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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Atentados Terroristas no mundo: Um olhar mais atento aos Nigerianos

Subina Ramos
Acadêmica do 5º Semestre de Relações Internacionais da UNAMA

O conceito de terror permeia os ditames da política dos países desde a era do imperialismo exacerbado, que consagrou o reconhecimento da subjugação na época, e esteve presente na luta pela independência dos povos.
Substancialmente, a evolução dos desígnios do limite da soberania estatal ocorrida após o atentado de 11 de Setembro, é resultante de um terrorismo que circunda numa manifestação mais ampla, que interfere na dinâmica do sistema internacional como um todo, e teve a sua agenda voltada para o combate de uma malevolência sem rosto e sem pátria.
Essa nova conflitualidade foi definida através de um cenário múltiplo que se constituiu na luta contra o terrorismo. Neste sentido, estaríamos face a uma ramificação de conflito, de cariz radical e muito mais ameaçadora, por se formar em rede de atuação, situada como numa criminalidade estruturada, incluindo grupos armados e organizados em torno de um líder. Capaz de reduzir todo um aparato de integridade de um Estado e fomentar a vulnerabilidade das mais distintas sociedades.
Nota-se que não foi declarada uma guerra contra uma religião. Se condena a insensatez do Estado-nação que pretender punir uma instituição religiosa, perpassando ao seu simbolismo nas ações.
Como proferido pelo sociólogo Jean Baudrillard, o novo terrorismo, em seu meio de destruição e dissuasão, remete dúvidas quanto ao meio que pode ser utilizado para conter seus passos e conquistas. Uma vez que nada se pode fazer contra um inimigo que utiliza a morte como uma de suas principais armas. Esta ação (a morte) assume uma característica simbólica, viável a enfraquecer ou destruir o que os terroristas designam de hegemonia e causadora de sofrimento.
O islamismo como princípio ideológico, percorre diversas interpretações quanto à sua representatividade no meio social, que fez surgir grupos terroristas como Boko - Haram na Nigéria. Os autores da teoria crítica retratariam esse grupo como uma força  que resiste a opressão e luta pela emancipação, saindo do papel instrumentalizado da força hegemônica na esfera social. Nessa analogia estaríamos em frente a um sentimento dualista nas ações do citado grupo terrorista: “O sistema que humilha, tem que ser humilhado”.
O Boko-Haram, que significa “a educação ocidental é um pecado”, além de condenar a ingerência ocidental no mundo, também tenciona a criação de um Estado Islâmico.  Mais precisamente nas regiões norte e nordeste da Nigéria, os atos de fuzilamentos e sequestros realizados por este grupo, vêm se tornando cada vez mais frequentes.
As debilidades estruturais do país, fomentada pela corrupção doméstica não são os únicos fatores que justificam as consequências desses massacres. A falta de atenção internacional ao que vem acontecendo também agrava a situação. Assim, o terror numa das suas vertentes é resultado da diferença entre classes sociais e mais, é efeito de um composto que alimenta seus fins.
Certamente que, ao falarmos sobre a encruzilhada que é o terrorismo internacional, jamais se deve cometer o erro da presunção de que se trata de um desafio unilateral. Caso aconteça, o desdobramento estará numa tragédia cujo fim é indefinido, e se alimenta de práticas inconsistentes, capaz de levar  morte a mais de duas mil pessoas, em um período curto de tempo.
Enquanto isto, o mundo assiste e pede maior comprometimento da Nigéria. Acredito, que um acontecimento deste gênero deveria ser considerado crime contra humanidade.
Não se entende como tamanha transgressão e violação de direitos humanos, não sensibilizou a mídia, os usuários das redes sociais, muito menos apresentou reflexões a muitos dirigentes africanos, e nem resultou numa ação efetiva das organizações internacionais, que tem como fundamento a imposição de paz e segurança global. Ou seria uma segurança “global” restrita?
Nas mesmas circunstâncias, a França vivenciou atentados, sob a revista “Charlie Hebdo”, ocasionando morte de vários cartonistas e de outros cidadãos comuns. A base deste ato terrorista, seria uma resposta a algo outrora retratado na revista, que ofendia os muçulmanos.
Vale ressaltar que não pode existir intolerância e muito menos desrespeito a uma religião, sendo que estamos falando da essência cultural de um povo. Porém, nenhum assassinato, tratando-se de um manifesto condenável.
As repercussões mundiais desses dois eventos foram dadas de forma paralela. Enquanto a mídia internacional “banalizava” a morte de milhares de nigerianos, exaltava fortemente expressões do tipo: “Je suis Charlie”.
As reflexões dos teóricos críticos sobre temas da moral e do direito nos apresentam alguns pontos que podem ser citados como potenciais obstáculos existentes no “dever proteger”. Desta forma, a questão de justiça e bem-estar não pode ser retratada com base em deduções singulares, em condições de realização isolada, ora sim de maneira universalista.
Com a insegurança da globalização, devemos ter na pirâmide da fundamentação normativa, de que qualquer insuficiência, seja lá para onde for, trará várias inconsistências quanto ao direito e a política internacional.
Muito são aqueles que perdem a esperança num mundo pouco ou nada igualitário. Principalmente ao ver uma marcha de líderes mundiais em homenagem a vítimas do atentado na França, enquanto a população nigeriana se pergunta, porque não são lembrados. Como se aquilo fora suficiente para retratar a posição que cada ser humano ocupa no mundo.
Em geral, precisamos mostrar sem discriminação o respeito as pessoas de diferente credo, ouvindo e não insultando. Precisamos também, refletir a respeito da humanidade que existe em todos nós. Afirmo ser de tamanha dor ver pessoas sendo mortas pelos fundamentalistas radicais, todavia é de muita consternação perceber que a nossa mente continua a ser colonizada pelo princípio de superioridade e inferioridade.



