Breno Damasceno
Acadêmico do 3º semestre de
Relações Internacionais da Unama
Partindo
da ideia de que o terceiro debate teórico das Relações Internacionais foi
marcado por novos arranjos dialéticos e novas premissas de estudos, colocaremos
a situação recente da Ucrânia que permitirá percebermos o quanto as duas
correntes de pensamento (positivista e pós-positivista) podem explicar o
comportamento de agentes e estrutura, e o que os mesmos podem influenciar no
cenário internacional.
Na
análise da recente situação da Ucrânia, evidenciaremos os pontos chave das duas
correntes. A começar pela questão do Estado, os positivistas, principalmente os
neorrealistas (Waltz e Gilppin) dizem que, além de ter papel decisivo nas
questões do Sistema Internacional, o mesmo ainda procura maximizar o seu poder,
a qual pode ser adquirida através da coerção.
Levando
em conta estas ideias, podemos visualizar o que se passa na Ucrânia em uma
visão positivista como uma forma da Rússia maximizar seu poder-força, de forma
com que aqueles que queiram se aliar a mesma, tenham de seguir suas regras.
Neste sentido o bandwagon é colocado
a partir do momento em que a Criméia e outras regiões de menor importância
bélica (segundo os neorrealistas), se aliam a Rússia, procurando assim, uma
forma de proteção, como Waltz chamava de “cooperação intrabloco”.
Os
pós-positivistas desmistificam que esse Estado é o grande causador de questões
de conflitos e cooperações, não aderem a ideia do Estado ser um ator fixo nas
Relações Internacionais.
Nesse
sentindo, caberia dizer sobre a Rússia o mesmo que Cox falava sobre os Estados,
afirmando assim, que esses Sistemas de Estados são governados por resultados da
ação humana. As decisões então tomadas pela Rússia de, por exemplo, colocar
tropas nas fronteiras da Criméia com outras regiões, não é algo que pode ser
explicado levando em conta questões ontológicas, mas sim de atuações do seu
líder ou mesmo de uma ideologia por trás dele, que o levou a tomar tal decisão.
Para
os pós-positivistas, principalmente para Robert Walker e Richard Ashley, a
anarquia é um pretexto utilizado para a manutenção dos poderes dos Estados. Essa
“desculpa” da anarquia é utilizada apenas para que a Rússia ou a Europa usem de
seu poderio para silenciar os que não têm força ou chance de reivindicar seus
direitos.
Como
diria Linklater, já visando o pós-modernismo, essa anarquia seria uma subjetivação,
ou seja, criar a ideia de conflito para que aquele Estado possa seguir os
padrões estabelecidos por alguém com maior influência no cenário internacional.
No
centro de toda esta discussão encontram-se os construtivistas, que ora se
relacionam com os positivistas, por conta de serem fieis quanto a importância do
Estado. Relaciona-se com os pós-positivistas, ao dizer que não é só o Estado
que molda e dita as regras dessa estrutura internacional. É necessário retirar
dele as questões mais pertinentes, colocando em pauta uma questão antes não
mencionada pelos positivistas e que hoje é um dos grandes campos de estudos dos
pós-positivistas, em especial dos Teóricos Críticos como Andrew Linklater: a
identidade.
Os
construtivistas declaram que este conceito é socialmente construído, sendo
assim, essa identidade entre os agentes formará um interesse que definirá uma ordem
internacional a ser seguida, onde agente e estrutura são criados e postulados a
partir do momento em que, juntos, começam a se relacionar.
Quanto
ao caso da Rússia e Ucrânia o que podemos debater é justamente um povo, no caso
ucraniano determinando suas escolhas para participar de um novo bloco, por
conta de uma insatisfação política e econômica, moldando as suas identidades,
procurando novas formas de convivência não só interna, mas uma visão diferente
do mundo sobre a região e alterando o seu comportamento, acreditando nos
benefícios da aproximação com a União Europeia.
Assim
como Linklater fala que essa busca pela identidade partirá de um dialogo entre
os povos, a ética dialógica, onde o Estado se tornará uma sociedade civil
organizada a partir do momento em que os indivíduos pudessem falar entre si,
discutir entre si e principalmente respeitar a decisão dos outros. E nesse
sentido, todos os agentes, indivíduos, setores e empresas envolvidos na questão
ucraniana são afetados, seja de forma direta, por ação do próprio estado, seja
de forma indireta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário