa
Acadêmica do 5° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

Ultimamente, o nome da empresa estatal brasileira, Petrobras, tem sido alvo dos principais setores midiáticos no Brasil e no mundo em decorrência da atual situação de corrupção que vem enfrentando, espalhando um ar de decepção, e, de certa forma, gerando dúvidas na população sobre a permanência do atual governo. A eclosão do caso Petrobras chegou ao ponto de partidos opositores, junto às grandes mídias nacionais, se aliarem com o interesse de mobilizar o povo para pedir o impeachment da atual presidente, Dilma Rousseff.
Durante a pesquisa para escrever este texto, considerei necessário realizar uma análise histórica da empresa junto ao mandato de alguns governos que a administrara para refletirmos sobre a conjuntura que envolve a maior empresa brasileira, pois há muitos anos a maior empresa petrolífera do país vem sendo visada por grandes multinacionais. E, diante da visão da teoria construtivista, vivemos uma realidade socialmente construída. Portanto, vivemos em um sistema cujas leis impedem que uma única pessoa, ou seja, a presidente dite as regras, assim como responda pelos erros cometidos diretamente pelos envolvidos no escândalo da corrupção.
A disputa pela gerência da Petrobras teve início quando ainda se pensava na construção da empresa. O Brasil é um país rico em minérios e petróleo, por isso, os olhos estrangeiros direcionam-se sobre as terras e recursos naturais nacionais. Dois grupos surgiram: um defendia a privatização, e o outro a monopolização estatal do petróleo.
No ano de 1948, houve alguns projetos encaminhados ao congresso nacional pelo então presidente Gaspar Dutra, os quais tinham a intenção de permitir a participação da iniciativa privada na indústria, porém muitos nacionalistas se posicionaram contra a ideia de entregá-la às multinacionais estrangeiras. Além disso, na época já havia um domínio do comércio de petróleo em âmbito mundial pelas maiores companhias do setor, conhecidas como “Sete Irmãs”, sendo cinco delas norte-americanas. Para impedir a ação da iniciativa privada, foram feitas algumas mobilizações para que o projeto não fosse aprovado e ficasse sob o domínio do Estado, e tiveram apoio de intelectuais como Monteiro Lobato. Deste modo, diante da necessidade de explorar os recursos petrolíferos, juntamente com o receio de intervenções estrangeiras nas ações da unidade nacional, surgiu a Petrobras.
No decorrer do tempo, a indústria cresceu, e os olhares estrangeiros acompanharam este desenvolvimento. Em 1997, o governo de FHC sancionou uma lei que permitia à União a contratação de empresas estrangeiras para supervisionar e até planejar políticas públicas de energia, surgindo então a ANP (Agencia Nacional do Petróleo). Mas, ainda assim, o Estado tem o petróleo sob o monopólio de exploração.
A Petrobras é símbolo de soberania e democracia brasileira. Assim, a operação Lava Jato, é um meio de investigação sobre a corrupção que se mostra presente na política interna, e auxilia para o projeto de construção um país que preza pela política de transparência. Contudo, a mídia utiliza o fator corrupção como um meio de alcançar interesses particulares.  Uma crise como esta que a Petrobras vem enfrentando pode gerar resultados positivos, por exemplo, a maior transparência política e a pressão cada vez mais aos líderes para que levem em frente o projeto de reforma política nos país.
O grande foco distorcido que a mídia está dando para os problemas de corrupção alimentam a ideia de que um Estado não consegue ter controle de uma grande indústria como esta. Isto causa a impressão de que atitudes contraditórias de grupos de interesse são permitidas e até aceitas pela mídia quando se trata de uma das maiores riquezas do mundo, como o petróleo, inclusive generalizar e/ou ocultar os verdadeiros fatos. E por falta da cultura da busca pela verdadeira informação, acaba-se acreditando na primeira em que é oferecida. Mas, como disse o general Horta Barbosa durante a célebre conferência no Clube Militar, no início da “Campanha do Petróleo”, em 30 de julho de 1947: “O petróleo pertence à Nação, que há de dividi-lo, igualmente, por todos os seus filhos. A Petrobrás e o petróleo do Brasil não pertencem aos ‘acionistas’ ou aos ‘investidores’, mas pertencem a todos os brasileiros, sem exceção”. 



REFERÊNCIAS:


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Atentados Terroristas no mundo: Um olhar mais atento aos Nigerianos

Subina Ramos
Acadêmica do 5º Semestre de Relações Internacionais da UNAMA

O conceito de terror permeia os ditames da política dos países desde a era do imperialismo exacerbado, que consagrou o reconhecimento da subjugação na época, e esteve presente na luta pela independência dos povos.
Substancialmente, a evolução dos desígnios do limite da soberania estatal ocorrida após o atentado de 11 de Setembro, é resultante de um terrorismo que circunda numa manifestação mais ampla, que interfere na dinâmica do sistema internacional como um todo, e teve a sua agenda voltada para o combate de uma malevolência sem rosto e sem pátria.
Essa nova conflitualidade foi definida através de um cenário múltiplo que se constituiu na luta contra o terrorismo. Neste sentido, estaríamos face a uma ramificação de conflito, de cariz radical e muito mais ameaçadora, por se formar em rede de atuação, situada como numa criminalidade estruturada, incluindo grupos armados e organizados em torno de um líder. Capaz de reduzir todo um aparato de integridade de um Estado e fomentar a vulnerabilidade das mais distintas sociedades.
Nota-se que não foi declarada uma guerra contra uma religião. Se condena a insensatez do Estado-nação que pretender punir uma instituição religiosa, perpassando ao seu simbolismo nas ações.
Como proferido pelo sociólogo Jean Baudrillard, o novo terrorismo, em seu meio de destruição e dissuasão, remete dúvidas quanto ao meio que pode ser utilizado para conter seus passos e conquistas. Uma vez que nada se pode fazer contra um inimigo que utiliza a morte como uma de suas principais armas. Esta ação (a morte) assume uma característica simbólica, viável a enfraquecer ou destruir o que os terroristas designam de hegemonia e causadora de sofrimento.
O islamismo como princípio ideológico, percorre diversas interpretações quanto à sua representatividade no meio social, que fez surgir grupos terroristas como Boko - Haram na Nigéria. Os autores da teoria crítica retratariam esse grupo como uma força  que resiste a opressão e luta pela emancipação, saindo do papel instrumentalizado da força hegemônica na esfera social. Nessa analogia estaríamos em frente a um sentimento dualista nas ações do citado grupo terrorista: “O sistema que humilha, tem que ser humilhado”.
O Boko-Haram, que significa “a educação ocidental é um pecado”, além de condenar a ingerência ocidental no mundo, também tenciona a criação de um Estado Islâmico.  Mais precisamente nas regiões norte e nordeste da Nigéria, os atos de fuzilamentos e sequestros realizados por este grupo, vêm se tornando cada vez mais frequentes.
As debilidades estruturais do país, fomentada pela corrupção doméstica não são os únicos fatores que justificam as consequências desses massacres. A falta de atenção internacional ao que vem acontecendo também agrava a situação. Assim, o terror numa das suas vertentes é resultado da diferença entre classes sociais e mais, é efeito de um composto que alimenta seus fins.
Certamente que, ao falarmos sobre a encruzilhada que é o terrorismo internacional, jamais se deve cometer o erro da presunção de que se trata de um desafio unilateral. Caso aconteça, o desdobramento estará numa tragédia cujo fim é indefinido, e se alimenta de práticas inconsistentes, capaz de levar  morte a mais de duas mil pessoas, em um período curto de tempo.
Enquanto isto, o mundo assiste e pede maior comprometimento da Nigéria. Acredito, que um acontecimento deste gênero deveria ser considerado crime contra humanidade.
Não se entende como tamanha transgressão e violação de direitos humanos, não sensibilizou a mídia, os usuários das redes sociais, muito menos apresentou reflexões a muitos dirigentes africanos, e nem resultou numa ação efetiva das organizações internacionais, que tem como fundamento a imposição de paz e segurança global. Ou seria uma segurança “global” restrita?
Nas mesmas circunstâncias, a França vivenciou atentados, sob a revista “Charlie Hebdo”, ocasionando morte de vários cartonistas e de outros cidadãos comuns. A base deste ato terrorista, seria uma resposta a algo outrora retratado na revista, que ofendia os muçulmanos.
Vale ressaltar que não pode existir intolerância e muito menos desrespeito a uma religião, sendo que estamos falando da essência cultural de um povo. Porém, nenhum assassinato, tratando-se de um manifesto condenável.
As repercussões mundiais desses dois eventos foram dadas de forma paralela. Enquanto a mídia internacional “banalizava” a morte de milhares de nigerianos, exaltava fortemente expressões do tipo: “Je suis Charlie”.
As reflexões dos teóricos críticos sobre temas da moral e do direito nos apresentam alguns pontos que podem ser citados como potenciais obstáculos existentes no “dever proteger”. Desta forma, a questão de justiça e bem-estar não pode ser retratada com base em deduções singulares, em condições de realização isolada, ora sim de maneira universalista.
Com a insegurança da globalização, devemos ter na pirâmide da fundamentação normativa, de que qualquer insuficiência, seja lá para onde for, trará várias inconsistências quanto ao direito e a política internacional.
Muito são aqueles que perdem a esperança num mundo pouco ou nada igualitário. Principalmente ao ver uma marcha de líderes mundiais em homenagem a vítimas do atentado na França, enquanto a população nigeriana se pergunta, porque não são lembrados. Como se aquilo fora suficiente para retratar a posição que cada ser humano ocupa no mundo.
Em geral, precisamos mostrar sem discriminação o respeito as pessoas de diferente credo, ouvindo e não insultando. Precisamos também, refletir a respeito da humanidade que existe em todos nós. Afirmo ser de tamanha dor ver pessoas sendo mortas pelos fundamentalistas radicais, todavia é de muita consternação perceber que a nossa mente continua a ser colonizada pelo princípio de superioridade e inferioridade.



Referências
NOBRE, Marcos.Curso Livre de Teoria Crítica. Papirus Editora. São Paulo 2ª edição 2009

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Protestos em Hong Kong e a reinvindicação por Democracia

Sabrina Sena
Acadêmica do 5° semestre de Relações Internacionais da UNAMA


 A democracia pode ser uma palavra familiar para a maioria das pessoas, mas é um conceito ainda mal compreendido e mal utilizado em um momento em que os regimes totalitários e ditaduras militares têm tentado reivindicar apoio popular fixando rótulos democráticos.
O que vem acontecendo em Hong Kong está intimamente ligado a esse conceito falho de Democracia. Quando Hong Kong deixou de ser colônia da Grã-Bretanha em 1977, garantiu-se que a província teria autonomia e liberdade. Ou seja, são duas palavras que caracterizam a democracia e isso é algo que ficou restrito a aspectos políticos dentro em Hong Kong e que vem “sufocando” os chineses da província.
Os manifestantes, em sua maioria estudantes, reivindicam liberdade de voto para escolher os próximos líderes de Hong Kong. A China governa a província através da fórmula: "um país, dois sistemas". Isto confere à ex-colônia britânica relativa autonomia e liberdades das quais os chineses não desfrutam, com o voto universal estabelecido como um eventual objetivo, mas quem decide sobre os próximos lideres do local é uma minoria ligada a politica dentro da China.
Sabe-se que a China é um país comunista onde o governo controla todos os meios de comunicação interno e a população tem restrições à informações. O diferencial desses protestos em Hong Kong ocorreu pelo fato de que estudantes informados e conectados à internet, que cresceram com liberdades não permitidas na China continental, mobilizaram essas reivindicações usando esse meio, o qual é bastante limitado dentro da China, para expandir sua mobilização e atrair mais pessoas.
A mobilização para a expressão do protesto foi planejado para o último dia 01 de Outubro, que é considerado o “Dia Nacional da China”. Os manifestantes exigem que duas observações sejam atendidas: 1) O chefe do Executivo local, Leung Chun-ying deve renunciar; 2) Querem garantias de Pequim de que poderão escolher livremente o próximo líder do governo local. No hasteamento da bandeira da China, no dia Nacional, todos os manifestantes viraram as costas para a bandeira da China, simbolizando uma forma de indignação e vergonha.
Os movimentos pró-democracia causam desconfortos aos políticos chineses em Pequim e Hong Kong. A maioria teme que as intensificações dos protestos se espalhem pela China e acabe influenciando outras províncias. A preocupação interna é tão temerosa que representantes da politica da China pedem que nenhum agente externo intervenha nos assuntos de Hong Kong e que isso é uma situação que será resolvida entre Pequim e a cidade de Hong Kong.
O que acontece em Hong Kong se assemelha à Primavera Árabe (Revolução Democrática Árabe), que se iniciou em 2010, sendo que foram também movimentos de reivindicação pela liberdade para escolher seus líderes e não estar sob a guarda de governos ditatoriais que se autointitulam, muitas vezes, democráticos.
Um dos principais meios para a mobilização dos protestos e para divulgação internacional dos manifestos, foi a internet e as redes sociais, pois são ferramentas que foram amplamente usadas nos protestos em países árabes, e continuam sendo utilizadas pelos chineses de Hong Kong.


Referências:
U.S. Department of State. What is Democracy¿ - Office of Internation Programs.

DEUTSCH WELLE: Manifestantes pró-democracia resistem e erguem barricadas em Hong Kong. Disponível em:
<http://www.dw.de/manifestantes-ignoram-governo-e-seguem-nas-ruas-de-hong-kong/a-17964451>. Acessado em: 05 de Outubro de 2014.

