Danilo Eburneo
Acadêmico de Relações Internacionais da
UNAMA
País:
Estados Unidos
Direção:
José Padilha
Produção:
Marc Abraham; Eric Newman
Roteiro:
Joshua Zetumer
Baseado em: Personagens de Edward Neumeier; Michael Miner
Elenco: Joel Kinnaman; Gary Oldman; Michael Keaton; Samuel L.
Jackson
Gênero:
Ação; Ficção científica; Suspense
Música:
Pedro Bromfman
Cinematografia:
Lula Carvalho
Edição:
Daniel Rezende; Peter McNulty
O Robocop de 1987 do diretor Paul
Verhoeven se tornou clássico pela sua estética, que apresentava um futuro
distópico bem interessante. Não tendo problema algum em mexer nas feridas
políticas da época e, abandonando toda a ideia da era Reagan, o filme era muito
violento (...e pensar que víamos na sessão da tarde...), era crítico e repleto
de humor negro, sempre com uma crítica por fora. E tudo
isso é realmente característica nos filmes de Verhoeven, inclusive em Tropas Estrelares e O Vingador do Futuro que tinham esses
contextos políticos muito interessantes.
Décadas depois, ao ser anunciado que um remake de Robocop iria ser feito
com uma nova roupagem para os tempos de hoje, muitos fãs ficaram temerosos,
porque mexer em um clássico geralmente não dá muito certo. O longa, inclusive,
passou por vários diretores até chegar em José Padilha. Ora, quem melhor para
fazer um remake de um clássico político do que o Padilha, que também sabe como
poucos fazer uma critica social e política sendo sóbrio? Vimos isso nos dois Tropa de Elite, que mostravam os dois
lados da moeda, mas não menos importantes do sistema.
Em Robocop (2014) temos uma nova visão de mundo: agora temos internet,
informações por todo lado e a qualquer hora, onde todos nós somos escravizados
por nossos aparelhos celulares e computadores, dentro de mais camadas e camadas
de relações interpessoais e políticas totalmente quebradas, aos poucos nos
esquecendo do lado bom do ser humano, da emoção e do que realmente é importante
para todos nós. Partindo desse principio, Padilha nos traz a seguinte
discussão: Até onde as grandes corporações podem intervir no nosso modo de
vida, no nosso dia a dia e até onde elas nos sacrificam para o seu próprio
interesse?
Alex Murphy (Joel Kinnaman) é
um policial honesto e dedicado a família, que sofre uma tentativa de
assassinato por membros de uma quadrilha. Ao ser comprovado o seu estado de
quase morte e deformações por todo o seu corpo, a OCP – OmniCorp decide (por um pedido da esposa de Murphy para
tentar salvar a sua vida) transformá-lo em um produto, um produto do futuro da
segurança mundial. É ai que o diretor, através do roteirista Joshua Zetumer nos traz outra discussão:
O que na verdade nos faz humanos? Ao mostrar o que restou do corpo biológico de
Murphy (devo dizer que essa é uma das cenas mais angustiantes que pude ver em
um filme) podemos pensar no que realmente é a humanidade. O que nos faz humanos
é termos um corpo orgânico ou nossas mentes sãs?
É ai mesmo que entra Samuel L.
Jackson, na pele de Pat Novak, fazendo papel de um formador de opinião no
mínimo tendencioso, que faz alusão a violência e faz um jogo político na mídia
internacional, inspirado claramente na TV brasileira (Alguém acha que o Padilha
não fez uma versão do Datena? Ora essa... mais um ponto pra ele!). O fato é que
no âmbito internacional (principalmente o doméstico) fazemos alusão à violência
a toda hora. Se ligamos a televisão está passando assassinatos, corpos e corpos
empilhados, com a desculpa de que “A violência precisa acabar”, mas a própria
mídia é quem dá mais ibope para tudo isso.
E nessas bases locais que podemos falar na política de dominação dos EUA
sobre o resto do mundo. Os ataques terroristas feitos Pós 11 de setembro são
justamente embasados no mesmo discurso: “Temos que fazer isso para nos proteger”,
mas proteger quem? De que? De um inimigo que não podemos ver? O início do filme
é isso: A falsa segurança causada pela dominação provoca ira aos dominados, que
os levam a atos que são considerados terroristas por puro desespero. E quem
melhor do que um brasileiro para entrar em Hollywood e “meter o dedo” em toda
essa ferida? Porque sabemos que um norte-americano não faria isso tão bem
quanto Padilha, ao menos nos tempos de hoje, que parece que coisas importantes
não podem ser faladas.
E tudo isso que citei é finalmente, (com o perdão da palavra) vomitado
em todos nós com as palavras mais ácidas que poderíamos ouvir em um filme
blockbuster este ano, e tudo através de um porta voz da mídia governamental:
‘’Sei que alguns acham que essa forma de pensar é
perigosa e que essas máquinas violam nossos direitos civis. Alguns até
acreditam que o uso dos robôs em outros países nos faz o mesmo tipo de
imperialistas perseguidores dos quais nossos pais fundadores tentaram escapar. A vocês eu digo: Parem de choramingar! Os EUA são e sempre serão a maior nação da
Terra!’’
E com isso me despeço dessa resenha. Certamente deixei coisas demais de
fora, mas isso é apenas resultado do pouco espaço para falar de tanta coisa
desse longa. Recomendo a todos que vejam e que entendam que Robocop, sendo em
1987 ou em 2014, apenas cumpre o seu papel de ser uma representação política da
sua época. José Padilha fez um ótimo
trabalho fazendo o primeiro filme brasileiro em Hollywood (A equipe toda foi
praticamente de brasileiros), nos entregando um filme sóbrio, não melhor que o
original e nem pior, apenas diferente.
Até a
Proxima!
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