Referências
NOBRE, Marcos.Curso Livre de Teoria Crítica. Papirus Editora. São Paulo 2ª edição 2009

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O Estado francês na relação conflituosa entre os nacionais e os imigrantes africanos

Paulo Victor Silva Rodrigues
Acadêmico do 7º semestre de Relações Internacionais da UNAMA

A migração populacional faz parte da história da humanidade. Ao longo de centenas de anos, registra-se um intenso fluxo de pessoas deixando seus lugares de origem. Porém, ao migrar, o indivíduo leva consigo fatores que compõem sua própria identidade, adquirida a partir do convívio com outros sujeitos de sua comunidade, como por exemplo: a Língua, hábitos culturais, religião.
Mais recentemente, o continente africano sofreu com problemas causados por guerras civis (no processo de independência – descolonização) que têm provocado um êxodo de seus cidadãos para outros países. Grande parte deles dirigem-se para a Europa, em especial para o território francês, levando uma pluralidade de identidades culturais para aquele país.
Durante o governo de Nicolas Sarkozy (2007-2012), observou-se uma preocupação por buscar proteger a identidade nacional francesa, através de políticas imigratórias rígidas. Em contrapartida, a parcela da população imigrante africana ficava à margem da sociedade, o que gerava protestos, principalmente nas ruas da capital, Paris. Havendo, assim, um conflito entre a identidade nacional francesa – protegida e fomentada pelo Estado – e as identidades dos imigrantes africanos – vista como uma ameaça à soberania nacional.
A entrada de estrangeiros pode gerar fobias entre os nacionais, isto é, receios de que estes que não falam seu idioma, que possuem outra religião e têm uma cultura distinta, prejudiquem seu país. No choque cultural entre aqueles que pertencem ao país e os imigrantes, discutisse a definição de ‘’bárbaro’’, empregado de maneira pejorativa para definir o imigrante, ou seja, ressaltando-se os contrastes de sua identidade cultural diferente da dos nacionais.
O Estado é um importante mediador nessa relação entre os nacionais e imigrantes. Antes de tudo, porque sem consentimento do governo um estrangeiro não pode adentrar o país e nem fixar residência legalmente. Também é dever do Estado regular a convivência dentro de seu território, garantir segurança e bem estar social. Se o governo se mantiver omisso, e não criar políticas públicas que atendam os imigrantes e os integrem, haverá distúrbios na sociedade, pois a relação entre culturas diferentes nem sempre é harmoniosa.
Para os amantes da sétima arte, o filme “Bem-Vindo’’ (2009) mostra a polêmica de um professor de natação que abriga e ajuda o imigrante ilegal, Bilau, o qual vai parar em um campo de refugiados (para imigrantes). Entretanto, na França abrigar e/ou ajudar um imigrante ilegal gera multa e mais cinco anos de prisão.
O fluxo imigratório é difícil de ser contido uma vez iniciado e influencia em diversas áreas do país, principalmente no âmbito da identidade nacional, a qual não é imutável, assim, podendo sofrer alterações deixando o Estado em uma situação delicada.
Portanto, levanta-se a seguinte questão: uma atuação do Estado através de políticas rígidas de imigração fomenta um sentimento nacionalista e xenófobo ou apenas a busca pela proteção da identidade nacional?
Muita discussão é necessária para responder a pergunta acima. Mas, o que se pode afirmar é: mais do que um imigrante, o refugiado (ou a pessoa que precisas se deslocar de seu lugar de origem) deve ser tratada como um ser humano, capaz de exercer deveres na medida em que seus direitos são garantidos. Sendo assim, o homem deve ser visto como um cidadão do mundo, sem, necessariamente estar alienado às amarras de fronteiras artificiais.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

20 de Novembro: Dia Nacional da Consciência Negra

Subina Ramos
Acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais da UNAMA


Pelas marcas do expansionismo europeu, por volta do século XV, iniciou-se um desmoronamento do eticismo da raça humana, com a destruição das moralidades das populações africanas que viram seus territórios serem invadidos, sendo forçados a se desvincular dos seus costumes nativos. O Brasil foi palco e presidiu uma das trajetórias da desvalorização dos príncipios regentes da humanidade, onde os traços culturais foram substituídos pelos aspectos “civilizados” dos europeus. Trago Tzvetan Todorov, filósofo e pensador contemporâneo, para nos esclarecer a importância da celebração da Consciência Negra no Brasil.
A era da Colonização expôs a tendência sobre a produção do saber sobre aquilo que deveria corresponder à normalidade, e como adequado ao modo de viver nas sociedades e, consequentemente, a condenação de valores considerados impróprios e selvagens, passando, deste modo, à categoria de exclusão, inseridos no mais baixo degrau da esfera social.
Durante anos incalculáveis, seres humanos foram reduzidos a uma posição de subjugação, com os direitos alienados à outrem. Foram submetidos no Brasil – e em outras partes do mundo – à categoria de escravos, sob o alicerce de privações de direitos fundamentais, assim, reduzido ao estágio de “desumano”.
Com o passar do tempo, e com o advento da libertação dos escravos, afirmados pela Lei Áurea, os negros foram, de forma imprudente, sendo incorporados à sociedade brasileira, tornando-se, deste modo, uma das três matrizes importantes da formação do povo brasileiro. O reconhecimento da liberdade, deveria estar sob o refúgio da aceitação social e pautado na elaboração de pressupostos que deveriam conduzir as relações entre ex-escravos e sociedade hegemônica, por via da expressão da justiça.
Antes mesmo de 13 de Maio 1888, esses indivíduos privados da liberdade, por meio das perigosas fugas, formavam comunidades, designadas de “quilombos”, no qual vigorava as aspirações para posicionamento contra os padrões dominantes que estavam obrigados a proclamar. A histórica formação dos quilombos teria proporcionado o desenvolvimento de um valor contra-hegemônico em um meio desfavorável, uma renascença para o ser afro-brasileiro em busca do caminho da inclusão social.
À luz do pensamento do Todorov, aquele que nega a humanidade dos outros e condena seu igual ao estatuto de explorado é possuidor da plena barbárie, por outro lado, quem sabe reconhecer por completo a essência humana dos outros tende à classificação de civilizado. Pois nenhuma cultura traz em seu bojo a marca da bárbarie, e nenhum povo é definitivamente civilizado, todos podem tornar-se bárbaros ou civilizados.
Ora, a abolição da escravatura no Brasil carecia de um preparo estrutural em nível cultural, cívico e com respostas contitutivas das políticas públicas. Da mesma maneira em que é imposta a congregação de identidade brasileira no pluralismo, deve ser perpetuada a onda da normalidade das múltiplas facetas das manifestações culturais.
Seria dia 20 de Novembro o símbolo da luta dos negros ou a imagem precisa para exortar a participação de um grupo social diferenciado?
 Do ponto de vista externo, a imagem a ser retida é a de que, na sociedade brasileira, o zelo político emana na distinção da raça e não dos valores agregados dessa miscigenação, sendo assim, é inevitável a luta para conquistar direitos e igualdade de oportunidades. Todavia, seria também imprudente afirmar que como herança do “efeito passado”, esse grupo social patenteou o dia 20 de Novembro como um fundamento positivo, quando se sabe que essas “festividades” remontam ao pensar opressivo num seio no qual os mesmos participam e, de certa forma, relembram a opressão.
A opinião pública deve ter atenção à amplitude das vozes e de pontos perceptivos de todos os membros constituintes desta nação, sem a existência da classificação da raça, com o uso da diferenciação religiosa, da cor, até mesmo da linguagem, que só faz denegrir o aspecto da humanidade.
Respeitável os anseios da data comemorativa, sabe-se que se trata de uma caminhada pela liberdade e pela consciência da riqueza da diversidade racial, a busca por uma maior participação e cidadania e o grito à não discriminação e ao preconceito racial.
Não existe negros, nem brancos. As expressões carregam preconceito e levam limitação para um e abrangência para outro. A solução seria destruir a cortina de ferro no aparato da sociedade, fazer dela una e sólida para todos, isto sem distinção de cor. Essa situação acaba sendo enraizada e dificulta as relações e o resultado terminará sempre na desigualdade social.  

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Disseminação do Ebola e Repercussão no Cenário Internacional

Quezia Pereira
Acadêmica do 6° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

 


A febre hemorrágica causada pelo vírus Ebola, que começou na Guiné-Conacri e se espalhou por Serra Leoa e Libéria já tirou mais de 1.100 vidas desde o início do surto, em 2014. A rápida disseminação da doença alertou a comunidade internacional para a possível epidemia, provocando o grande esforço de entidades e organizações internacionais, bem como o de alguns Estados como Alemanha, Canadá e Estados Unidos, em conter a provável fatalidade de disseminação mundial da doença.
O vírus foi manifestado pela primeira vez em 1976 na República Democrática do Congo, onde morreram 90% dos infectados. Mesmo que a doença tenha sido identificada há mais de trinta anos, ainda não existe um tratamento que seja eficaz no combate ao vírus. Vários surtos já ocorreram desde então. Os últimos casos da epidemia são ainda mais preocupantes devido à rápida propagação e ao grande registro de mortes, sendo considerada a mais grave da história.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) junto a outras organizações humanitárias especializadas na área da saúde, alertam para que os Estados estejam preparados para evitar a expansão da doença, tendo cuidado nas áreas de fronteiras. Aconselham também o isolamento dos pacientes já infectados, dado que muitas pessoas doentes não aceitam a situação e fogem para outros países.
Essas organizações representam um papel muito importante no combate à epidemia. A busca da cura abrange também a política, a diplomacia e cooperação entre os Estados. O principal objetivo da OMS é oferecer o maior nível possível de saúde aos povos do mundo. Para isto, o trabalho da organização vai desde o incentivo a pesquisas biológicas até a implementação de acordos econômicos para financiar seus projetos. A colaboração de entidades filantrópicas como a Médicos Sem Fronteiras (MSF) é, do mesmo modo, necessária à manutenção da saúde.
No caso do Ebola, um possível tratamento, reproduzido por uma empresa americana, está sendo testado. Essa iniciativa é essencial, pois as informações compartilhadas, bem como as experiências, mostram o compromisso da OMS (responsável por liberar o uso dos medicamentos) e outros atores internacionais em buscar uma prevenção. Assim, Canadá e EUA mostraram-se disponíveis a financiar a droga e enviar à África Ocidental o mais breve possível. Portanto, a ajuda correspondente dos Estados, das empresas e das organizações governamentais e não governamentais pode ser o método mais eficaz de combate a esta doença.




REFERÊNCIAS:

El País. Un millón de personas están en cuarentena en África por el ebola. Disponível em: http://sociedad.elpais.com/sociedad/2014/08/15/actualidad/1408123969_202506.html Acesso em: 15 ago. 2014

SiNUS. Organização Mundial de Saúde (OMS). Disponível em http://www.sinus.org.br/2009/oms.html Acesso em: 18 ago. 2014


Tribuna do Norte. África ocidental virou “zona de guerra, diz MSF. Disponível em: http://tribunadonorte.com.br/noticia/africa-ocidental-virou-zona-de-guerra-diz-msf/290708 Acesso em: 18 ago. 2014

 

domingo, 3 de agosto de 2014

A Nova África

Josefina José da silva
Acadêmica de Relações Internacionais da Unama


As potências europeias se interessaram pelo continente Africano no sec. XIX, no entanto esses interesses econômicos e políticos deram o estímulo de penetrarem e colonizarem o interior do Continente Africano.  Mas essa ambição fez com que não se preocupassem com as políticas sociais da África. Um continente com diversas variações Culturais, politicas e étnicas.  Nestas perspectivas, os Europeus chegaram sem se preocupar com esses pormenores e evidentemente são esses arcabouços que os países Africanos enfrentam em todos os aspectos até o presente, como Guerra civil, fome, conflitos religiosos, políticos, etc.  

