Adriano Bastos Rosas
Acadêmico do 8º
Semestre de Relações Internacionais da Unama
As ações que sucederam o ataque
do 11 de Setembro e as políticas de imposição dos valores ocidentais por meio
do descomedimento no uso de violência e de práticas de abuso de poder (torturas
autorizadas, humilhações, etc.) foram, paulatinamente, tornando a perspectiva
de pacificação entre a civilização ocidental e o mundo muçulmano uma
possibilidade cada vez mais remota à medida em que agentes, em ambos os grupos,
foram se adaptando aos discursos de desumanização, de banalização da violência
e de indiferença aos impactos de suas ações sobre indivíduos e sociedade civil mais
diretamente afetados.
Contrariando a lógica do
conflito do Ocidente contra Terrorismo Internacional Islâmico, este início de
2015 apresenta alguns traços que em outro momento seriam inconcebíveis, em
destaque: o posicionamento do Irã como aliado dos EUA após a entrega de sua
tecnologia nuclear e o surgimento de conflitos entre os próprios Estados
árabes. O que teria mudado? Como? Que consequências tais mudanças têm e poderão
promover nas dinâmicas do Sistema Internacional atual?
Inserida tanto no conflito
anteriormente citado, quanto no contexto da Primavera Árabe (2011-), a Guerra
Civil na Síria (2011-) passou a atrair mais atenções dos Estados e da mídia
internacional nos últimos meses de 2013. Isto iniciou após um bombardeio que
matou centenas de pessoas em Damasco. Assim, intensificaram-se as pressões
internas (seja por parte dos “rebeldes”, seja por parte do governo) e
internacionais para que alguma ação fosse tomada pela ONU e pelas potências mundiais.
Tal como no caso da Líbia (2011-), a intervenção internacional acabou se
mostrando ineficiente, contribuindo para a continuidade do litígio e dos abusos
no uso de força e violência.
Seria apenas na segunda
metade do ano seguinte que os membros do Conselho de Segurança da ONU e o SI
viria a se dar conta de um terceiro ator que, pouco a pouco, foi adquirindo
territórios, soldados, tecnologia e um peculiar modus operandi: O “Estado Islâmico”, também conhecido como ISIS.
Tendo iniciado suas
atividades no ano de 1999 sob o comando de Abu al-Zarqawi (1966 – 2006), o
grupo que então se autodenominava “A Organização do Monoteísmo e Jihad” foi aos
poucos adquirindo notoriedade internacional a partir de sua aliança com Bin
Laden (1957 – 2011), fato que lhe conferiu a alcunha – nunca assumida – de
al-Qaeda no Iraque (AQI). Com o passar dos anos e com a mudança da nomenclatura
para Estado Islâmico do Iraque (ISI) em 2006, o movimento foi, pouco a pouco,
absorvendo outros grupos de extremistas religiosos, vindo a se aproveitar do
enfraquecimento dos governos e canibalizando os recursos de outros grupos
terroristas em regiões ocupadas pelas potências ocidentais.
Após experiências exitosas
em suas movimentações regionais, o ISI –viu no conflito interno sírio e
na intervenção ocidental mais uma oportunidade para expandir sua zona de
influência, combatendo rebeldes, governo e ainda outros terroristas com igual
voracidade, vindo a adicionar a Síria em sua nomenclatura: ISIS. Diferente da
situação iraquiana, cujo governo pós-ocupação se mostrava frágil e
desacreditado, a administração al-Assad – apoiada por Rússia e China, membros
do CSONU – não tem hesitado em combater os “novos” adversários.
Se para o mundo muçulmano o
extremismo do ISIS já desperta terror, para as lideranças da civilização
ocidental, devido a seu papel na ascensão do mesmo, representa o mais profundo
fracasso em lidar com as peculiaridades dos povos daquela região e com a
problemática do terrorismo internacional islâmico como um todo. De fato, é
provável que alianças, tal como a aliança EUA e Irã, venham a ser formadas a
fim de suprimir as ações do ISIS. O desafio é converter tais possibilidades em
soluções e mecanismos de comunicação entre o mundo ocidental e o muçulmano mais
eficientes, duradouros e – principalmente – sensíveis à realidade do outro se
há algum fato que o fortalecimento do ISIS revela, é que o tratamento
unilateral, impositivo e desumanizado até então praticado já não é mais uma
solução cabível, sob o risco de que se despertem novo terrorismo ainda mais
radical no futuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário