Kellimeire Campos
Acadêmica do 7°
semestre de Relações Internacionais da UNAMA
Nas últimas semanas
perpassamos pelas mais variadas teorias que podem ser utilizadas na análise dos
fatos que ocorrem no Sistema Internacional (SI) e que são encontradas no estudo
das Relações Internacionais (RI). As separamos em positivistas e pós-positivistas,
tendo a virada linguística como contribuição para essa nova articulação.
A virada linguística modificou
o modo com que se pensava, formulava e eram estudadas as ciências sociais e
humanas, trazendo para RI teorias fundamentadas em novos questionamentos sobre
as ações dos Estados, sobre a real importância do discurso nessa dinâmica, sobre
quais seriam os atores (ou agentes) no SI, e em críticas às mainstream da área.
Neste texto tratarei da
teoria que nos estimula a questionar muitas das repostas que nos sãos dadas
sobre os fatos internacionais, de como elas são construídas e do processo de
naturalização empregado nos discursos.
Desde já, considerando
complexa a tarefa de explicitar seus principais preceitos, este texto pretende
ser um estímulo a um estudo mais profundo da teoria pós-moderna.
Seu teórico mais influente,
Michel Foucault, não foca suas pesquisas nas RI e nem se propôs a escrever sobre
o assunto. Mas o filósofo francês, com suas obras interdisciplinares, discutiu
as relações de poder, trazendo uma nova maneira de olhar a dinâmica mundial.
Algumas de suas principais
fontes foram as ideias de Nietzsche, de que a civilização ocidental segue uma
moralidade judaico-cristã e na ideia de que o iluminismo trouxe a racionalidade
como principal pilar da ciência moderna, criando uma forma de dominação: Saber-poder.
A criação de verdades está
presente no saber-poder, pois não há relação de saber sem constituição
correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao
mesmo tempo relações de poder. As pesquisas de Foucault demonstram que nossas
verdades, além de estarem relacionadas com vontades de um determinado período
histórico, sendo assim fabricadas, são frágeis e provisórias.
Foucault elaborou o conceito
de Biopolítica, um poder exercido sobre a vida das pessoas, que é analisado
sobre a microfísica do poder “Investigação dos procedimentos técnicos de poder
que realizam um controle detalhado, minucioso do corpo – gestos, atitudes,
comportamentos, hábitos, discursos.” (FOUCAULT, 1979)
Diferente dos teóricos
positivistas das RI, Foucault trata o Poder não como algo material, mas sim
como algo que se exerce a partir de um feixe de relações entre as pessoas.
Logo, os Estados não detêm o poder, mas o exercem sobre sua população através
de sua dominação discursiva: subjetivando e objetivando; e do poder
disciplinar.
Chega-se a mais um conceito
de Michel Foucault, o de governamentalidade:
“O
conjunto constituído pelas instituições, procedimentos, análises e reflexões,
cálculos e táticas que permitem exercer esta forma bastante específica e
complexa de poder, que tem por alvo a população, por forma principal de saber a
economia política e por instrumentos técnicos e essenciais os dispositivos de
segurança”. (FOUCAULT, 1979, p. 293)
Em sua obra Vigiar e Punir ele desenvolveu sua
analítica de poder, tendo como centro o dispositivo panóptico, “um dispositivo
de poder disciplinar na qual a vigilância regrada e permanente constitui o
princípio geral de uma anatomia política cujo o objetivo e a finalidade são as
relações de disciplina.”(YAZBEK, 2013, p.114) Apesar de na obra o panóptico ser
utilizado nos presídios, Foucault reflete que este tipo de dispositivo de poder
também visto em escolas, hospitais, fábricas e em qualquer outra instituição,
criando uma sociedade disciplinar.
Como teóricos pós-modernos de
RI, Robert Walker é um dos mais estudados. Sua principal crítica, as teorias
positivistas, é fundamentada na apresentação da esfera doméstica da política
como um domínio do progresso e da ética. E a esfera internacional é descrita
como um ambiente anárquico, sem progresso e sem valores. Assim o âmbito
internacional se torna condenado à repetição dos erros, sem evolução. Assim,
Walker demonstra que as teorias de RI nasceram e sobreviveram de dicotomias e
exclusões.
Partindo principalmente da analítica de Poder de Foucault,
Robert Walker, Ashley, Shapiro, Der Derian e Campbell são autores internacionalistas
pós-modernos, que se recusaram a pressupor a existência a priori de realidades,
agentes e interesses e apontam para autonomia da linguagem na construção social
da realidade, destacando às formas pelas quais estruturas, agentes e
identidades são construídos dentro das práticas discursivas (RESENDE, 2010).
Referências
RESENDE, Erica Simone Almeida.
SENHORAS, Elói Martins; CAMARGO, Julia Faria (orgs). A crítica pós-moderna/pós-estruturalista. Boa Vista: Editora da
UFRR, 2010.
YAZBEK, André Constantino. 10 Lições Sobre Foucault. 4 ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 22 ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.
FOUCAULT, Michel. Segurança, Território e População. 1 ed. São Paulo: Martins Fontes,
2008.
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