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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O “fim” dos embargos econômicos sobre Cuba

João Neto Neves
Internacionalista formado pela UNAMA



        O embargo dos Estados Unidos em relação a Cuba começou a ser imposto em 1961, e consistia em uma interdição de cunho econômico, financeiro e comercial. Em 1999 o então presidente Bill Clinton, ampliou o embargo, proibindo as empresas estadunidenses de manterem filiais que comercializassem com Cuba, em valores maiores que 700 milhões dólares anuais.
       O que originou o embargo foi a relação estreita que Cuba mantinha com a extinta União Soviética. Depois do ápice da Guerra Fria, conhecido como a Crise dos Mísseis, Kennedy criou restrições para viagens de estadunidenses à ilha caribenha, em 1963. Em 79 essa suspensão das viagens para Cuba não foi renovada, ato que deveria ser feito de 6 em 6 meses, pelo presidente Jimmy Carter. Mas em 1982, Ronald Reagan reinstaurou a suspensão das viagens. 
        Apesar de Cuba sofrer por décadas com os embargos norte-americanos, o início do fim do embargo econômico dos EUA foi confirmado em 17 de Dezembro de 2014. A negociação para a reaproximação diplomática teve mediação do Canadá e do Papa Francisco, durante 18 meses. Depois de mais de cinco décadas de rompimento, Estados Unidos e Cuba procuram reatar relações diplomáticas. Os EUA já divulgaram que nos próximos meses reabrirão a embaixada estadunidense em Havana.
       
       Obama, em discurso, disse que o embargo foi um fracasso. A barreira que existia nas negociações entre as duas partes vem diminuindo, motivado pelo cenário que não colabora mais com a manutenção do embargo. Membros do alto escalão dos EUA, como John Kerry, provavelmente visitarão a ilha caribenha e o alto escalão cubano também farão visitas ao país da América do Norte. Em relação ao turismo, ele será facilitado pelo governo dos EUA, podendo ter o maior fluxo de estadunidenses por ano.
        Mas, o presidente norte-americano deixou bem claro que não tem poder para pôr fim ao embargo econômico. Para isso, necessita-se de votação no Congresso dos EUA. Lembrando que a partir de janeiro de 2015, o partido republicano terá maioria no Congresso e isso poderá dificultar o fim do embargo. Com isso, em curto prazo, não existe a perspectiva de um fim definitivo das sanções contra Cuba. Além dos republicanos, Obama terá que lidar com o “fogo amigo”, pois muitos democratas também são contra essa mudança nas relações com o Estado cubano. 
        Não se pode esquecer que não é a primeira vez que um governo dos Estados Unidos mantém relações com um governo ditatorial, como exemplos, temos: a Arábia Saudita, Egito e China. 
         Sendo assim, cabe esperar para conhecer o futuro das negociações atuais entre os EUA e Cuba. O certo é que as relações internacionais são dinâmicas e repletas de mudanças. Isso influencia as identidades dos agentes, tornando possível que uma dada realidade se transforme mais adiante. O tema dos embargos sobre Cuba (e o fim deles) é relevante, portanto, vale a pena acompanhar.


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Segurança Coletiva: das ameaças de atores não convencionais à capacidade de reação da Sociedade Internacional

Christiane Ramos
Acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

“Sabe-se que guerras sempre existiram, assim como outros modos de violência nas civilizações, porém hoje a rapidez da comunicação traz a violência para dentro de nossas casas todo o tempo. Temos como questão contemporânea a violência globalizada e também banalizada” (2011, p. 09). ¹

É notável a repercussão que o grupo Estado Islâmico tem tomado no cenário Internacional. Suas práticas, abalizadas pelo fundamentalismo religioso, acometem civis e depositam receios à sociedade internacional. Diante deste fato, a questão que vem à tona é: não seria este o momento de interromper o avanço deste grupo, já que ele representa uma ameaça à ordem internacional, aos direitos humanos, ao direito internacional, e à sobrevivência dos Estados Westfalianos? O presente artigo tem como objetivo discutir este assunto, à luz da ideia de segurança coletiva. 


O conceito de segurança coletiva fundamenta-se no imaginário de que qualquer ameaça à segurança e à paz internacional será combatida coletivamente, formando-se um sistema universal de ação conjunta entre os Estados. Justamente por ser considerada universal e comum, o uso da violência em âmbito internacional, nestes casos, é legitimada.
De acordo com HERZ (2004, p. 83), “o sistema é baseado na ideia da criação de um mecanismo internacional que conjuga compromissos de Estados nacionais para evitar, ou até suprimir a agressão de um Estado contra outro”. Desta forma, se reconhece que o ideal de segurança coletiva está baseado na paz internacional como sinônimo de sobrevivência e não agressão entre Estados legitimados.

