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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O “fim” dos embargos econômicos sobre Cuba

João Neto Neves
Internacionalista formado pela UNAMA



        O embargo dos Estados Unidos em relação a Cuba começou a ser imposto em 1961, e consistia em uma interdição de cunho econômico, financeiro e comercial. Em 1999 o então presidente Bill Clinton, ampliou o embargo, proibindo as empresas estadunidenses de manterem filiais que comercializassem com Cuba, em valores maiores que 700 milhões dólares anuais.
       O que originou o embargo foi a relação estreita que Cuba mantinha com a extinta União Soviética. Depois do ápice da Guerra Fria, conhecido como a Crise dos Mísseis, Kennedy criou restrições para viagens de estadunidenses à ilha caribenha, em 1963. Em 79 essa suspensão das viagens para Cuba não foi renovada, ato que deveria ser feito de 6 em 6 meses, pelo presidente Jimmy Carter. Mas em 1982, Ronald Reagan reinstaurou a suspensão das viagens. 
        Apesar de Cuba sofrer por décadas com os embargos norte-americanos, o início do fim do embargo econômico dos EUA foi confirmado em 17 de Dezembro de 2014. A negociação para a reaproximação diplomática teve mediação do Canadá e do Papa Francisco, durante 18 meses. Depois de mais de cinco décadas de rompimento, Estados Unidos e Cuba procuram reatar relações diplomáticas. Os EUA já divulgaram que nos próximos meses reabrirão a embaixada estadunidense em Havana.
       
       Obama, em discurso, disse que o embargo foi um fracasso. A barreira que existia nas negociações entre as duas partes vem diminuindo, motivado pelo cenário que não colabora mais com a manutenção do embargo. Membros do alto escalão dos EUA, como John Kerry, provavelmente visitarão a ilha caribenha e o alto escalão cubano também farão visitas ao país da América do Norte. Em relação ao turismo, ele será facilitado pelo governo dos EUA, podendo ter o maior fluxo de estadunidenses por ano.
        Mas, o presidente norte-americano deixou bem claro que não tem poder para pôr fim ao embargo econômico. Para isso, necessita-se de votação no Congresso dos EUA. Lembrando que a partir de janeiro de 2015, o partido republicano terá maioria no Congresso e isso poderá dificultar o fim do embargo. Com isso, em curto prazo, não existe a perspectiva de um fim definitivo das sanções contra Cuba. Além dos republicanos, Obama terá que lidar com o “fogo amigo”, pois muitos democratas também são contra essa mudança nas relações com o Estado cubano. 
        Não se pode esquecer que não é a primeira vez que um governo dos Estados Unidos mantém relações com um governo ditatorial, como exemplos, temos: a Arábia Saudita, Egito e China. 
         Sendo assim, cabe esperar para conhecer o futuro das negociações atuais entre os EUA e Cuba. O certo é que as relações internacionais são dinâmicas e repletas de mudanças. Isso influencia as identidades dos agentes, tornando possível que uma dada realidade se transforme mais adiante. O tema dos embargos sobre Cuba (e o fim deles) é relevante, portanto, vale a pena acompanhar.


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Segurança Coletiva: das ameaças de atores não convencionais à capacidade de reação da Sociedade Internacional

Christiane Ramos
Acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

“Sabe-se que guerras sempre existiram, assim como outros modos de violência nas civilizações, porém hoje a rapidez da comunicação traz a violência para dentro de nossas casas todo o tempo. Temos como questão contemporânea a violência globalizada e também banalizada” (2011, p. 09). ¹

É notável a repercussão que o grupo Estado Islâmico tem tomado no cenário Internacional. Suas práticas, abalizadas pelo fundamentalismo religioso, acometem civis e depositam receios à sociedade internacional. Diante deste fato, a questão que vem à tona é: não seria este o momento de interromper o avanço deste grupo, já que ele representa uma ameaça à ordem internacional, aos direitos humanos, ao direito internacional, e à sobrevivência dos Estados Westfalianos? O presente artigo tem como objetivo discutir este assunto, à luz da ideia de segurança coletiva. 


O conceito de segurança coletiva fundamenta-se no imaginário de que qualquer ameaça à segurança e à paz internacional será combatida coletivamente, formando-se um sistema universal de ação conjunta entre os Estados. Justamente por ser considerada universal e comum, o uso da violência em âmbito internacional, nestes casos, é legitimada.
De acordo com HERZ (2004, p. 83), “o sistema é baseado na ideia da criação de um mecanismo internacional que conjuga compromissos de Estados nacionais para evitar, ou até suprimir a agressão de um Estado contra outro”. Desta forma, se reconhece que o ideal de segurança coletiva está baseado na paz internacional como sinônimo de sobrevivência e não agressão entre Estados legitimados.

Contudo, com o final da Guerra Fria, que pôs fim às amarras da bipolaridade, e mais tarde, quando o mundo testemunhou os ataques ao World Trade Center – agressões estas reivindicadas pelo grupo terrorista Al-Qaeda – o sistema internacional passou a perceber que nem só de Estados se faziam as Relações Internacionais e que atores não estatais possuem tanto poder de influência quanto os Estados. E mais, o empoderamento de não-estados capacitou-os de forma a serem vistos como uma possível ameaça internacional.
É neste contexto que se encaixa o grupo Estado Islâmico. Esta organização utiliza da violência não institucionalizada para guiar suas ações no cenário mundial. Cometem violência sexual contra mulheres, decapitações de prisioneiros como um “espetáculo” para chocar o mundo e fazem uso do fundamentalismo islâmico como um modo de atrair e alienar combatentes para morrerem por sua causa.
Diante destes atos, os Estados Unidos propuseram, em 05 de setembro de 2014, durante a Conferência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), realizada no País de Gales, uma coalizão internacional para combater o Estado Islâmico.
Desta iniciativa dos Estados Unidos podem ser feitos comentários importantes. Inicialmente, Monica Herz interessa-se em deixar evidente que “o sistema de segurança coletiva também se baseia no pressuposto de que é possível mudar o cálculo racional dos Estados. Dessa forma, o sistema funciona associado a arranjos para facilitar a resolução de disputas” (HERZ, 2004, p. 83).
A OTAN surgiu no período da Guerra Fria para combater o avanço do Comunismo. Portanto, despontou com o objetivo de combater um inimigo específico. Com a derrocada da URSS, a organização tem traçado outros objetivos para manter suas ações no sistema internacional. Contudo, ainda assim, é uma organização de defesa, e não exatamente de segurança. Nesse contexto, surge a ONU como agente capaz de transformar as preferências dos demais atores internacionais, com ênfase na segurança internacional e manutenção da paz.
Herz também estabelece as diferenças e implicações dos modos de combater as ameaças internacionais. Diferencia, portanto, alianças militares de segurança coletiva. Para a autora, a aliança militar está relacionada às questões materiais e formas palpáveis de defesa, sendo que ela surge para o combate de um inimigo específico. A segurança coletiva, por outro lado, baseia-se na ideia de construção da paz, na qual, este árduo percurso, poderá ser perturbado por algum inimigo que talvez possa surgir. Portanto, não se tem certeza de quando a ameaça surgirá. Não há um inimigo específico.
E mais importante ainda: todos os meios pacíficos devem ser empregados antes que se tome a decisão do uso da força. Assim, entram em cena a arbitragem, a negociação, a cooperação, as sanções, e outros.  Mas, o caso do grupo Estado Islâmico é peculiar. As considerações sobre segurança coletiva relacionam-se basicamente à Estados legítimos.
A imagem do Estado como um ator importante no sistema internacional ainda é expressa pelos atores internacionais, mesmos que estes se encaixem na perspectiva de atores não estatais. O EI é uma amostra expressa desta ideia. O grupo se autointitulou “Estado” e passou a agir no sistema internacional de modo a se fazer legitimar como tal, claro, utilizando os meios específicos para isso.
BACCARINI (2009), considera que “não há uma conceitualização exata do que se pode denominar segurança coletiva acordada entre os diversos teóricos de RI”. Portanto, é um campo ainda a ser explorado pelos analistas e estudiosos de Relações Internacionais. Para HERZ, o fato de o conceito de segurança coletiva estar centrado na sobrevivência dos Estados e neles como ameaça, não limita o poder de ação da sociedade internacional, quando à ameaça diz respeito à atores não estatais. Para ela, “uma ameaça à paz não envolve, necessariamente, o uso da violência armada, nem se limita aos conflitos entre Estados” (2004, p. 105).
O surgimento de grupos e organizações como o Estado Islâmico no sistema internacional é uma fonte que necessita ainda de muitas reflexões. O conceito e abrangência da ideia de segurança coletiva está ainda sendo desenvolvida pelos estudiosos de política internacional. Alguns ainda questionam a capacidade das organizações internacionais de mudar as preferências dos atores internacionais, assim, pondo em risco a segurança coletiva institucionalizada.
Os risco que uma interferência pode causar aos países que estão sofrendo intervenções deve ser vigiado. Inclusive, o caso da Síria é bastante interessante, podendo ser um tema para outro artigo mais adiante.
Os combates ao EI já iniciaram. Cabe agora esperar para observar se os ideais de segurança coletiva e da “responsabilidade de e ao proteger” serão firmados.
Fiquemos atentos ao que acontece no cenário internacional!!

