quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O Papel dos Líderes nas Relações Internacionais

Bianka Neves
Acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais da UNAMA


  O papel dos líderes no contexto internacional torna-se crucial principalmente depois do século XX, com o advento de duas Grandes Guerras no curso da história, onde na última delas, potências conseguiam se reafirmar cada vez mais, por conta da personalidade de seus líderes, bem como dos objetivos dos mesmos. Dois exemplos pertinentes são o Führer da Alemanha, Adolf Hitler, e o Primeiro Ministro Britânico Winston Churchill.
            A linha tênue entre estes dois grandes líderes é o fato de que ambos tinham plena consciência do quanto sua personalidade e imagem podia influenciar toda uma nação. Em alguns casos, até mesmo transcender as fronteiras territoriais. Sabiam manter postura confiável através de discursos e da construção da imagem.
Era crucial, “ter uma marca registrada”, como símbolo de imponência e poder, como no caso de Churchill, onde sua bengala emitia a ideia de poder, diferentemente daquela imagem que teria com outros senhores mais velhos, já que a mesma era um sinal de enfermidade na velhice. Assim como Hitler que tentava se manter a sombra de seu fardamento militar. Segundo Andrew Roberts, em seu livro Hitler e Churchill: segredos de liderança, isso o mantinha igual aos seus colaboradores e militares.
            Ambos sabiam que um líder tem o papel de convencer o povo. Que ele, como dirigente, possuía a vontade necessária para guiar os acontecimentos. Cabia a eles também a dignidade e desejos que toda uma nação depositava, não no Homem em si, mas em um representante que poderia leva-los à satisfação dos interesses nacionais, portanto, tem-se o líder como uma personificação do Estado.
Outro grande ponto é a motivação subjetiva de cada líder. Hitler foi crucial para a proporção que a Segunda Guerra Mundial tomou. O seu fanatismo dizimou milhões de vidas judias. Depois, sua prepotência e tirania assumiram outras formas de discriminação, não mais centradas somente no ódio contra o judeu, mas alastrando-se entre idosos, homossexuais, e tantos mais que entrassem em confronto com a ideologia do “Grande Führer”.
        Joseph Nye, em sua obra Cooperação e Conflito nas relações internacionais (2001) considera que a Segunda Guerra Mundial não foi uma guerra de Hitler, mas que ele teve um papel extremamente crucial em vários pontos da guerra em si. Segundo Nye, as ações do líder alemão na Segunda Grande Guerra tiveram quatro fases importantes. A primeira fase diz respeito à eclosão da guerra, que não foi somente consequência das ações do líder alemão, mas de todos os países envolvidos. Os Estados acreditavam que uma guerra era inevitável, portanto tinham a ideia de que ela poderia ocorrer a qualquer momento.


             A partir da segunda e terceira fases, o Führer é tomado como essencial. O líder alemão desponta com certas características como habilidade, audácia e ideologia belicosa para obter domínio territorial sobre a Europa. Ele simplesmente queria a guerra e trabalhou para que ela fosse levada adiante. Na quarta fase, Nye reitera que o apetite insaciável de Hitler, ao querer sempre mais quando conseguia o “mais”, e sua convicção em si mesmo o levou a “cegueira”, fazendo-o cometer erros que culminaram em seu fracasso.
            Sua ideologia racista promovia o mito da superioridade da raça ariana. Isso acabou levando a Alemanha a perder grandes gênios das Ciências – que não estavam dentro dos moldes estereotipados de Hitler – que poderiam ter desenvolvido estratégias de guerra e principalmente tecnologias bélicas. Levou-o também a subjugar o poder dos Estados Unidos, que possuía um alto contingente de negros e judeus em seu território. Ele ignorou o poder dos EUA por conta da pluralidade étnica que, de acordo com o pensamento do Führer, não poderia representar a força de um país.
            Portanto, o papel destes líderes foi de extrema importância não só para seus países, mas também para o próprio curso da História. A partir de suas ideologias e influências conseguiram conduzir todo um palco de conflitos que marcaram a história e a dinâmica das Relações Internacionais pós-1945, que ainda abrigava certas ideias de Winston Churchill como a cooperação e resolução de conflitos.
  A postura de um líder e a importância das estratégias a partir do legado hostil que Hitler deixou, e principalmente a convicção de que o ser humano possui plenas capacidades de mudar o curso da história e de quão longe ele pode chegar, como no fim da guerra com as bombas de Hiroshima e Nagasaki, onde vimos uma hegemonia se reafirmar, mas, um medo crescer, um medo da figura humana dotada de poderes.
A Segunda Guerra Mundial marcou não somente por seus líderes, e nem só pelo genocídio provocado, mas porque alcançamos algo sem precedentes: fomos longe demais, ao ponto de dispor de poderes para dizimar toda a humanidade com as “novas tecnologias” – armas nucleares – e então a necessidade de evitar que isto aconteça de fato, através de uma profunda crença na nova dinâmica que ali se fez, e onde mais do que nunca, a cooperação se faria extremamente necessária.
      Desta forma, tem-se o indivíduo (líder) como um agente de extrema importância e influência nas dinâmicas do Sistema Internacional. A ele cabe a missão de incorporar as aspirações das unidades nacionais socialmente construídas, que são os Estados, e trabalhar de forma que permita com que ele seja um formulador dos tipos de relações mantidas na arena internacional. Ao mesmo tempo em que incorpora a vontade nacional, ele influenciará, com sua personalidade – seja ela qual for – a ações do Estado. Isso explica a importância que Churchill e Hitler tiveram na Segunda Guerra Mundial.


Referências:
NYE, Joseph S. Cooperação e conflitos nas relações internacionais. Editora gente. São Paulo, 2009.
ROBERTS, Andrew. Hitler & Churchill- Segredos de liderança. Editora Zahar. São Paulo, 2011.
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Memórias da Segunda Guerra Mundial: Winston Churchill. In: As Memórias de Churchill. Caderno de Ideias, O Globo, 2005. Revista Eletrônica Tempo Presente. Disponível em: http://www.tempopresente.org/index.php?option=com_content&view=article&id=4632:memorias-da-segunda-guerra-mundial-winston-churchill&catid=37&Itemid=172. Acesso em 24 de agosto de 2014.

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