Subina Ramos
Acadêmica do 4°
semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Pelas marcas do expansionismo europeu, por volta do
século XV, iniciou-se um desmoronamento do eticismo da raça humana, com a
destruição das moralidades das populações africanas que viram seus territórios serem
invadidos, sendo forçados a se desvincular dos seus costumes nativos. O Brasil
foi palco e presidiu uma das trajetórias da desvalorização dos príncipios
regentes da humanidade, onde os traços culturais foram substituídos pelos
aspectos “civilizados” dos europeus. Trago Tzvetan Todorov, filósofo e pensador
contemporâneo, para nos esclarecer a importância da celebração da Consciência
Negra no Brasil.
A era da Colonização expôs a tendência sobre a
produção do saber sobre aquilo que deveria corresponder à normalidade, e como
adequado ao modo de viver nas sociedades e, consequentemente, a condenação de
valores considerados impróprios e selvagens, passando, deste modo, à categoria
de exclusão, inseridos no mais baixo degrau da esfera social.
Durante anos incalculáveis, seres humanos foram
reduzidos a uma posição de subjugação, com os direitos alienados à outrem.
Foram submetidos no Brasil – e em outras partes do mundo – à categoria de
escravos, sob o alicerce de privações de direitos fundamentais, assim, reduzido
ao estágio de “desumano”.
Com o passar do tempo, e com o advento da libertação
dos escravos, afirmados pela Lei Áurea, os negros foram, de forma imprudente,
sendo incorporados à sociedade brasileira, tornando-se, deste modo, uma das
três matrizes importantes da formação do povo brasileiro. O reconhecimento da liberdade,
deveria estar sob o refúgio da aceitação social e pautado na elaboração de
pressupostos que deveriam conduzir as relações entre ex-escravos e sociedade
hegemônica, por via da expressão da justiça.
Antes mesmo de 13 de Maio 1888, esses indivíduos
privados da liberdade, por meio das perigosas fugas, formavam comunidades,
designadas de “quilombos”, no qual vigorava as aspirações para posicionamento
contra os padrões dominantes que estavam obrigados a proclamar. A histórica
formação dos quilombos teria proporcionado o desenvolvimento de um valor contra-hegemônico
em um meio desfavorável, uma renascença para o ser afro-brasileiro em busca do caminho
da inclusão social.
À luz do pensamento do Todorov, aquele que nega a
humanidade dos outros e condena seu igual ao estatuto de explorado é possuidor
da plena barbárie, por outro lado, quem sabe reconhecer por completo a essência
humana dos outros tende à classificação de civilizado. Pois nenhuma cultura
traz em seu bojo a marca da bárbarie, e nenhum povo é definitivamente
civilizado, todos podem tornar-se bárbaros ou civilizados.
Ora, a abolição da escravatura no Brasil carecia de um
preparo estrutural em nível cultural, cívico e com respostas contitutivas das
políticas públicas. Da mesma maneira em que é imposta a congregação de
identidade brasileira no pluralismo, deve ser perpetuada a onda da normalidade
das múltiplas facetas das manifestações culturais.
Seria dia 20 de Novembro o símbolo da luta dos negros ou
a imagem precisa para exortar a participação de um grupo social diferenciado?
Do ponto de
vista externo, a imagem a ser retida é a de que, na sociedade brasileira, o
zelo político emana na distinção da raça e não dos valores agregados dessa miscigenação,
sendo assim, é inevitável a luta para conquistar direitos e igualdade de
oportunidades. Todavia, seria também imprudente afirmar que como herança do
“efeito passado”, esse grupo social patenteou o dia 20 de Novembro como um
fundamento positivo, quando se sabe que essas “festividades” remontam ao pensar
opressivo num seio no qual os mesmos participam e, de certa forma, relembram a
opressão.
A opinião pública deve ter atenção à amplitude das
vozes e de pontos perceptivos de todos os membros constituintes desta nação,
sem a existência da classificação da raça, com o uso da diferenciação religiosa,
da cor, até mesmo da linguagem, que só faz denegrir o aspecto da humanidade.
Respeitável os anseios da data comemorativa, sabe-se
que se trata de uma caminhada pela liberdade e pela consciência da riqueza da
diversidade racial, a busca por uma maior participação e cidadania e o grito à
não discriminação e ao preconceito racial.
Não existe
negros, nem brancos. As expressões carregam preconceito e levam limitação para
um e abrangência para outro. A solução seria destruir a cortina de ferro no
aparato da sociedade, fazer dela una e sólida para todos, isto sem distinção de
cor. Essa situação acaba sendo enraizada e dificulta as relações e o resultado
terminará sempre na desigualdade social.
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