NOTA:
¹KIRILLOS, Fuad Neto; MOREIRA, Jacqueline de Oliveira; ROSÁRIO, Ângela Buciano do. As faces da violência na contemporaneidade: sociedade e clínica. Barbacena, MG: EdUEMG, 2011. 

REFERÊNCIAS

BACCARINI, Mariana Pimenta Oliveira. Segurança Coletiva e Regimes de Segurança. Relações Internacionais no Mundo Atual, Curitiba, n. 10, p. 107-124, 2009-2.

BERCITO, Diogo. O que é o Estado Islâmico? Disponível em:< http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2014/09/03/o-que-e-o-estado-islamico/>. Acesso em: 27/09/2014.

CHECCHIA, V. J. P. CEIRE Newspaper. As alianças contra o Estado Islâmico. < Http://www.jornal.ceiri.com.br/as-aliancas-contra-o-estado-islamico/>. Acesso em: 27/09/2014. Visualizado às: 17:26.

G1. Obama define esta semana plano de ofensiva contra Estado Islâmico: Presidente falará na quarta para 'descrever plano'. Discurso será um dia antes do aniversário dos ataques de 11 de setembro. <Http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/09/obama-define-esta-semana-plano-de-ofensiva-contra-estado-islamico-20140907111004551611.html>. Acesso em: 08.09.14. Visualizado às: 22:24.

GERCHMANN, Léo. Zero Hora. As origens e a brutalidade do grupo Terrorista Estado Islâmico. http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2014/08/as-origens-e-a-brutalidade-do-grupo-terrorista-estado-islamico-4587195.html. Acesso em: 08.09.2014. Visualizado às: 21:52.

HERZ, Mônica; HOFFMANN, Andrea Ribeiro. Segurança Coletiva. In: ______. Organizações Internacionais: história e práticas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. p. 82-131.


KIRILLOS, Fuad Neto; MOREIRA, Jacqueline de Oliveira; ROSÁRIO, Ângela Buciano do. As faces da violência na contemporaneidade: sociedade e clínica. Barbacena, MG: EdUEMG, 2011.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O Soft Power do Estado Islâmico

João Neves Neto
Internacionalista graduado pela Unama

Em Relações Internacionais se fala muito no Soft Power dos Estados Unidos, que fazem as pessoas a viverem o “american dream”. Mas nos últimos meses passamos a conviver com notícias dos atos violentos do Estado Islâmico. E mesmo com esses atos, o grupo jihadista consegue recrutar vários soldados pelo mundo. O Estado Islâmico estaria fazendo o Estado estadunidense provarem do seu próprio “veneno”?
O Estado Islâmico usa como mecanismo de promoção da sua causa, a utilização massiva de redes sociais, onde vídeos muito bem editados vêm mostrar a força e o crescimento do grupo, ao longo do tempo. Estima-se que com essa abordagem na internet, eles vêm recrutando quase dois mil ocidentais.
Outros grupos jihadistas tentaram usar a internet como meio de divulgação, mas nenhum chegou tão longe quanto o Estado Islâmico. O grupo usa programas, como o SoundCloud, para divulgar relatórios de combate, além de usar grupos no Whatsapp e contas no Instagram, para divulgação de vídeos e imagens.
Mesmo toda pessoa interessada na causa do grupo sendo aceita, o foco principal é voltado para os muçulmanos, para quem o Estado Islâmico aborda o califado como um dever e uma honra. A mensagem transmitida é glorificante e explana sobre abdicar das regalias do mundo ocidental em troca do trabalho divino. Em outras palavras, abandonar uma vida indigna por algo valoroso e grandioso. 
Percebendo todo esse poder de usar mecanismos de recrutamento de soldados, segundo o jornal estadunidense The New York Times, o governo dos Estados Unidos vem tentando combatê-lo. Uma única vez que uma conta em uma rede social, relacionada ao Departamento de Estado Estadunidense, respondeu a um militante do EI. Turaab, membro do Estado Islâmico, postou que sabia das dificuldades que muita gente está enfrentando para chegar ao grupo, mas pede que as pessoas que compactuam com sua luta mantenham o desejo pela Jihad vivo em seus corações. A resposta da conta usada pelo Departamento foi em tom de ameaça: “Os recrutas têm duas escolhas: cometer atrocidades e morrer como criminosos, ou serem presos e passarem a vida na prisão”.

A partir disto, podemos ver que o poder do Estado Islâmico está cada vez maior, cuja dinamização da tecnologia está sendo usada diretamente a seu favor e contra a hegemonia estadunidense que, como dito no inicio, está provando do seu próprio “veneno” e parecendo perder o poder sobre os países do Oriente Médio. 

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O Soft Power e as relações entre Irã e Estados Unidos

João Neto
Internacionalista formado pela Universidade da Amazônia – UNAMA


O presente texto será baseado no Soft Power, termo cunhado pelo célebre pensador e teórico, Joseph Nye, da Universidade de Harvard, argumentando que há um padrão ou mesmo teoria nítida no campo das relações internacionais. Atesta que existe um “poder suave”, caracterizado por elementos como cultura e mídia. Um dos mecanismos para a prática do Soft Power é o esporte, que possui uma capacidade imensa de poder atrativo.
Segundo Nye (p. 76, 2010), “em determinadas situações na política mundial, é tão importante estabelecer a pauta e atrair os outros, como forçá-los a mudar”. Assim, o significado de poder é, de certa forma, deslocado daquela definição usual feita pelos realistas, e abrange não só aspectos bélico-militares, mas também questões culturais. Neste sentido, é pertinente “seduzir” os atores, e não necessariamente obrigá-los a agirem de modo que se queira que ajam.
            Nos últimos anos temos acompanhado um período conturbado entre os Estados Unidos e o Irã, tendo como motivo a pesquisa nuclear iraniana, que preocupa a sociedade internacional. As negociações vêm acontecendo, depois que Hassan Rouhani foi eleito no Irã. Contudo, extremistas dos dois países criam obstáculos que dificultam um possível consenso nas relações entre os Estados.
Nesse momento aparece o esporte, mais especificamente o vôlei, como Soft Power. Em preparação para o Campeonato Mundial Masculino, que será realizado na Polônia, a seleção iraniana esteve nos Estados Unidos para quatro amistosos. Parece pouco, mas para países que vivem constantemente em conflito diplomático, é um passo importante para o apaziguamento das relações.
Esses jogos amistosos foram programados pelas duas federações. O Departamento de Estado dos EUA auxiliou na organização das partidas no âmbito da política de “diplomacia esportiva”. Esses pequenos atos acabam sendo uma grande oportunidade para promover o intercâmbio entre os dois povos, e faz parte do esforço das duas partes para a troca entre as sociedades civis no âmbito das artes, cultura, educação e esportes.
            Essas partidas podem contribuir para difundir a comunicação e troca de informações entre as partes. Desta forma, estadunidenses e iranianos começariam a perceber que nem todos os iranianos são fanáticos obcecados em destruir os Estados Unidos e nem todos os norte-americanos são enviados pelo Grande Satã. A ligação entre as sociedades, que hoje inexiste fora da grande diáspora iraniana para os EUA, pode servir, assim, para conter o ímpeto sabotador dos setores extremistas nos dois países.
            Essa tentativa de estreitar a relação entre os dois Estados, por meio do Soft Power, ainda é bastante tímida, mas já é um alento para quem há pouco tempo vivia na expectativa de um conflito bélico. Cabe agora esperar e verificar o quanto a interdependência complexa e a anarquia do sistema internacional influenciarão as ações de cada ator. É necessário que saibam lidar com esses aspectos sistêmicos e agirem de modo a maximizar seus ganhos absolutos, sem que haja a necessidade de conflito.        





Referência:
NYE, Joseph S. Jr. Cooperação e Conflito nas Relações Internacionais:  uma leitura essencial para entender as principais questões da política mundial. Rio de Janeiro: Gente, 2010.


segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Violência Policial e Racismo nos EUA

Renato Cordeiro
Acadêmico do 4ª semestre de Relações Internacionais - UNAMA

Violência policial pode ser definida como qualquer tentativa, por parte da polícia ou de algum policial de forma individual, de reprimir algum direito de um cidadão através de coerção praticada de maneira ilegal. Caracteriza-se como violência policial não apenas a intimidação física, como muitos podem imaginar, mas também a intimidação psicológica (feita através de ameaças e agressões verbais), a discriminação racial, os abusos sexuais, a extorsão, o abuso de autoridade e até a corrupção.

