Christiane Ramos
Acadêmica do 4° semestre de Relações
Internacionais da UNAMA
É imprecisa ainda a
origem etimológica da palavra amizade.
Mas, estima-se que, no Ocidente, ela originou do latim amicus – amigo –, que por sua vez, é derivada da palavra grega amore – amor –. Segundo o dicionário
Aurélio, esta palavra significa “sentimento fiel de afeição, estima ou ternura
entre pessoas que em geral não são parentes” (AURÉLIO, p. 39, 2001). Deste
modo, interpreta-se a amizade como um sentimento de companheirismo, que não
necessariamente provem de laços familiares ou de sangue, mas pela simples
solidariedade e vínculo humano. O presente texto tem como objetivo tratar como
esta data se tornou uma comemoração mundial e a importância dela para um bom
entendimento no cenário internacional.
Segundo BRACHO (2013),
“El mundo em que vivimos
es um mundo ‘enfermo’, hay amenazas de guerras termonucleares y si esto
sobreviene el mundo se acabará. Es notable, el Paraguay está ofreciendo hace 50
años desde allá del Chaco, una receta para hacer algo por este mundo (esto
refiriéndose a la causa de fomentar la amistad). No podemos hacer nada por
falta de entendimento, no logramos que este Gobierno realmente se interese em hacer
triunfar tan buena causa”.
Ramón Artemio Bracho é
um médico paraguaio responsável pela primeira iniciativa de instituir um dia
especial dedicado à amizade. Chamado de Cruzada
Internacional da Amizade, o movimento criado por ele ocorrido em 1958 teve
origem em uma vontade do médico em celebrar a amizade entre seus amigos. De
modo geral, a “Cruzada” tinha também a intenção de valorizar a amizade entre os
Homens, de modo a reatar ou fomentar a cultura da paz, que fora perdida durante
o período entre e após as Duas Grandes Guerras.
Outra série de atividades em prol da comemoração
à amizade surgiu na Argentina, com o também médico (cirurgião dentista),
professor e músico Enrique Ernesto Febbraro. Com o intuito de uma comemoração
mundial em torno da amizade, ele enviou cerca de quatro mil cartas à pessoas de
vários países, em homenagem à chegada do homem à Lua (1969). Deste modo, a
ideia principal era que se o Homem pôde chegar à Lua, não havia obstáculos
terrenos que impossibilitassem a confraternização entre as pessoas do mundo
inteiro. Contudo, a instituição da data comemorativa somente foi oficializada
pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2011. A ONU reconheceu ser
pertinente cultivar a pacificidade e aceitação entre os povos para que os
Direitos Humanos e civis sejam respeitados e valorizados.
Em contexto internacional
não há uma consonância em relação às datas. Muitos países adotam o dia 18 de
abril, ou 20 de julho. Outros utilizam a data oficial da ONU – 30 de julho. Há
contudo, um aspecto notável que pode ser levado em consideração. Nenhuma das pessoas
que lutaram por uma data comemorativa em defesa da amizade estavam ligadas aos
Estados. A iniciativa partiu da comunidade civil internacional, ultrapassando
as fronteiras abstratas dos países para chegar a um objetivo comum, a paz. No
Dia Internacional da Amizade, não se celebra somente os vínculos pessoais mais
íntimos, mas se toma a humanidade como um todo. Não desconsidera as diferenças
culturais e étnicas entre os povos, mas as valoriza.
Segundo SILVA (2005),
“as ideologias dominantes proliferam-se de tal maneira que passam a qualidade
de senso comum”. Ou seja, a inimizade e conflitos não são inerentes à vida
humana, nem à forma de governo de um Estado. Muitos menos se pode julgar que o
sistema internacional seja estruturalmente ou naturalmente anárquico e o conflitos
tanto entre seres humanos, quanto entre Estados seja algo natural. A ideologia
contribui apenas para manter este pensamento hegemônico. Infelizmente, há quem
ainda acredite que culturas diferentes sejam motivos para conflitos, claro,
este pensamento está incrustado na sociedade atual. Só há diferenças quando se
acredita nelas. Só há motivos para conflitos quando se aceita o discurso da
exclusão.
Os homens constroem a
cada dia a sua realidade. É importante perceber que cada ser humano possui um grande
papel social de cultivo à amizade e entendimento mútuo. A sua própria dignidade
depende disto. Assim, espera-se que cada um haja de modo a defender não somente
seus interesses pessoais. Mas que trate de manter, em conjunto, a dignidade
humana. A realidade é que não há sentimento de amizade sem que os Homens levem
uma vida digna. O Estado, as instituições, as teorias, as filosofias não tem
razão de existir se não para garantir a dignidade humana. Qualquer objetivo
diferente deste é impertinente e indiferente. Por isso, a universalidade é
importante. Universalidade não no sentido de uniformização. Mas, a aceitação de
todos, independentemente das diferenças. Esta é a verdadeira universalidade.
Para SILVA (2005),
Linklater acredita que “a universalidade passa a ter uma forma de
responsabilidade de engajamento com outros indivíduos (independente de suas
características raciais ou nacionais) em um diálogo aberto sobre assuntos que
comprometem seu bem-estar”. Por isso, se o Homem vive em sociedade, ele não é
responsável somente por si e por seus entes de sangue, mas também por todos os
membros que constituem a comunidade. Assim, qualquer barreira que se ponha
entre os Homens, que dificulte o entendimento e inclusão de todos nas
discussões internacionais devem ser contestadas. Para a Teoria Crítica, a
exclusão não é exatamente inevitável, mas a ação dialógica, que inclui a todos,
é a forma mais ética para se chegar a um consenso sobre o que deve ser motivo
de exclusão, ou não.
Os
realistas desconsideram a importância da ação ética no Sistema Internacional
(SI), pois, segundo eles, o SI é um sistema de autoajuda, e quem delega sua
segurança a segundos ou terceiros, é sinalizado como um incompetente político.
Sendo assim, neste mundo conflituoso da tradição realista não há espaço para a
cultura da paz, celebração das diferenças, e muito menos para a garantia de uma
vida humana digna. Por isso, cabe à comunidade civil internacional transpassar
as fronteiras que a prendem aos espaços virtualmente delimitados dos Estados e
contribuírem para o desenvolvimento conjunto de todos os povos. Somente tendo
conhecimento de sua real importância no cenário internacional, a humanidade
caminhará para uma sociedade mais igualitária e amigável.
Referências:
ASSOCIAÇÃO DE JOVENS ONU BRASIL. Dia
Internacional da Amizade.
<http:ajonu.org/2012/10/17/dia-internacional-da-amizade/>. Acesso em 26/07/2014.
Visualizado às 10:14.
COMUNICACIÓN EN PARAGUAY. Conociendo
el ideólogo de la semana mundial de la amistad.
<http://comunicacionenparaguay.wordpress.com/2009/07/15/conociendo-al-ideologo-de-la-semana-mundial-de-la-amistad.
Acesso em 25/07/2014. Visualizado às 13:39.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda.
Aurélio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
SILVA, Marco Antonio de Menezes.
Teoria Crítica em Relações Internacionais. Contexto Internacional. Rio de
Janeiro, vol. 27, n° 2, julho/dezembro 2005, pp. 249-289.
Nenhum comentário:
Postar um comentário