Prof.ª MSc. Maria Ermelinda
Báez
Ministra aulas nos
Cursos de Letras e Relações Internacionais da UNAMA e no Parfor-Espanhol da
CAPES/UFPA. Formada em Letras pela
Universidade da Amazônia, especialista em Abordagem Textual da Língua
Portuguesa pela Universidade Federal do Pará, Mestre em Educação pela Universidad
Autónoma de Asunción
Inter - Segundo
a CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - o Português é o terceiro
idioma mais falado do mundo. Como isso é possível se a língua portuguesa teve
origens em uma pequena península na Europa Ocidental?
A
disseminação da língua portuguesa ocorreu no período das grandes navegações que
Portugal realizou nos séculos XV e XVI. A divulgação da língua e sua valorização
eram instrumentos de consolidação do império português. A “exportação” do
português para outros territórios resultou no mundo lusófono, ou seja, o mundo que fala português, hoje estimado
em mais de 240 milhões de pessoas. Língua oficial de oito países, atualmente o
Português é a terceira língua ocidental mais
falada do planeta, após o inglês e o espanhol.
Inter - Quando os colonizadores chegaram ao Brasil,
encontraram habitantes que falavam principalmente o Tupi. A colonização impôs o
Português como língua oficial. Houve ainda outras influencias: holandesa,
espanhola, inglesa, italiana, etc. os variados idiomas influenciaram, de algum
modo, o desenvolvimento da Língua Portuguesa no Brasil?
O
português que se fala hoje no Brasil é resultado de muitas transformações. A
Língua Portuguesa foi trazida ao Brasil no século XVI, por ocasião do “descobrimento”.
Quando
os portugueses desembarcaram na costa brasileira, estima-se que havia aqui
1.200 povos indígenas, falantes de aproximadamente mil línguas diferentes. Além
dessa diversidade étnica e linguística, foram trazidos ainda cerca de 4 milhões
de africanos de diversas culturas para trabalhar como escravos.
Tal pluralidade
linguístico-cultural fortaleceu as bases da construção da identidade do
português brasileiro. Isso se deu em detrimento dos interesses políticos e
comerciais de Portugal, que tomara algumas medidas radicais, entre elas a proibição do uso das línguas gerais (a
língua falada no Brasil colonial como língua de contato entre índios,
portugueses e seus descendentes), e a imposição
do português como língua oficial.
O
contato entre indígenas, africanos e imigrantes que vieram de algumas
regiões da Europa favoreceu o chamado multilinguísmo. Além da fase bilíngue
pela qual passara o português, o
multilinguísmo contribuiu para a formação identitária do português brasileiro.
As línguas indígenas, por exemplo, contribuíram para o enriquecimento vocabular
da botânica (nomes de plantas), da fauna (nomes de animais), da toponímia
(nomes de lugares) e da onomástica (nomes de pessoas) do português do Brasil.
Inter - Há
o pensamento dominante de que haja um “modo certo de falar” a Língua
Portuguesa. Contudo, existe uma cobrança
ainda maior com a escrita. Como chegar a um consenso do que seja melhor no
contexto de Brasil, por exemplo?
Não
se deve confundir língua com escrita, pois são dois meios de comunicação distintos. A escrita representa um
estágio posterior de uma língua. A língua
falada é mais espontânea, abrange a comunicação linguística em toda sua
totalidade. É acompanhada pelo tom de voz, algumas vezes por mímicas,
incluindo-se fisionomias. A língua
escrita não é apenas a representação da língua falada, mas sim um sistema mais disciplinado e rígido,
uma vez que não conta com o jogo fisionômico, as mímicas e o tom de voz do
falante.
O
pensamento de que “há um modo certo de
falar” se deve a uma noção limitada
de língua. É importante lembrar que existem variações linguísticas e tais variações podem ser de vários tipos:
regionais, culturais, profissionais, contextuais, naturais (idade, sexo).
É
pela língua que conversamos, comunicamos, pensamos, registramos, sonhamos, etc.
É pela língua que o mundo acontece. Não
existem falares errados, o que existem são falares diferentes. Da mesma
forma como o ser humano está em constante processo de mudança, e também o mundo
está sempre mudando, a língua também varia. Desse modo, precisamos entender que
a língua deve servir sempre como fator
de aglutinação social e não de discriminação e exclusão.
Inter - Para
o internacionalista é muito importante o conhecimento de variados idiomas para
melhor entender e ser entendido no mundo globalizado. O mercado de trabalho
brasileiro em Relações Internacionais é cada vez mais aquecido. Neste contexto,
qual o valor da língua portuguesa neste ambiente diversificado?
Sabemos
que a capacidade de falar e entender vários idiomas é indispensável para que o
Internacionalista desenvolva uma carreira de sucesso. A crescente valorização
do domínio de idiomas no mercado de trabalho é notória.
Com
relação à língua portuguesa, é importante lembrar que o domínio da língua materna pode ser o diferencial na valorização
profissional, pois a competência comunicativa garante potencial para
ampliar a "empregabilidade" de um profissional, haja vista que quanto maior seu repertório, mais
competência e segurança ele terá para absorver ideias e falar em público.
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