A união Africana como sucessora da Organização da União Africana é o exemplo de uma nova visão para o continente, que tem como princípio o respeito pelos direitos humanos, o estado de direito, boa governança, a promoção da igualdade de gênero, justiça social como forma de garantir o desenvolvimento, respeito a vida humana, a condenação a impunidade aos assassinatos políticos, bem como aos atos de terrorismo e atividades subversivas. São estas iniciativas que mostram um consagrado ato constitutivo da União Africana em prol da democracia no continente. Houve uma evolução considerável, mas os problemas ainda permanecem, o que merece uma atenção especial em relação aos referidos.  

No setor econômico percebe-se maior divulgação internacional, mas ainda insuficiente para o continente. O crescimento tem sido notado mundialmente, porém alguns dos fatores que trouxeram este crescimento podem ser associados a fenômenos temporários como o aumento dos preços dos minerais e dos produtos agrícolas, o que indica boa parte dos números positivos que somam-se a perda das dívidas externas.

Nos anos que antecederam a recessão global de 2009, a maioria das economias africanas conheceu um significativo crescimento econômico, com uma média anual, entre 2006 e 2008, de cerca de 6% – enquanto o PIB per capita cresceu quase 4%. No período de 2008 a economia Angolana cresceu 92,4%, a dívida externa do pais caiu para de 73,8% para 15,6% entre 2002 e 2008 e, apesar de muitos problemas, segundo (JORGE, 2011) petróleo e diamante representam 50% do PIB e 90% das exportações, que causam um custo de vida altíssimo (Luanda é considerada capital mais cara do mundo).

Em termos políticos houve uma evolução considerável, mas que ainda tem as suas deficiências. Tomando por base os dados de (NEDILSON, 2007)  percebe-se a evolução política ao longo das ultimas cinco décadas, no qual não se pode desmerecer o papel primordial da UA nessa luta de amadurecimento político do continente, o que mostra que as perspectivas são excelentes tanto em termos políticos quanto econômicos. 

Segundo os antropólogos a África é um continente extremamente tradicional, porém ao entender os seus conceitos de desenvolvimento é necessário também entender a dinâmica cultural no seio de cada país. As perspectivas para os próximos 50 anos são positivas na maioria dos países.

Vários Estados se mostram decididos a explorar todos os seus potenciais, através de parcerias frutuosas em prol da paz, da democracia e do processo sustentável para todos os africanos. O Brasil é um exemplo da cooperação e da ajuda aos países africanos em termos políticos, econômicos sociais e educacionais. 

Nesse sentido vale ressaltar que a África é a nova fronteira de desenvolvimento do mundo por ser um continente com varias biodiversidades e recursos naturais consideráveis, mas que ainda necessita de um notável reforço na sua economia de base, que predomina evidentemente na assistência oficial ao desenvolvimento em prol da eliminação da pobreza extrema, além da criação e manutenção de estrutura social de base.

REFERÊNCIAS


Debate sobre a África – relatório do MRE. Moderador  embaixador Carlos Henrique Cardim e o professor Flavio saraiva .