Contudo, com o final da Guerra Fria, que pôs fim às amarras da bipolaridade, e mais tarde, quando o mundo testemunhou os ataques ao World Trade Center – agressões estas reivindicadas pelo grupo terrorista Al-Qaeda – o sistema internacional passou a perceber que nem só de Estados se faziam as Relações Internacionais e que atores não estatais possuem tanto poder de influência quanto os Estados. E mais, o empoderamento de não-estados capacitou-os de forma a serem vistos como uma possível ameaça internacional.
É neste contexto que se encaixa o grupo Estado Islâmico. Esta organização utiliza da violência não institucionalizada para guiar suas ações no cenário mundial. Cometem violência sexual contra mulheres, decapitações de prisioneiros como um “espetáculo” para chocar o mundo e fazem uso do fundamentalismo islâmico como um modo de atrair e alienar combatentes para morrerem por sua causa.
Diante destes atos, os Estados Unidos propuseram, em 05 de setembro de 2014, durante a Conferência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), realizada no País de Gales, uma coalizão internacional para combater o Estado Islâmico.
Desta iniciativa dos Estados Unidos podem ser feitos comentários importantes. Inicialmente, Monica Herz interessa-se em deixar evidente que “o sistema de segurança coletiva também se baseia no pressuposto de que é possível mudar o cálculo racional dos Estados. Dessa forma, o sistema funciona associado a arranjos para facilitar a resolução de disputas” (HERZ, 2004, p. 83).
A OTAN surgiu no período da Guerra Fria para combater o avanço do Comunismo. Portanto, despontou com o objetivo de combater um inimigo específico. Com a derrocada da URSS, a organização tem traçado outros objetivos para manter suas ações no sistema internacional. Contudo, ainda assim, é uma organização de defesa, e não exatamente de segurança. Nesse contexto, surge a ONU como agente capaz de transformar as preferências dos demais atores internacionais, com ênfase na segurança internacional e manutenção da paz.
Herz também estabelece as diferenças e implicações dos modos de combater as ameaças internacionais. Diferencia, portanto, alianças militares de segurança coletiva. Para a autora, a aliança militar está relacionada às questões materiais e formas palpáveis de defesa, sendo que ela surge para o combate de um inimigo específico. A segurança coletiva, por outro lado, baseia-se na ideia de construção da paz, na qual, este árduo percurso, poderá ser perturbado por algum inimigo que talvez possa surgir. Portanto, não se tem certeza de quando a ameaça surgirá. Não há um inimigo específico.
E mais importante ainda: todos os meios pacíficos devem ser empregados antes que se tome a decisão do uso da força. Assim, entram em cena a arbitragem, a negociação, a cooperação, as sanções, e outros.  Mas, o caso do grupo Estado Islâmico é peculiar. As considerações sobre segurança coletiva relacionam-se basicamente à Estados legítimos.
A imagem do Estado como um ator importante no sistema internacional ainda é expressa pelos atores internacionais, mesmos que estes se encaixem na perspectiva de atores não estatais. O EI é uma amostra expressa desta ideia. O grupo se autointitulou “Estado” e passou a agir no sistema internacional de modo a se fazer legitimar como tal, claro, utilizando os meios específicos para isso.
BACCARINI (2009), considera que “não há uma conceitualização exata do que se pode denominar segurança coletiva acordada entre os diversos teóricos de RI”. Portanto, é um campo ainda a ser explorado pelos analistas e estudiosos de Relações Internacionais. Para HERZ, o fato de o conceito de segurança coletiva estar centrado na sobrevivência dos Estados e neles como ameaça, não limita o poder de ação da sociedade internacional, quando à ameaça diz respeito à atores não estatais. Para ela, “uma ameaça à paz não envolve, necessariamente, o uso da violência armada, nem se limita aos conflitos entre Estados” (2004, p. 105).
O surgimento de grupos e organizações como o Estado Islâmico no sistema internacional é uma fonte que necessita ainda de muitas reflexões. O conceito e abrangência da ideia de segurança coletiva está ainda sendo desenvolvida pelos estudiosos de política internacional. Alguns ainda questionam a capacidade das organizações internacionais de mudar as preferências dos atores internacionais, assim, pondo em risco a segurança coletiva institucionalizada.
Os risco que uma interferência pode causar aos países que estão sofrendo intervenções deve ser vigiado. Inclusive, o caso da Síria é bastante interessante, podendo ser um tema para outro artigo mais adiante.
Os combates ao EI já iniciaram. Cabe agora esperar para observar se os ideais de segurança coletiva e da “responsabilidade de e ao proteger” serão firmados.
Fiquemos atentos ao que acontece no cenário internacional!!

NOTA:
¹KIRILLOS, Fuad Neto; MOREIRA, Jacqueline de Oliveira; ROSÁRIO, Ângela Buciano do. As faces da violência na contemporaneidade: sociedade e clínica. Barbacena, MG: EdUEMG, 2011. 

REFERÊNCIAS

BACCARINI, Mariana Pimenta Oliveira. Segurança Coletiva e Regimes de Segurança. Relações Internacionais no Mundo Atual, Curitiba, n. 10, p. 107-124, 2009-2.

BERCITO, Diogo. O que é o Estado Islâmico? Disponível em:< http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2014/09/03/o-que-e-o-estado-islamico/>. Acesso em: 27/09/2014.

CHECCHIA, V. J. P. CEIRE Newspaper. As alianças contra o Estado Islâmico. < Http://www.jornal.ceiri.com.br/as-aliancas-contra-o-estado-islamico/>. Acesso em: 27/09/2014. Visualizado às: 17:26.

G1. Obama define esta semana plano de ofensiva contra Estado Islâmico: Presidente falará na quarta para 'descrever plano'. Discurso será um dia antes do aniversário dos ataques de 11 de setembro. <Http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/09/obama-define-esta-semana-plano-de-ofensiva-contra-estado-islamico-20140907111004551611.html>. Acesso em: 08.09.14. Visualizado às: 22:24.

GERCHMANN, Léo. Zero Hora. As origens e a brutalidade do grupo Terrorista Estado Islâmico. http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2014/08/as-origens-e-a-brutalidade-do-grupo-terrorista-estado-islamico-4587195.html. Acesso em: 08.09.2014. Visualizado às: 21:52.

HERZ, Mônica; HOFFMANN, Andrea Ribeiro. Segurança Coletiva. In: ______. Organizações Internacionais: história e práticas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. p. 82-131.


KIRILLOS, Fuad Neto; MOREIRA, Jacqueline de Oliveira; ROSÁRIO, Ângela Buciano do. As faces da violência na contemporaneidade: sociedade e clínica. Barbacena, MG: EdUEMG, 2011.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Disseminação do Ebola e Repercussão no Cenário Internacional

Quezia Pereira
Acadêmica do 6° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

 


A febre hemorrágica causada pelo vírus Ebola, que começou na Guiné-Conacri e se espalhou por Serra Leoa e Libéria já tirou mais de 1.100 vidas desde o início do surto, em 2014. A rápida disseminação da doença alertou a comunidade internacional para a possível epidemia, provocando o grande esforço de entidades e organizações internacionais, bem como o de alguns Estados como Alemanha, Canadá e Estados Unidos, em conter a provável fatalidade de disseminação mundial da doença.
O vírus foi manifestado pela primeira vez em 1976 na República Democrática do Congo, onde morreram 90% dos infectados. Mesmo que a doença tenha sido identificada há mais de trinta anos, ainda não existe um tratamento que seja eficaz no combate ao vírus. Vários surtos já ocorreram desde então. Os últimos casos da epidemia são ainda mais preocupantes devido à rápida propagação e ao grande registro de mortes, sendo considerada a mais grave da história.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) junto a outras organizações humanitárias especializadas na área da saúde, alertam para que os Estados estejam preparados para evitar a expansão da doença, tendo cuidado nas áreas de fronteiras. Aconselham também o isolamento dos pacientes já infectados, dado que muitas pessoas doentes não aceitam a situação e fogem para outros países.
Essas organizações representam um papel muito importante no combate à epidemia. A busca da cura abrange também a política, a diplomacia e cooperação entre os Estados. O principal objetivo da OMS é oferecer o maior nível possível de saúde aos povos do mundo. Para isto, o trabalho da organização vai desde o incentivo a pesquisas biológicas até a implementação de acordos econômicos para financiar seus projetos. A colaboração de entidades filantrópicas como a Médicos Sem Fronteiras (MSF) é, do mesmo modo, necessária à manutenção da saúde.
No caso do Ebola, um possível tratamento, reproduzido por uma empresa americana, está sendo testado. Essa iniciativa é essencial, pois as informações compartilhadas, bem como as experiências, mostram o compromisso da OMS (responsável por liberar o uso dos medicamentos) e outros atores internacionais em buscar uma prevenção. Assim, Canadá e EUA mostraram-se disponíveis a financiar a droga e enviar à África Ocidental o mais breve possível. Portanto, a ajuda correspondente dos Estados, das empresas e das organizações governamentais e não governamentais pode ser o método mais eficaz de combate a esta doença.




