sábado, 27 de setembro de 2014

A Vocação Humanista do Internacionalista



Renato Macedo
Graduando em Relações Internacionais pela Unama

“De um modo geral, o homem tem de andar às apalpadelas; não sabe de onde veio nem para onde vai, conhece pouco do mundo e menos ainda de si mesmo.”
A frase acima é de Johann Wolfgang von Goethe, um dos expoentes da literatura alemã e certamente também um dos grandes escritores da humanidade, que – como um estopim filosófico – nos incita a refletir sobre o papel humanista do internacionalista e os contextos dessa vocação.
Um quadro histórico que é datado como um importante fôlego para o humanismo abrange os séculos XV e XVI, nos quais as ciências naturais e humanísticas se fortaleceram; sendo que nestas o ser humano foi posto como o próprio centro dos esforços de compreensão, a medida para todos os valores e a fonte para onde as descobertas, inovações e criações teriam suas utilidades voltadas¹.
A partir da compreensão sobre o contexto humanista das ciências, me recordo da fala enfática do professor Roberto Alcântara, da matéria de Economia Internacional do curso de Relações Internacionais da UNAMA, sobre a função social dos profissionais que estudam no Centro de Estudos Sociais Aplicados. De acordo com o professor Alcântara, os internacionalistas têm como responsabilidade social a promoção e a consolidação do desenvolvimento a partir da perspectiva da interação entre os povos.
Ortega y Gasset cita em “A rebelião das massas” a experiência de Goethe e outros autores românticos do século XVIII como a principal manifestação de um cosmopolitismo que se nutriu das viagens cheias de curiosidade pelas diferenças entre os povos. E da observação deste passado não deixo de associá-lo a um dos fundamentos cognitivos para a formação do internacionalista, que é essa curiosidade em compreender outros povos e suas problemáticas despido ao máximo de preconceitos, somente manejando os diversos paradigmas, teorias e as habilidades estudadas no decorrer do curso.
Aliás, a tamanha diversidade de disciplinas, reflexões metodológicas e escolas de pensamento no âmbito das ciências humanas que a formação técnica do internacionalista abarca me faz pensar na experiência de Miguel Reale, um renomado jurista brasileiro, no que se refere à Faculdade de Direito do largo de São Francisco nos anos 30 do século passado; Reale, em entrevista ao programa “Roda Viva” em 2000, conta que o curso de Direito antigamente englobava grande parte dos conhecimentos humanísticos, como a literatura, a ciência política e a filosofia, portanto, os bacharéis nesse período do início do século XX – que inclusive foram os principais presidentes civis antes dos períodos autoritários – podem ser comparados em suas formações técnicas com a proposta do internacionalista contemporaneamente de ser um agente a refletir as diversas dinâmicas internacionais com base em um vasto arcabouço teórico.
Do ponto de vista acadêmico, as Relações Internacionais possuem como marco inicial o pós-Primeira Guerra Mundial, quando surgiu a cátedra Woodrow Wilson de Política Internacional em uma universidade no País de Gales². Ou seja, entende-se que desde esse período as pessoas formadas neste ramo do saber já carregavam consigo o dever de compreender a magnitude do esforço que é a guerra e quão necessário é um esforço maior para se evitá-la em prol da paz, como já dizia Ortega y Gasset.
Por fim, Miguel Reale ao refletir sobre a questão da vocação em uma carreira alcança magistralmente uma das percepções que a meu ver deveria povoar a mente de cada pessoa que a cada ano escolhe Relações Internacionais como seu curso universitário e caminho de vida:
Como se vê, há algo de misterioso na escolha de uma profissão, mas o essencial é que, feita opção por uma via, nela devemos concentrar as forças do sentimento, da inteligência e da vontade. Como acontece na realização de todos os valores que se tornam fins existenciais, há que construir o seu caminho com amor e aturado estudo.”³



¹ Variações sobre o Humanismo, de Miguel Reale, disponível em <http://www.miguelreale.com.br/artigos/varhuma.htm>; 2005.
² As Relações Internacionais como Disciplina Acadêmica, de Guilherme Gondin Ozias, disponível em <http://www.faculdadedamas.edu.br/revistas/index.php/relacoesinternacionais/article/download/85/62>
³ Variações sobre Vocação, de Miguel Reale, disponível em <http://www.miguelreale.com.br/artigos/varvoc.htm>; 2003.

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