sábado, 10 de maio de 2014

Resenha: Machete (2010)

Brenda de Castro
Internacionalista formada pela UNAMA e Mestranda em Ciência Política (PPGCP/UFPA)

           
Machete (Danny Trejo) é um ex-agente federal mexicano contratado por um homem misterioso (Jeff Fahey) para assassinar um importante político americano. Mas ele também se tornou alvo de outro matador e agora o que parecia ser uma simples e rentável missão, transformou-se numa sanguinária trama de conspiração contra o povo mexicano (Fonte: AdoroCinema).    
            Seria um filme comum de ação, se não fosse dirigido por Robert Rodriguéz (dos filmes Um Drink no Inferno, Sin City e Planeta Terror). Machete teve origem num trailer de filme fictício em Planeta Terror e com o sucesso acabou virando longa. O filme conta com um elenco forte formado por Robert De Niro, Steven Seagal, Cheech Marín, Jessica Alba, Michelle Rodríguez e até mesmo com uma participação especial de Lindsay Lohan.
         O longa traz a temática da imigração ilegal e a realidade da fronteira entre Estados Unidos e México de modo trash, com direito a muito sangue, mulheres seminuas, humor negro e abusando de personagens muitas vezes caricatos. Tudo isso não faz do filme menos verdade no tema que discute. Quando mostra o grupo de vigilantes que assassinam imigrantes que atravessam a fronteira, mais trash que a cena de um deles atirando em uma grávida, é saber que os fatos foram baseados em fatos reais.
            Em 2000, a Revista Time reportou o caso de mortes de imigrantes ilegais na fronteira por vigilantes[i] e em 2007 quatro homens foram acusados de atirar contra um caminhão com imigrantes ocasionando a morte de dois homens e uma jovem de 15 anos.
            O filme conta ainda com Robert De Niro como o Senador McLaughlin que tem como plataforma política expulsar os mexicanos dos Estados Unidos e criar uma cerca elétrica para mantê-los afastados. Na propaganda associa os imigrantes até mesmo com parasitas e baratas que devem ser aniquiladas. Pode parecer extremo ou exagerado, mas apesar do humor negro contido na crítica, faz referência a muitos posicionamentos políticos reais do país contra a imigração. E apesar de não existir uma cerca elétrica, já há um muro de segurança na fronteira dos países entre Tijuana e San Diego.
            A trama vai além e trata da manobra política do Senador McLaughlin em contratar Machete por meio do empresário Michael Booth para assassiná-lo, mas o mexicano é enganado e antes mesmo de efetuar o disparo é culpado como tentativa de assassinato do senador, o que é utilizado para promover o posicionamento anti-imigração do político e convencer a população.
            Assim, Machete, ainda um pouco relutante, começa a ser visto como um herói do povo mexicano e se juntam a ele a Organização liderada por She, outra heroína misteriosa, e a agente do Departamento de Imigração (Jessica Alba) que desconfia da ligação do político com o cartel mexicano de Torres (Steven Seagal).
            Talvez o mais o chocante no filme – além da cena em que um intestino é usado para rapel – seja a realidade na qual ele foi embasado. Desde os vigilantes da fronteira e a visão xenofóbica extremista que leva a mortes, assim como a própria lacuna dessa ideologia que muitas vezes se vê atrelada a muitos negócios ilegais com o próprio cartel mexicano.

            Aos cinéfilos que não tem aversão a sangue e apreciam o estilo de Tarantino, o filme é uma boa pedida, seja pela crítica política ou pelas ótimas e inesquecíveis atuações e bordões do filme.






[i]                       TIME. Border Clash. In: http://content.time.com/time/magazine/article/0,9171,997279,00.html



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