REFERÊNCIAS:

El País. Un millón de personas están en cuarentena en África por el ebola. Disponível em: http://sociedad.elpais.com/sociedad/2014/08/15/actualidad/1408123969_202506.html Acesso em: 15 ago. 2014

SiNUS. Organização Mundial de Saúde (OMS). Disponível em http://www.sinus.org.br/2009/oms.html Acesso em: 18 ago. 2014


Tribuna do Norte. África ocidental virou “zona de guerra, diz MSF. Disponível em: http://tribunadonorte.com.br/noticia/africa-ocidental-virou-zona-de-guerra-diz-msf/290708 Acesso em: 18 ago. 2014

 

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Os Conflitos na Faixa de Gaza

Vandré Colares       
Acadêmico do 4° semestre de Relações Internacionais da UNAMA    


     Um dos temas mais contemporâneos e recorrentes em discussão quando o assunto é relações internacionais, sem dúvida, diz respeito aos conflitos israelo-palestinos. Aqui, far-se-á uma análise focada na faixa de gaza, abordando de forma breve a historicidade da região e a correlação desta com a teoria construtivista das Relações Internacionais.
              A história que cerca o conflito é demasiada complexa e extensa. Vale destacar alguns pontos recentes que circundam a região em questão. Gaza se tornou foco de conflito entre israelenses e palestinos também pelo fato de a região ter recebido refugiados palestinos após a criação do Estado de Israel em 1948, no pós-Segunda Guerra Mundial.
            Os israelenses creem que a região lhes pertence pelo fato de que a comunidade palestina foi ali estabelecida de forma “artificial”, uma vez que segundo eles, antes da chegada dos refugiados em 1948 não havia tal comunidade. Os palestinos, que por sua vez, reivindicam há muito a criação de um Estado soberano, lembram que no ato da criação de Israel, a faixa de gaza não estava delimitada como parte do Estado judeu.


            O conflito todo tem como pano de fundo a questão religiosa: há por parte das duas religiões (judeus e muçulmanos) a atribuição de enorme importância para aquelas terras, o que dificulta ainda mais a mediação e resolução do conflito. Uma vez que ambos creem veementemente que a terra lhes pertence por ordem divina. Assim, uma solução política é pouco provável.
           Um capítulo à parte é o envolvimento de grupos como o Hamas, o Hezbollah, o Fatah, as Jihads e assim por diante no conflito. Israel e o Ocidente, de uma maneira geral, os consideram como grupos terroristas, uma vez que usam de meios como atentados para combater a causa judia. Por outro lado, o Hamas, por exemplo, tem representação política forte e desempenha até mesmo um papel sócio-ideológico na região.
            Esse e outros contrassensos evidenciam a complexidade do conflito, que possui ainda muitos outros fatores relevantes ao entendimento do que se passa naquele espaço. Por conta do caráter complexo, é salutar analisar a questão israelo-palestina por meio da teoria construtivista das Relações Internacionais. 
          É evidente a relevância dos chamados fatores “não-materiais” no conflito. A religião enquanto peça fundamental para o entendimento dos fatos deixa clara a impossibilidade de uma análise fidedigna por meio das teorias estritamente positivistas, tais como o realismo e o idealismo, mesmo em suas “refinadas” versões “Neo-Neo”.
           Outro pressuposto construtivista que se encaixa aqui é o da mutabilidade constante da realidade, graças a relação de co-construçao entre os agentes e o meio. Por exemplo, até 1948 não existia de fato o Estado de Israel, sua criação foi resultado das forças estruturais da época, uma vez que esta era ditada pelos valores dos Estados ocidentais vencedores da Segunda Guerra. Israel, por sua vez, passa a modificar a estrutura no mesmo momento em que esta o modifica, pois representa também um agente do SI.


            Em suma, não é possível falar em “pré-existência”, ou em algo “estrutural” quando se trata de política internacional e relações sociais. Os palestinos passaram a habitar a região somete após a criação de Israel, que por sua vez inexistia antes de 1948. Ou seja, as condições conjunturais da estrutura e dos agentes, colaboraram para a construção social da realidade como a vemos hoje.
A Construção social também se aplica para denominar a construção de valores adotados por partes do conflito, tanto valores sionistas como antissemitas, como por exemplo, de grupos como o Hamas, que desejam a destruição do Estado de Israel. Esses valores são construídos com base em diversos fatores, inclusive os “não-materiais”, como a religião e a própria cultura pregada ali, de tal forma que o olhar construtivista parece ser o mais apropriado para entender o conflito.
            

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Mediação de conflitos Nas Relações Internacionais

Paulo Victor Silva Rodrigues
Acadêmico do 7º semestre de Relações Internacionais da UNAMA
           

Os conflitos existem nas mais diversas formas e lugares, protagonizados por diferentes atores. No Sistema Internacional os Estados são os principais, sendo capazes de alterar a balança de poder entre eles, como no caso das duas grandes guerras mundiais. Há também conflitos mais restritos, envolvendo Estados e atores não estatais e, saber como lidar com essas situações é necessário para que se consiga chegar a uma resolução ou ao menos amenizar os danos, evitando que os mesmos se propaguem. Por isso, A mediação de conflitos tem lugar de destaque dentro das Relações Internacionais. 
Considerando-se a Teoria dos Jogos de Dois Níveis, de Robert Putnam, pode-se afirmar que para se trilhar um caminho que leve à paz, ou pelo menos ao abrandamento de um conflito, é necessário se chegar a um tratado negociado igualmente com as duas partes envolvidas, com a intervenção de um negociador-chefe que tenha por objetivo buscar um entendimento que será atrativo para ambos.
Primeiramente, deve-se levar em conta que não é possível chegar a um acordo entre os dois lados se as negociações apenas acontecerem entre os representantes de governo, uma vez que dentro da lógica dos jogos de dois níveis, faz-se necessário uma interação entre a política doméstica com a internacional. Isto é, existem dois estágios no processo: o primeiro, conhecido como nível 1, onde ocorre a barganha entre os negociadores que leva a um acordo provisório; e o nível 2, onde se dão os debates no âmbito doméstico, levando-se em consideração os grupos e as coalizões internas que poderão dar apoio ou não à ratificação do acordo.
Além disso, deve-se identificar o nível em que está o conflito que se busca mediar. São 9 níveis de classificação e, o último deles é quando já chegou-se as vias de fato, ou seja, há confronto direto entre as partes, com a utilização de armas letais e consequente óbitos. Um exemplo disso é o conflito entre Israel e Palestina, o qual tem sua origem há mais de um século e tem se intensificado nos últimos dias, com bombardeios diários, direcionados principalmente à Faixa de Gaza. Portanto, sendo este conflito encaixado no nível mais elevado.
Entretanto, dentro dos Estudos de Segurança Internacional destaca-se que a mídia poderia dificultar a busca por uma resolução, uma vez que acabava divulgando imagens do inimigo que fazia com que conflitos que poderiam ser resolvidos se perpetuassem. Neste contexto, Deutsch sugeriu um “sistema de aviso antecipado” relacionado à comunicação massiva de conflitos interestatais, que detectaria quando a imagem do inimigo estivesse alcançando um nível perigoso. Defendendo, assim, uma cobertura de notícias mais equilibrada, com o objetivo de incentivar a mídia a apoiar formas não violentas de resolução de conflito.
Portanto, a mediação de conflito trata-se de um processo complexo e delicado que envolve várias etapas e esferas, buscando-se um consenso tanto no âmbito da política doméstica quanto na internacional, e de atores não estatais, os quais são capazes de influenciar positiva ou negativamente uma negociação, como no caso da mídia. Ademais, no atual cenário de interdependência complexa que o Sistema Internacional se encontra, buscar a mediação de conflitos é importante por trazer benefícios, pois um cenário sem conflitos oferece menores riscos, atraindo – por exemplo – investimentos e gerando melhorias na economia dos países.

REFERENCIAS
BUZAN, Barry. A evolução dos estudos de segurança internacional.  São Paulo: Ed. Unesp,2012.

PUTNAM, Robert D. Diplomacia e Politica Domestica: a logica dos jogos de dois níveis. Revista de sociologia e politica. V.18, n.36: 147-174. Jun,2010.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Eleições Ucranianas: uma visão da Teoria Construtivista nas R.I.

Raylson Max
Acadêmico do 3° semestre de Relações Internacionais da UNAMA


Sabemos que as eleições internas dos países são bastante importantes para os eleitores. São de suma importância para o contexto geopolítico internacional. As eleições ucranianas, onde os inúmeros assuntos de interesse da política internacional estão voltados, a importância é maior devido as questões que ocorrem no leste europeu e os países do ocidente acompanham de forma direta ou indireta. O que ocorre na região euroasiática do mundo pode ser analisado à luz das teorias construtivistas.
           Por questões históricas, para se entender melhor o que está acontecendo e o porquê de estarem acontecendo, é bom entender o que os cidadãos ucranianos reivindicam para a melhora de seu país. A identidade da Ucrânia está sendo altamente mexida influenciada por movimentos étnicos russos. A “Revolução Laranja” e o “Euromaidan” é crucial para entender os primórdios desse movimento o qual “desaguou” nas eleições ucranianas onde o oligarca Petro Poroshenko, o “Rei do Chocolate” como ficou conhecido, ganhou com cerca de 54% dos votos. Ele foi seguido da ex-primeira ministra Yulia Tymoshenko, do Partido Pátria, com 13,9%.
Para entender as eleições na ótica da teoria construtivista, é preciso saber os pontos seminais da teoria, a qual vem ganhando bastante visibilidade no cenário da análise internacional.
A teoria construtivista parte do princípio de que agente-estrutura estão sendo co-construídos em um movimento de retroalimentação continuada contínua. Outro ponto bastante importante é a questão da identidade a qual leva e/ou adquire como valores, normas, ideais, cultura. Há ainda a importância do papel líder.
No construtivismo, a identidade é relacional, ou seja, diferente do que os positivistas dizem, a identidade não é fixa, fidedigna.  A possibilidade de ser flexível, para os positivistas, é ínfima ou mesmo beirando à zero. Segundo Adler, os agentes definem identidades que expressam seu interesses­­. A relação social entre os agentes é de suma importância para que uma estrutura seja formada. Sendo assim, o ciclo se torna vicioso. Ou seja, a relação entre os agentes formam a estrutura, e a estrutura influencia os agentes.
A maioria dos ucranianos sonha com uma democracia de fato. Libertos de “bloqueios” de outros países e muito mais integrado com o resto da Europa. O desafio do presidente eleito é nada menos do que encarar essa realidade juntamente com os cidadãos que vivem na Ucrânia, sejam os de etnia russa ou não. Colocar a Ucrânia no eixo das principais rotas econômicas. Inserir-se na UE e mostrar a sua identidade para aquela região e para sua população. O papel do Líder/Presidente, agora, é fundamental para que ocorram mudanças necessárias para que o país seja estabilizado na área sócio- econômico advindo de fraquezas da política externa da Ucrânia.
Na verdade, a Ucrânia está em um momento decisivo de sua formação como um Estado. Por um lado, tem-se a perda de sua “soberania”, cujo significado e sentido desta expressão para a dinâmica mundial foi construída intersubjetivamente pelos agentes da Estrutura. Há neste momento a ideia de soberania como algo a ser ainda respeitado, valorizado.
Assim, a situação deste momento é a seguinte: o futuro presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, terá uma grande escolha a fazer. Ou se alia ao Ocidente pela construção de uma cooperação diante da União Europeia, ou ficará à sombra de uma potência eurasiática. Há uma terceira opção. Pode escolher manter relações tanto com Rússia quanto com o Ocidente.
De qualquer forma, é inegável que a população, como detentora de poder, pode escolher seu futuro nas urnas. A construção deste futuro, na verdade é incerto. Não se sabe para onde caminham as mutações e transformações do sistema internacional. Contudo, é obvio que se se cultiva boas relações atualmente, o futuro tende a ser pacífico, caso contrário, há que se esperar o pior.

O mais importante disto tudo é que a Ucrânia possui o poder de se relacionar com os demais agentes da estrutura, para assim, conjuntamente vislumbrar fazer parte das relações mútuas do sistema internacional. A população é importante porque juntamente com a identidade, o país formará seus interesses. Logo, o líder apreenderá estes interesses e formulará a política externa da qual a Ucrânia baseará seus passos na política internacional. Cabe agora esperar para ver o rumo para onde caminhará a política internacional frente à crise ucraniana.

Referências




BUENO, Adriana Mesquita Corrêa. Perspectivas contemporâneas sobre regimes internacionais: a abordagem construtivista. Rio de Janeiro Campus (PUC-Rio), Rio de Janeiro, Brasil, jul 22, 2009.

quarta-feira, 26 de março de 2014

A Intervenção Russa Sobre a Ucrânia: Uma Visão Neo-Realista

Thainá Penha
Acadêmica do 3º semestre de Relações Internacionais da Unama


            As ocorrências no cenário internacional permitem-nos enxergá-las por vários binóculos diferentes. A atual crise econômica, política e militar existente na Ucrânia, amparada pela Rússia de Putin, trouxe ao mundo mais uma tensão de uma possível guerra, depois de nos últimos anos vivenciarmos esta tensão com a Coréia do Norte e seus mísseis e com a Síria e suas armas químicas.
            Na perspectiva das Relações Internacionais, pode-se aplicar diversas teorias diante do que tem ocorrido entre Ucrânia, Rússia e o resto do mundo. Contudo, este presente texto enfatizará tal caso perante a teoria Neo-Realista de Waltz e Gilpin. 
            Dividamos, então, a problemática: primeiro de Waltz; posteriormente de Gilpin, para então equilibramos os dois.
            Kenneth Waltz, com seu realismo estrutural, defende o Sistema Internacional como anárquico e entende que o Direito Internacional é falho. Ou seja: não há ninguém acima da soberania dos Estados. As Organizações Internacionais existem, porém, ainda assim, não são soberanas como os Estados. Não há regras no Sistema e as Organizações Internacionais são apenas fantoches controlados pelos próprios Estados. Não há punição alguma àqueles que possuem o hard power – conceito dado ao Estado possuidor de poder-força, ou seja, poder bélico. Tendo em vista que o Sistema Internacional é anárquico, os Estados vivem em guerra devido as divergências de interesses e ausências de mediadores destes.
            Além disso, o mundo é um constante necessitado de guerra. Esta serve para equilibrar o poder no Sistema Internacional. A exemplo da Guerra Fria: vivia-se um equilíbrio de poder bilateral, com os Estados Unidos detentor do modelo capitalista e a União Soviética, do socialista. Porém, chegaram a ponto em que o poder bilateral já não era suficiente. Então, caiu o Muro de Berlim, e consequentemente, a União Soviética. Após isso, os Estados Unidos passaram a fazer parte de um equilíbrio de poder unilateral, dominado apenas por ele.
            Hoje, já não se tem segurança para afirmar que os Estados Unidos são hegemonia. Sua “popularidade” vem caindo cada vez mais e, aplicando-se a teoria, necessitamos de uma guerra para que haja um novo equilíbrio de poder. Isso pode explicar a questão ucraniana: primeiramente, há um certo orgulho russo perante o ocidente devido à queda do Muro de Berlim, marcando assim sua derrota. Esse fato faz com que a Rússia se coloque em uma posição “anti-Estados Unidos”. Vale lembrar também a posição desta quando os EUA planejavam atingir a Síria: a Rússia declarou prontamente que atacaria a Arábia Saudita se os EUA atacassem a Síria.
            Outro ponto é ignorar prontamente as sanções impostas pelos Estados Unidos, mostrando que os EUA já não são a hegemonia temida de antes; assim como ignorar as sanções de organizações como o G8, o qual declarou que não reconhecerá a Crimeia como parte da Rússia, já que as tropas russas invadiram o território ucraniano, influenciando assim no plebiscito ocorrido no último domingo, 16.
            O fato é que Putin está decidido a ouvir a autodeterminação dos povos da Crimeia, como enfatizou em seu discurso na última terça-feira, 18. Putin afirmou que a Crimeia sempre foi parte da Rússia.
            Outro conceito que pode ser inserido nesta problemática é o bandwagon, exemplificado pela aliança entre Crimeia e Rússia: os menores costumam se unir aos que consideram ser mais fortes e possuidores de mais poder-força, os quais poderão dar a eles segurança diante ao Sistema Internacional.
            Agora, a segunda parte da problemática, dirigida por Robert Gilpin. Ele acredita que o Sistema não pode ser olhado apenas por uma visão política, mas também pela visão econômica. Existe, além dos Estados, outros importantes atores no cenário internacional: as empresas e os papéis que as mesmas desempenham. Além de fazer com que a Ucrânia perdesse a soberania perante a Crimeia, a Rússia, que possui grandes empreendimentos na região ucraniana, sairia ganhando, além de território, vantagens econômicas.
            O que Putin – também – não pensou foi nas empresas russas. Segundo a Revista EXAME, “a tensão política e militar no país está ameaçando descarrilar US$ 8 bilhões de empréstimos internacionais”, o que faz com que os bancos internacionais se recusem a fazer empréstimos devido a subida de preço da moeda, dos títulos e das ações russas depois de suas tropas terem tomado o Mar Negro da Crimeia.
            Além disso, pode-se citar o poder russo quanto ao gás natural: ele é dono do monopólio do gás natural na Europa. É quem o distribui e, como já fez uma vez, pode simplesmente cortar a distribuição deste.
            É difícil entender o porquê de tanta arrogância de Putin. Como citado acima, pode ser uma questão de orgulho, de vingança ou, simplesmente, de forçar a independência deste perante o ocidente. Será que Putin está querendo derrubar as sanções estadunidenses e organizacionais com chantagens econômicas? Será que Putin está interessado em uma guerra para tentar o posto de hegemonia mundial? Infelizmente, tudo é previsível e nada é concreto. É esperar para ver!

Fonte:

http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/crise-na-ucrania-ameaca-emprestimos-de-empresas-russas

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Um olhar internacionalista sobre a crise na Venezuela



Renato Macedo
Acadêmico do 7º Semestre do Curso de Relações Internacionais - UNAMA

Três mortos, setenta e seis feridos e cerca de duzentos detidos, esse foi o saldo da violência estatal nas ruas da Venezuela na quarta-feira (12) por conta dos protestos massivos contra o governo de Nicolás Maduro.
Falar sobre a instabilidade política na Venezuela é tarefa árdua, uma vez que são tantas narrativas em questão, tantos atores, em um período de tempo que se pode delimitar desde a posse de Hugo Chávez, em 1999, até os mais recentes atos do governo venezuelano, personalizado na figura de Nicolás Maduro, o atual presidente do país.
Três aspectos são importantes para se inteirar do que está acontecendo na Venezuela, e também na América Latina como um todo: um fraco desempenho econômico, por motivos tanto endógenos quanto exógenos, estruturais e conjunturais , os altos índices de violência e a consolidação política dos governos de esquerda há mais de dez anos no poder. Esses componentes reunidos são fatos observáveis e que contribuem para a insatisfação de uma parcela da sociedade, e que torna essa coletividade propensa a tomar as ruas em protestos.

Em uma perspectiva sobre o jogo de poder interno na Venezuela, não se pode assegurar uma visão clara acerca do discurso das massas em protesto, apenas a existência dessa soma de muitas insatisfações difusas com a realidade do país. O ponto de vista do governo já é mais factível, Maduro segue a linha e o método adotado por Hugo Chávez de manter a marcha da revolução bolivariana, almejando uma nova espécie de socialismo. A síntese deste processo merece ser observada com atenção no decorrer da história.
É importante notar neste panorama geral a espantosa capacidade do atual governo venezuelano de mobilizar as forças tangíveis do Estado para desencorajar a dissidência política e ideológica, como o uso da guarda nacional, o bloqueio das linhas de transporte nas áreas lideradas pela oposição, o fechamento do canal de notícias NTN24, e, de forma menos direta, os “coletivos”, como são chamadas as milícias informais de base chavista.
A visão das Relações Internacionais é mais dilemática, pois envolve dinâmicas menos claras para as populações de cada país latino. Os debates sobre o futuro da integração regional no Cone Sul e na região andina ainda não se espalharam devidamente para a sociedade em geral, um exemplo disso é a pouca divulgação do que é manifestado nas reuniões do Foro de São Paulo, entidade criada por Lula e Fidel Castro para discutir os rumos dos governos de esquerda na região.
Até agora, as reações dos países latinos foram as seguintes: Equador e Argentina manifestaram apoio irrestrito ao governo de Maduro, e o Panamá anunciou que acompanhará a questão venezuelana com cautela.
Os recentes acontecimentos na Venezuela são essenciais para compreender os próximos aspectos das políticas internas e externas dos países latino-americanos, assim como para possíveis outras análises acerca dos rumos da integração político-econômica regional. A história contemporânea da América Latina, e como esta será contada daqui a alguns anos, está sendo escrita nas ruas com sangue e protestos.