Brenda de Castro
Internacionalista (UNAMA) e Mestranda em Ciência
Política (PPGCP/UFPA)
Pouco
mais de uma década separa dois filmes que, além do nome, não apresentam muitas
semelhanças à primeira vista. Dirigido por Nicholas Meyer, O Dia Seguinte (The Day After no original) foi lançado
no início da década de 1980 em plena Guerra Fria e se propõe a mostrar em duas
horas de filme de modo cru um dos possíveis desdobramentos daquele período
histórico.
Ainda
que se tratasse de uma “paz improvável, guerra impossível”, o medo de uma
guerra nuclear assolava a imaginação das pessoas. O filme tem um ritmo lento,
principalmente na sua primeira parte onde nos apresenta o cotidiano da família
Oakes que vive no estado de Kansas. Ao mesmo tempo acompanhamos os
procedimentos militares de vigilância no tenso período, assim como o impacto no
dia-a-dia da economia e outros setores da sociedade por conta da Guerra Fria.
A
crise tem início no longa-metragem por conta de uma barreira de mísseis que os
Estados Unidos pretendem instalar na Europa, enquanto os noticiários atualizam
a situação, vemos as pessoas com seus problemas e rotinas pessoais, ora atentos
à crise e em outros momentos apenas desligam o rádio ou a televisão.
Quando
é decretada a ordem de evacuação da cidade de Moscou a rotina da população
estadunidense começa a mudar e se questionarem a que ponto aquela crise
chegará, ainda que temerosos, não acreditam ser possível que a situação leve a
uma guerra nuclear. Quanto mais se torna real a ameaça, as pessoas começam a
entrar em pânico e se preparam para o pior. Os Estados Unidos lançam seus
mísseis e é dado início à guerra. Sabendo que a retaliação soviética não
tardaria mais que trinta minutos as pessoas tentam se proteger a tempo.
O
filme causou bastante impacto por ter demonstrado a partir de simulações
científicas e com o uso dos efeitos especiais da época para tornar o mais real
possível o que ocorreria numa situação de guerra nuclear. No primeiro momento,
carros param de funcionar, relógios, toda a energia. Com a explosão, os efeitos
– ainda que limitados – dão a ideia de várias pessoas sendo instantaneamente
carbonizadas, a destruição de prédios e a devastação nuclear é descrita por
quatro minutos. O suficiente para causar, até mesmo em nós atualmente,
arrepios. A cena encontra-se exatamente na metade do filme, separando o antes,
cotidiano dos simples cidadãos e o depois, da sobrevivência dos que se salvaram
e das consequências. Os meses seguintes trazem os impactos à saúde das pessoas
que se veem totalmente desamparadas e sem estrutura para recomeçar a vida.
O
letreiro final traz uma mensagem de que aqueles eventos catastróficos eram
apenas uma simulação que não chegava nem perto do que aconteceria na realidade
se uma guerra nuclear tivesse início e que esperava inspirar os as nações, os
seus líderes e suas populações a buscarem um meio de evitar este fatídico dia.
“O
Dia Seguinte” foi um filme encomendado para televisão o que possibilitou que
fosse visto por muitas pessoas, assim, impactando fortemente a opinião pública.
Contudo, qual a relação deste filme contextualizado na Guerra Fria e que trata
de uma guerra nuclear e suas consequências para o filme “O Dia Depois de
Amanhã”?
O
segundo filme, traz a discussão sobre as mudanças climáticas já no início do
século XXI quando o tema começa a se concretizar cada vez mais na agenda
internacional.
O filme se passa em 2020 e mostra de forma extrema as
consequências de uma elevação de sete metros no nível do mar por conta da
exploração de petróleo no Polo Norte, causando assim uma tsunami que toma conta
de todo o norte, no caso, os Estados Unidos, o que leva muitas pessoas a
fugirem para o norte enquanto outras sofrem com o resfriamento abrupto, assim
como o isolamento causado pelas temperaturas extremas e a destruição.
É
interessante extrair deste filme alguns fatores: a impotência sentida pela
hegemonia econômica e militar diante da catástrofe climática, a negação de
dados previamente apresentados que alarmavam para a situação (assim como ocorre
na atualidade) e, por fim, o irônico desfecho político em que para poupar a
vida de seus cidadãos o presidente dos Estados Unidos precisa realizar um
acordo com o México perdoando sua dívida para que a população atingida pela catástrofe
possa fugir para o país vizinho.
Os
dois filmes aqui tratados trazem, em contextos históricos distintos, as grandes
preocupações de sua época. Da guerra nuclear às mudanças climáticas, tentam
despertar a reflexão acerca de temas como a cooperação e o diálogo. Enfocam
também nas consequências sociais e ambientais de decisões políticas desastrosas
e da impotência diante de situações extremas.
O
primeiro filme conseguiu impactar e causar medo por se tratar de um conflito
que era possível que a qualquer instante evoluísse para uma catástrofe nuclear.
O diferencial residia que para evitar bastava que uma decisão não fosse tomada.
Já no caso das questões climáticas, o problema é muito mais complexo. A
cooperação aqui necessitada vai além de um simples acordo de paz, é preciso que
medidas sejam tomadas a curto e longo prazo, que sejam repensados valores,
modelos econômicos e de exploração.
Fica
a reflexão. E o dia seguinte? E o depois de amanhã? Estaremos aqui? Teremos
feito algo para evitar catástrofes iminentes?
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