quarta-feira, 19 de novembro de 2014

20 de Novembro: Dia Nacional da Consciência Negra

Subina Ramos
Acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais da UNAMA


Pelas marcas do expansionismo europeu, por volta do século XV, iniciou-se um desmoronamento do eticismo da raça humana, com a destruição das moralidades das populações africanas que viram seus territórios serem invadidos, sendo forçados a se desvincular dos seus costumes nativos. O Brasil foi palco e presidiu uma das trajetórias da desvalorização dos príncipios regentes da humanidade, onde os traços culturais foram substituídos pelos aspectos “civilizados” dos europeus. Trago Tzvetan Todorov, filósofo e pensador contemporâneo, para nos esclarecer a importância da celebração da Consciência Negra no Brasil.
A era da Colonização expôs a tendência sobre a produção do saber sobre aquilo que deveria corresponder à normalidade, e como adequado ao modo de viver nas sociedades e, consequentemente, a condenação de valores considerados impróprios e selvagens, passando, deste modo, à categoria de exclusão, inseridos no mais baixo degrau da esfera social.
Durante anos incalculáveis, seres humanos foram reduzidos a uma posição de subjugação, com os direitos alienados à outrem. Foram submetidos no Brasil – e em outras partes do mundo – à categoria de escravos, sob o alicerce de privações de direitos fundamentais, assim, reduzido ao estágio de “desumano”.
Com o passar do tempo, e com o advento da libertação dos escravos, afirmados pela Lei Áurea, os negros foram, de forma imprudente, sendo incorporados à sociedade brasileira, tornando-se, deste modo, uma das três matrizes importantes da formação do povo brasileiro. O reconhecimento da liberdade, deveria estar sob o refúgio da aceitação social e pautado na elaboração de pressupostos que deveriam conduzir as relações entre ex-escravos e sociedade hegemônica, por via da expressão da justiça.
Antes mesmo de 13 de Maio 1888, esses indivíduos privados da liberdade, por meio das perigosas fugas, formavam comunidades, designadas de “quilombos”, no qual vigorava as aspirações para posicionamento contra os padrões dominantes que estavam obrigados a proclamar. A histórica formação dos quilombos teria proporcionado o desenvolvimento de um valor contra-hegemônico em um meio desfavorável, uma renascença para o ser afro-brasileiro em busca do caminho da inclusão social.
À luz do pensamento do Todorov, aquele que nega a humanidade dos outros e condena seu igual ao estatuto de explorado é possuidor da plena barbárie, por outro lado, quem sabe reconhecer por completo a essência humana dos outros tende à classificação de civilizado. Pois nenhuma cultura traz em seu bojo a marca da bárbarie, e nenhum povo é definitivamente civilizado, todos podem tornar-se bárbaros ou civilizados.
Ora, a abolição da escravatura no Brasil carecia de um preparo estrutural em nível cultural, cívico e com respostas contitutivas das políticas públicas. Da mesma maneira em que é imposta a congregação de identidade brasileira no pluralismo, deve ser perpetuada a onda da normalidade das múltiplas facetas das manifestações culturais.
Seria dia 20 de Novembro o símbolo da luta dos negros ou a imagem precisa para exortar a participação de um grupo social diferenciado?
 Do ponto de vista externo, a imagem a ser retida é a de que, na sociedade brasileira, o zelo político emana na distinção da raça e não dos valores agregados dessa miscigenação, sendo assim, é inevitável a luta para conquistar direitos e igualdade de oportunidades. Todavia, seria também imprudente afirmar que como herança do “efeito passado”, esse grupo social patenteou o dia 20 de Novembro como um fundamento positivo, quando se sabe que essas “festividades” remontam ao pensar opressivo num seio no qual os mesmos participam e, de certa forma, relembram a opressão.
A opinião pública deve ter atenção à amplitude das vozes e de pontos perceptivos de todos os membros constituintes desta nação, sem a existência da classificação da raça, com o uso da diferenciação religiosa, da cor, até mesmo da linguagem, que só faz denegrir o aspecto da humanidade.
Respeitável os anseios da data comemorativa, sabe-se que se trata de uma caminhada pela liberdade e pela consciência da riqueza da diversidade racial, a busca por uma maior participação e cidadania e o grito à não discriminação e ao preconceito racial.
Não existe negros, nem brancos. As expressões carregam preconceito e levam limitação para um e abrangência para outro. A solução seria destruir a cortina de ferro no aparato da sociedade, fazer dela una e sólida para todos, isto sem distinção de cor. Essa situação acaba sendo enraizada e dificulta as relações e o resultado terminará sempre na desigualdade social.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário