sábado, 21 de fevereiro de 2015

Across the Universe (2007)

Direção: Julie Taymor
Roteiro: Julie Taymor, Dick Clement, Ian La Frenais
Elenco: Evan Rachel Wood, Jim Sturgess, Joe Anderson, Dana Fuchs, Martin Luther McCoy, T.V. Carpio
Gênero: musical


You say you wanna a revolution
Well you know
We all want to change the world
(Revolution, The Beatles)


Christiane Ramos
Acadêmica do 5° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

        Década de 1960, Guerra Fria, Guerra do Vietnã, movimentos contracultura: Rock and Roll, Beat Generation, hippies, psicodelia, insatisfações políticas e sociais, existencialismo, THE BEATLES. Esse é o cenário que envolve a trama do filme lançado em 2007, intitulado “Across the Universe”. Trata-se de um musical cuja narrativa é baseada, do início ao fim, nas composições do clássico grupo de rock inglês, The Beatles. De uma forma geral, o enredo conta a história de Jude (Jim Sturgess), inglês, que parte para os Estados Unidos em busca do pai – um norte-americano que serviu o Exército na Segunda Guerra Mundial – o qual não chegou a conhecer.
           Nos EUA, sem visto, choca-se com as efervescências presentes no panorama norte-americano nos âmbitos político e cultural. Jude conhece Max (Joe Anderson), um universitário que desvaloriza os padrões e o formalismo social; ele é o que se pode chamar o verdadeiro rebelde daquele momento histórico. A partir daí, o inglês passa a viver as transformações e também a ser modificado pelo ambiente multifacetado à época, Nova York.
       Jude conhece Lucy (Evan Rachel Wood), irmã de Max, com a qual passa a viver um romance – perceba: os nomes dos protagonistas derivam de duas músicas dos Beatles (Hey Jude e Lucy in the Sky with Diamonds) – contudo, apesar de que o elemento sonoro seja um fator estimulante para apreciar o musical, a aura que envolve o enredo é de extrema importância e admite uma série de reflexões que podem esclarecer a aversão dos jovens ao ambiente político tradicional dos EUA, bem como imergir nos valores do pensamento existencialista e contra-hegemônico construídos.

        Com um grupo de jovens e amigos – dois deles fazendo alusão à grandes músicos e cantores, como Jimi Hendrix e Janis Joplin – Lucy, Max e Jude passam a refletir o período sob experiências diferentes, mesmo que o fim de suas reflexões seja o mesmo: a virada cultural-política e de pensamento. Na metade do enredo, Max é convocado pelo Exército norte-americano para servir na Guerra do Vietnã, enquanto Lucy se engaja à uma união de estudantes para lutar contra o sistema que apoiava a guerra, e Jude, desempregado, não mostrava reconhecimento ou qualquer tipo de julgamento ao longo do filme sobre as guerras ou a conjuntura – apesar de ele ser o protagonista, pode ser considerado desengajado ou até mesmo uma forma de personificação da parte da sociedade que não refletia sobre as transformações que estavam ocorrendo. Talvez isso se deva ao fato de ele ser estrangeiro.
      A história propõe distintos direcionamentos que poderiam resultar em diversas resenhas, cada uma abordando um assunto importante. Contudo, foquemos em uma significante frase que Lucy profere à Jude, ao partir para uma manifestação: “Sabia que um dos maiores cientistas está trabalhando para o Departamento de Defesa?”. Esta frase faz uma clara alusão aos teóricos do Neoconservadorismo, que foram inseridos na política dos Estados Unidos, como uma maneira de desenvolver – cientificamente – os artifícios e ferramentas norte-americanos, com vistas à dominação por meio ideológico e intelectual.

            Os neoconservadores (presentes no governo norte-americano até os dias atuais) têm como principal característica uma inclinação à imposição da democracia, mesmo que seja pela força. O grupo de Lucy se contrapunha à pretensão estadunidense de desenvolver instrumentos de dominação para manter os demais agentes à sombra da hegemonia. O grupo simboliza uma não-aceitação dos padrões e práticas discursivas sobre os Estados menores, no caso, o Vietnã, mas também à guerra ideológica, que afligia a comunidade internacional com a possibilidade de uma nova guerra mundial.
    Como se percebe, Across the Universe, além de detalhista, poético e teatral, é um filme para ser valorizado por uma série de outros motivos: 1) pela trilha sonora fenomenal, The Beatles; 2) pela análise cultural, que auxilia no entendimento das transformações dos costumes ocidentais; e principalmente, para a reflexão de estudantes de Relações Internacionais, 3) compreender o processo de produção de padrões e práticas discursivas, bem como o movimento de hegemonias e contra-hegemonias (que nem sempre é destituído de interesses de dominação). Isto é perceptível quando Lucy descobre que as ações do movimento estudantil, o qual participava, não eram desprovidas de violência e, portanto, a aversão à violência da guerra sugeria certa impostura, claro, em escalas e contextos desiguais.

            E como não poderia ser diferente, o enredo termina ao som de “All You Need is Love”, mostrando que apesar de as relações entre os povos serem envoltas em interesses hegemônicos, a construção da paz é idealizada com base em uma utopia comum e transcendente.

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