Brenda de Castro
Internacionalista e Mestranda em Ciência
Política (PPGCP/UFPA)
Após
denúncias de Wikileaks e Julian Assange sobre diversos temas envolvendo
governos, diplomacia, espionagem e a segurança cibernética, a questão da
tecnologia e a internet estão cada vez mais presentes na esfera política.
Por
se tratar de uma tecnologia relativamente nova e que se desenvolve rapidamente,
a própria intensificação dos processos de globalização e a maior interação de
indivíduos e empresas, independente das distâncias, era tida como uma das
principais consequências desta. Contudo, a velocidade com que a tecnologia se
desenvolveu não foi acompanhada por leis que a protegessem e refletissem a nova
realidade. A discussão do espaço cibernético como de soberania estatal está
mais que nunca em voga.
Entretanto,
a questão é menos atual do que se imagina. Já em 1995, quando a tecnologia
ainda não tinha se alastrado tanto para nosso cotidiano (com redes sociais e smartphones), o filme A Rede (The Net, no original) do diretor Irwin
Winkler trouxe a temática para discussão.
A
interface dos programas utilizados por ela mostra a distância tecnológica que
nos separa do momento do filme, mas que ainda assim remete a semelhanças da
atualidade. O enredo inicia por enfatizar a peculiaridade da rotina
profissional de Angela passando assim para o momento que um colega de profissão
– que nunca a viu pessoalmente – envia para ela um vírus que ele considera
importante de analisarem juntos. O encontro, no entanto, é impedido por conta
de um acidente suspeito que ele sofre.
A
trama demora a se desenvolver e ficamos nos perguntando do que se trata o
vírus, enquanto isso ela sai de férias e encontra um jovem charmoso, que na
verdade estaria apenas criando uma armadilha para se apoderar do disquete que
ela tinha em mãos.
É
importante revelar alguns desenvolvimentos do filme para compreender melhor a
questão a ser abordada. É então que o filme em si começa. Ela sobrevive a uma
tentativa de assassinato, mas, em outro país, perde sua identidade e recebe
outro nome. Um dos primeiros momentos-chave do filme é quando ela tenta se
convencer do seu real nome e não consegue, já que estão se baseando por
informações do sistema de computadores, as quais não corroboram com o que ela
afirma.
Sem
ter escolha, assume a nova identidade e volta para seu país buscando solucionar
seu problema quando descobre que sua identidade na verdade foi assumida por
outra pessoa e, por uma ironia do destino, não tem como provar quem é de
verdade, já que nunca interagiu com as pessoas do trabalho, além de sua mãe
sofre Alzheimer.
A
questão mostra a vulnerabilidade a que estamos sujeitos, do fato de tudo que
nos diz respeito está em sistemas, mas que estas informações, o que nos define,
estão totalmente disponíveis a sofrer modificações ou serem perdidas. Como se o
virtual valesse mais que o real.
O
longa-metragem enfoca demasiadamente nos impactos pessoais na vida de Angela o
que acaba pecando por perder o outro ponto interessante que é justamente o
vírus em questão e seus possíveis impactos políticos. Quando o filme o faz,
mostram-se como as informações são facilmente manipuladas e aceitas.
Descobre-se que um programa que na verdade prometia a segurança era a fonte da
invasão e distorção de vários conteúdos secretos do governo.
Apesar
de datar de quase uma década atrás, o filme mostra como é atual a
confiabilidade que temos na rede mundial de computadores e, por conta disso,
estamos totalmente vulneráveis à exposição, assim como totalmente dependentes.
Talvez
o filme enriquecesse mais a temática se dedicasse mais minutos para o vírus em
si, para a organização por trás dele e para os objetivos envolvidos. Mas ainda
assim é uma interessante opção para analisar como a situação parecia
“mirabolante” uma década atrás e agora é extremamente atual.
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