Brenda
de Castro
Internacionalista
e Mestranda em Ciência Política (PPGCP/UFPA)
Nos
últimos meses, a escalada do conflito na Faixa de Gaza alcançou novamente as
manchetes ao redor do mundo, chamando atenção pra situação da região. O filme Bubble ( A Bolha, em tradução livre)
traz uma visão totalmente diferenciada para a realidade vivida por jovens da
região e do seu cotidiano. A “bolha” faz referência à Tel-Aviv, apelido da
cidade por conta de, apesar dos conflitos que se arrastam desde a metade do
século passado, o dia-a-dia de seus habitantes serem normais.
Assim,
o longa-metragem dirigido pelo israelense Eytan Fox traz a rotina de um grupo
de jovens israelenses que vivem sem se preocupar ou interessar pelos conflitos
vizinhos até o momento em que conhecem um palestino, Ashraf, e Noam se
apaixonar por ele.
Ashraf
é introduzido sendo revistado no posto de controle de acesso a Israel,
mostrando já de início o impacto da relação entre os dois países.
O
diferencial do filme vai um pouco além de outros que discutem a temática pelo
fato de não só tratar do conflito em si, mas também mostra que a região não se
divide entre extremistas religiosos dos dois lados, mas aproxima os jovens dali
com os de muitas cidades ao redor do mundo, que vivem indiferentes ao conflito
político como muitos outros. O filme tem destaque também por abordar a
homossexualidade, o que fez com que não tivesse tão boa repercussão em alguns
países.
Em
Tel-Aviv o palestino pode assumir sua orientação sexual e começa a viver
clandestinamente com uma nova identidade. Recebe abrigo, companhia, segurança e
até mesmo um emprego na cafeteria de um dos novos colegas.
A
diferença contrastante da realidade entre os jovens da “bolha” e os de fora é
apresentada nas dificuldades e nas relutâncias de Ashraf na nova realidade.
Ainda assim, o filme trata do romance estilo Romeu e Julieta com naturalidade e
leveza.
Após
a convivência com Ashraf os jovens amigos israelenses começam também a se
engajar pacificamente contra o conflito. Contudo, o palestino é reconhecido em
Tel-Aviv e decide voltar para sua cidade natal.
É
então que o filme sai da “bolha” e se volta para a realidade palestina. A irmã
de Ashraf se casa com um militante do Hamas e ele então se vê pressionado a
renegar sua homossexualidade e também se casar. Após sua irmã morrer em uma
intervenção militar israelense, Ashraf acaba aceitando o seu “destino”.
A
primeira parte do filme é leve e doce com uma trilha sonora condizente que
embala tanto o romance dos dois amantes como a rotina jovial do grupo de amigos
em Tel-Aviv, de festas, diversão e trabalho. Já a segunda mostra a repressão
vivida por Ashraf e a dificuldade vivida em sua família e seu país.
Contudo,
o filme não é parcial. Mostra a ideia de que o mesmo jovem poderia ter dois
destinos diferentes, ou seja, seria fácil para Ashraf viver sua vida
normalmente com amigos, namorado e emprego, em uma cidade que não tem a mesma
realidade de sua cidade natal. Em Tel-Aviv ele rapidamente se adapta ao
cotidiano comum, enquanto que na Palestina a sua condição política de sua
família não possuem um ambiente propício para tal.
O
filme não diz quem está certo ou errado. Mostra as coisas como são e as
condições que levam estas pessoas a tomarem as decisões extremas que muitas
vezes terminam com sua própria vida. Longe do reducionismo da recompensa no
paraíso, mas muito perto de uma realidade de guerra constante, violação da
liberdade e perdas familiares a qualquer momento.
SPOILER:
A tragédia anunciada, tal como Romeu e Julieta, se concretiza com Ashraf se
voluntariando para se matar como homem-bomba em Tel-Aviv como represália pela
morte de sua irmã. Ele escolhe o café onde trabalhava, talvez como
representação da vida que não podia viver, por conta de ter nascido onde nasceu
em certa época. Que vida seria esta que iria se casar com uma pessoa que não
era seu amor, viveria envolvido com militantes dos quais não concordava e tendo
que esconder seu verdadeiro eu de toda a família. Uma vida que não era vida,
ali sim ele estaria assumindo outra identidade que não a sua. E, assim, para
quê viver? Não morre como um freedom
fighter lutando pela causa palestina, mas muito mais como seu próprio
mártir. O que muitas vezes nestes conflitos são esquecidos e ignorados, os
indivíduos e suas próprias guerras.
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