Direção: Julie Taymor
Roteiro: Julie Taymor, Dick Clement, Ian La Frenais
Elenco: Evan Rachel Wood, Jim Sturgess, Joe Anderson, Dana Fuchs, Martin
Luther McCoy, T.V. Carpio
Gênero: musical
You say you
wanna a revolution
Well you know
We all want
to change the world
(Revolution,
The Beatles)
Christiane Ramos
Acadêmica do 5° semestre de Relações
Internacionais da UNAMA
Década
de 1960, Guerra Fria, Guerra do Vietnã, movimentos contracultura: Rock and Roll, Beat Generation, hippies,
psicodelia, insatisfações políticas e
sociais, existencialismo, THE BEATLES. Esse é o cenário que envolve a trama do
filme lançado em 2007, intitulado “Across
the Universe”. Trata-se de um musical cuja narrativa é baseada, do início
ao fim, nas composições do clássico grupo de rock inglês, The Beatles. De uma
forma geral, o enredo conta a história de Jude (Jim Sturgess), inglês, que
parte para os Estados Unidos em busca do pai – um norte-americano que serviu o
Exército na Segunda Guerra Mundial – o qual não chegou a conhecer.
Nos EUA, sem visto, choca-se com as
efervescências presentes no panorama norte-americano nos âmbitos político e
cultural. Jude conhece Max (Joe Anderson), um universitário que desvaloriza os
padrões e o formalismo social; ele é o que se pode chamar o verdadeiro rebelde daquele momento histórico. A
partir daí, o inglês passa a viver as transformações e também a ser modificado
pelo ambiente multifacetado à época, Nova York.
Jude conhece Lucy (Evan Rachel
Wood), irmã de Max, com a qual passa a viver um romance – perceba: os nomes dos
protagonistas derivam de duas músicas dos Beatles (Hey Jude e Lucy in the Sky
with Diamonds) – contudo, apesar de que o elemento sonoro seja um fator
estimulante para apreciar o musical, a aura que envolve o enredo é de extrema
importância e admite uma série de reflexões que podem esclarecer a aversão dos
jovens ao ambiente político tradicional dos EUA, bem como imergir nos valores
do pensamento existencialista e contra-hegemônico construídos.
Com um
grupo de jovens e amigos – dois deles fazendo alusão à grandes músicos e
cantores, como Jimi Hendrix e Janis Joplin – Lucy, Max e Jude passam a refletir
o período sob experiências diferentes, mesmo que o fim de suas reflexões seja o
mesmo: a virada cultural-política e de pensamento. Na metade do enredo, Max é
convocado pelo Exército norte-americano para servir na Guerra do Vietnã,
enquanto Lucy se engaja à uma união de estudantes para lutar contra o sistema
que apoiava a guerra, e Jude, desempregado, não mostrava reconhecimento ou
qualquer tipo de julgamento ao longo do filme sobre as guerras ou a conjuntura
– apesar de ele ser o protagonista, pode ser considerado desengajado ou até
mesmo uma forma de personificação da parte da sociedade que não refletia sobre
as transformações que estavam ocorrendo. Talvez isso se deva ao fato de ele ser
estrangeiro.
A história propõe distintos
direcionamentos que poderiam resultar em diversas resenhas, cada uma abordando
um assunto importante. Contudo, foquemos em uma significante frase que Lucy
profere à Jude, ao partir para uma manifestação: “Sabia que um dos maiores cientistas está trabalhando para o
Departamento de Defesa?”. Esta frase faz uma clara alusão aos teóricos do Neoconservadorismo, que foram inseridos
na política dos Estados Unidos, como uma maneira de desenvolver –
cientificamente – os artifícios e ferramentas norte-americanos, com vistas à
dominação por meio ideológico e intelectual.
Os neoconservadores (presentes no
governo norte-americano até os dias atuais) têm como principal característica
uma inclinação à imposição da democracia, mesmo que seja pela força. O grupo de
Lucy se contrapunha à pretensão estadunidense de desenvolver instrumentos de
dominação para manter os demais agentes à sombra da hegemonia. O grupo
simboliza uma não-aceitação dos padrões e práticas discursivas sobre os Estados
menores, no caso, o Vietnã, mas também à guerra ideológica, que afligia a
comunidade internacional com a possibilidade de uma nova guerra mundial.
Como se percebe, Across the Universe, além de detalhista,
poético e teatral, é um filme para ser valorizado por uma série de outros
motivos: 1) pela trilha sonora fenomenal, The Beatles; 2) pela análise
cultural, que auxilia no entendimento das transformações dos costumes
ocidentais; e principalmente, para a reflexão de estudantes de Relações Internacionais,
3) compreender o processo de produção de padrões e práticas discursivas, bem
como o movimento de hegemonias e contra-hegemonias (que nem sempre é destituído
de interesses de dominação). Isto é perceptível quando Lucy descobre
que as ações do movimento estudantil, o qual participava, não eram desprovidas de
violência e, portanto, a aversão à violência da guerra sugeria certa impostura,
claro, em escalas e contextos desiguais.
E como não poderia ser diferente, o
enredo termina ao som de “All You Need is
Love”, mostrando que apesar de as relações entre os povos serem envoltas em
interesses hegemônicos, a construção da paz é idealizada com base em uma utopia
comum e transcendente.
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