terça-feira, 20 de maio de 2014

A Comunidade Internacional no Caso da Nigéria

Neila Sousa
Acadêmica do 3º semestre de Relações Internacionais da Unama


14 de abril de 2014. Esse é o dia em que quase 300 estudantes foram sequestradas na cidade de Gamboru Ngala, próximo à fronteira com Camarões no Estado de Borno, onde o ataque terrorista foi registrado. As meninas foram sequestradas pela milícia radical Islâmica Boko Haram enquanto faziam exames finais da escola.
Em português, Boko Haram significa “a educação ocidental é pecaminosa”. O grupo surgiu primeiramente como seita, que através de sua ideologia, acabou atraindo vários jovens do norte do país. De acordo com o Islamismo o grupo está agindo de maneira completamente diferente do que a religião realmente prega.
Para o fundador da seita Mohammed Yusuf os princípios ocidentais que foram trazidos pelos colonizadores ingleses é o que causa todo esse conflito no país. Desde então reivindicam a imposição de um Estado Islâmico. A partir do ano de 2002, o grupo começou a chamar atenção das autoridades da Nigéria. Já em julho de 2009, os ataques terroristas contra a polícia começaram a surgir como forma de por medo e pânico na cidade, só assim conseguiriam criar certa instabilidade no Estado, para então impor a lei Islâmica.
Durante uma operação, o exército nigeriano teria matado 700 pessoas e dentre elas estava o líder do Boko Haram, Mohammed Yusuf. A partir daí, o seu braço direito Abubakar Shekau teria assumido o comando do grupo, provocando uma serie de ataques a locais considerados de origem ocidental. Entre estes estão a sede da ONU, igrejas e escolas. Nestes, foram causadas milhares de mortes. 
A situação está deixando o mundo inteiro indignado com a falta de atitude do governo da Nigéria em relação ao sequestro das meninas. De acordo com os relatos da ONG Anistia Internacional, as forças militares estavam consciente do ocorrido, pois horas antes do sequestro o exercito teria recebido ligações em que denunciavam homens armados e não identificados que estavam seguindo em direção à escola em motocicletas. Tal informação também teria chegado a dois importantes políticos da região entre eles o governador e militares de alta patente, mas pelo que podemos ver eles nada fizeram.
E diante da ausência de impedimento, os terroristas levaram as estudantes. Semanas depois o grupo terrorista publicou um vídeo onde o líder aparece ameaçando vendê-las, forçado-as a casarem e a servirem como escravas para o grupo. a justificativa é de que o futuro delas não está na educação, mas sim na servidão.
 Diante da indignação da Comunidade Internacional, várias autoridades estão se mobilizando, desde campanhas na internet até o envio de soldados e equipamentos necessários para que as estudantes possam ser localizadas. Além de que pessoas ao redor do mundo estão cada vez mais comovidos com a situação das nigerianas e em forma de protesto estão usando a seguinte frase nas redes sociais: #BringBackOurGirls e dentre elas estão artistas e políticos fluentes no âmbito internacional.

Mas apesar de tal atitude tomada pelos governantes ocidentais, há relatos de que algumas meninas já tenham sido vendidas. Além disso, a presença de soldados e armas do ocidente está prejudicando cada vez mais a situação dos nigerianos, havendo cada vez mais mortes e violações dos direitos das mulheres ao tentarem resolver seus assuntos particulares, como o acesso aos recursos do país em especial o petróleo.
O que nos deixa com uma grande dúvida: será que as autoridades ocidentais estão realmente comovidas com a situação ou querem apenas proteger as suas indústrias que lá estão presentes?             

REFERENCIAS:

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Um olhar introdutório sobre o conflito do Sudão do Sul




Kellimeire Campos
Acadêmica do 6º semestre de Relações Internacionais da UNAMA

A crise no Sudão do Sul se agravou desde o dia 15 de dezembro, quando o presidente Salva Kiir (do grupo Dinka) afirmou que soldados leais ao ex-vice-presidente Riek Machar (do grupo Lou Nuer), demitido em julho, teriam promovido uma tentativa de golpe de Estado.
Mas atual situação humanitária do país não se resume a esta situação. Por isso, para podermos entender um pouco melhor o que acontece no país, é preciso  voltarmos a história do Sudão.
O Sudão do Sul é o país mais novo do Sistema Internacional. Sua independência foi conquistada em 2011. O antigo território do Sudão possuía uma grande diversidade de etnias (19 grandes etnias no total), sendo no norte a região de maior concentração da população de religião islâmica, que almejavam a adoção da sharia (“lei islâmica”), e uma minoria cristã ao sul.

Em 2005 houve a assinatura de um acordo de paz entre o grupo separatista Movimento/Armada de Libertação do Povo Sudanês (SPLM/A) e o governo do Partido do Congresso Nacional (NCP), para por fim à Segunda Guerra Civil do Sudão (1983-2005).  Mas em julho de 2011 essa aliança foi desfeita com a independência do Sudão do Sul, quando os conflitos retornam, agora, para a demarcação de fronteira entre os dois países.
Porém, não foram só as motivações étnicas que fizeram surgir os grupos separatistas no sul. A falta de investimento na região e a concentração de recursos no norte do antigo país aumentaram a insatisfação. A exemplo disso existem questões que mesmo após a independência não conseguiram ser resolvidas, como a falta de saneamento básico, o escasso acesso a água tratada, a existência de apenas três hospitais e o índice de um médico para cada 500 mil habitantes.
Além disso, após longos períodos de guerra, a população possui grande descrédito com os governos locais. E mesmo com menor frequência, os enfrentamentos com grupos aliados, dos países vizinhos e internos, continuaram a acontecer, até sua intensificação no final do ano passado.
Atualmente com forte presença da ONU, através da missão de paz UNMISS (United Nations Mission IN South Sudan) da força armada e da ajuda humanitária enviada ao país, o número de pessoas fugindo das áreas de conflito tem aumentado, totalizando mais de 400 mil deslocados.
Por causa desse grande deslocamento de pessoas, principalmente por ser em período de colheita, o conflito ameaça a agricultura do país, que já era fragilizada desde a independência. Isso resulta no alerta sobre o agravamento da insegurança alimentar e desnutrição feita pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Segundo o Secretário-geral assistente da ONU para Direitos Humanos, Ivan Šimonović, o conflito começou político e se tornou de etnias, com denúncias de: assassinatos em massa, execuções extrajudiciais, detenções arbitrárias, desaparecimentos forçados, violência sexual, destruição generalizada de propriedades e uso de crianças nos combates.
Todas as denúncias violam os direitos humanos, e perante esta grave crise humanitária, a ONU tem coordenado as negociações entre os grupos Dinka e Lou Nuer para que se chegue ao fim das hostilidades, e com isso, o país e seus civis possam se recuperar e se estabelecer em suas casas.

No âmbito das Relações Internacionais é relevante analisarmos a crise no Sudão do sul através do estudo da negociação e arbitragem internacional, pois é a disciplina que nos dá base para o reconhecimento da situação, possibilitando a construção de meios de solução de conflitos.  
Ao acompanhar a evolução desse conflito é possível notar todos os níveis de conflito: as generalizações; os padrões de comportamento; a falta de confiança entre os dois grupos; a criação de imagens fixas, decorrentes dos anos de luta; o loss of face (lutar até o fim) que resulta na continuidade do conflito; a falta de humanidade, exposta nas denúncias que violam os direitos humanos; a necessidade de se autopreservar; e o que chamamos como último nível de conflito “ataques generalizados”, quando a única alternativa é a retirada pela força de um dos dois grupos.
A solução de um conflito complexo como esse, envolve todos os setores da sociedade, desde os militares, que asseguram a vida dos civis, aos humanitários para resguardar os direitos básicos destas pessoas. Mas principalmente a necessidade de conciliação entre os dois grupos responsáveis pelo combate armado.
A questão do conflito no Sudão do sul é mais complexa do que um pequeno texto possa explicar, e perpassa pela variedade étnica, por questões políticas e históricas envolvidas. Mas é necessário chamar a atenção para a grave situação humanitária do país e acompanhar as ações da ONU nas negociações da paz.




Referência Bibliográfica

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

De Terrorista a Freedom Fighter: Mandela e uma reflexão conceitual nas Relações Internacionais.



Brenda de Castro,
Internacionalista pela Universidade da Amazônia e Mestranda em Ciência Política pela UFPA.


