quinta-feira, 10 de abril de 2014

As eleições na França e suas influências na Europa

Nancy Queiroz
Acadêmica do 3° semestre de Relações Internacionais da UNAMA




O início da semana passada, dentre outras notícias, foi marcado pelas eleições municipais da França, onde cerca de 38,5% dos votos foram para o partido adversário do governo, o UMP (União por um Movimento Popular).
Nos últimos 60 anos essa foi a maior derrota que o partido socialista (PS) obteve. Para alguns analistas esse fato mostra ser um divisor de águas no governo de François Hollande. Apesar de conseguirem conservar a vitória nas cidades francesas mais importantes, os partidos de direita conseguiram 45% dos votos em cidades com mais de cem mil habitantes.
Tais fatos trazem efeitos diretos à gestão nacional. Essa derrota, combinada à impopularidade do atual presidente, ao insucesso das metas de diminuição do desemprego, o qual está acima de 10%, e às perspectivas de déficit piores do que havia sido anunciado, gerou como consequência inicial a substituição do primeiro-ministro passando de Jean-Marc Ayrault por Manuel Valls, atual ministro do interior. O novo primeiro-ministro é visto como “socialista de direita”, por ser mais popular entre os eleitores da direita do que entre os próprios socialistas.
As novas perspectivas do governo, com essa nova fase, estão no Pacto de Responsabilidade. Esse programa prevê um alívio nos impostos cobrados às empresas e aos trabalhadores independentes no valor de 30 milhões de euros, para incentivar o emprego e a produção, e economias de 50 mil milhões de euros na despesa pública, até 2017.
Houve um descontentamento em parte do partido com esse programa, e para compensar, Hollande falou em um novo "pacto de solidariedade” para que haja mais justiça social, estabelecido em três pilares: a educação, a segurança social e o aumento do poder de compra. Tal pacto tenta intervir numa das principais dificuldades que o país tem passado além do desemprego: o governo francês também não consegue fazer com que a economia do país volte a crescer com vigor. Foi registrado um aumento de apenas 0,3% no crescimento em 2013. A alta taxa de desemprego na França é um dos motivos para a perda de votos dos socialistas. Em fevereiro, ela bateu o recorde de 3,34 milhões de desempregados. Desde que assumiu o governo, em maio de 2012, Hollande não conseguiu reverter o fraco crescimento do país.
 Agora você deve estar se perguntando o que essas eleições internas e tais dados podem influenciar dentro do SI? Pra começar, a França é a quarta maior economia do G-8, detendo 3,1% do PIB mundial. É também o terceiro receptor direto estrangeiro e o segundo prestador de serviços.
Essa nova fase representa o descontentamento de uma parcela da sociedade que vê
desaparecer a sua conhecida qualidade de vida, atribuída à crise econômica que o continente europeu vem passando. Juntamente com a crise econômica, política e cultural do país, as falhas ocorridas com o atual governo mostram o desmoronamento do Partido Socialista e o auge das novas políticas estratégicas traçadas por Le Pen (principal candidata do partido Frente Nacional) que vem com um discurso reciclado de extrema direita e populista, mas que agrada até a extrema-esquerda.
As tentativas de reestabelecer a ordem econômica francesa podem dar esperanças para a crise na Europa que se alastra pelo sistema internacional, traçando possíveis reestruturações partidárias. E, consequentemente, pode mudar o cenário internacional. Afinal, o que seria a política exterior de um país se não os reflexos dos seus anseios domésticos?

REFERÊNCIAS 
Lapouge, Guilles 31 de março de 2014 http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,as-opcoes-de-hollande,1147256,0.htm

http://www.opovo.com.br/app/maisnoticias/mundo/dw/2014/03/30/noticiasdw,3228538/socialistas-perdem-espaco-em-eleicoes-municipais-na-franca.shtml

http://www.publico.pt/mundo/noticia/manuel-valls-devera-ser-o-novo-primeirominsitro-frances-1630484

http://brasil.elpais.com/brasil/2014/03/31/internacional/1396225315_415234.html

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,valls-tera-de-mostrar-que-e-um-homem-de-esquerda-diz-bruno-capres,1147628,0.htm

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,socialistas-perdem-eleicao-local-na-franca,1147258,0.htm

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