Renato
Macedo
Graduando
em Relações Internacionais pela Unama
“De um modo geral, o homem tem de
andar às apalpadelas; não sabe de onde veio nem para onde vai, conhece pouco do
mundo e menos ainda de si mesmo.”
A frase acima é de Johann Wolfgang von Goethe, um dos expoentes da
literatura alemã e certamente também um dos grandes escritores da humanidade,
que – como um estopim filosófico – nos incita a refletir sobre o papel humanista
do internacionalista e os contextos dessa vocação.
Um quadro histórico que é datado como um importante fôlego para o
humanismo abrange os séculos XV e XVI, nos quais as ciências naturais e
humanísticas se fortaleceram; sendo que nestas o ser humano foi posto como o
próprio centro dos esforços de compreensão, a medida para todos os valores e a
fonte para onde as descobertas, inovações e criações teriam suas utilidades
voltadas¹.
A partir da compreensão sobre o contexto humanista das ciências, me recordo
da fala enfática do professor Roberto Alcântara, da matéria de Economia Internacional
do curso de Relações Internacionais da UNAMA, sobre a função social dos
profissionais que estudam no Centro de Estudos Sociais Aplicados. De acordo com
o professor Alcântara, os internacionalistas têm como responsabilidade social a
promoção e a consolidação do desenvolvimento a partir da perspectiva da
interação entre os povos.
Ortega y Gasset cita em “A rebelião das massas” a experiência de Goethe
e outros autores românticos do século XVIII como a principal manifestação de um
cosmopolitismo que se nutriu das viagens cheias de curiosidade pelas diferenças
entre os povos. E da observação deste passado não deixo de associá-lo a um dos
fundamentos cognitivos para a formação do internacionalista, que é essa
curiosidade em compreender outros povos e suas problemáticas despido ao máximo
de preconceitos, somente manejando os diversos paradigmas, teorias e as
habilidades estudadas no decorrer do curso.
Aliás, a tamanha diversidade de disciplinas, reflexões metodológicas e
escolas de pensamento no âmbito das ciências humanas que a formação técnica do
internacionalista abarca me faz pensar na experiência de Miguel Reale, um
renomado jurista brasileiro, no que se refere à Faculdade de Direito do largo
de São Francisco nos anos 30 do século passado; Reale, em entrevista ao
programa “Roda Viva” em 2000, conta que o curso de Direito antigamente
englobava grande parte dos conhecimentos humanísticos, como a literatura, a
ciência política e a filosofia, portanto, os bacharéis nesse período do início
do século XX – que inclusive foram os principais presidentes civis antes dos
períodos autoritários – podem ser comparados em suas formações técnicas com a
proposta do internacionalista contemporaneamente de ser um agente a refletir as
diversas dinâmicas internacionais com base em um vasto arcabouço teórico.
Do ponto de vista acadêmico, as Relações Internacionais possuem como
marco inicial o pós-Primeira Guerra Mundial, quando surgiu a cátedra Woodrow
Wilson de Política Internacional em uma universidade no País de Gales². Ou
seja, entende-se que desde esse período as pessoas formadas neste ramo do saber
já carregavam consigo o dever de compreender a magnitude do esforço que é a
guerra e quão necessário é um esforço maior para se evitá-la em prol da paz,
como já dizia Ortega y Gasset.
Por fim, Miguel Reale ao refletir sobre a questão da vocação em uma
carreira alcança magistralmente uma das percepções que a meu ver deveria povoar
a mente de cada pessoa que a cada ano escolhe Relações Internacionais como seu
curso universitário e caminho de vida:
“Como se vê, há algo de misterioso
na escolha de uma profissão, mas o essencial é que, feita opção por uma via,
nela devemos concentrar as forças do sentimento, da inteligência e da vontade.
Como acontece na realização de todos os valores que se tornam fins
existenciais, há que construir o seu caminho com amor e aturado estudo.”³
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