DEUTSCH WELLE: Manifestantes ignoram governo e seguem nas ruas de Hong Kong. Disponível em:

<http://www.dw.de/manifestantes-ignoram-governo-e-seguem-nas-ruas-de-hong-kong/a-17964451>. Acessado em 05 de Outubro de 2014.

 

DEUTSCH WELLE: Protestos marcam Dia Nacional da China em Hong Kong. Disponível em:

 <http://www.dw.de/protestos-marcam-dia-nacional-da-china-em-hong-kong/a-17967403>. Acessado em 05 de Outubro de 2014.

 





segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Segurança Coletiva: das ameaças de atores não convencionais à capacidade de reação da Sociedade Internacional

Christiane Ramos
Acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

“Sabe-se que guerras sempre existiram, assim como outros modos de violência nas civilizações, porém hoje a rapidez da comunicação traz a violência para dentro de nossas casas todo o tempo. Temos como questão contemporânea a violência globalizada e também banalizada” (2011, p. 09). ¹

É notável a repercussão que o grupo Estado Islâmico tem tomado no cenário Internacional. Suas práticas, abalizadas pelo fundamentalismo religioso, acometem civis e depositam receios à sociedade internacional. Diante deste fato, a questão que vem à tona é: não seria este o momento de interromper o avanço deste grupo, já que ele representa uma ameaça à ordem internacional, aos direitos humanos, ao direito internacional, e à sobrevivência dos Estados Westfalianos? O presente artigo tem como objetivo discutir este assunto, à luz da ideia de segurança coletiva. 


O conceito de segurança coletiva fundamenta-se no imaginário de que qualquer ameaça à segurança e à paz internacional será combatida coletivamente, formando-se um sistema universal de ação conjunta entre os Estados. Justamente por ser considerada universal e comum, o uso da violência em âmbito internacional, nestes casos, é legitimada.
De acordo com HERZ (2004, p. 83), “o sistema é baseado na ideia da criação de um mecanismo internacional que conjuga compromissos de Estados nacionais para evitar, ou até suprimir a agressão de um Estado contra outro”. Desta forma, se reconhece que o ideal de segurança coletiva está baseado na paz internacional como sinônimo de sobrevivência e não agressão entre Estados legitimados.

