O mês de março é comemorado o mês da francofonia. E para falar um pouco mais sobre a língua francesa e sua importância no mundo, a professora de Francês I e II e também de Cultura e Civilização dos Povos na Universidade da Amazônia (UNAMA) Viviane Dantas nos concedeu a seguinte entrevista.
A professora Viviane Dantas é Mestre em Estudos Literários (2009-2011) e licenciada em Letras como habilitação em Português/Francês (1999-2005) pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Tem especialização em Língua Portuguesa e Análise Literária pela Universidade da Amazônia (UNAMA), onde atualmente leciona Língua francesa e Estudos Culturais no curso de Relações Internacionais. É integrante do grupo de pesquisa NARRARES - Estudos de Narrativa de Resistencia (CNPQ). Doutoranda em Estudos Literários pela Universidade Federal do Pará (UFPA). (fonte CNPQ).
Blog Internacional da Amazônia Quais as facilidades e dificuldades em ensinar o idioma francês?
Viviane Dantas A maior facilidade no ensino do francês está, sem dúvida, no tronco linguístico do idioma, ou seja, assim como a língua portuguesa, tem sua origem no latim. No entanto, cada uma adquiriu ao longo de sua evolução, características provenientes de outros signos e culturas que fizeram parte do processo civilizatório nacional. Portanto, é necessário não esquecer que uma língua não é apenas um código linguístico, mas também um código cultural. Essa noção é imprescindível no momento em que se opta por estudar uma língua estrangeira. No auge da modernização em que vivemos e com o avanço desenfreado da tecnologia que impulsiona a comunicação e o fluxo de informações, muitas ferramentas foram criadas com o intuito de auxiliar no aprendizado mais apurado de um idioma em todas as suas competências linguísticas, além de difundir informações sobre a cultura daquele ou daqueles países que têm aquele idioma como oficial. Por outro lado, a tecnologia pode ser maléfica quando é utilizada de forma a poupar o esforço do aluno, ou seja, falo do uso de tradutores automáticos da internet que nem sempre são confiáveis. Deste modo, as ferramentas tecnológicas são altamente enriquecedoras tanto para o professor quanto para o aluno, mas este último precisa ter mais cautela ao utilizá-la para determinados fins que podem queimar etapas importantes no processo de aquisição da língua, sobretudo quanto à compreensão escrita.
Blog Internacional da Amazônia Qual a importância de ensinar a língua francesa para a formação de um internacionalista?
Viviane Dantas É lugar-comum ouvir que quem faz Relações Internacionais precisa aprender no mínimo três línguas estrangeiras. Embora isso seja verdade, é preciso reconhecer o que na verdade se ganha ao aprender um novo idioma. Além da facilidade da comunicação e compreensão, adquire-se uma competência que chamamos de tradução cultural, ou seja, o que anteriormente eu mencionei sobre a língua também ser um código cultural, podemos inserir nesse contexto. Ou seja, para um internacionalista é de extrema importância conhecer o universo cultural dos povos e suas expressões locais que nem sempre vão condizer com o seu referente cultural e linguístico. Quanto à língua francesa, no âmbito das Relações Internacionais, ela é idioma oficial da ONU, da UNESCO, da Cruz Vermelha Internacional, da OTAN, além de ser a língua materna de cidades sede das Instituições Europeias, como Bruxelas, Strasbourg e Luxemburgo. Para aqueles que querem seguir a carreira diplomática e precisam fazer a prova do Instituto Rio Branco, o francês é indispensável.
Blog Internacional da Amazônia O francês, juntamente com o inglês, são as únicas línguas faldas nos cinco continentes. Como a senhora avalia a difusão do francês no mundo? Observa-se que a língua francesa está visivelmente atrelada à sua cultura, e há quem diga que é a "língua da cultura". Qual é a relação entre língua e cultura?
Viviane Dantas A difusão da língua francesa pelo mundo se deve, em princípio, a dois fatores: um deles é a história imperialista da França em busca de novos mundos. No caso do continente Africano, por exemplo, grande parte foi dominada pelos franceses. O segundo é a importância que a França, enquanto nação, atribui ao idioma enquanto um forte símbolo de identidade nacional e cultural. O nacionalismo imbuído pela sonoridade e valorização da língua francesa enquanto cultura e identidade são importantes para a soberania do Estado. Por isso, a partir do século XX, a imigração em massa de outras nacionalidades e etnias para o território francês se tornou uma preocupação quanto às influências linguísticas externas que possam modificar a língua não tanto enquanto estrutura linguística, mas como um referente da história e da cultura francesas. No entanto, as línguas enquanto cultura mudam com o tempo e espaço, mas para o Estado o que importa é não perderem o seu caráter de língua oficial. Apesar disso, é notório que os franceses abraçam a causa, não estritamente em nível nacionalista, mas porque tem o prazer de falar e ler na língua materna de Jean Paul-Sartre, Simone de Bouvoir, Charles Baudelaire, Honoré de Balzac, Michel Foucault e muitos intelectuais que fizeram e ainda fazem parte do cenário intelectual do ocidente. Falar francês, para os franceses, é honrar com uma carga de conhecimento que se traduz na forma como apreciam um bom vinho ou a sua gastronomia. Tudo isso é cultura, língua.
A língua francesa no Mundo |
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