quarta-feira, 26 de março de 2014

A Intervenção Russa Sobre a Ucrânia: Uma Visão Neo-Realista

Thainá Penha
Acadêmica do 3º semestre de Relações Internacionais da Unama


            As ocorrências no cenário internacional permitem-nos enxergá-las por vários binóculos diferentes. A atual crise econômica, política e militar existente na Ucrânia, amparada pela Rússia de Putin, trouxe ao mundo mais uma tensão de uma possível guerra, depois de nos últimos anos vivenciarmos esta tensão com a Coréia do Norte e seus mísseis e com a Síria e suas armas químicas.
            Na perspectiva das Relações Internacionais, pode-se aplicar diversas teorias diante do que tem ocorrido entre Ucrânia, Rússia e o resto do mundo. Contudo, este presente texto enfatizará tal caso perante a teoria Neo-Realista de Waltz e Gilpin. 
            Dividamos, então, a problemática: primeiro de Waltz; posteriormente de Gilpin, para então equilibramos os dois.
            Kenneth Waltz, com seu realismo estrutural, defende o Sistema Internacional como anárquico e entende que o Direito Internacional é falho. Ou seja: não há ninguém acima da soberania dos Estados. As Organizações Internacionais existem, porém, ainda assim, não são soberanas como os Estados. Não há regras no Sistema e as Organizações Internacionais são apenas fantoches controlados pelos próprios Estados. Não há punição alguma àqueles que possuem o hard power – conceito dado ao Estado possuidor de poder-força, ou seja, poder bélico. Tendo em vista que o Sistema Internacional é anárquico, os Estados vivem em guerra devido as divergências de interesses e ausências de mediadores destes.
            Além disso, o mundo é um constante necessitado de guerra. Esta serve para equilibrar o poder no Sistema Internacional. A exemplo da Guerra Fria: vivia-se um equilíbrio de poder bilateral, com os Estados Unidos detentor do modelo capitalista e a União Soviética, do socialista. Porém, chegaram a ponto em que o poder bilateral já não era suficiente. Então, caiu o Muro de Berlim, e consequentemente, a União Soviética. Após isso, os Estados Unidos passaram a fazer parte de um equilíbrio de poder unilateral, dominado apenas por ele.
            Hoje, já não se tem segurança para afirmar que os Estados Unidos são hegemonia. Sua “popularidade” vem caindo cada vez mais e, aplicando-se a teoria, necessitamos de uma guerra para que haja um novo equilíbrio de poder. Isso pode explicar a questão ucraniana: primeiramente, há um certo orgulho russo perante o ocidente devido à queda do Muro de Berlim, marcando assim sua derrota. Esse fato faz com que a Rússia se coloque em uma posição “anti-Estados Unidos”. Vale lembrar também a posição desta quando os EUA planejavam atingir a Síria: a Rússia declarou prontamente que atacaria a Arábia Saudita se os EUA atacassem a Síria.
            Outro ponto é ignorar prontamente as sanções impostas pelos Estados Unidos, mostrando que os EUA já não são a hegemonia temida de antes; assim como ignorar as sanções de organizações como o G8, o qual declarou que não reconhecerá a Crimeia como parte da Rússia, já que as tropas russas invadiram o território ucraniano, influenciando assim no plebiscito ocorrido no último domingo, 16.
            O fato é que Putin está decidido a ouvir a autodeterminação dos povos da Crimeia, como enfatizou em seu discurso na última terça-feira, 18. Putin afirmou que a Crimeia sempre foi parte da Rússia.
            Outro conceito que pode ser inserido nesta problemática é o bandwagon, exemplificado pela aliança entre Crimeia e Rússia: os menores costumam se unir aos que consideram ser mais fortes e possuidores de mais poder-força, os quais poderão dar a eles segurança diante ao Sistema Internacional.
            Agora, a segunda parte da problemática, dirigida por Robert Gilpin. Ele acredita que o Sistema não pode ser olhado apenas por uma visão política, mas também pela visão econômica. Existe, além dos Estados, outros importantes atores no cenário internacional: as empresas e os papéis que as mesmas desempenham. Além de fazer com que a Ucrânia perdesse a soberania perante a Crimeia, a Rússia, que possui grandes empreendimentos na região ucraniana, sairia ganhando, além de território, vantagens econômicas.
            O que Putin – também – não pensou foi nas empresas russas. Segundo a Revista EXAME, “a tensão política e militar no país está ameaçando descarrilar US$ 8 bilhões de empréstimos internacionais”, o que faz com que os bancos internacionais se recusem a fazer empréstimos devido a subida de preço da moeda, dos títulos e das ações russas depois de suas tropas terem tomado o Mar Negro da Crimeia.
            Além disso, pode-se citar o poder russo quanto ao gás natural: ele é dono do monopólio do gás natural na Europa. É quem o distribui e, como já fez uma vez, pode simplesmente cortar a distribuição deste.
            É difícil entender o porquê de tanta arrogância de Putin. Como citado acima, pode ser uma questão de orgulho, de vingança ou, simplesmente, de forçar a independência deste perante o ocidente. Será que Putin está querendo derrubar as sanções estadunidenses e organizacionais com chantagens econômicas? Será que Putin está interessado em uma guerra para tentar o posto de hegemonia mundial? Infelizmente, tudo é previsível e nada é concreto. É esperar para ver!

Fonte:

http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/crise-na-ucrania-ameaca-emprestimos-de-empresas-russas

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