quarta-feira, 30 de julho de 2014

Dia Internacional da Amizade: a dignidade humana como um caminho para o cultivo de relações que construam a paz

Christiane Ramos
Acadêmica do 4° semestre de Relações Internacionais da UNAMA

           

É imprecisa ainda a origem etimológica da palavra amizade. Mas, estima-se que, no Ocidente, ela originou do latim amicus – amigo –, que por sua vez, é derivada da palavra grega amore – amor –. Segundo o dicionário Aurélio, esta palavra significa “sentimento fiel de afeição, estima ou ternura entre pessoas que em geral não são parentes” (AURÉLIO, p. 39, 2001). Deste modo, interpreta-se a amizade como um sentimento de companheirismo, que não necessariamente provem de laços familiares ou de sangue, mas pela simples solidariedade e vínculo humano. O presente texto tem como objetivo tratar como esta data se tornou uma comemoração mundial e a importância dela para um bom entendimento no cenário internacional.

           Segundo BRACHO (2013),                         
“El mundo em que vivimos es um mundo ‘enfermo’, hay amenazas de guerras termonucleares y si esto sobreviene el mundo se acabará. Es notable, el Paraguay está ofreciendo hace 50 años desde allá del Chaco, una receta para hacer algo por este mundo (esto refiriéndose a la causa de fomentar la amistad). No podemos hacer nada por falta de entendimento, no logramos que este Gobierno realmente se interese em hacer triunfar tan buena causa”.
Ramón Artemio Bracho é um médico paraguaio responsável pela primeira iniciativa de instituir um dia especial dedicado à amizade. Chamado de Cruzada Internacional da Amizade, o movimento criado por ele ocorrido em 1958 teve origem em uma vontade do médico em celebrar a amizade entre seus amigos. De modo geral, a “Cruzada” tinha também a intenção de valorizar a amizade entre os Homens, de modo a reatar ou fomentar a cultura da paz, que fora perdida durante o período entre e após as Duas Grandes Guerras.
 Outra série de atividades em prol da comemoração à amizade surgiu na Argentina, com o também médico (cirurgião dentista), professor e músico Enrique Ernesto Febbraro. Com o intuito de uma comemoração mundial em torno da amizade, ele enviou cerca de quatro mil cartas à pessoas de vários países, em homenagem à chegada do homem à Lua (1969). Deste modo, a ideia principal era que se o Homem pôde chegar à Lua, não havia obstáculos terrenos que impossibilitassem a confraternização entre as pessoas do mundo inteiro. Contudo, a instituição da data comemorativa somente foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2011. A ONU reconheceu ser pertinente cultivar a pacificidade e aceitação entre os povos para que os Direitos Humanos e civis sejam respeitados e valorizados.
Em contexto internacional não há uma consonância em relação às datas. Muitos países adotam o dia 18 de abril, ou 20 de julho. Outros utilizam a data oficial da ONU – 30 de julho. Há contudo, um aspecto notável que pode ser levado em consideração. Nenhuma das pessoas que lutaram por uma data comemorativa em defesa da amizade estavam ligadas aos Estados. A iniciativa partiu da comunidade civil internacional, ultrapassando as fronteiras abstratas dos países para chegar a um objetivo comum, a paz. No Dia Internacional da Amizade, não se celebra somente os vínculos pessoais mais íntimos, mas se toma a humanidade como um todo. Não desconsidera as diferenças culturais e étnicas entre os povos, mas as valoriza.
Segundo SILVA (2005), “as ideologias dominantes proliferam-se de tal maneira que passam a qualidade de senso comum”. Ou seja, a inimizade e conflitos não são inerentes à vida humana, nem à forma de governo de um Estado. Muitos menos se pode julgar que o sistema internacional seja estruturalmente ou naturalmente anárquico e o conflitos tanto entre seres humanos, quanto entre Estados seja algo natural. A ideologia contribui apenas para manter este pensamento hegemônico. Infelizmente, há quem ainda acredite que culturas diferentes sejam motivos para conflitos, claro, este pensamento está incrustado na sociedade atual. Só há diferenças quando se acredita nelas. Só há motivos para conflitos quando se aceita o discurso da exclusão.


Os homens constroem a cada dia a sua realidade. É importante perceber que cada ser humano possui um grande papel social de cultivo à amizade e entendimento mútuo. A sua própria dignidade depende disto. Assim, espera-se que cada um haja de modo a defender não somente seus interesses pessoais. Mas que trate de manter, em conjunto, a dignidade humana. A realidade é que não há sentimento de amizade sem que os Homens levem uma vida digna. O Estado, as instituições, as teorias, as filosofias não tem razão de existir se não para garantir a dignidade humana. Qualquer objetivo diferente deste é impertinente e indiferente. Por isso, a universalidade é importante. Universalidade não no sentido de uniformização. Mas, a aceitação de todos, independentemente das diferenças. Esta é a verdadeira universalidade.
Para SILVA (2005), Linklater acredita que “a universalidade passa a ter uma forma de responsabilidade de engajamento com outros indivíduos (independente de suas características raciais ou nacionais) em um diálogo aberto sobre assuntos que comprometem seu bem-estar”. Por isso, se o Homem vive em sociedade, ele não é responsável somente por si e por seus entes de sangue, mas também por todos os membros que constituem a comunidade. Assim, qualquer barreira que se ponha entre os Homens, que dificulte o entendimento e inclusão de todos nas discussões internacionais devem ser contestadas. Para a Teoria Crítica, a exclusão não é exatamente inevitável, mas a ação dialógica, que inclui a todos, é a forma mais ética para se chegar a um consenso sobre o que deve ser motivo de exclusão, ou não.
           

          
            Os realistas desconsideram a importância da ação ética no Sistema Internacional (SI), pois, segundo eles, o SI é um sistema de autoajuda, e quem delega sua segurança a segundos ou terceiros, é sinalizado como um incompetente político. Sendo assim, neste mundo conflituoso da tradição realista não há espaço para a cultura da paz, celebração das diferenças, e muito menos para a garantia de uma vida humana digna. Por isso, cabe à comunidade civil internacional transpassar as fronteiras que a prendem aos espaços virtualmente delimitados dos Estados e contribuírem para o desenvolvimento conjunto de todos os povos. Somente tendo conhecimento de sua real importância no cenário internacional, a humanidade caminhará para uma sociedade mais igualitária e amigável.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  Referências:
ASSOCIAÇÃO DE JOVENS ONU BRASIL. Dia Internacional da Amizade. <http:ajonu.org/2012/10/17/dia-internacional-da-amizade/>. Acesso em 26/07/2014. Visualizado às 10:14.
COMUNICACIÓN EN PARAGUAY. Conociendo el ideólogo de la semana mundial de la amistad. <http://comunicacionenparaguay.wordpress.com/2009/07/15/conociendo-al-ideologo-de-la-semana-mundial-de-la-amistad. Acesso em 25/07/2014. Visualizado às 13:39.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Aurélio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
SILVA, Marco Antonio de Menezes. Teoria Crítica em Relações Internacionais. Contexto Internacional. Rio de Janeiro, vol. 27, n° 2, julho/dezembro 2005, pp. 249-289.                                                                                                                                                                    

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