A morte de Nelson Mandela na quinta-feira (5) fez reacender o reconhecimento pela sua inegável contribuição na luta pela igualdade racial, direitos civis, humanos e, consequentemente, pela paz. Mandela superou as barreiras da desigualdade racial e sua morte foi lamentada e sua vida relembrada pelo seu povo, seu país, negros, brancos, ocidentais, orientais, cristãos, ateus, todos nós.
O reconhecimento das conquistas de Mandela para a humanidade quase dos deixa esquecer o seu passado, ou melhor, nosso passado e como o mundo que agora chora sua morte e reverencia este grande líder sul-africano o enxergara outrora.
No início de sua jornada na década de 1940, o jovem Mandela se definia como um “nacionalista africano” e defendia a presença de somente negros no Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), movimento o qual buscava defender os direitos de negros e que ele aderira.
Já na década de 50 ele amplia sua postura africanista para um enfoque multirracial. Ainda que a ANC possuísse como princípio a não violência, a repressão do regime do Apartheid fez com que a organização visse a necessidade de responder a brutalidade do regime e foi na década de 1960 que Nelson Mandela assumiu a liderança do Umkhonto weSizwe (MK), que viria a ser um braço armado do movimento.
Foi nesse período que os membros da ANC e Nelson Mandela foram considerados terroristas pelos Estados Unidos e como tal permaneceram oficialmente até a sua retirada da lista em 2008.
Poster distribuído na década de 1980 pela Federação de Estudantes Conservadores (FCS) na Inglaterra com os dizeres: "Enforquem Nelson Mandela e todos os terroristas da ANC: eles são matadores".
O contexto histórico nos remonta à Guerra Fria e um período em que a aliança estadunidense com as autoridades sul-africanas significava uma estratégia contra a ameaça comunista.
Sabe-se que após ter sido preso em 1962 e passar 27 anos atrás das grades as estratégias de Mandela para alcançar seu objetivo mudaram: foi por meio da diplomática e secreta negociação com o regime que ele conquistou a igualdade racial e auxiliou na transição da sociedade sul-africana.
Contudo, a história de um dos maiores líderes pacifistas do mundo no faz refletir sobre alguns conceitos e suas implicações para as relações internacionais contemporâneas como Terrorismo e os Freedom Fighters.
Em seu renomado trabalho “Is One Man’s Terrorist Another Man’s Freedom Fighter”, Boaz Ganor reflete acerca das definições de terrorismo e suas confusões com violência revolucionária, libertação nacional e outros movimentos.
Ele destaca, por exemplo, a tentativa de diferenciação realizada na Conferência Islâmica em 1987 que ressalta a importância de diferenciar “atividades terroristas brutais e ilegais perpetradas por indivíduos, grupos ou Estados da luta legítima dos povos oprimidos e subjugados contra a ocupação estrangeira de qualquer tipo”.
Já Benyamin Netanyahu em seu livro Terrorism: How The West Can Win defende que nenhuma violência é justificável e relaciona diretamente as práticas de carro-bomba entre outras com a prática terrorista, além de afirmar que freedom fighters jamais praticariam qualquer ato terrorista. De modo que, para ele, os dois conceitos são totalmente incompatíveis e contraditórios. Ganor discorda.
Para ele, os dois conceitos podem estar sim relacionados. Ele propõe uma definição de terrorismo pautada em três elementos: a essência da atividade com uso da violência, o objetivo político do ato e, por fim, os alvos dos atos serem civis. Para Ganor, a motivação em si é o mínimo.
Contudo, no caso de Mandela, os fins acabaram por justificar os meios, ou pelo menos justificaram o esquecimento destes atos. O braço armado na ANC efetuou ataques como à Church Street em 1983 resultando na morte de 19 pessoas e 217 feridos, incluindo civis. Dentre outros alvos, houve ataques a um bar em 1986, em cortes em 1987 e bancos. A prática do carro-bomba acabou por resultar na morte de civis também.
É perceptível que a MK se enquadra no conceito de terrorismo de Ganor, contudo, no fim, a motivação e o seu desenrolar acabou por diminuir estes casos.
A questão civil pode ser vista como alvo ou como vítimas do acaso? Nos casos de freedom fighters, é comum não haver uma equiparação bélica a níveis do Estado. A inferioridade numérica e tecnológica acaba por dar mais efetividade em ataques indiretos que muitas vezes acaba por envolver civis entre vítimas. Assim como, ao intervir em algum país que sofre de uma ditadura e se usa bombardeios, civis serão vítimas inerentes.
O conceito por si só talvez não permitisse uma reflexão a cerca destes dois termos, mas o caso de Nelson Mandela e a ANC, assim como seu braço armado, que já justificou o uso da violência apesar dos princípios pacíficos da organização como resposta à repressão do regime do apartheid nos faz repensar muitos casos atualmente midiaticamente simplificados em terroristas. Assim como Ganor, a motivação seria o de menos para estas rotulações.
Se o poder midiático tivesse o mesmo alcance mundial e de criação de rótulos que dos tempos atuais, talvez Mandela jamais tivesse sido reconhecido como um pacifista. Cada caso é um caso e merece uma análise profunda. A questão que buscou ser tratada aqui é justamente da relatividade com que o termo foi aplicado e retirado a Nelson Mandela e à ANC.

O contexto da Guerra Fria fez com que o medo à ameaça comunista se sobrepusesse aos direitos humanos e civis durante o apartheid. Quais causas estão sendo atualmente suprimidas por interesses nacionais, econômicos e políticos? Amanhã serão nossos algozes ou nossos heróis?



REFERÊNCIAS
GANOR, Boaz. Is One Man’s Terrorist Another Man’s Freedom Fighter? Disponível em: http://www.ict.org.il/ResearchPublications/tabid/64/Articlsid/432/Default.aspx
NELSON MANDELA FOUNDATION. Life & Times of Nelson Mandela. Disponível em: www.nelsonmandela.org