Contudo, com o final da Guerra Fria, que pôs fim às amarras da bipolaridade, e mais tarde, quando o mundo testemunhou os ataques ao World Trade Center – agressões estas reivindicadas pelo grupo terrorista Al-Qaeda – o sistema internacional passou a perceber que nem só de Estados se faziam as Relações Internacionais e que atores não estatais possuem tanto poder de influência quanto os Estados. E mais, o empoderamento de não-estados capacitou-os de forma a serem vistos como uma possível ameaça internacional.
É neste contexto que se encaixa o grupo Estado Islâmico. Esta organização utiliza da violência não institucionalizada para guiar suas ações no cenário mundial. Cometem violência sexual contra mulheres, decapitações de prisioneiros como um “espetáculo” para chocar o mundo e fazem uso do fundamentalismo islâmico como um modo de atrair e alienar combatentes para morrerem por sua causa.
Diante destes atos, os Estados Unidos propuseram, em 05 de setembro de 2014, durante a Conferência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), realizada no País de Gales, uma coalizão internacional para combater o Estado Islâmico.
Desta iniciativa dos Estados Unidos podem ser feitos comentários importantes. Inicialmente, Monica Herz interessa-se em deixar evidente que “o sistema de segurança coletiva também se baseia no pressuposto de que é possível mudar o cálculo racional dos Estados. Dessa forma, o sistema funciona associado a arranjos para facilitar a resolução de disputas” (HERZ, 2004, p. 83).
A OTAN surgiu no período da Guerra Fria para combater o avanço do Comunismo. Portanto, despontou com o objetivo de combater um inimigo específico. Com a derrocada da URSS, a organização tem traçado outros objetivos para manter suas ações no sistema internacional. Contudo, ainda assim, é uma organização de defesa, e não exatamente de segurança. Nesse contexto, surge a ONU como agente capaz de transformar as preferências dos demais atores internacionais, com ênfase na segurança internacional e manutenção da paz.
Herz também estabelece as diferenças e implicações dos modos de combater as ameaças internacionais. Diferencia, portanto, alianças militares de segurança coletiva. Para a autora, a aliança militar está relacionada às questões materiais e formas palpáveis de defesa, sendo que ela surge para o combate de um inimigo específico. A segurança coletiva, por outro lado, baseia-se na ideia de construção da paz, na qual, este árduo percurso, poderá ser perturbado por algum inimigo que talvez possa surgir. Portanto, não se tem certeza de quando a ameaça surgirá. Não há um inimigo específico.
E mais importante ainda: todos os meios pacíficos devem ser empregados antes que se tome a decisão do uso da força. Assim, entram em cena a arbitragem, a negociação, a cooperação, as sanções, e outros.  Mas, o caso do grupo Estado Islâmico é peculiar. As considerações sobre segurança coletiva relacionam-se basicamente à Estados legítimos.
A imagem do Estado como um ator importante no sistema internacional ainda é expressa pelos atores internacionais, mesmos que estes se encaixem na perspectiva de atores não estatais. O EI é uma amostra expressa desta ideia. O grupo se autointitulou “Estado” e passou a agir no sistema internacional de modo a se fazer legitimar como tal, claro, utilizando os meios específicos para isso.
BACCARINI (2009), considera que “não há uma conceitualização exata do que se pode denominar segurança coletiva acordada entre os diversos teóricos de RI”. Portanto, é um campo ainda a ser explorado pelos analistas e estudiosos de Relações Internacionais. Para HERZ, o fato de o conceito de segurança coletiva estar centrado na sobrevivência dos Estados e neles como ameaça, não limita o poder de ação da sociedade internacional, quando à ameaça diz respeito à atores não estatais. Para ela, “uma ameaça à paz não envolve, necessariamente, o uso da violência armada, nem se limita aos conflitos entre Estados” (2004, p. 105).
O surgimento de grupos e organizações como o Estado Islâmico no sistema internacional é uma fonte que necessita ainda de muitas reflexões. O conceito e abrangência da ideia de segurança coletiva está ainda sendo desenvolvida pelos estudiosos de política internacional. Alguns ainda questionam a capacidade das organizações internacionais de mudar as preferências dos atores internacionais, assim, pondo em risco a segurança coletiva institucionalizada.
Os risco que uma interferência pode causar aos países que estão sofrendo intervenções deve ser vigiado. Inclusive, o caso da Síria é bastante interessante, podendo ser um tema para outro artigo mais adiante.
Os combates ao EI já iniciaram. Cabe agora esperar para observar se os ideais de segurança coletiva e da “responsabilidade de e ao proteger” serão firmados.
Fiquemos atentos ao que acontece no cenário internacional!!

NOTA:
¹KIRILLOS, Fuad Neto; MOREIRA, Jacqueline de Oliveira; ROSÁRIO, Ângela Buciano do. As faces da violência na contemporaneidade: sociedade e clínica. Barbacena, MG: EdUEMG, 2011. 

REFERÊNCIAS

BACCARINI, Mariana Pimenta Oliveira. Segurança Coletiva e Regimes de Segurança. Relações Internacionais no Mundo Atual, Curitiba, n. 10, p. 107-124, 2009-2.

BERCITO, Diogo. O que é o Estado Islâmico? Disponível em:< http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2014/09/03/o-que-e-o-estado-islamico/>. Acesso em: 27/09/2014.

CHECCHIA, V. J. P. CEIRE Newspaper. As alianças contra o Estado Islâmico. < Http://www.jornal.ceiri.com.br/as-aliancas-contra-o-estado-islamico/>. Acesso em: 27/09/2014. Visualizado às: 17:26.

G1. Obama define esta semana plano de ofensiva contra Estado Islâmico: Presidente falará na quarta para 'descrever plano'. Discurso será um dia antes do aniversário dos ataques de 11 de setembro. <Http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/09/obama-define-esta-semana-plano-de-ofensiva-contra-estado-islamico-20140907111004551611.html>. Acesso em: 08.09.14. Visualizado às: 22:24.

GERCHMANN, Léo. Zero Hora. As origens e a brutalidade do grupo Terrorista Estado Islâmico. http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2014/08/as-origens-e-a-brutalidade-do-grupo-terrorista-estado-islamico-4587195.html. Acesso em: 08.09.2014. Visualizado às: 21:52.

HERZ, Mônica; HOFFMANN, Andrea Ribeiro. Segurança Coletiva. In: ______. Organizações Internacionais: história e práticas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. p. 82-131.


KIRILLOS, Fuad Neto; MOREIRA, Jacqueline de Oliveira; ROSÁRIO, Ângela Buciano do. As faces da violência na contemporaneidade: sociedade e clínica. Barbacena, MG: EdUEMG, 2011.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Dia Internacional da Paz e o papel da Diplomacia Cidadã.

Lizandra Lourenço
Acadêmica do 5º semestre de Relações Internacionais - UNAMA 

No dia 21 de setembro celebra-se o Dia Internacional da Paz, que representa um momento de reflexão sobre a necessidade da construção da paz no mundo e a promoção de atos que tenham como resultado o fim dos conflitos entre povos e a consagração da paz mundial. Este dia comemorativo surgiu em setembro de 1981, quando o ex-secretário Geral da ONU e diplomata de Gana, Kofi Annan, declarou a necessidade de um dia de trégua e cessar-fogo no planeta. De acordo com esta declaração a ONU, em 2002, através de sua Assembleia Geral das Nações Unidas, pronunciou oficialmente o dia 21 de setembro como o Dia Internacional da Paz.

A paz refere-se a um momento de calma e tranquilidade, sendo um estado almejado mundialmente, que é construída socialmente por meio da cooperação de vários atores, e essa paz tão desejada, encontra-se em estado efêmero, sendo percebida apenas em algumas situações dentro do contexto internacional.
As transformações que estão ocorrendo no século XXI, vem proporcionando novos desafios ao Sistema Internacional em determinados assuntos específicos, como por exemplo, as guerras que obtiveram uma nova natureza estrutural, os problemas ambientais, as crises econômicas, a inclusão de outros atores internacionais e as novas formas de violência e conflitos. A proporção que essas atuais questões têm alcançado, consequentemente, tendem a abalar a Paz Mundial das Nações.

A atual ordem mundial configurada como uni multipolar hibrida, constituída por uma única supremacia militar com múltiplos centros do poder econômico e com a inclusão de atores não estatais, encontra-se envolvida por complexos conflitos envolvendo vários atores do cenário internacional. Sujeitando a sociedade a buscar novos caminhos de mediação, visto que, esses novos conflitos surgidos após a guerra fria, apresentam características complexas em sua estrutura, envolvendo desde o tempo de duração que passou a ser longa e descontinua, até as divulgações de manifestações; feitas pelos meios de telecomunicações, como as redes sociais.  Além de suas causas múltiplas, envolvendo desde aspectos políticos, religiosos, étnicos, econômicos, sociais entre outros.

A interferência desses atos de desordem entre os Estados no contexto internacional influenciam a estrutura do Sistema Internacional, e sendo necessária a adoção de novas ações para se conviver nesse sistema dinâmico. Entre essas medidas, encontra-se a diplomacia cidadã, desenvolvida com o intuito de auxiliar e complementar a diplomacia tradicional das Nações, na resolução dos atuais conflitos.

O emprego da diplomacia cidadã no Sistema Internacional estabeleceu uma importante relação desta com o processo da construção da paz, pois, os conflitos reconfigurados a partir deste século, apresentam um alto nível de complexidade em suas ações e objetivos no cenário internacional, e essa situação implicará no desenvolvimento de uma paz sustentável no Sistema Internacional. Sendo assim, é necessária a utilização da diplomacia cidadã como uma ação estratégica para garantir a paz mundial, que atuará a partir da cooperação entre seus atores internos e externos que podem contribuir para a estabilidade da paz mediante aos atuais conflitos.


REFERÊNCIAS

BRIGAGÃO, CLÓVIS E GALVÃO, DENISE. PAZ E DIÁLOGO ENTRE AS CIVILIZAÇÕES. Capítulo 2 da parte 1.

STRECKER, Heidi. Dia da Paz. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/datas-comemorativas/ult1688u65.jhtm>. Acesso em: 16 set. 2014.

CALENDARR. Dia Internacional da Paz. Disponível em: <http://www.calendarr.com/portugal/dia-internacional-da-paz/>. Acesso em: 16 set. 2014.

PENA, Rodolfo Alves. Nova Ordem Mundial. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/geografia/nova-ordem-mundial.htm>. Acesso em: 16 set. 2014.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A repercussão do Grupo Estado Islâmico no Sistema Internacional

Thiago Corrêa
Acadêmico do 6º semestre de Relações Internacionais
O conceito de Terrorismo utilizado pelas organizações internacionais é classificado por atos de violência física ou psicológica os quais são guiados através de ataques a um governo ou à população por este governada de modo a incutir medo/terror as suas vítimas.
Este tipo de violência pode ser praticado por uma enorme gama de instituições dispostas a alcançarem seus objetivos, o que torna a caracterização do terrorismo mais complexa. Isto é bem exemplificado pelo historiador e cientista político Walter Laqueur em seu livro A History of Terrorism na seguinte frase: “Nenhuma definição pode abarcar todas as variedades do terrorismo que existiram ao longo da história”.
Atualmente, os casos mais famosos e perigosos dessa natureza provêm de grupos os quais utilizam a violência por motivos étnicos e/ou religiosos e muitas organizações com essas características já são consideradas como grupos terroristas internacionais pela Organização das Nações Unidas (ONU), pela mídia ocidental e também pelos meios de comunicação de sua área de origem. É o caso do Estado Islâmico do Iraque e da Síria (EIIS - em inglês: Islamic State in Iraq and the Levant - ISIL), um grupo islâmico que alega possuir autoridade religiosa sobre todos os Estados muçulmanos do mundo e que agora é conhecido simplesmente como Estado Islâmico (EI), além de tentar tomar o controle de várias áreas de maioria muçulmana dentre as quais estão Israel, Palestina, Jordânia, Líbano e outros.
O EI é um grupo jihadista, ou seja, luta a favor de uma fé perfeita segundo os conceitos de “empenho” e “esforço” que a palavra “jihad” denota dentro da religião islâmica. Antes formado por vários grupos terroristas insurgentes como o Al-Qaeda, o Estado Islâmico ganhou força com a criação de um Califado – forma islâmica de governo que prega a união da liderança política do mundo islâmico representada pelo seu chefe de estado, o Califa, um sucessor à autoridade política de Maomé.
 A força para a criação deste Estado – proclamado separado da Síria e do Iraque em janeiro de 2014 – veio principalmente da participação deste grupo na guerra civil da Síria e das denúncias de discriminação contra árabes sunitas desde a morte de Saddam Hussein.
Atualmente, esse Califado governado por Abu Bakr Al-Baghdadi, tem obrigado as pessoas que vivem nas áreas que controla a se converterem ao islamismo, sujeitando-as a torturas, mutilações e à pena de morte caso se recusem a ceder.
O EI possui pelo menos quatro mil combatentes no Iraque e já assumiu a autoria de ataques a alvos militares e do governo, bem como a morte de milhares de civis, principalmente muçulmanos xiitas, assírios e cristãos. O grupo é tão violento, que até mesmo o Al-Qaeda cortou qualquer tipo de relação com este alegando intratabilidade, violência extrema e brutalidade desnecessárias.
O que isso tudo tem causado no Sistema Internacional? Em primeiro lugar, parte da responsabilidade recai sobre os Estados Unidos, país que invadiu o Iraque em 2003 causando uma confusão cujas escalas ainda não foram completamente mensuradas, como a insurreição ao regime na Síria apoiada pelo governo de Obama mais recentemente, o que permitiu a ascensão de grupos mais extremistas que acabaram por tomar o território. O Secretário de Defesa norte-americano Chuck Hagel reconhece a força e motivação política do EI, as quais são alimentadas por um fanatismo religioso sem limites aliado a poderosas táticas e estratégias.
Como impedir um grupo que vem avançando sobre cidades da Síria e do Iraque e tomando-as para si? Como assegurar a integridade física de milhares de pessoas as quais têm sido subjugadas por este que não seria um grupo terrorista segundo Hagel, mas um projeto de Estado com armas sofisticadas, uma ideologia totalitária e recursos abundantes provenientes de ajuda externa?
Já há apoio para uma intervenção militar controlada na área e muitos indícios de que o mundo ocidental corre riscos, tendo em vista que recentemente o Rei da Arábia Saudita alertou o mundo de que se nenhuma atitude for tomada o ocidente será o próximo alvo do EI, pois o terrorismo não possui fronteiras.  Como exemplo disso, um vídeo no qual um jornalista americano é executado foi divulgado pelo EI há pouco tempo.
O primeiro-ministro David Cameron declarou que o Estado Islâmico é a maior ameaça já enfrentada pelo Reino Unido e alegou ser altamente provável que haja tentativas de atentados terroristas em território britânico. Numa tentativa de aconselhar um fim à tamanha barbárie sem incentivar ainda mais violência, o Papa Francisco declarou que “(...) é lícito deter o agressor injusto. (...) Eu não estou dizendo que bombardeiem ou façam a guerra, mas apenas detenham”, disse o papa defendendo que esta decisão deveria ser feita pela comunidade internacional.
Essa parece mesmo ser a saída. Só nos resta esperar que esta guerra não tome proporções mundiais.

