domingo, 26 de outubro de 2014

RESENHA: A REDE (1995)

Brenda de Castro
Internacionalista e Mestranda em Ciência Política (PPGCP/UFPA)

Após denúncias de Wikileaks e Julian Assange sobre diversos temas envolvendo governos, diplomacia, espionagem e a segurança cibernética, a questão da tecnologia e a internet estão cada vez mais presentes na esfera política.
Por se tratar de uma tecnologia relativamente nova e que se desenvolve rapidamente, a própria intensificação dos processos de globalização e a maior interação de indivíduos e empresas, independente das distâncias, era tida como uma das principais consequências desta. Contudo, a velocidade com que a tecnologia se desenvolveu não foi acompanhada por leis que a protegessem e refletissem a nova realidade. A discussão do espaço cibernético como de soberania estatal está mais que nunca em voga.
Entretanto, a questão é menos atual do que se imagina. Já em 1995, quando a tecnologia ainda não tinha se alastrado tanto para nosso cotidiano (com redes sociais e smartphones), o filme A Rede (The Net, no original) do diretor Irwin Winkler trouxe a temática para discussão.

O filme conta com Sandra Bullock no papel principal de Angela Bennet, especialista em sistemas de informática. Ela é o grande enfoque do filme, talvez até excessivamente. Por conta da profissão ela é tida como uma pessoa retraída, que trabalha em casa e não interage muito com as pessoas, a não ser pelo computador. Quase que uma premonição do que nos esperava na década seguinte ao filme.
A interface dos programas utilizados por ela mostra a distância tecnológica que nos separa do momento do filme, mas que ainda assim remete a semelhanças da atualidade. O enredo inicia por enfatizar a peculiaridade da rotina profissional de Angela passando assim para o momento que um colega de profissão – que nunca a viu pessoalmente – envia para ela um vírus que ele considera importante de analisarem juntos. O encontro, no entanto, é impedido por conta de um acidente suspeito que ele sofre.
A trama demora a se desenvolver e ficamos nos perguntando do que se trata o vírus, enquanto isso ela sai de férias e encontra um jovem charmoso, que na verdade estaria apenas criando uma armadilha para se apoderar do disquete que ela tinha em mãos.
É importante revelar alguns desenvolvimentos do filme para compreender melhor a questão a ser abordada. É então que o filme em si começa. Ela sobrevive a uma tentativa de assassinato, mas, em outro país, perde sua identidade e recebe outro nome. Um dos primeiros momentos-chave do filme é quando ela tenta se convencer do seu real nome e não consegue, já que estão se baseando por informações do sistema de computadores, as quais não corroboram com o que ela afirma.
Sem ter escolha, assume a nova identidade e volta para seu país buscando solucionar seu problema quando descobre que sua identidade na verdade foi assumida por outra pessoa e, por uma ironia do destino, não tem como provar quem é de verdade, já que nunca interagiu com as pessoas do trabalho, além de sua mãe sofre Alzheimer.
A questão mostra a vulnerabilidade a que estamos sujeitos, do fato de tudo que nos diz respeito está em sistemas, mas que estas informações, o que nos define, estão totalmente disponíveis a sofrer modificações ou serem perdidas. Como se o virtual valesse mais que o real.
O longa-metragem enfoca demasiadamente nos impactos pessoais na vida de Angela o que acaba pecando por perder o outro ponto interessante que é justamente o vírus em questão e seus possíveis impactos políticos. Quando o filme o faz, mostram-se como as informações são facilmente manipuladas e aceitas. Descobre-se que um programa que na verdade prometia a segurança era a fonte da invasão e distorção de vários conteúdos secretos do governo.
Apesar de datar de quase uma década atrás, o filme mostra como é atual a confiabilidade que temos na rede mundial de computadores e, por conta disso, estamos totalmente vulneráveis à exposição, assim como totalmente dependentes.

Talvez o filme enriquecesse mais a temática se dedicasse mais minutos para o vírus em si, para a organização por trás dele e para os objetivos envolvidos. Mas ainda assim é uma interessante opção para analisar como a situação parecia “mirabolante” uma década atrás e agora é extremamente atual.

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