Bianka Neves
Acadêmica do 4° semestre de Relações
Internacionais da UNAMA
O
papel dos líderes no contexto internacional torna-se crucial principalmente
depois do século XX, com o advento de duas Grandes Guerras no curso da
história, onde na última delas, potências conseguiam se reafirmar cada vez
mais, por conta da personalidade de seus líderes, bem como dos objetivos dos
mesmos. Dois exemplos pertinentes são o Führer da Alemanha, Adolf Hitler, e o
Primeiro Ministro Britânico Winston Churchill.
A linha tênue entre estes dois
grandes líderes é o fato de que ambos tinham plena consciência do quanto sua
personalidade e imagem podia influenciar toda uma nação. Em alguns casos, até
mesmo transcender as fronteiras territoriais. Sabiam manter postura confiável através
de discursos e da construção da imagem.
Era
crucial, “ter uma marca registrada”, como símbolo de imponência e poder, como
no caso de Churchill, onde sua bengala emitia a ideia de poder, diferentemente
daquela imagem que teria com outros senhores mais velhos, já que a mesma era um
sinal de enfermidade na velhice. Assim como Hitler que tentava se manter a
sombra de seu fardamento militar. Segundo Andrew Roberts, em seu livro Hitler e
Churchill: segredos de liderança, isso o mantinha igual aos seus colaboradores
e militares.
Ambos sabiam que um líder tem o
papel de convencer o povo. Que ele, como dirigente, possuía a vontade
necessária para guiar os acontecimentos. Cabia a eles também a dignidade e
desejos que toda uma nação depositava, não no Homem em si, mas em um
representante que poderia leva-los à satisfação dos interesses nacionais,
portanto, tem-se o líder como uma personificação do Estado.
Outro
grande ponto é a motivação subjetiva de cada líder. Hitler foi crucial para a
proporção que a Segunda Guerra Mundial tomou. O seu fanatismo dizimou milhões
de vidas judias. Depois, sua prepotência e tirania assumiram outras formas de
discriminação, não mais centradas somente no ódio contra o judeu, mas
alastrando-se entre idosos, homossexuais, e tantos mais que entrassem em
confronto com a ideologia do “Grande Führer”.
Joseph
Nye, em sua obra Cooperação e Conflito nas relações internacionais (2001) considera
que a Segunda Guerra Mundial não foi uma guerra de Hitler, mas que ele teve um
papel extremamente crucial em vários pontos da guerra em si. Segundo Nye, as
ações do líder alemão na Segunda Grande Guerra tiveram quatro fases
importantes. A primeira fase diz respeito à eclosão da guerra, que não foi
somente consequência das ações do líder alemão, mas de todos os países
envolvidos. Os Estados acreditavam que uma guerra era inevitável, portanto
tinham a ideia de que ela poderia ocorrer a qualquer momento.
A
partir da segunda e terceira fases, o Führer é tomado como essencial. O líder
alemão desponta com certas características como habilidade, audácia e ideologia
belicosa para obter domínio territorial sobre a Europa. Ele simplesmente queria
a guerra e trabalhou para que ela fosse levada adiante. Na quarta fase, Nye
reitera que o apetite insaciável de Hitler, ao querer sempre mais quando
conseguia o “mais”, e sua convicção em si mesmo o levou a “cegueira”, fazendo-o
cometer erros que culminaram em seu fracasso.
Sua ideologia racista promovia o
mito da superioridade da raça ariana. Isso acabou levando a Alemanha a perder
grandes gênios das Ciências – que não estavam dentro dos moldes estereotipados
de Hitler – que poderiam ter desenvolvido estratégias de guerra e principalmente
tecnologias bélicas. Levou-o também a subjugar o poder dos Estados Unidos, que possuía
um alto contingente de negros e judeus em seu território. Ele ignorou o poder
dos EUA por conta da pluralidade étnica que, de acordo com o pensamento do
Führer, não poderia representar a força de um país.
Portanto, o papel destes líderes foi
de extrema importância não só para seus países, mas também para o próprio curso
da História. A partir de suas ideologias e influências conseguiram conduzir
todo um palco de conflitos que marcaram a história e a dinâmica das Relações
Internacionais pós-1945, que ainda abrigava certas ideias de Winston Churchill como
a cooperação e resolução de conflitos.
A
postura de um líder e a importância das estratégias a partir do legado hostil
que Hitler deixou, e principalmente a convicção de que o ser humano possui
plenas capacidades de mudar o curso da história e de quão longe ele pode
chegar, como no fim da guerra com as bombas de Hiroshima e Nagasaki, onde vimos
uma hegemonia se reafirmar, mas, um medo crescer, um medo da figura humana
dotada de poderes.
A
Segunda Guerra Mundial marcou não somente por seus líderes, e nem só pelo
genocídio provocado, mas porque alcançamos algo sem precedentes: fomos longe
demais, ao ponto de dispor de poderes para dizimar toda a humanidade com as
“novas tecnologias” – armas nucleares – e então a necessidade de evitar que
isto aconteça de fato, através de uma profunda crença na nova dinâmica que ali
se fez, e onde mais do que nunca, a cooperação se faria extremamente
necessária.
Desta
forma, tem-se o indivíduo (líder) como um agente de extrema importância e influência
nas dinâmicas do Sistema Internacional. A ele cabe a missão de incorporar as
aspirações das unidades nacionais socialmente construídas, que são os Estados,
e trabalhar de forma que permita com que ele seja um formulador dos tipos de
relações mantidas na arena internacional. Ao mesmo tempo em que incorpora a
vontade nacional, ele influenciará, com sua personalidade – seja ela qual for –
a ações do Estado. Isso explica a importância que Churchill e Hitler tiveram na
Segunda Guerra Mundial.
Referências:
NYE, Joseph S. Cooperação e conflitos nas relações
internacionais. Editora gente. São Paulo, 2009.
ROBERTS, Andrew. Hitler & Churchill- Segredos de
liderança. Editora Zahar. São Paulo, 2011.
SILVA, Francisco Carlos
Teixeira da. Memórias da Segunda Guerra Mundial:
Winston Churchill. In: As Memórias de Churchill. Caderno de Ideias, O
Globo, 2005. Revista Eletrônica Tempo Presente. Disponível em: http://www.tempopresente.org/index.php?option=com_content&view=article&id=4632:memorias-da-segunda-guerra-mundial-winston-churchill&catid=37&Itemid=172.
Acesso em 24 de agosto de 2014.
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