terça-feira, 25 de novembro de 2014

Reflexões internacionalistas sobre o dia mundial de eliminação da violência contra a mulher

Kellimeire Campos
Acadêmica do 7º Semestre de Relações Internacionais da UNAMA




Em 1999 a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o dia 25 de novembro como dia da eliminação da violência contra a mulher. Nesta data, em 1960, ocorreram os assassinatos brutais, ordenados por Rafael Trujillo (1930-1961), das três irmãs Mirabal, ativistas políticas na República Dominicana.
Segundo a Convenção de Belém do Pará, assinada pelos países da Organização dos Estados Americanos (OEA), entende-se violência contra mulher, como: “qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada”.
A violência contra a mulher é o resultado mais danoso da desigualdade entre os gêneros e da sociedade patriarcal em que vivemos. As consequências desse crime vão além do físico e do psicológico da mulher violentada, pois abalam as famílias, as comunidades e o país em geral.
Há quatro dias a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que a cada três mulheres no mundo uma sofre violência de seu parceiro afetivo. O documento também diz que 7% das mulheres vão sofrer violência sexual em algum momento de suas vidas. Ademais, afirma que os esforços atuais para evitar a violência contra mulheres e meninas não são suficientes. O estudo mostra que situações de crises humanitárias, estupros, casamentos forçados e conflitos armados podem piorar esses números.
Mas antes de nos voltarmos para as sociedades de culturas diferentes do ocidente, devemos nos perguntar o que a nossa cultura tem feito para mudar essa realidade? Afinal, o que dividimos junto com essas outras culturas são os altos índices de estupro contra meninas e mulheres.
Como demonstra o 8º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado no dia onze de novembro: “Os dados do fórum reforçam que o país convive com taxas absurdas, que naturalizam mais de 53 mil crimes violentos letais e 50 mil estupros registrados”.
Temos um exemplo no Brasil de que atos internacionais interferem diretamente no ambiente interno do país, inclusive no sistema jurídico. Trata-se do emblemático caso da cearense Maria da Penha, que precisou levar o Estado brasileiro à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Após a condenação internacional do país foi criada a Lei Federal 11.340 - Lei Maria da Penha, a qual normatiza o crime de violência doméstica.
No intuito de mudar essa realidade os países se reúnem em conferências, assinam tratados, aumentam os recursos de apoio a ações em defesa dos direitos humanos das mulheres.
A principal Organização Internacional que mantem a governança global sobre este assunto é a ONU Mulheres, que está responsável pelas ações dos próximos dezesseis dias pelo fim da violência contra as mulheres.
A partir de hoje e até o dia 10 de dezembro (dia dos direitos humanos) a ONU Mulheres estará realizando várias atividades. Dentre elas: oficinas com juízas e juízes sobre feminicídio (morte de mulheres por razões violentas de gênero); palestras virtuais e a iluminação de prédios públicos com a luz laranja (cor escolhida, em 2012, para representar o dia e o compromisso com um futuro sem violações dos direitos das mulheres).
Essas ações também são coordenadas pela campanha “O Valente não é Violento” realizada na América Latina e no Caribe. E está inserida na campanha “UNA-SE Pelo Fim da Violência contra as Mulheres”, do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. A campanha busca a mudança de atitude de homens e meninos, quebrando estereótipos machistas presentes na sociedade. Nessa mesma perspectiva de envolvimento de homens e meninos nas causas da igualdade de gênero foi criada a campanha HeForShe.
Dentro desse triste cenário da violência contra as mulheres é preciso reconhecer que os avanços estão acontecendo, e que datas como a de hoje são importantes para questionarmos o que temos feito para mudar essa realidade. E principalmente entendermos que o Estado não é o único garantidor dos direitos humanos das mulheres. Todos podemos ser.



Referências
Em artigo no Correio Braziliense, diretora executiva da ONU Mulheres destaca 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres. Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/?noticias=em-artigo-no-correio-braziliense-diretora-executiva-da-onu-mulheres-destaca-16-dias-de-ativismo-pelo-fim-da-violencia-contra-as-mulheres
OMS: mais de 30% das mulheres são vítimas de violência do parceiro. Disponível em: http://www.unmultimedia.org/radio/portuguese/2014/11/oms-mais-de-30-das-mulheres-sao-vitimas-de-violencia-do-parceiro/#.VHQBl4vF-yV

Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2014. Disponível em: http://www.forumseguranca.org.br/storage/download//8anuariofbsp.pdf

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