Julyana Barradas
Acadêmica do 5º
semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Estamos em 2014. Para a FIFA (em português, “Federação
Internacional de Futebol Associado”, autoridade máxima do futebol mundial) é
sinônimo de mais um ano de Copa do Mundo e o frenesi toma conta dos fãs de
esportes mundo afora.
A Copa do Mundo é o segundo torneio esportivo mais
assistido mundialmente, só ficando atrás dos Jogos Olímpicos por razões mais
que óbvias: nas Olimpíadas temos muitos países e muitas modalidades envolvidas,
logo, tamanha diversidade aumenta a sua audiência. Porém, as Olimpíadas não
conseguem ser tão impactantes quanto a Copa do Mundo, que mesmo com menos
países participantes (32 apenas), sua notoriedade é maior. O mesmo é válido
para as competições interclubes como a Liga dos Campeões da Europa e a
Libertadores da América, as grandes potências do futebol.
O nome do torneio é autoexplicativo: não tem como falar
de Copa do Mundo (ou de torneios interclubes) sem falar em globalização. O
termo “globalização” já sofreu várias alterações no seu conceito de acordo com
o contexto que lhe é aplicado, atualmente ele pode ser melhor entendido pelas
palavras de Thomas Friedman (colunista do NY Times e autor de “O Mundo é Plano:
uma Breve História do Século XXI”): “A inexorável integração de mercados,
Estados-nações e tecnologias em um grau jamais observado antes – de uma forma
que está habilitando indivíduos, corporações e Estados nacionais a se
conectarem com um mundo de maneira mais ampla, rápida, profunda e barata do que
em qualquer outra época.”
No futebol, a globalização não se trata somente da
internet ou de televisores com canais esportivos fechados como veiculação. Vai
mais além: podemos ver times ingleses sendo comandados por norte-americanos,
equipes bascas dos anos 90 comandada por galeses que importavam jogadores da
Turquia e da Holanda e por aí vai... De repente, desapareceram as fronteiras e
as identidades nacionais. Parecia que elas tinham sido varridas para os
escombros da história da humanidade.
A UNESCO (Fundo das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura) através da Carta Internacional de Educação Física e Esporte
vê a prática esportiva como um direito humano. Mais que isso, a prática
esportiva é um ótimo difusor de valores universais de paz, respeito e amizade -
A FIFA também costuma promover o famoso “fair play” (espírito esportivo, em português) -. Mas como nem tudo são flores, futebol também é
conflito e na pior das hipóteses poderá desencadear uma guerra entre um ou mais
países.
Não se tem conhecimento de nenhuma guerra em nível
mundial relacionada á futebol, mas o fenômeno da violência futebolística não é
de hoje, o hooliganismo é o movimento mais icônico - é retratado em filmes como
“Green Street Hooligans” e “The Football Factory”-. O termo “hooligan” (vândalo
em inglês) apareceu pela primeira vez em relatórios policiais ingleses datados
do século XIX para descrever jovens arruaceiros que andavam em gangues, porém
foi só por volta dos anos 1960 que “hooligan” e “hooliganismo” começaram a ser
associados á violência futebolística, em especial no Reino Unido.
Mesmo sendo um movimento bem britânico, é possível
encontrar associações hooligans pelo resto da Europa (mais os ultras), e
algumas delas não defendem só a paixão pelo seu clube, mas também ideologias
políticas, como é o caso do FK Estrela Vermelha de Belgrado, popular clube sérvio.
(Os Delije, ultras do Estrela Vermelha)
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Em 1990, a rivalidade entre o Estrela Vermelha e o clube
croata NK Dínamo Zagreb se intensificou por causa das eleições pela
independência da Croácia - maioria optou por esta -, que era um dos principais
Estados da antiga Iugoslávia. Os “Delije” eram tratados como deuses dentro da
sua torcida por agredir croatas, por mais que houvesse repúdio por hooligans e
ultras Europa afora, esse episódio era reflexo do ódio étnico entre os dois
países. A realidade da Iugoslávia não condizia: com muitos movimentos nacionalistas,
as então desaparecidas identidades nacionais e fronteiras eram meras ilusões,
mesmo em tempos de globalização. Paradoxal até.
Como
podemos notar, um evento tão popular não deixa de ser reflexo de um contexto
histórico de uma sociedade, ainda mais em um mundo cada vez mais informatizado
e interdependente graças à globalização 3.0.
(Os Bad Blue Boys, ultras do Dínamo Zagreb)
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