segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Visita do Papa na Sede da FAO em Roma

Renato Cordeiro
                           
Acadêmico do 4º semestre de Relações Internacionais da UNAMA

            Recentemente a FAO, Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, realizou a Segunda Conferência Internacional sobre Nutrição em sua sede em Roma, Itália. A reunião teve como ponto alto a visita do Papa Francisco e seu discurso, que pedia um maior comprometimento dos estados com a questão da fome.

         A fome, uma das situações mais desoladoras e, infelizmente, uma das mais presentes no mundo atual, é um dos problemas cujo combate é fundamental para a efetivação da Segurança Humana. Isso se deve ao fato de que segurança humana engloba vários fatores que garantem a vida humana e sua proteção, não se resumindo apenas a segurança estatal, que muitos vêem como a única existente ou a única relevante; esta é só um dos fatores. Entre os fatores, pode-se destacar a segurança pessoal (proteção contra crimes e preservação da integridade física), segurança econômica (estabilidade financeira), segurança ambiental (combate a destruição de florestas e promoção do desenvolvimento sustentável) e, o mais básico de todos, a segurança alimentar.


                Segurança alimentar é, por definição, a garantia de acesso regular a alimentos de qualidade por parte da população. Sendo assim, a fome torna-se a inexistência deste tipo de segurança. Embora seja historicamente relegada a segundo plano, esta é a base para a segurança humana: primeiro, pelo fato de que os alimentos são a fonte de nutrientes que os seres vivos precisam para viver, portanto um povo sem comida está naturalmente condenado a morrer em um curto período; segundo, pois todos os outros pilares dependem deste, visto que, a fome pode levar as pessoas a chegarem a um nível alarmante de desespero, com atitudes que conduziriam à prática de furto, tirar a vida de uma outra pessoa e outros crimes, abstendo-se temporariamente de seus valores morais e voltando ao  estado de natureza hobbesiano, sepultando a possibilidade de viver em sociedade, que é essencial para a segurança humana.

                O grande problema, tanto da segurança alimentar quanto da humana, é a falta de uma maneira clara de institucionalizá-la. Isso se deve ao fato de que, embora haja organizações internacionais especializadas no em um problema específico, como a FAO, o princípio que norteia o Sistema Internacional é o da soberania estatal, que se contrapõe a ideia de que um ator não estatal possa ter autoridade sobre um determinado assunto, passando por cima dos estados. Surgem então dilemas éticos; Em caso de crise humanitária, quem deve tomar as rédeas da situação, o estado ou uma Organização Internacional? Uma OI pode intervir em um país mesmo sem solicitação do mesmo? Até quando esperar para intervir? São questões que rendem muitas discussões; adeptos de realismo e do neo-realismo, por crerem que o estado é o único ator do SI, o consideram o único capaz de resolver tais problemas, enquanto liberais, neo-liberais e adeptos de teorias pós-positivistas dão prioridade para atuação das OIs e de forças internacionais de cooperação.

                Neste segundo grupo também encontra-se o Papa, que deixou bem claro em seu pronunciamento que os estados deveriam abandonar suas desconfianças - quase paranoicas - em relação aos outros e colocar o indivíduo em primeiro plano, além de abrir espaço para uma cooperação que vise o fim da situação problemática. Criticou também o peso do mercado na existência da fome, por fazer dos alimentos um produto qualquer, sujeito a especulação financeira, e a falta de solidariedade das nações mais fortes em relação ao problema, predominante em países subdesenvolvidos.

Mas também ressaltou o papel dos estados em adotar medidas que evitem a existência da fome, reconhecendo que o mesmo tem ainda papel decisivo no combate a fome. Com este dualismo, conclui-se que não há, ao menos por enquanto, consenso sobre quem é o verdadeiro responsável pela promoção e manutenção da segurança humana (o estado, as OI s ou os dois juntos), e que a FAO, assim como outras organizações como a OMS, UNESCO, UNICEF e a própria ONU vão continuar, por mais um período, em um limbo entre o respeito à soberania estatal e a necessidade de se garantir a segurança humana a todos os indivíduos ao redor do globo.



REFERÊNCIAS

Discurso do Papa à conferência da FAO sobre nutrição. Disponível em:http://papa.cancaonova.com/discurso-do-papa-a-conferencia-da-fao-sobre-nutricao/

O que é Segurança Alimentar e Nutricional? Disponível em:http://www.sedest.df.gov.br/seguranca-alimentar/seguranca-alimentar-e-nutricional.html
Segurança Humana. Disponível em:http://www.projetosegurancahumana.org/segurancahumana.php

Hobbes e o estado de natureza. Disponível em:http://www.brasilescola.com/filosofia/hobbes-estado-natureza.htm

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