Uma dessas características, a discriminação racial, é o pano de fundo de um caso de violência policial que vem chamando a atenção do mundo nos últimos dias: a morte do jovem negro Michael Brown, de 18 anos, em Ferguson, Missouri, EUA, resultante de uma fatídica abordagem policial.


Oficialmente, Michael foi parado pela polícia por ser suspeito de ter roubado uma loja e foram apresentados duas versões bem diferentes. Segundo a versão da polícia, Michael teria agredido e tentado roubar a arma de um dos policiais, e os tiros (seis, segundo um laudo da perícia) teriam sido disparados por proteção; já algumas testemunhas dizem que o jovem estava rendido e desarmado ao receber os disparos, o que configuraria um assassinato. Seja lá qual for a verdade, o resultado foram distúrbios que assolaram a cidade e geraram protestos por todo o país.

O racismo é um dos maiores problemas da sociedade americana e, embora a segregação por parte do estado não exista mais, na prática, os negros americanos ainda estão longe de alcançar o mesmo padrão de vida dos brancos: até hoje, os afro-americanos tem uma renda seis vezes menor que os brancos; são os que mais tendem a serem expulsos e suspensos das escolas; constituem 40% da população carcerária do país apesar de serem apenas 12% da população americana, além de receberem penas maiores pelo mesmo crime; e menos da metade possui casa própria.

(Martin Luther King) 
O problema é ainda maior nos estados onde o racismo está enraizado na cultura local, entre eles o próprio Missouri, onde  o preconceito é sentido diariamente. E a polícia teve papel fundamental na manutenção deste tipo de situação.

Historicamente, a polícia se utilizou da violência para obter um maior controle da sociedade, e isso incluia, em muitos casos, repressão política e perseguição de minorias. Nos Estados Unidos, não foi diferente: a polícia sempre tratava negros de forma diferenciada dos demais cidadãos (70% dos afro-americanos acreditam que isso ainda ocorre), além de deixar abusos deste tipo impune. Prova disso é que esta não é a primeira vez que um episódio de violência policial gera distúrbios nos EUA: em 1992, a absolvição de um policial que teria espancado um negro até  o óbito provocou dias de protestos violentos em Los Angeles; antes disso, em 1967, uma abordagem policial violenta em Detroit causou vários conflitos entre a polícia e a comunidade negra da cidade.

Apesar de tudo, a violência policial continua sendo comum, o que levanta a questão: por quê? Alguns dos principais culpados apontados seriam a impunidade, a corrupção, a cultura enraizada de repressão violenta, a militarização das forças de segurança pública e o fato de que muitos dos crimes cometidos pela polícia são julgados por policiais, o que estimula o coleguismo.
E isso não se refere apenas ao Brasil, mas ao mundo como um todo, inclusive nos Estados Unidos, onde todos esses fatores acontecem; inclusive a militarização, pois apesar de não haver polícia militar por lá, muitos policiais americanos são ou foram militares. Portanto, o que resta ao cidadão comum é fiscalizar a polícia e denunciar os abusos, e que outros casos como o de Michael Brown não ocorram novamente.




REFERÊNCIAS:


Diário do centro do mundo.O caso do jovem negro morto em Ferguson reflete o drama da desigualdade racial nos EUA. Disponível em:http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-caso-do-jovem-negro-morto-em-ferguson-reflete-o-drama-da-desigualdade-racial-nos-eua/
Diário do centro do mundo:Cinco números pra entender a desigualdade racial nos EUADisponível em:http://www.http://www.diariodocentrodomundo.com.br/cinco-numeros-para-entender-a-desigualdade-racial-nos-eua/
Zero Hora. O que motiva as manifestações após a morte de jovem negro nos EUA. Disponível em:http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2014/08/o-que-motiva-as-manifestacoes-apos-a-morte-de-jovem-negro-nos-eua-4577977.html
G1.Policiais se unem a protestos contra o preconceito racial nos EUA. Disponível em:http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/08/policiais-se-unem-protestos-contra-o-preconceito-racial-nos-eua.html
Wikipedia. Violência policial. Disponível em:pt.wikipedia.org/wiki/Violência_policia

sábado, 7 de junho de 2014

Resenha: DO DIA SEGUINTE (1983) AO DIA DEPOIS DE AMANHÃ (2004)

Brenda de Castro
Internacionalista (UNAMA) e Mestranda em Ciência Política (PPGCP/UFPA)




Pouco mais de uma década separa dois filmes que, além do nome, não apresentam muitas semelhanças à primeira vista. Dirigido por Nicholas Meyer, O Dia Seguinte (The Day After no original) foi lançado no início da década de 1980 em plena Guerra Fria e se propõe a mostrar em duas horas de filme de modo cru um dos possíveis desdobramentos daquele período histórico.
Ainda que se tratasse de uma “paz improvável, guerra impossível”, o medo de uma guerra nuclear assolava a imaginação das pessoas. O filme tem um ritmo lento, principalmente na sua primeira parte onde nos apresenta o cotidiano da família Oakes que vive no estado de Kansas. Ao mesmo tempo acompanhamos os procedimentos militares de vigilância no tenso período, assim como o impacto no dia-a-dia da economia e outros setores da sociedade por conta da Guerra Fria.
A crise tem início no longa-metragem por conta de uma barreira de mísseis que os Estados Unidos pretendem instalar na Europa, enquanto os noticiários atualizam a situação, vemos as pessoas com seus problemas e rotinas pessoais, ora atentos à crise e em outros momentos apenas desligam o rádio ou a televisão.
Quando é decretada a ordem de evacuação da cidade de Moscou a rotina da população estadunidense começa a mudar e se questionarem a que ponto aquela crise chegará, ainda que temerosos, não acreditam ser possível que a situação leve a uma guerra nuclear. Quanto mais se torna real a ameaça, as pessoas começam a entrar em pânico e se preparam para o pior. Os Estados Unidos lançam seus mísseis e é dado início à guerra. Sabendo que a retaliação soviética não tardaria mais que trinta minutos as pessoas tentam se proteger a tempo.
O filme causou bastante impacto por ter demonstrado a partir de simulações científicas e com o uso dos efeitos especiais da época para tornar o mais real possível o que ocorreria numa situação de guerra nuclear. No primeiro momento, carros param de funcionar, relógios, toda a energia. Com a explosão, os efeitos – ainda que limitados – dão a ideia de várias pessoas sendo instantaneamente carbonizadas, a destruição de prédios e a devastação nuclear é descrita por quatro minutos. O suficiente para causar, até mesmo em nós atualmente, arrepios. A cena encontra-se exatamente na metade do filme, separando o antes, cotidiano dos simples cidadãos e o depois, da sobrevivência dos que se salvaram e das consequências. Os meses seguintes trazem os impactos à saúde das pessoas que se veem totalmente desamparadas e sem estrutura para recomeçar a vida.
O letreiro final traz uma mensagem de que aqueles eventos catastróficos eram apenas uma simulação que não chegava nem perto do que aconteceria na realidade se uma guerra nuclear tivesse início e que esperava inspirar os as nações, os seus líderes e suas populações a buscarem um meio de evitar este fatídico dia.
“O Dia Seguinte” foi um filme encomendado para televisão o que possibilitou que fosse visto por muitas pessoas, assim, impactando fortemente a opinião pública. Contudo, qual a relação deste filme contextualizado na Guerra Fria e que trata de uma guerra nuclear e suas consequências para o filme “O Dia Depois de Amanhã”?
O segundo filme, traz a discussão sobre as mudanças climáticas já no início do século XXI quando o tema começa a se concretizar cada vez mais na agenda internacional. 
O filme se passa em 2020 e mostra de forma extrema as consequências de uma elevação de sete metros no nível do mar por conta da exploração de petróleo no Polo Norte, causando assim uma tsunami que toma conta de todo o norte, no caso, os Estados Unidos, o que leva muitas pessoas a fugirem para o norte enquanto outras sofrem com o resfriamento abrupto, assim como o isolamento causado pelas temperaturas extremas e a destruição.
É interessante extrair deste filme alguns fatores: a impotência sentida pela hegemonia econômica e militar diante da catástrofe climática, a negação de dados previamente apresentados que alarmavam para a situação (assim como ocorre na atualidade) e, por fim, o irônico desfecho político em que para poupar a vida de seus cidadãos o presidente dos Estados Unidos precisa realizar um acordo com o México perdoando sua dívida para que a população atingida pela catástrofe possa fugir para o país vizinho.
Os dois filmes aqui tratados trazem, em contextos históricos distintos, as grandes preocupações de sua época. Da guerra nuclear às mudanças climáticas, tentam despertar a reflexão acerca de temas como a cooperação e o diálogo. Enfocam também nas consequências sociais e ambientais de decisões políticas desastrosas e da impotência diante de situações extremas.
O primeiro filme conseguiu impactar e causar medo por se tratar de um conflito que era possível que a qualquer instante evoluísse para uma catástrofe nuclear. O diferencial residia que para evitar bastava que uma decisão não fosse tomada. Já no caso das questões climáticas, o problema é muito mais complexo. A cooperação aqui necessitada vai além de um simples acordo de paz, é preciso que medidas sejam tomadas a curto e longo prazo, que sejam repensados valores, modelos econômicos e de exploração.
Fica a reflexão. E o dia seguinte? E o depois de amanhã? Estaremos aqui? Teremos feito algo para evitar catástrofes iminentes?




segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Desenvolvimento e Sustentabilidade. É possível?



