segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Um olhar internacionalista sobre a crise na Venezuela



Renato Macedo
Acadêmico do 7º Semestre do Curso de Relações Internacionais - UNAMA

Três mortos, setenta e seis feridos e cerca de duzentos detidos, esse foi o saldo da violência estatal nas ruas da Venezuela na quarta-feira (12) por conta dos protestos massivos contra o governo de Nicolás Maduro.
Falar sobre a instabilidade política na Venezuela é tarefa árdua, uma vez que são tantas narrativas em questão, tantos atores, em um período de tempo que se pode delimitar desde a posse de Hugo Chávez, em 1999, até os mais recentes atos do governo venezuelano, personalizado na figura de Nicolás Maduro, o atual presidente do país.
Três aspectos são importantes para se inteirar do que está acontecendo na Venezuela, e também na América Latina como um todo: um fraco desempenho econômico, por motivos tanto endógenos quanto exógenos, estruturais e conjunturais , os altos índices de violência e a consolidação política dos governos de esquerda há mais de dez anos no poder. Esses componentes reunidos são fatos observáveis e que contribuem para a insatisfação de uma parcela da sociedade, e que torna essa coletividade propensa a tomar as ruas em protestos.

Em uma perspectiva sobre o jogo de poder interno na Venezuela, não se pode assegurar uma visão clara acerca do discurso das massas em protesto, apenas a existência dessa soma de muitas insatisfações difusas com a realidade do país. O ponto de vista do governo já é mais factível, Maduro segue a linha e o método adotado por Hugo Chávez de manter a marcha da revolução bolivariana, almejando uma nova espécie de socialismo. A síntese deste processo merece ser observada com atenção no decorrer da história.
É importante notar neste panorama geral a espantosa capacidade do atual governo venezuelano de mobilizar as forças tangíveis do Estado para desencorajar a dissidência política e ideológica, como o uso da guarda nacional, o bloqueio das linhas de transporte nas áreas lideradas pela oposição, o fechamento do canal de notícias NTN24, e, de forma menos direta, os “coletivos”, como são chamadas as milícias informais de base chavista.
A visão das Relações Internacionais é mais dilemática, pois envolve dinâmicas menos claras para as populações de cada país latino. Os debates sobre o futuro da integração regional no Cone Sul e na região andina ainda não se espalharam devidamente para a sociedade em geral, um exemplo disso é a pouca divulgação do que é manifestado nas reuniões do Foro de São Paulo, entidade criada por Lula e Fidel Castro para discutir os rumos dos governos de esquerda na região.
Até agora, as reações dos países latinos foram as seguintes: Equador e Argentina manifestaram apoio irrestrito ao governo de Maduro, e o Panamá anunciou que acompanhará a questão venezuelana com cautela.
Os recentes acontecimentos na Venezuela são essenciais para compreender os próximos aspectos das políticas internas e externas dos países latino-americanos, assim como para possíveis outras análises acerca dos rumos da integração político-econômica regional. A história contemporânea da América Latina, e como esta será contada daqui a alguns anos, está sendo escrita nas ruas com sangue e protestos.

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