Jeisy Rocha, Internacionalista formada
pela UNAMA
Foi no início dos anos 90 que a ONU (Organização das
Nações Unidas) começou suas atividades no Haiti, após uma petição do Governo
Haitiano solicitando auxílio para o período de eleições. Assim, enviou-se
primeiro o grupo de observadores chamado ONUVEH. Anos mais tarde, em 2004, após
uma série de outras missões civis e de apoio, se estabilizaram a MINUSTAH, que
tinha como objetivo principal auxiliar o governo na transição, na supervisão,
reestruturação e reforma da política nacional, prestar assistência para a
manutenção de um Estado de direito, promover segurança, ordem pública, a
proteção dos agentes da ONU e dos civis, e apoiar o processo político (eleições
municipais, parlamentares e presidenciais) e constitucional, bem como os
direitos humanos e informando sobre a situação dos direitos humanos no país.
Uma série de responsabilidades que mais tarde seriam
reavaliadas e adaptadas devido à instabilidade do Haiti, principalmente após o
terremoto de janeiro de 2010, o qual causou 220.000 mortes e 1,5 milhões de
desabrigados, além de milhões de feridos e incapacitados. Deste modo, a
MINUSTAH que tinha término previsto para 2012, teve essa data prorrogada e seu
caráter mudado recebendo o desafio de reconstruir o país em prol dos civis.
Porém, a jornada rumo estabilização começou a apresentar
empecilhos incomuns provenientes da própria operação que recebeu acusações de
quebra dos direitos humanos (agressão física e estupro) pelos peacekeepers (soldados da paz) e
promoção do surto de cólera, que assola até hoje a população haitiana. Essas
acusações foram rebatidas pela ONU, a qual culpou a instabilidade social e a
infraestrutura frágil do país, mesmo com documentos que comprovavam,
principalmente, a origem da disseminação do vírus da cólera.
Atualmente os verdadeiros objetivos da MINUSTAH têm sido
questionados pelo povo haitiano, que tem invadido as ruas com cartazes “Fora
MINUSTAH!”. O presidente do Haiti, Michel Martely, também tem questionado o
caráter da missão e afirmou que o país agora precisa de uma missão de
desenvolvimento e não uma missão de estabilização, enquanto a ONU mantêm a
discussão de quais a melhores opções para a reconfiguração da MINUSTAH. Esta só
pode encerrar sua intervenção quando o Haiti consolidar sua força policial e
militar, que por enquanto depende da operação para manter a segurança.
Dentre os países que mais se interessam na permanência da
MINUSTAH, o principal é o Brasil, que além de comandar as tropas da operação
visando maior visibilidade internacional, tem planejado implantar zonas francas
da indústria têxtil aproveitando-se da mão de obra barata, da localização
estratégica e dos incentivos fiscais da região para exportação de produtos para
os EUA. Esse posicionamento brasileiro é analisado pelo pesquisador haitiano
Frank Seguy, que afirma que é do interesse do Brasil e dos demais países
emergentes que configuram a operação não auxiliar o Haiti em seu
desenvolvimento, para que os seus investimentos permaneçam lucrativos, e se há
uma busca pela estabilização essa será feita estrategicamente.
Percebendo que não haverá um resultado justo durante ou
após a saída da MINUSTAH, haitianos têm saído do país para procurar melhores
condições de vida. Os que possuem graduação superior, e podem comprová-la,
estão imigrando pra países mais desenvolvidos como o Canadá. Outros estão
imigrando para o Brasil, tendo como porta de entrada o Acre, e em seguida se
transferindo pra cidades como São Paulo, causando conflitos judiciais entre os
estados.
Todos estes fatores refletem a fragilidade e a falta de
autonomia presente no Haiti, o qual ainda tem seu futuro nas mãos da comunidade
internacional. O caso do Haiti mostra como as decisões econômico-estratégicas
nas relações internacionais dos países podem gerar consequências imprevistas,
como o caso da imigração de haitianos ao Brasil.
As discussões sobre o futuro da MINUSTAH e a luta pela
total independência do Haiti ainda vão perdurar por no mínimo 3 anos, segundo
as previsões do Secretário Geral da ONU. Se o Haiti que passará por processos
eleitorais ainda este ano de 2014, não se posicionar como líder de seu próprio
futuro nos próximos anos, o título de país mais pobre e menos desenvolvido das
Américas infelizmente se tornará uma realidade duradoura.
REFERÊNCIAS
ROCHA, Jeisy Adriana de Oliveira. Operações
de Paz no Haiti: a Construção da Segurança humana através da MINUSTAH.
UNAMA. 2012. p. 29-33.
“Secretário-geral entrega propostas ao Conselho de
Segurança sobre atuação da ONU no Haiti após 2016”. Disponível em < http://www.onu.org.br/secretario-geral-entrega-propostas-ao-conselho-de-seguranca-sobre-atuacao-da-onu-no-haiti-apos-2016/>
Acesso em 23 de Maio de 2014.
“Jorge Viana diz que o Acre não está 'deportando'
haitianos para São Paulo”. Disponível em < http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2014/04/28/jorge-viana-diz-que-o-acre-nao-esta-deportando-haitianos-para-sao-paulo>
Acesso em 23 de Maio de 2014.
“ONU estuda reconfiguração de missão no Haiti”.
Disponível em < http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/onu-estuda-reconfiguracao-de-missao-no-haiti>
Acesso em 22 de Maio de 2014.
“Ajuda internacional ao Haiti é ‘grande mentira’, defende
tese”. Disponível em < http://www.unicamp.br/unicamp/ju/594/ajuda-internacional-ao-haiti-e-grande-mentira-defende-tese>
Acesso em 25 de maio de 2014.
“Dez anos da ocupação militar no Haiti: "o povoquer
que as tropas saiam já". Disponível em < http://www.brasildefato.com.br/node/28632>
Acesso em 24 de maio de 2014.
Acredito que,se o Mundo olhar para os Haitianos com misericordiosa ,o Pais sairá deste caos.
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