Paulo Victor Rodrigues,
Acadêmico do 6º semestre de Relações Internacionais da UNAMA.

            Ao pensar em Desenvolvimento muitos podem pensar em acumulação de capital ou riquezas materiais, bom, não deixa de ser um conceito acerca desse tema tão amplo e diversificado, porém, será que ao pensarmos em Desenvolvimento também associamos isso à Sustentabilidade? Ou melhor, temos nos desenvolvido de forma consciente, isto é, pensando em nosso meio ambiente e em como utilizar seus recursos garantindo sua preservação e não apenas explorando-os?
            Desde o inicio da Era da Industrialização (ou a chamada Revolução Industrial) na Europa nos séculos XVIII e XIX, onde houve a substituição do trabalho artesanal pelo assalariado e com o uso das máquinas, nota-se o quanto a paisagem natural (não tocada pelo homem) mudou drasticamente, as florestas deram lugar à criação e expansão das cidades, industriais surgiram, posteriormente os primeiros arranha-céus, ou seja, o homem na busca pelo desenvolvimento (lê-se: acumulação de capital) viu na natureza uma fonte de recursos que poderia lhe fazer alcançar esse objetivo.
            Entretanto, até quando o homem vai continuar explorando os recursos naturais indiscriminadamente? Até quando a natureza vai suportar ser explorada? Nos últimos anos temos percebido sinais claros de que isso não poderá se prolongar da maneira que tem sido feita há todos esses anos. Os chamados países Desenvolvidos também estão entre os maiores poluidores, vide o caso norte-americano, o qual se recusou a assinar o Tratado de Kyoto (que tem como objetivo firmar acordos e discussões internacionais para conjuntamente estabelecer metas de redução na emissão de gases-estufa na atmosfera).
            Atualmente, não podemos, ou melhor, o planeta não pode mais aguentar países consumindo irracionalmente seus recursos, não é aceitável que haja investimentos financeiros massivos no incentivo ao desenvolvimento de indústrias que poluem mais, exploram mais... O que precisa acontecer é o despertar dos governantes globais para a importância da preservação, pois com a tecnologia de hoje pode-se muito bem ocorrer desenvolvimento aliado à natureza, isto é, não explorando e sim utilizando conscientemente.

            Um dos grandes exemplos de desenvolvimento sustentável que posso citar está bem próximo, o chamado Programa Municípios Verdes, que tem o objetivo de combater o desmatamento e fortalecer a produção rural sustentável por meio de ações estratégicas de ordenamento ambiental e fundiário e gestão ambiental, com foco em pactos locais, monitoramento do desmatamento, implantação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e estruturação da gestão municipal.
            O município de Paragominas, no interior do Pará, saiu da lista dos mais desmatadores do Brasil por conta de uma ação conjunta, envolvendo governo, sociedade e empresa. Um verdadeiro exemplo de como é possível deixar de ‘agredir’ o meio ambiente quando há um engajamento entre esses três pilares. Também posso citar exemplos, como de Amsterdam, na Holanda, onde os cidadãos priorizam o uso de bicicletas ao invés de automóveis ou até ônibus (há pesquisas recentes que mostram que o número de bicicletas na Holanda supera o de habitantes), evitando assim a queima de combustíveis que produzem gases do ‘efeito estufa’.
            Portanto, a busca pelo desenvolvimento (em especial no âmbito econômico) tem que estar atrelado à tomada de consciência, dando importância e prioridade à sustentabilidade, pois continuar da maneira em que vivemos, com indústrias explorando recursos naturais, queimando combustíveis, com o homem usando a terra inadequadamente para a agricultura, acabará por esgotar os recursos da ‘mãe-natureza’, que levaram a consequências irremediáveis.
Porém, se os cidadãos ao redor do mundo juntamente com os governos e as empresas (iniciativa privada) derem as mãos procurando reproduzir os exemplos como os citados anteriormente, poderemos alcançar o tão sonhado desenvolvimento sustentável, onde o homem vive em harmonia com a natureza, desenvolvendo-se utilizando-a sabiamente, preservando-a.

sábado, 2 de novembro de 2013

Espionagem norte-americana na Europa: Quando a teia se embraça

Caio Rebelo
Acadêmico do 6º semestre.
  


O recente caso da espionagem americana a países e governantes considerados como parceiros de longa data, que por si só já tem seu próprio grau de complexidade, tornou-se ainda mais polêmico quando veio a público um conjunto de documentos que apontavam que os telefones de chefes de Estado como o da atual primeira-ministra alemã Ângela Merkel, e mesmo do atual Papa, também se encontravam grampeados pela inteligência americana em uma clara violação aos direitos civis e de privacidade.
Muito embora o porta-voz da Santa Sé Federico Lombardi tenha minimizado o fato e lhe atribuído pouca relevância, diversos países europeus se manifestaram juntamente com a Alemanha, entre eles França, Espanha e Itália, em extrema desaprovação ao ocorrido, bem como denunciando situações semelhantes.
Recentemente os jornais El País (Espanha) e Le Monde (França), divulgaram que –
segundo relatórios vazados pelo ex-consultor da NSA Edward Snowden – pelo menos 70 milhões de ligações de cidadãos franceses e 60 milhões dos cidadãos espanhóis foram interceptadas e arquivadas pelas agências de inteligência norte-americanas.
Além de convocar os embaixadores norte-americanos acreditados em seus respectivos países para responderem perante comissões ministeriais, os governos europeus se reuniram na última semana em Bruxelas para coordenar seu posicionamento diante do caso, que incluiu o envio de uma delegação europeia a Washington para discutir o ocorrido, bem como articular uma proposta de resolução a ser levada à Assembleia Geral. A proposta, que inclusive conta com o apoio do Brasil, prevê a ampliação e atualização do Pacto Internacional para as Atividades na Internet, em vigor desde 1976, época em que internet e as telecomunicações não tinham uma fração do alcance e sofisticação atuais.
Diante das acusações de espionagem por parte da União Europeia, o Secretário de
Estado Americano John Kerry afirmou em um discurso oficial que o programa de inteligência norte-americano “poderia ter ido longe demais” ao espionar nações aliadas, apesar de ratificar a importância do trabalho dos serviços de inteligência como ferramentas no combate ao terrorismo. Em linhas gerais, apesar de se comprometer a levar a cabo uma revisão da forma como o programa de espionagem opera, o governo de Obama ainda se mostra esquivo nessa questão, mantendo-se vago quanto à possíveis mudanças, a exceção da possibilidade de declarar ilegais as escutas a líderes amigos, porém nada é totalmente confirmado.
A trama sofreu outra reviravolta quando tanto o Wall Street Journal quanto a revista Foreign Affairs divulgaram que, segundo fontes dentro das agências americanas de inteligência, a informação coletada pela espionagem americana teria sua origem em seus pares europeus, uma conexão que mesmo o Snowden ratificou em entrevista a uma rede de notícias russa, bem como a notícia de que os próprios governos europeus utilizavam suas respectivas embaixadas em solo americano como meio de articular seus próprios projetos de espionagem. Os governos europeus, muito embora tenham de fato convocado seus respectivos serviços de inteligência para reuniões a fim de apurar a questão, adiantaram-se em desmentir qualquer conivência com o programa de espionagem americana no que tange a vigilância dos funcionários do governo e de seus próprios cidadãos, bem como qualquer tipo de tentativa de espionar os Estados Unidos.
      Diante do panorama desenhado pelos atuais eventos, não será estranho se a ideia de um novo marco regulatório internacional para a atuação das agências de inteligência despontar em futuras reuniões das Nações Unidas ou qualquer outra organização nos anos (ou mesmo meses) que virão. Por outro lado, um país com a influência e interesses da mesma dimensão que os Estados Unidos não pode – e claramente não irá – abrir mão de seus serviços de inteligência, seja para a obtenção de informações úteis para guiar futuras políticas, seja no combate ao terrorismo; entretanto, é imperativo que os mesmos sejam repensados, que a sua autonomia em relação ao governo e a outros órgãos sejam reavaliadas.
Dessa forma, manter a política atual de espionagem só irá contribuir para prejudicar as relações diplomáticas norte-americanas com os demais países (particularmente seus principais aliados), fato que, em um contexto onde conceitos como interdependência e governança globais são palavras-chave para a manutenção do status norte-americano de potência global, os Estados Unidos simplesmente não podem se dar ao luxo.




Referências Bibliográficas: