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Christiane Ramos
Acadêmica do 4° semestre de Relações
Internacionais da UNAMA
Foram notáveis os
acontecimentos da semana passada que revelaram uma (re)aproximação diplomática
entre Cuba e Estados Unidos após décadas de relações conflituosas. A Guerra
Fria teve um fim. O socialismo/comunismo passou a ser visto como uma prática de
governo equivocada. Cuba permaneceu isolada. Mas, um líder religioso foi capaz
de promover uma transformação neste cenário. O que possibilitou a ocorrência
desta mudança tão significativa nas dinâmicas entre estes dois países?
Busquemos responder esta pergunta pelo viés construtivista das Relações
Internacionais. Tal resposta não é a única, mas pode ser importante para
iluminar e aprofundar os vieses poucos adentrados da questão.
Ao longo da década de 1970,
o embate entre as teorias NEO-NEO –
conhecido como o Terceiro Debate na
disciplina de Relações Internacionais – tomou conta das principais discussões
internacionais. Neorrealismo e Neoliberalismo passaram a ter uma
particularidade compartilhada (mesmo com todas as divergências teóricas): a
parcimônia sistêmica, ou seja, a natureza dos acontecimentos internacionais
deveria ser interpretada de acordo com certas limitações imutáveis promovidas
pelo SI. Referente ao Neorrealismo, tem-se o equilíbrio de poder e a anarquia
internacional; quanto ao Neoliberalismo, sobressai-se a interdependência
complexa, bem como a importância dos arranjos de cooperação, promovidos com o
intuito de moderar os conflitos intrínsecos ao SI, dentre outras.
Mas, a década de 70 e 80
também foram campos férteis para o desenvolvimento de outras teorias
explicativas sobre a condição da política mundial. O construtivismo foi uma
delas. Segundo ADLER (1999),
“O valor do construtivismo para os
estudos das relações internacionais repousa basicamente em sua ênfase na realidade
ontológica do conhecimento subjetivo e nas implicações metodológicas e
epistemológicas dessa realidade”.
Desta forma, tem-se a base
teórica necessária para explanar sobre as atuais mudanças nas relações
diplomáticas entre Cuba e EUA. Neste sentido, é importante classificar o
relacionamento social entre os dois países em pelo menos três momentos
diferentes: 1) antes da Revolução Cubana, quando os EUA dominavam a ilha
caribenha e tinham naquele espaço, um meio de difusão de sua economia e
política externa; 2) após a Revolução Cubana, influenciada pela ideologia
comunista – ideia contrária àquela praticada pelos EUA, que provocaram todas as
restrições e embargos econômicos sobre Cuba, presenciados até a semana passada;
e, por último, 3) estas novas relações
construídas atualmente.
Interpreta-se
destas mutações de comportamento que não há uma
realidade ontologicamente imposta sobre os agentes sociais das relações
internacionais. Ao contrário, os significados são construídos socialmente, bem
como a maneira pela qual os agentes resolvem socializar-se. Portanto, esta nova
aproximação diplomática entre EUA e Cuba só se tornou possível porque aquela
realidade conflituosa da Guerra Fria já havia deixado de fazer sentido na
política internacional. Depois, a identidade dos agentes envolvidos também
sofreram mutações, por conta do meio social, ou seja, tornaram-se mais abertos
à negociação e ao bom relacionamento, e desta forma, a política rígida deixou
de ter significado para ambos.
O
construtivismo também é considerado um “meio-termo”
nas Relações Internacionais, ou seja, pode ser tido como uma fase de transição
entre as teorias positivistas e as
teorias pós-positivistas com teor
crítico. Neste sentido, em Cooperação e
Conflito nas relações internacionais (2009), J. Nye aborda a importância
que a figura de um líder pode provocar nas ações praticadas na política
internacional. Assim, tem-se a imagem do Papa Francisco como um impulsionador
da recomposição diplomática entre os Yankees
e a ilha caribenha.
A
Companhia de Jesus é a ordem
religiosa a qual o Papa Francisco foi ordenado padre. Jesuítas, como o grande
líder religioso da Igreja Católica Apostólica Romana, têm por objetivo o
empenho missionário e, ultimamente, passaram a ser reconhecidos pela proteção
ao direitos fundamentais do homem. A religião, diferente do que muitos imaginam,
não representa falácias produzidas para dominar a mentalidade da população. Na
verdade, ela é um instrumento de transcendência humana. Um meio ético pelo qual
o homem pode basear seu convívio em sociedade. A ação ética e responsável, abalizadas
no amor à Deus é, em todos os momentos, o maior pedido do Papa Francisco aos
fiéis (não somente aos católicos).
Desta
forma, respondendo à pergunta feita no primeiro parágrafo, as mudanças nos
relacionamentos entre Cuba e Estados Unidos foram possíveis porque estes
agentes produziram significados intersubjetivos capazes de causar mutações em
suas identidades, que são socialmente construídas. Além do mais, a importância
do Papa, através da influência de sua imagem, dos valores, da cultura e da ação
ética, promoveu um ambiente que garantiu suporte e confiança, amenizando o
cenário de contrariedades entre Cuba e EUA.
Em
plena véspera do Natal, cujas comemorações mantêm sentimento de solidariedade e
compaixão ao próximo, uma reflexão sobre as construções sociais da realidade
(não somente sobre a reaproximação entre EUA e Cuba) é importante, porque torna
a coletividade o principal agente das transformações sociais. A paz, a ética, e
a responsabilidade social não são conceitos externos a ação humana, portanto,
não podem ser vistos como ontologias.
Contudo – abrindo um espaço
na reflexão construtivista – já dizia o filósofo, “a realidade é socialmente construída, mas ontologicamente fundamentada” *. Esta é a razão pela qual a vida humana e a busca
pela paz e pela amenização dos conflitos ganham sentido e propósito.
Que
o Natal seja um momento de aproximação e amistosidade.
Um
feliz Natal a todos!
Nota:
*Reflexão
geralmente realizada pelo teólogo, filósofo, coordenador e professor da
disciplina de Teoria contemporânea das Relações Internacionais da Universidade
da Amazônia, o Prof. MSc. Mário Tito Almeida.
Referência:
ADLER,
E. O construtivismo no estudo das relações internacionais. Lua Nova [online],
n.47, pp. 201-246. 1999.
NYE,
Joseph S. Jr. Cooperação e Conflitos nas relações internacionais: uma leitura
essencial para entender as principais questões da política mundial. Rio de
Janeiro: Gente, 2010.
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