REFERÊNCIAS 

O ocidente é o próximo alvo do estado islâmico, afirma rei saudita
Choque das civilizações - O Estado Islâmico
Como estado islâmico se tornou mais pergoso que Al-Qaed
Conflito envolvendo o estado islâmico na síria e no Iraque
Financiamento Estado do Islâmico

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Violência Policial e Racismo nos EUA

Renato Cordeiro
Acadêmico do 4ª semestre de Relações Internacionais - UNAMA

Violência policial pode ser definida como qualquer tentativa, por parte da polícia ou de algum policial de forma individual, de reprimir algum direito de um cidadão através de coerção praticada de maneira ilegal. Caracteriza-se como violência policial não apenas a intimidação física, como muitos podem imaginar, mas também a intimidação psicológica (feita através de ameaças e agressões verbais), a discriminação racial, os abusos sexuais, a extorsão, o abuso de autoridade e até a corrupção.

Uma dessas características, a discriminação racial, é o pano de fundo de um caso de violência policial que vem chamando a atenção do mundo nos últimos dias: a morte do jovem negro Michael Brown, de 18 anos, em Ferguson, Missouri, EUA, resultante de uma fatídica abordagem policial.


Oficialmente, Michael foi parado pela polícia por ser suspeito de ter roubado uma loja e foram apresentados duas versões bem diferentes. Segundo a versão da polícia, Michael teria agredido e tentado roubar a arma de um dos policiais, e os tiros (seis, segundo um laudo da perícia) teriam sido disparados por proteção; já algumas testemunhas dizem que o jovem estava rendido e desarmado ao receber os disparos, o que configuraria um assassinato. Seja lá qual for a verdade, o resultado foram distúrbios que assolaram a cidade e geraram protestos por todo o país.

O racismo é um dos maiores problemas da sociedade americana e, embora a segregação por parte do estado não exista mais, na prática, os negros americanos ainda estão longe de alcançar o mesmo padrão de vida dos brancos: até hoje, os afro-americanos tem uma renda seis vezes menor que os brancos; são os que mais tendem a serem expulsos e suspensos das escolas; constituem 40% da população carcerária do país apesar de serem apenas 12% da população americana, além de receberem penas maiores pelo mesmo crime; e menos da metade possui casa própria.

(Martin Luther King) 
O problema é ainda maior nos estados onde o racismo está enraizado na cultura local, entre eles o próprio Missouri, onde  o preconceito é sentido diariamente. E a polícia teve papel fundamental na manutenção deste tipo de situação.

Historicamente, a polícia se utilizou da violência para obter um maior controle da sociedade, e isso incluia, em muitos casos, repressão política e perseguição de minorias. Nos Estados Unidos, não foi diferente: a polícia sempre tratava negros de forma diferenciada dos demais cidadãos (70% dos afro-americanos acreditam que isso ainda ocorre), além de deixar abusos deste tipo impune. Prova disso é que esta não é a primeira vez que um episódio de violência policial gera distúrbios nos EUA: em 1992, a absolvição de um policial que teria espancado um negro até  o óbito provocou dias de protestos violentos em Los Angeles; antes disso, em 1967, uma abordagem policial violenta em Detroit causou vários conflitos entre a polícia e a comunidade negra da cidade.

Apesar de tudo, a violência policial continua sendo comum, o que levanta a questão: por quê? Alguns dos principais culpados apontados seriam a impunidade, a corrupção, a cultura enraizada de repressão violenta, a militarização das forças de segurança pública e o fato de que muitos dos crimes cometidos pela polícia são julgados por policiais, o que estimula o coleguismo.
E isso não se refere apenas ao Brasil, mas ao mundo como um todo, inclusive nos Estados Unidos, onde todos esses fatores acontecem; inclusive a militarização, pois apesar de não haver polícia militar por lá, muitos policiais americanos são ou foram militares. Portanto, o que resta ao cidadão comum é fiscalizar a polícia e denunciar os abusos, e que outros casos como o de Michael Brown não ocorram novamente.




REFERÊNCIAS:


Diário do centro do mundo.O caso do jovem negro morto em Ferguson reflete o drama da desigualdade racial nos EUA. Disponível em:http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-caso-do-jovem-negro-morto-em-ferguson-reflete-o-drama-da-desigualdade-racial-nos-eua/
Diário do centro do mundo:Cinco números pra entender a desigualdade racial nos EUADisponível em:http://www.http://www.diariodocentrodomundo.com.br/cinco-numeros-para-entender-a-desigualdade-racial-nos-eua/
Zero Hora. O que motiva as manifestações após a morte de jovem negro nos EUA. Disponível em:http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2014/08/o-que-motiva-as-manifestacoes-apos-a-morte-de-jovem-negro-nos-eua-4577977.html
G1.Policiais se unem a protestos contra o preconceito racial nos EUA. Disponível em:http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/08/policiais-se-unem-protestos-contra-o-preconceito-racial-nos-eua.html
Wikipedia. Violência policial. Disponível em:pt.wikipedia.org/wiki/Violência_policia